Já aqui foi dito que uma das razões por que a Televisão Portuguesa continua com uma qualidade impossível de comparar com qualquer outra europeia tem a ver com a destruição do audiovisual português. É que o ministro Morais Sarmento, enquanto retirava capacidade de produção à RTP, a verdadeira escola nacional de Televisão, entregava a produção televisiva a grandes grupos internacionais .
Quem são eles?
Grupo Telefónica (espanhol), onde estão incluídas as empresas Endemol, Gestmusic, Sonotech, United Broadcast, Telefónica e outras pequenas empresas-satélite, constituídas especificamente para a concretização de determinados contactos ou projectos.
A GesteMusic, por exemplo, só se radicou em Portugal para produzir e realizar a "Operação Triunfo", tendo abandonado o país quase tão vertiginosamente como se implantou.
Entre outros conteúdos, o Grupo Telefónica é responsável por grande parte dos Reality-Shows (Big Brother, Big Brother dos Famosos, Quinta das Celebridades), concursos (Quem Quer Ser Milionário, o Elo Mais Fraco...), Academia das Estrelas (Operação Triunfo), grandes séries, gravação de concertos, algumas transmissões desportivas, etc.
Grupo Media Luso (espanhol) - Apenas duas ou três grandes empresas constituem este grupo, a Media Lusa, Media Burst e a Media Pro, que detêm, quase em exclusivo, todo o mercado das transmissões desportivas nacionais, nomeadamente, o futebol.
A entrada deste grupo em Portugal está, de resto, rodeada de alguns aspectos menos claros, no que respeita aos meios técnicos utilizados e ao pessoal contratado.
Grupo NBP (Colombiano) - A actual NBP pouco ou nada tem a ver com a empresa produtora inicialmente constituída e hoje há alguma dificuldade em determinar, com exactidão, a nacionalidade dos capitais envolvidos, nomeadamente porque não é possível saber o destino que teve o Grupo Bavaria e os fundos ingleses e americanos, inicialmente envolvidos na Media Capital e na TVI.
Após alguns anos de graves dificuldades económicas, a NBP lidera, hoje, em Portugal, a produção de Telenovelas. Continua a produzir, quase em exclusivo, para o mercado nacional por não ter motivado qualquer interesse significativo no mercado externo. Apesar disso, a NBP parece póspera e com grandes projectos para o futuro.
Fremantle - Trata-se de um grande grupo internacional com um representante em Portugal e que faz aprovar, sempre que se proporciona, programas de entretimento, testados e rodados no mercado externo. A produção e os meios técnicos ficam a cargo de uma das empresas nacionais ou estrangeiras, especializadas neste tipo de serviço.
A Portugal Telecom - É um caso único no panorama Audiovisual Europeu.
O Grupo PT tem, na prática, a propriedade efectiva e o controlo da infraestrutura de distribuição do sinal de Cabo.
Tem o quase monopólio da distribuição desse sinal através de um conjunto de empresas que cobrem quase todo o espaço nacional e, na prática, desvirtua os princípios básicos das leis do mercado.
Controla, ainda, os conteúdos transmitidos por via dos canais que selecciona para distribuição pública, não implementando alternativas técnicas que permitam aos assinantes do serviço escolher livremente o conjunto de canais que pretendem receber, dos mais de duzentos a que o grupo tem acesso.
Controla, directamente, os conteúdos de alguns dos canais que transmite e de que é o principal responsável editorial.
Controla a organização da própria oferta do cabo, o chamado" pacote básico", que altera sistematicamente e sem razão plausível, favorecendo alguns canais - escandalosamente todos os canais do grupo SIC - prejudicando outros, sobretudo a RTP e a TVI, retirando da grelha canais de interesse público - M6 - e substituindo-os por autênticas aberrações de interesse e gosto mais do que duvidoso (Vivir, televendas, etc).
Finalmente, controla o mercado publcitário dos canais do cabo, não generalistas, através de contratos de concessão a longo prazo, tudo na ausência de legislação que estabeleça regras, e com a conivência efectiva das entidades reguladoras, a Alta Autoridade para a Comunicação Social e a ANACOM.
Estamos, portanto, perante meia dúzia de grandes produtores ou grupos de produção que, globalmente, controlam a esmagadora maioria do volume de negócios da Televisão Portuguesa e, por esse meio, os próprios conteúdos produzidos.
A maioria das pequenas e médias empresas de produção nacional está à beira da falência, não tem mercado de programas que justifique o investimento e a actualização tecnológica, não dispõe de quadros especializados, não tem projectos nem perspectivas de poder vir a, num futuro próximo, realizar contratos que lhes permitam sobreviver.
Estão "entalados" entre os "grandes produtores" e as empresas de "vão de escada", cuja proliferação se acentuou a partir da entrega do canal 2 da RTp à chamada sociedade civil.
Ao contrário do que se passa no resto da Europa, em que se priveligia a constituição de pequenas e médias empresas, altamente especializadas, a concentração que se verifica em Portugal tem impedido o desenvolvimento tecnológico da grande maioria das empresas, a especialização dos seus quadros técnicos, actualização dos meios e sistemas de produção, enfim a prossecução de um projecto industrial, cultural e de produção autónomo, nacional e participado.
É por isso que hoje não se produz ou realiza, em Portugal, qualquer projecto televisivo inovador, não se conquista uma única parecela de mercado internacional, não se exporta um programa, não se vende uma ideia ou conceito, não se participa em nenhuma grande produção.
Nenhum projecto televisivo dura mais do que uma época (grelha de Verão ou de Inverno), os contratos de produção nunca excedem os seis meses de duração, não há projectos a médio ou longo prazo, as empresas não possuem especializações, não têm capacidade de rentabilização dos meios técnicos e humanos envolvidos, vivem sistematicamente à beira do colapso económico e financeiro.
A maior parte das empresas desconhce as regras de funcionamento do sistema, acreditam que o modelo implantado em Portugal é comum aos restantes países europeus, não desenvolvem parcerias internacionais, não têm capacidade financeira para participar de feiras, exposições e inovações que o normal desenvolvimento do sector impõe, estão completamenmte alheadas do que realmente se produz na Europa, estão quase tão isoladas, em termos internacionais, como durante o anterior regime.
Sr. Ministro M. Sarmento, espero que ainda esteja aí, para lhe explicar que o o sr. não foi um minisitro esforçado, inovador ou porra nenhuma. O sr. condenou um sector importante da vida portuguesa à estagnação. O senhor é responsável por uma grande fatia do desemprego que nos assola. O senhor nunca devia ter sido ministro de coisa alguma.
Teria muito mais a dizer-lhe, mas sabe: tenho um blog e a maioria dos meus leitores já está um bocado cansado desta matéria. Ficamos por aqui, mas não apareça em campanha a fazer do grande homem que salvou a televisão do caos e não sei de que mais!
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