As políticas de "grande esforço e inovação" do ministro M. Sarmento na Televisão não são responsáveis apenas pelo baixo nível da nossa informação televisiva. Eu diria que elas são, sobretudo, a causa do baixíssimo nível da programação de todos os canais portugueses.
Olhemos para o panorama geral das grelhas de programas emitidos pelas televisões portuguesas, cujas diferenças existem apenas nas bengalas em que cada uma delas se apoia: a SIC numa batelada de telenovelas produziadas pela TVGlobo, a TVI nas suas próprias telenovelas e a RTP em concursos já gastos e revistos.
Logo pela manhã, há um tempo de informação e entretenimento, na RTP1, "Bom dia Portugal", na TVI, "Diário da Manhã".
Seguem-se nas três cadeias longos "talk-shows", conversa de estúdio, sobre tudo e coisa nenhuma, com participação do público, geralmente remunerado a custo reduzido, dois ou três "especialistas convidados", figuras de quinto plano.. A opção está entre acompanhar o Jorge Gabriel (RTP1), a Fátima Lopes (SIC) ou o Manuel Goucha (TVI).
Às 13 horas, os noticiários, longos de mais de uma hora e sem qualquer critério editorial - adopção cega do modelo tabloide.
Às 14 horas todos eles adoptam pela repetição de séries, que, às vezes, já vão na quinta e na sexta repetição. Segue-se mais um talk-show em cada um deles. Só a partir do meio da tarde é que recorrem às tais bengalas, o que dá a aparência de programações alternativas.
À noite, depois de mais um longo jornal de pelo menos uma hora, com os critérios já descritos, lá vêm, na SIC e na TVI, programas de anedotas. O mesmo esquema deverá estar a ser seguido pela RTP 1, que, entretanto à falta de tal alarvidade, e por agora, apresenta uma série de produção nacional, de excelente qualidade "Ferreirinha" - uma honrosa excepção em alguns anos.
A seguir às anedotas e à tal série, a SIC e a TVI voltam às telenovelas e a RTP1 aos concursos.
Porquê uma tão confrangedora grelha de programas? Por uma questão de redução de custos? A situação financeira em que se encontra a generalidade das cadeias de Televisão em Portugal não justifica, minimamente, as opções editoriais e de programas adoptadas.
Repare, sr. ministro, vou começar a explicar-lhe: como há alguns anos afirmava o realizador brasileiro, Walter Avancini, o problema da Televisão Portuguesa é de natureza cultural e resume-se à falta de qualquer projecto cultural para o país e consequentemente para os diversos órgãos de comunicação social.
O sr. achou que esta coisa de televisão se resolvia com a entrega da produção televisiva a grandes grupos, sobretudo se fossem estrangeiros, e atirou o audiovisual português para as urtigas, estrangulando a capacidade criadora que as pequenas e médias empresas detinham para alimentar as cadeias televisivas.
O ministro Morais Sarmento não percebeu que a televisão representa o mais poderoso instrumento de divulgação cultural e entendeu apenas a sua condição de principal aparelho ideológico do Estado. Daí que, a certa altura, se deu ao desplante de afirmar que o Estado o devia controlar inteiramente, porque "os jornalistas não vão a votos".
E a verdade é que não desistiu da ideia: basta olhar os telejornais da RTP 1 e perceber as manobras com alguns programas, que podem ser considerados incómodos para o actual poder, como é o "Contra-Informação", um caso raro e notável de sobrevivência perante os ataques demolidores do ministro Sarmento às pequenas e médias empresas de audiovisual.
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