sábado, novembro 22, 2008

Os Banqueiros Oportunistas e o Estado Mentiroso

De um dia para o outro o Mundo lembrou-se de Marx e há muita gente a lê-lo ou a relê-lo. As suas análises e previsões estão cada vez mais perto da nossa realidade. Um dia destes alguém se recordará de Bakunine para fazer uma releitura e incitar à leitura.
E porquê estas leituras?
A primeira porque toda a gente está a verificar que os banqueiros se estão a aproveitar de uma crise financeira - que eles próprios criaram - para reforçar a sua capacidade de intervenção nas economias dos vários estados, a começar pelos Estados Unidos (a eleição de Obama é uma grande vitória social, mas do ponto de vista político muito muito pouca coisa vai mudar...não nos iludamos). Em Portugal essas tentativas são uma vergonha.
Durante mais de trinta anos os bancos portugueses aproveitaram uma lei que lhes dava facilidades para a sua reestruturação depois de reprivatizados para fazer toda a espécie de tropelias: redução de pessoal, abertura de contas offshore, criação de taxas sobre taxas...Alguns deles interferiram nas grandes empresas, tornando-se accionistas para as secar e obrigando-as a seguir o mesmo exemplo de gestão em matéria de pessoal.
Portugal tem neste momento dezenas de milhar de homens e mulheres que foram obrigados a abandonar os seus postos de trabalho com reduções dos seus rendimentos e muitas vezes, depois de processos violentos de "assédio no trabalho". A maior parte deles ainda com as suas capacidades intactas e representando o mais importante que as empresas tinham e que jamais terão porque, para os subsituir foram contratados jovens com remunerações ridículas e em sistemas de total precaridade.
Em cima deste desprezo pela componente do trabaho no processo de produção, os banqueiros e os seus lacaios nas empresas foram enriquecendo, fazendo toda a sorte de trafulhices com a conivência dos políticos, muitos deles transformados ,como que por golpes e mágica, em gente rica, milionária.
A subordinação do poder político ao poder económico foi acentuando-se e os interesses dos grandes grupos económicos passaram a ser lei. Uma das leis é a do crescimento permanete dos lucros. É espantoso! As comparações que os bancos e as grandes empresas fazem acerca dos seus proveitos: têm sempre milhões e milhões de lucro, mas agarram-se à comparação de que não atingiram os números previstos e, nos últimos tempos, queixam-se de que as comparações com o ano anterior são desfavoráveis.
De crise em crise chegou-se ao actual estado de coisas: o Estado concede milhões de aval aos bancos para que eles possam emprestar dinheiro às empresas. E o que é que acontece? Os bancos apertam os critérios para conceder empréstimos às empresas e às famílias e reforçam as sua reservas de capital.
A economia entra em recessão porque - já dizia Marx - não há criação de verdadeira riqueza, é tudo papel que circula entre grupos de parasitas, porque nada produzem .
Os que produzem sofrem as consequências dos despedimentos em série, do fecho de empresas dos sistemas de pré-reformas e reformas antecipadas. Essas dezenas de milhar de pessoas ficam sem capacidade para comprar; deixa, portanto, de haver mercado, também porque os mais novos admitidos para substituir os pré e reformados ou despedidos são tão mal remunerados que apenas têm capacidade de repor a energia e voltar no dia seguinte - tal como no sec.XIX.
E o que faz o estado através do seu governo: começa por fazer promessas que não cumpre, ataca, através do controlo que mantém sobre a comunicação social, os grupos profissionais cujos direitos quer anular. Ataca e mente. Mente descaradamente! Neste momento não há professor que não esteja à beira de um ataque de nervos. O mesmo aconteceu com os magistrados, com os médicos e enfermeiros, com os jornalistas e os militares.
Prejudica indiscriminadamente todos os cidadãos através da introdução de expedientes ilegais, por exemplo nas finanças. O respectivo ministério deu instruções para retirar dos ficheiros todos os dados dos credores do estado e transferi-los para uma base de dados de acesso quase impossível. Os credores do estado que andam há anos a tentar receber o que lhes é devido, nomeadamente devoluções de IVA e respectivos juros têm, agora, que voltar a reiniciar um processo altamente complicado de requerimentos e, mesmo assim, sem nenhuma certeza.
O que faz o governo, por exemplo, relativamente às pequenas e médias empresas? Os seus representantes enchem a boca com a rede de emprego que elas constituem, mas oferecem-lhe linhas de crédito de 25.000€ !!!, desde que tenham tudo em ordem, isto é, desde que não devam nada. Ora, a verdade é que todas elas têm grandes dificuldades porque não têm recursos para cumprir todos os seus compromissos, incluindo as altíssimas taxas de impostos, alguns deles, como o IVA, pago antecipadamente.
Mais: o governo assegura que, ao conceder aval aos bancos espera que eles introduzam o resultado de financiamentos externos nas empresas e nas famílias através de empréstimos. Ainda ontem o primeiro-ministro se regozijava com o facto de os bancos estarem a solicitar tais avales. Esqueceu-se de referir que o primeiro banco a solicitar um aval de 750 milhões de dólares é um banco gestor de grandes fortunas - uma operação de claro oportunismo a que a SIC Notícias deu cobertura, provavelmente porque o seu patrão, aflito porque já não tem a PT Multimédia para pagar, está interessado em recorrer ao BPP.
O governo já deveria ter lgislado no sentido de obrigar a banca a criar condições de excepção para as empresas em dificuldades, tendo como critério importante a manutenção dos postos de trabalho.
O estado sabe que daqui para a frente tudo vai ser pior para as classes médias, para os pobres, mas que os ricos, os banqueiros, os gestores das grandes empresas, cujos prémios de desempenho são uma verdadeira afronta (muitos deles despedem trabalhadores das respectivas empresas para poderem usufruir de prémios milionários), vão ficar cada vez melhor. E com eles, também alguns governantes. É que, salvo raras excepções, sempre que um ministro sai do governo dá um salto para a o clube dos muito ricos. Ainda ontem Dias Loureiro assegurava que, quando saiu do Governo não tinha dinheiro. Podia até não ter dinheiro, mas tinha um património impressionante para um homem que veio de Coimbra para Lisboa como pequeno advogado sem nome, com uma mão à frente e outra atrás...
O estado comporta-se como uma pessoa desonesta, mentirosa. Pode mesmo dizer-se que o estado existe para roubar os cidadãos desprotegidos para assegurar que os outros se sintam cada vez mais protegidos.
Por isto penso que a leitura de Bakunine se vai seguir à de Marx, até porque os representantes do estado têm sempre o mesmo comportamento, independentemente da sua auto definção ideológica.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Meu Reino Por Uma Ministra

Tudo quanto se tem passado na Educação em Portugal desde que a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues e mais dois secretários de estado tomaram conta da pasta ultrapassa tudo quanto é compreensível numa sociedade regida por regras democráticas, num país que ultrapassou cinquenta anos de autoritarismo.

O que a senhora ministra responde às perguntas dos jornalistas a propósito das manifestações dos professores é incompreensível, desonesto, falacioso e tem como único objectivo garantir que, ainda que vá recuando, a sua posição seja sempre de força.

É evidente que o primeiro-ministro é culpado porque já a devia ter demitido. Sócrates é pouco esperto porque teimoso, e mau governante porque não sabe prever e... "governar é prever".

Que ele não tenha previsto a crise financeira internacional, quando ela bailava em todos os jornais internacionais e mesmo em alguns nacionais...enfim: o homem está imbuído do espírito do poder.

Agora, que não tenha "adivinhado" que a senhora ministra lhe iria causar problemas?! É um mau gestor de recursos humanos.

Os problemas da educação, somados aos da Saúde, aos das Forças Armadas aos das pequenas e médias empresas (com acesso a créditos de 25.000€!!!!) vão dar, obviamente uma derrota eleitoral para o PS.

E quem é culpado?

Obviamente o Engenheiro José Sócrates e também caixeiro viajante ao serviço do Magalhães.

Só nos resta esperar que o PSD não fique em posição de governar.

Oremos...então!

quinta-feira, novembro 06, 2008

Estudantes E Os Tempos

Tempos houve em que os estudantes deste país, sempre que algum grupo social saía à rua ou levava a cabo qualquer demonstração de protesto, saíam - sempre ao lado do Povo! O 25 de Abril também foi muito obra desta solidariedade permanente dos estudantes com o Povo, com as causas, que, umas vezes desciam à rua, outras, em silêncio, se desenvolviam contra a opressão, contra os poderes arrogantes.

Os estudantes tiveram um papel importante porque sempre estiveram ao lado de quem se sentia injustiçado. Foi assim em Portugal, como noutros países, alguns dos quais conquistaram a sua independência aceitando a generosidade dos estudantes, que, para o efeito, tiveram, em muitos casos, que abandonar os estudos.

Que se passa com os estudantes neste nosso novo tempo?
Deslocam-se para as faculdades em transportes individuais (sempre que vou a Coimbra fico impressionado com o volume de automóveis estacionados nas redondezas das Faculdades. No meu tempo, era um sossego...)
Quando saiem à rua, esta gente motorizada, sai para dizer que não paga propinas, sem perceber que seria mais justa uma contestação aos preços exorbitantes praticdos nas creches...
Ninguém consegue descobrir de que lado estão os estudantes nos diversos conflitos que vão opondo o Povo aos sucessivos governos.
Por exemplo, no actual contencioso entre os professores e o Ministério da Educação, de que lado estão os estudantes?
Aqui está, seguramente, uma oportunidade para acções de solidariedade para com uma classe, cuja unidade, só por si, diz bem das suas razões para contestarem uma política de educação que define a próxima tragédia deste jardim à beira mar platado.
Onde estão os estudantes, muitos dos quais dentro de alguns anos serão professores, nesta disputa?
Amanhã espera-se que mais de cem mil professores voltem a Lisboa para repetir o NÃO à Ministra da Educação. Largos milhares deles foram dos que, noutros tempos, sairam à rua para, como estudantes, se solidarizarem com as lutas justas dos outros - pertencem à geração que teve, sempre, necessidade de protestar, mesmo agora que se avizinhavam tempos de sossego...
Seria interessante que os nossos estudantes se juntassem aos seus professores e também dissessem não, dando, assim, uma prova de confiança nos que os ensinaram para que chegassem às faculdades.
Muitos deles estarão a curtir a ressaca de sexta-feira e nem darão pela multidão que vai chegar a Lisboa.