RTP INTERNACIONAL E ÁFRICA
Na sua política de esforço e inovação, M Sarmento não conseguiu descobir algo para que não era necessário nenhum esforço: a existência de uma RTP África, ao mesmo tempo que uma RTP Internacional é uma aberração. Não faz qualquer sentido fora de um quadro de actuação definido por preocupações neo-coloniais, eu diria mesmo, racistas.
Isto é, a RTP Internacional é para brancos e a RTP África é para negros.
As preocupações, legítimas, de o Estado português utilizar os meios de comunicação social para, por um lado, comunicar com os seus cidadãos espalhados pelo Mundo e, por outro, fazer a defesa dos seus valores culturais junto de comunidades que os partilharam durante séculos e, em alguns casos, ainda partilham, têm que corresponder à elaboração e execução de políticas rigorosas.
A RTP Internacional deverá ser dirigida igualmente para África, sem uma designação específica, mas tendo em atenção as peculariedades das sociedades que ocupam os vários espaços a que se dirigem as suas emissões. Assim, se uma edição para África da RTP Internacional, não deve ter os mesmos conteúdos dos programas destinados a França, estes não podem ser iguais aos que são vistos no Canadá ou nos Estados Unidos, ou no Brasil.
Esta concepção valoriza, de facto, a posição de Portugal no Mundo, mas implica investimentos. Desde logo na investigação das correntes emigratórias nacionais, nas suas várias componentes e na dotação dos departamentos responsáveis por estas emissões de gente qualificada para orientar antenas e programações para públicos eterogénos, mas com uma raíz comum.
A RTP não tem que juntar às suas emissões internacionais produtos que não correspondam a um perfil definido pela preocupação de fazer de cada minuto de televisão transmitido para o estrangeiro um tijolo na construção de uma comunidade respeitada, coesa, culturalmente avançada, com um passado contribuinte indispensável para o Mundo de hoje - uma comunidade que a todos respeita, mas que exige ser respeitada.
Não é essa a ideia que ressalta dos inquéritos, não comprovados cientificamente, mas possíveis graças à troca de ideias que a actual globalização das comunicações vai permitindo.
De resto, para comprovar a desgraçada qualidade das emissões da RTP Internacional e África basta recordar as palavras de um emigrante canadiano, proferidas há pouco tempo, em directo: "não somos só nós que já não vemos a RTP Internacional e África, tudo faremos para que os povos que nos acolheram também não as vejam, porque o País e o Povo que nos dão a conhecer não condiz com a realidade que apreciamos".
Ora aí está, sr. ministro, o resultado da sua política de "tanto esforço e inovação".
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