segunda-feira, janeiro 24, 2005

A Televisão do Nosso Descontentamento - Informação

As políticas de "grande esforço e inovação", levadas a cabo pelo sr. ministro M. Sarmento não tiveram efeitos apenas na RTP, a instituição que ele tutela directamente. No seu conjunto, a Televisão Portuguesa, pertencendo a um País Europeu, membro de pleno direito da União Europeia, de cultura e modo de vida europeus, pode classificar-se dentro de um modelo misto de latino-americano e de canal local americano, mas nunca uma Televisão de modelo europeu.
Analisemos em primeiro lugar, o que se faz em matéria de informação e sem falarmos das trapalhadas que se fazem com as mensagens de órgãos de soberania, por exemplo do Presidente da República ou do Primeiro Ministro, que, normalmente, aparecem a meio dos jornais, comentadas pelos jornalistas de serviço, enquadradas por oráculos de frases soltas, retiradas do contexto, tudo num cenário de feira a que não faltam as notícias de rodapé, sobre matérias que nada têm a ver com a comunicação emitida.
Em nenhuma televisão europeia, notícias de relevante importância nacional são preteridas a favor de informações locais, de interesse duvidoso, numa sucessão noticiosa sem critérios, nem objectivos, sem discernimento nem equilíbrio. Dir-se-ia que, em Portugal, só acontecem faits-divers, desastres, roubos, crimes, violações, assaltos...
É degradante a imagem que os diversos noticiários nacionais dão do País e do Povo Português. Ao relato e análise dos factos prefere-se o comentário especulativo, a informação converte-se em espectáculo: o "vizinho", o "morador", a "turista" e a "testemunha" são o novel critério jornalístico; o jornalista é a "notícia", a "notícia" é uma inimaginável sucessão de banalidades, uma feira de vaidades, pessoais e profissionais, onde a classe política no poder ganhou especial protagonismo.
O falso "volume de informação" criado neste sistema comum aos canais portugueses esconde uma outra realidade, que decorre da profunda fragilidade e incapacidade das diversas direcções de informação, da televisão pública e privadas, que não lhes permitem produzir nenhum bloco noticios sério ou qualquer magazine de informação especializado.
A Televisão Portuguesa interessa-se pouco pelo que, de concreto e capital, se passa no território nacional, despreza, soberanamente, o que ocorre no estrangeiro, sobretudo se a realidade ultrapassa a sua capacidade de compreensão imediata, se a notícia não arrasta o drama, a tragédia ou a vulgaridade e se não chegar pelo sistema diário de troca de informações televisivas internacionais (EVN's).
Este panorama é o resultado das políticas desenvolvidas pelo sr. ministro M. Sarmento, a quem aconselho a não sair daí... porque, lá mais para a frente, vou explicar-lhe porquê.

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