sexta-feira, julho 27, 2007

DESAPRENDER ATÉ MORRER

Eu ignorante me confesso. Absoluta ou absurdamente, nem sei. Sei que não entendo. Ler jornais não é, de maneira nenhuma (alguma?) modo de saber mais. Duas semanas e meia de Paris e arredores chegaram e sobraram para entender isso. Todos os jornais e televisões, grosso modo, dizem mal ou ridicularizam o personagem presidente da República, eleito com apreciável maioria.Digo grosso modo porque o canal do Estado abstem-se. Quando não se tem à mão um qualquer caso objectivo improvisa-se. Tem é que se dizer (ou escrever) mal. Objectivamente mal ou caricato. Ainda esta semana, um editorialista improvisou a cena que seria o despertar de Sarkosy, deslumbrado com o cargo, a acordar a esposa para lhe lembrar que ele era o Presidente. Uma cabotinice reles, porque não foi estampada no «inimigo público» do pasquim, mas nas páginas de política comum.

Mesmo o desfecho do caso das enfermeiras cativas e condenadas à morte foi asperamente criticado pelo facto da mulher do Presidente ter participado; e não obstante o facto do ministro dos assuntos exteriores ter explicado os contornos das negociações e da recusa do Khadafi em receber ministros ou executivos da comunidade europeia.
Durante quase oito anos as enfermeiras e um dos médicos tiveram presos a sujeitos a
torturas físicas e psicológicas e a ser condenados à morte. Médico e enfermeiras foram acusados de injectar crianças com o virus da sida, mas são os hospitais que adquirem os produtos farmacêuticos, importados do estrangeiro, não são nem os médicos nem os enfermeiros. Ninharias para Khadafi, os altos interesses de Estado não se compadecem.
E em Espanha é o herdeito do trono a não ter direito à ira, quando um pasquim qualquer, presumivelmente humorístico, sugere o príncipe desnudado a tomar por tràs a esposa. Mas se, ao invés, se tivesse exibido o director da publicação a ser papado por um cigano bem apessoado, como alguns deles gostam de ser, ( não sei se entenderam que eu quis dizer "apessoados" e não a expressão "papados"), talvez a reacção fosse diferente, sem pôr em causa a santificada liberdade da imprensa, que como qualquer outra liberdade tem limites apropriados, qualquer que seja a moral convencionada. Ele há merdas que se não dizem e brincadeiras de mau gosto.
Pessoalmente não sou monárquico; como não sou de esquerda e menos ainda de direita. Sou descrente por convicção.Mas pelo facto de não gostar do ex namorado da senhora Segolene não tenho o direito de lhe chamar filho da puta, apesar de ser notório que pelo tacho ele se tem sujeitado a tudo.
Suponho que ainda não se saiba ao certo se Chirac vai ou não ser acusado de filhas de putice reles, que poderão afogar Villepin, que creio ter alguma dificuldade em nadar fora de pé. Mas antes destes já um presidente de outra família política tinha mandado afundar um barco pacifista
que se opunha a experiências nucleares, no Pacífico e que, imagine-se!, também tinha descendência ilegítima, ainda que tivesse um bon ami em Lisboa!
Quando a ministra demitiu o funcionário por dizer graçolas deu para perceber que a liberdade de expressão é uma treta e coisa que nem o governo legítimo tolera. Pois que se lixem e fiquem
com toda a opressão de que forem capazes. Estou-me borrifando. Já passei dos setenta. Não preciso de cautelas nem caldos de galinha. Em qualquer circunstância morrerei de velho...

quinta-feira, julho 12, 2007

Defice Democrático

O tema da democracia em Portugal está na ordem do dia - de resto, nunca deveria ter deixado de estar - não porque o presidente da República chamou a atenção para eventuais atitudes de abuso do poder e evidentes carências dos partidos da Oposição, mas porque o nosso sistema não é um sistema democrático.
Eu explico: a estrutura de poder saída de eleições que, segundo tudo indica, decorrem dentro das regras democráticas vigentes em grande parte dos países europeus (pelo menos), regra geral, não cumpre o programa com que se candidatou às eleições.
Esta verdade, verificada desde o 25 de Abril, representa uma fraude insanável, com repercussões catastróficas em toda a vida nacional, a primeira das quais é representada pela desconfiança generalizada dos cidadãos em relação a todos os políticos.
Quando um povo, na sua quase globalidade, não acredita nos dirigentes que escolhe para o governar, está tudo errado, sobretudo porque esta desconfiança cria, primeiro, o descrédito das alternativas e, depois, afasta os cidadãos da pouca participação que o sistema lhes permite.
Este alheamento permite, por outro lado, que os sucessivos governos saídos de eleições, cada vez menos participadas, esqueçam facilmente os grandes problemas das populações em geral e dispensem especial atenção à satisfação dos interesses dos mais variados lobies, como a banca, os petróleos, os automóveis, os construtores, etc. etc.
A certeza de que o programa com que os partidos concorrem às eleições não vai ser cumprido, transformou, de resto, as eleições legislativas, não na escolha de um programa de governo, mas na votação numa figura para primeiro-ministro e as campanhas trasnformaram-se na "venda" de um leader.
Por isso, a população, de uma forma geral, não lê, não compara os programas dos diversos partidos concorrentes e guia o seu voto pela simpatia que tem por determinada figura, pela "necessidade" que sente em desalojar quem está no poder ou porque, assim como é do Benfica ou do Sporting, milita neste ou naquele partido.
O resultado é uma tensão permanente entre oposição e governo, tendo como único objectivo a disputa do poder e uma instabilidade social perigosa, que coloca em causa os fundamentos da ordem e da legalidade.
A continuidade da mentira não deveria poder continuar. Os programas apresentados ao sufrágio popular deveriam ser rigorosamente cumpridos, pelo que deveria existir uma instância constitucional com a possibilidade, diria mesmo, com a obrigação, de demitir o governo que não cumprissse o programa sufragado.
Esta possibilidade/obrigação poderia ser partilhada pelo presidente da República e pelo Conselho de Estado, cuja composição não poderia continuar a seguir o actual sistema.
Este modelo poderia ser substituído pela existência de um Senado, que partilharia tal responsabilidade com o presidente.
Ou uma outra solução, ou qualquer outra mais elabora e eficiente. O que é importante é acabar com a enorme mentira a que chegamos através de um processo aparentemente democrático.

quinta-feira, julho 05, 2007

Icêndios e Televisões

Nos últimos anos, por esta altura, as emissões televisivas já estavam em chamas. Qualquer incêndio dava direito a directos, a repetição de imagens, as mais dramáticas, um verdadeiro festival do inferno.
Felizmente, este ano a "época dos incêndios" está atrasada. As condições climatéricas não são propícias, nem aos incêndios naturais, nem aos provocados por loucos ou criminosos.
Este facto parece ter perturbado as perspectivas de alinhamento dos noticiários das televisões, que, entretanto, têm recorrido a um estratagema que já deveria ter sido condenado por quem de direito. Como não há incêndios em directo, recorrem, a propósito de tudo e nada, à recapitulação dos incêndios dos últimos anos, sobretudo dos mais dramáticos.
Esta atitude parece uma provocação: "então, vocês, os incendiários, onde estão?...estamos à vossa espera...sabem? é que é difícil investigar para obter notícias nacionais e as internacionais custam dinheiro...os incêndios também ajudam a resolver o problema das férias dos jornalistas e de muito mais gente...vamos nisso!