terça-feira, maio 25, 2010

E O Ouro Serve Para Quê?


A crise foi-se instalando há muitos anos. Não foi apenas agora com os especuladores, com as jogadas da Srª. Merkl, com as pantominices dos banqueiros, com a corrupção dos actuais políticos.


Não, ela começou há muitos anos, com a corrupção de antigos políticos, incluindo aqueles que, na primeira oportunidade abandonaram a política activa para se dedicarem aos negócios e assim justiificarem enriquecimentos estranhos.


A crise começou com a distribuição dos dinheiros que vinham da então CEE a troco do desmantelamento de barcos, de vinhas e olivais, de fábricas, do pequeno comércio para se espalhar pelo asfalto e pelo cimento armado das obras que deram à luz mais vigaristas. O dinheiro chegava, mas rapidamente partia, num processo igualzinho ao descrito por António Sérgio com os dinheiros provenientes das descobertas portuguesas.


Portugal foi e continua a ser o país da economia de passagem. Não há quem segure por aqui o din heiro. E os portugueses vão achando isso natural. Ficar sem indústria, sem agricultura, sem pescas, sem explorações mineiras, sem pequeno comércio, tudo isso foi e continua a ser normal.


Para os portugueses os responsáveis pelas crises são apontados a dedo nas televisões, as crises não têm história, não têm antecedentes, não têm causas, são assim como uma fatalidade: acontecem. E toda a gente paga de cara alegre..."que havemos de fazer?..." perguntam. "É sempre a mesma coisa..", acrescentam.


Já nem olham para o lado, para os Jardins, para os Salgados, para os Varas, para os Penedos, para os Coelhos, para os Loureiros, Os Oliveiras e Costa e tantos outros, não pensam neles e, se por ventura pensam, é para lhes invejar a "sorte" e a habilidade.


Ninguém quer saber porque é que a crise se aprofundou agora, perceber que a Srª. Merkl aparece como uma virgem ofendida, mas que, no fundo, a Alemanha beneficiou largamente com o Euro. Ninguém é capaz de constatar que o Euro também é (juntamente com a roubalheira que começou logo com os primeiros anos da CEE) uma das razões da nossa penúria. Portugal não tinha capacidade económica, porque já não tinha aparelho produtivo, para uma moeda tão forte como o Euro.


Todos reclamaram que a vida ficou, de um dia para o outro mais cara: vinte escudos passaram a ser traduzidos por 10 cêntimos; 200 escudos por um euro...


Todavia, as instituições competentes nunca apareceram a prestar informações sobre este fenómeno de encarecimento da vida por via de uma troca de moeda. Nenhum índice de preços no consumidor traduziu esta anomalia... ficou tudo no melhor dos mundos. E a crise foi aumentando, crescendo com a miopia dos governantes e o conformismo dos governados.


Sim, porque a verdade é que os maiores responsáveis somos nós, os governados, os que apenas votamos e nos esquivamos a todo o tipo de participação cívica e política.


E não estou a falar das manifestações dos Sindicatops e dos Partidos. Há trinta anos que se regem pela mesma filosofia, gritam os mesmos slogans sem nada obterem.


Falo de intervenção directa, de invectiva aos governantes e também aos dirigentes dos partidos e dos sindicatos. São todos responsáveis. Dão-se todos bem uns com os outros, bebem pelos mesmos copos, comem nos mesmos pratos e, em muitos casos, dormem nas mesmas camas.


É preciso pressionar, perguntar, interrogar e não esperar que os jornalistas, "pés de microfone" façam as perguntas que alguém lhes encomendou.


Não se pode deixar nenhuma oportunidade de fazer as perguntas cujas respostas nos interessam: onde está o dinheiro roubado no BPN, no BPP, porque é que a Caixa Geral de Depósitos não é um Banco Público a sério, porque é que os bancos não pagam impostos a sério?


Para que serve o ouro depositdado no Banco de Portugal, se os americanos continuam a governar o Mundo com os dólares que fabricam a esmo, sem peso, conta ou medida. Agora que a cotação do ouro subiu vendam essas toneladas que só estão a ocupar espaço, paguem a dívida pública e deixem-nos em paz, com trabalho e com a possibilidade de voltarmos a instalar um aparelho produtivo português. Digam à Srª Merkl que pode voltar ao marko.