sexta-feira, dezembro 31, 2004

Os Céus e os Infernos do Nosso Tempo

Vamos entrar, dentro de algumas horas, no sexto ano do sec. XXI da era cristã. As comemorações da passagem atravessam o Mundo, independentemente do tipo de civilização vigente nas diversas latitudes e toda a gente formula votos de que os próximos 365 dias sejam melhores do que os anteriores.
São já desejos formulados mecanicamente, porque, no fundo, as práticas do chamado mundo cristão, que define as datas e os ritmos de crescimento, não auguram nada de bom. O que aí vem é mais descriminação, mais exclusão, mais miséria, mais fome. E também mais riqueza acumulada, mais desigualdade, mais arrogância, mais hipocrisia.
E mais pilhagem.
Ao longo de todos os últimos vinte séculos desta nossa era se registaram acções de pilhagem, feitas em nome dos mais variados desígnios: a expansão da fé foi um dos mais evocados e também o que deu origem à maior acumulação de riqueza e, em consequência, à criação de grandes polos criadores de pobreza e exclusão.
Por isso, o Mundo ainda se divide - em primeiro lugar - em ricos e pobres. Uns são tão ricos que é impossível, sequer, imaginar como vivem, onde vivem, que rosto têm; outros são tão pobres que só os podemos ver descendo aos infernos que a nossa civilização foi criando.
Com o feroz abandono de alguns dos valores que classificavam pela positiva o cristianismo, como o amor pelo próximo e a caridade; com o atropelo permanente das regras que ao longo dos séculos se foram definindo para a convivência entre os homens, tais como a liberdade, igualdade, fraternidade; com tudo isto, assistimos à edificação de um Mundo em que os mais fortes esmagam os mais fracos, umas vezes em directo, à vista de todos, outras às escondidas, sem vergonha e também sem ética.
O sistema capitalista, que tomou conta do mundo cristão, no começo regido por princípios da ética protestante, foi perdendo referências e hoje tomou o freio nos dentes: não tem regras e executa a maior pilhagem de todos os séculos, apropriando-se de toda a capacidade de produção que a Humanidade foi criando, sempre na esperança de melhores dias para todos os Homens.
A verdade é que a riqueza criada pela capacidade tecnológica do nosso tempo, pertença da humanidade, pelo trabalho de milhões e milhões de homens e mulheres está a ser apropriada por meia dúzia de criadores de céus e infernos, gente que já não tem rosto nem nome
São eles que determinam o futuro, pelo que os desejos dos simples mortais, como eu, são apenas pequenos instantes de ilusão, desfeitos nas pequenas bolhas de um espumante, a fingir de champanhe, que partilhamos com os que nos rodeiam.
Para os portugueses, em especial, o futuro não é tranquilizador: porque, sem conseguirmos ver o tamanho da nossa Nação, continuamos a achar-nos pequenos e a confiar numa elite sem capacidade, sem imaginação e sem coragem para fugir aos desígnios da globalização da pilhagem.
Por cá também existem os pequenos pilhadores, os criadores de céus e infernos, gente sem rosto, que molda as ambições das novas gerações.
Uma nova geração de dirigentes políticos está a chegar ao poder. Na perspectiva da gestão do poder dos próximos tempos, seja o lado para que se olhe, não se vislumbra nada de bom ou de novo. Não há sequer a perspectiva de alguém anunciar a intenção de romper com o actual estado de coisas: o sistema político vai continuar a ser gerido em círculos fechados, dentro da lógica dos compadrios e amiguismos.
Esta nova geração vai ajudar à criação de mais céus e muitos mais infernos.
De qualquer modo, e porque estamos a poucas horas das borbulhas do espumante, não quero deixar de formular o meu desejo: que estas novas gerações de políticos reconheçam que precisam de introduzir na sua prática alguns dos valores que se foram perdendo e tenham a coragem de defender alterações no nosso sistema político: por exemplo, redução do número de deputados e a criação de um Senado, uma espécie de Conselho de Sábios, com as competências necessárias para garantirem que a República não se afunda num grande inferno.

Os Recuos das Demissões

Em Portugal ninguém se demite. Toda a gente aguarda a demissão, de papel passado. Dá garantias, indemnizações, reparações futuras, novas funções outros cargos e, "se Deus quiser" novas demissões. Não admira, portanto que o Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) tenha recuado na sua demissão depois de o governo se ter apropriado indevidamente dos valores do fundo de pensões dos trabalhadores da instituição.
Este recuo é ainda mais perceptível ao cidadão normal se ele entender os poderes de um membro do Conselho de Administração ( CA) do mais importante grupo financeiro de Portugal.
Apenas uma estória simples: Celeste Cardona , ex-ministra da Justiça, esposa de uma deputado europeu, sócia de uma firma de advogados especialista em encontrar saídas para as fraudes fiscais, logo a seguir aos primeiros dias da sua nomeação para membro do CA da CGD reuniu alguns directores responsáveis pela resolução de hipotecas nas Caldas da Rainha e disse: "há o caso do F... , em Óbidos, que é preciso ser resolvido...".
E foi. Tratava-se de uma hipoteca. A Caixa perdeu uma percentagem substancial do valor do bem hipotecado que voltou à posse de F...
Um poder destes não pode trocar-se pela palavra de um compromisso. Em nome do patriotismo, do interesse nacional ( estamos com sorte que já não se evoca a defesa nacional) , os srs. administradores continuam em funções. O próximo governo, se os quiser demitir, terá que lhes pagar as indemnizações previstas nas linhas e nas entrelinhas dos contratos, feitos e assinados a pensar no papel passado da demissão.

A Universalidade Da Estupidez

Não é possível fugir ao tema do momento: a Tragédia do Sul e Sudeste Asiáticos. Ninguém pode ficar indiferente ao verdadeiro holocausto provocado pela Natureza, com um número ainda indeterminado de vítimas , mas que, no final, vai seguramente, surpreender toda a gente. O Homem não foi feito para acreditar em semelhantes números - o Homem do nosso tempo (já ultrapassámos as verdades bíblicas...)
As análises técnico-científicas, as especulações filosóficas, as previsões, etc., etc., deixo-as para os epecialistas. Eu não posso deixar de notar que as televisões portuguesas não se cuibiram de transmitir imagens verdadeiramente indecorosas, sob a capa de grandes histórias humanas.
Assisti verdadeiramente compungido a uma entrevista de uma mãe que explicava com um ar perfeitamente normal ao repórter que registava o seu depoimento a grande angústia da sua necessidade de optar entre o filho mais novo e o mais velho, enquanto este a olhava e chorava convulsivamente.
Aquela mãe é, verdadeiramente, uma não-mãe, já que expõe a sua opção de forma clara ao excluído, sem nenhuma manifestação de afecto - sempre exibida perante o preferido. E aquele jornalista - será? - regista o momento, permitindo que ele passe à posteridade e amplie o sentimento de rejeição daquela criança, cuja recordação mais amarga do marmoto do Srilanka não vai ser a força das ondas mas a escolha da mãe.
Que tudo isto se registe numa câmara de televisão, num gravador, a quente, entende-se, mas que, depois, a frio, se sirva ao público, sabendo que, daqui a a alguns anos aquela criança vai ter uma prova inexorável para apresentar à mãe, responsabilizando-a por todas as brigas com o irmão mais novo, por todos os conflitos com os camaradas da Escola, etc., etc., é demais e não vale carreira nenhuma. Isto, no caso de ele ter consciência de que o seu comportamento é fruto de tal rejeição evidente, publicitada aos quatro ventos e conhecida de todos os cinco continentes. Porque se não tiver essa consciência, pode fazer coisas verdadeiramente bíblicas, assim como a catástrofe Asiática.
No meio de tudo isto, custa perceber que um apresentador de telejornal ainda se dê ao desplante de se apresentar comovido (só lhe faltam as lágrimas...) perante a cena.
Na verdade, o que se exigia ao cabeça de cartaz (neste caso, o Carlos Daniel da RTP) era rejeitar tal reportagem, ainda que corresse o risco de quebar uma cadeia internacional de iditotice. A verdade é que, infelizmente para a Humanidade, não existem mentecaptos apenas em Portugal.l

quinta-feira, dezembro 30, 2004

Castração

A palavra castração é exacta para descrever o actual estado PSD. É espantoso como um partido que sempre soube reagir perante a possibilidade de chegar ao poder ficou parado frente à grande probabilidade de o perder.

Toda a gente perde muito tempo com Santana Lopes. Nos jornais, nas rádios nas televisões, os comentadores encartados e desencartados. Por mim, já escrevi aqui que Santana Lopes, felizmente para o país, é um problema do PSD. Todavia, quando tal escrevi ainda tinha a esperança de ver o PSD reagir e encontrar uma solução que lhe permitisse recuperar alguns dos estragos provocados pela sandice de Santana Lopes e da sua equipa.
Passado algum tempo, concluo que o PSD está mesmo manietado, sem capacidade de recuperação com toda a gente, no partido, a confiar numa coisa espantosa: na capacidade de "combate" do Pedro. Francamente! o homem até a ler os papéis que lhe dão se engasga... E quando fala de improviso só lhe vem lixo à boca!
Os profissionais do marketing político não fazem milagres e alguns, de tanto se esforçarem, acabam mesmo por conseguir os efeitos contrários ao que programaram.
Este PSD está mesmo castrado e isso não é bom para a democracia portuguesa, até porque, depois das eleições, os ajustes de contas não vão ser rápidos. Santana Lopes não é o único responsável. Quem o deixou chegar à liderança também vai ser julgado. Por quem? haverá gente limpa neste processo de destruição de uma força política com a história do PSD?

quarta-feira, dezembro 29, 2004

Um Regresso

A notícia tem alguns dias - diria mesmo algumas semanas - mas não foi devidamente comentada por ninguém (pelo menos de forma notória). E merecia pelo menos um nota de rodapé a lembrar alguma da história recente da única agência de notícias portuguesa e algumas das suas vicissitudes.

Refiro-me ao regresso de José Manuel Barroso (sem Durão no meio) à tal Agência, agora Lusa, chamada de ANOP no tempo da sua direcção, quando tinha a força da principal e melhor Redacção do país.
Essa força custou-lhe a extinção, como sempre acontece em Portugal a qualquer projecto que ultrapasse os limites da mediocridade das elites governantes deste país há séculos. Foi extinta, depois de ter tido de conviver com uma outra, chamada NP (Notícias de Portugal), cuja criação foi da responsabilidade do primeiro-ministro de então, Pinto Balsemão, do secretário de estado da comunicação social, José Alfaia e do seu homem-todo-poderoso, José Manuel Barroso.
Barroso transformou-se no principal adversário da ANOP, levada a fundir-se com a NP neste projecto de agora, num processo verdadeiramente kafkiano, com os principais quadros da ANOP a dizerem-se dispostos a lutar pela sua manutenção, mas nos bastidores a negociarem com a administração da NP, isto é, com Barroso, o seu fim.
Barroso acabou por pagar os zig-zags das suas alianças políticas, mas regressa agora à gestão da Agência que substituiu a ANOP, cujo fim ele preconizou. Este seu regresso tem alguma coisa de errado. Parece o "making off" de alguns editoriais da breve direcção interina do Diário de Notícias. Se assim é, os anos não mudaram o homem. Esperemos que, do ponto de vista técnico, não tenha perdido capacidades e se tenha actualizado para colocar as novas tecnologias ao serviço da única Agência portuguesa num Mundo cada vez mais globalizado, mas com uma comunicação social cada vez mais controlada pelos grandes interesses internacionais (ele sabe do que falo).

O Partido-Estado

A vida dá muitas voltas. Umas esquecem-se, mas outras são como que marcadas a fogo na memória de quem as deu. Viver numa sociedade em que não se sabe muito bem quem manda, se o partido no poder, se o Estado, é uma delas

Hoje assaltou-me um temor ao ver um homem, com uma gravata flamejante, chamado Relvas, a falar em nome do PSD e a desmentir uma notícia que dizia respeito ao governo.

Garantia o sr. Relvas que a notícia publicada pelo "Diário Económico", segundo a qual o governo tinha protelado o pagamento dos subsídios de desemprego e de saúde até ao início do próximo ano, para, dessa maneira, equilibrar ainda mais o défice, era mentira e quase insultava o jornal que a tinha publicado.

O que é que o sr. Relvas tem a ver com o assunto? Porquê um desmentido tão veemente?

Não sabe o sr. Relvas que o truque já é velho e que até algumas empresas cotadas em bolsa, que não podem deixar de pagar aos seus fornecedores no prazo máximo de sessenta dias, deixam de cumprir os seus compromissos a partir de Setembro para, dessa maneira, enganarem sobretudo os accionistas, que, depois, sancionam os chorudos prémios que os administradores distribuem entre si?

Teve azar o governo e foi apanhado em mais uma trapalhada. E o que é que o PSD e o seu secretário geral têm com isso? Estamos a caminho de um regime ML, de partido único, em que o partido manda no Estado? Se assim é, avisem com antecedência, porque a emigração não está fechada para todos os lados e ainda há uns onde se pode viver, sem a escravatura do capital e sem a ditadura do proletariado.

terça-feira, dezembro 28, 2004

Um Hora Certa

Corro o risco de transformar este blog numa peça de tema único. Não era essa a intenção, mas a verdade é que - tenho que o admitir - reajo às agressões do meio social com toda a minha energia.

A chamada comunicação social ( sobretudo a televisão) é hoje o principal meio de agressão dos cidadãos que se disponibilizem a dar-lhe atenção.

Para esses, as doses estão calculadas: todas as televisões generalistas têm jornais de horas certas: das 13 às 14 h e das 20 às 21 horas. Uma hora certa de notícias, dê por onde der.

Há uma das televisões de canal aberto, a SIC, que termina o telejornal das 13 sempre às 14 (em ponto), porque a essa hora principia a série do cão polícia REX, que, nem o facto de ir já na enésima repetição lhe retira o mérito de ser melhor do que a hora inteira de notícias e palhaçadas, apresentadas com o ar de coisa importante que todos os pivots dos jornais televisivos fazem para introduzir mais um desgraça, um desastre ou uma violação.

Este é outro dos aspectos caricatos dos telejornais : o ar compungido, sério, trágico, que os apresentadores de notícias das nossas televisões fazem para ler os telepontos. Com um pouco de atenção percebe-se que a responsabilidade que o espectador lhes atribui não existe, mesmo quando o dito leitor é o próprio director de informação.

O texto é o mesmo de todas as outras e foi fornecido pela mesma Agência, normalmente, a Lusa, que já fez o trabalho de tradução - e agora até imagens fornece.

Quando ficamos minimamente atentos percebemos que aquele ar interessado que o José dos Santos ou o José Alberto, ou a Clara não sei quantos e o Rodrigo Carvalho e mais a Alberta e até o Henrique Garcia... fazem é apenas representação. Não têm nada a ver com os textos, não visionaram nada antes, não têm e a mínima responsabilidade do que leêm ou das reportagens que introduzem.
Apenas têm que aguentar o jornal o tempo determinado. Depende da publicidade que têm ou não têm - e da que o patrão gostaria de ter e da que a concorrência exibe. E se, para estar no ar mais cinco minutos têm que ouvir um iditota qualquer que foi apanhado desprevenido na rua, então ouça-se o idiota!
Bem poderiam aparecer com outro ar, mais descomprometido - é que ainda há gente que acredita nas notícias que leêm. Esta crença complica tudo, quando aparecem com a mesma cara interessada e até com a mesma gravata a dar voz a coisas realmente importantes. Ao menos, mudem de cenário, de guarda-roupa ou tão só de gravata!
Para o caso de alguém que me lê achar que exagero, um pormenor: há cerca de um mês, soube que, finalmente, a NASA tinha conseguido pôr no ar um avião que consome como combustível o hidrogénio da atmosfera e anda a uma velocidade de 10.000 quilómetros por hora porque vi o Telejornal do GNT às 00H15. Foi a notícia de abertura daquele canal da Globo. Algém viu essa notícia na Televisão Portuguesa?... AS IMAGENS DEVIAM SER MUITO CARAS.


domingo, dezembro 26, 2004

A Solidariedade Natalícia

A Solidariedade Natalícia transformou-se em operação de marketing de imagem. Faz parte dos manuais de qualquer assessor : o Natal é uma época excelente para fazer passar a ideia de que as grandes empresas não existem apenas para capitalizar lucros, fugir aos impostos, arrecadar percentagens excessivas dos índices de produtividade alcançados por toda a sociedade em que e de que vivem. Não. Elas também são solidárias com as desgraças que fomentam ao longo de todo o ano. Desempregam e desalojam gente, exploram o trabalho até ao limite do possível, sugam as capacidade do Estado, obrigando-o a privatizar os serviços que dão lucros, depois de livres das despesas de caracter social, etc., etc. E, na época natalícia (ou natalina, como dizem os brasileiros), aparecem vestidos com a capa de solidariedade, a divulgar as suas preocupações com a desgraça dos outros...
Este Natal a preocupação atingiu o limite da hipocrisia e já parece uma anedota de mau gosto, contada no Ri-te Ri-te da SIC.
O presidente da BES , Ricardo Salgado, ele mesmo em pessoa, apareceu numa das televisões nacionais, de canal aberto, a divulgar a sua brilhante ideia: abriu uma conta no seu banco para que as pessoas se solidarizem com os desgraçados, com os enjeitados, com os desprotegidos da sorte, com as criaturas que não conseguiram resistir às pressões que a Banca, no seu conjunto, desenvolveu durante o resto dos dias deste e de todos os outros anos em que todos eles ficaram cada vez mais ricos.
Esta operação vergonhosa de marketing de imagem só se percebe num contexto de senilidade de de mau aconselhamento. Porque não aparece o dr. Roberto Salgado a fazer uma verdadeira notícia, anunciando que o seu banco disponibilizou uns tantos dos muitos milhões que ganhou durante este ano apenas em operações de off shore ou em contratos que obrigaram empresas que controla de forma ilícita para assistência dos muitos dos sacrificados no seu próprio altar de lucros desenfreados?
Assim, sim, estaríamos a assistir a uma operação de genuína solidariedade e não apenas a mais uma manobra de marketing de imagem, associada a um último esforço para compôr os números do ano de 2004.
Depois de uma destas só resta um conselho: mude de assessor de imagem, mas não contrate a JLM & Associados porque essa também está a cobrir de ridículo algumas das grandes empresas deste país. Além de que já obrigou o dr. Ricardo Salgado a aceitar como presidente da Lusomundo o Luís Delgado...

As Propostas da Vergonha

Hoje é dia de Natal e, por isso, é a altura certa para falar de coisas sérias. Há, nesta Terra de Deus gente sem vergonha a desempenhar papéis destinados a gente honrada e séria. Refiro-me à direcção de alguns jornais que não têm vergonha de tentar contratar jornalistas licenciados, com experiência profissional, com curriculo a que associam capacidades evidentes, oferecendo títulos de alimentação e transporte, num montante de 125 Euros, ou seja, 25 contos por mês. E são direcções representadas por gente que depois se apresentam em público defendendo as chamadas ideias de esquerda.
Enquanto esta vergonha continuar a comunicação social será o que é, porque sujeita às pressões das agências de comunicação, que já tomaram conta das editorias dos jornais das rádios e das televisões a troco de carteiras de publicidade que lhes foram entregues de mão beijada pelas administrações das grandes empresas.
Por isso, os presidentes podem aparecer a dizer que nunca fizeram pressão sobre ninguém. Pois não: pagam - e bem - a quem faça o trabalho sujo por eles.
Não há melhor dia do que o de Natal para lembrar que este país se está a reestruturar em cima de gente sem escrúpulos e com muito poder e que a chamada liberdade de imprensa não é mais do que uma peça de um leilão feito em feiras semelhantes à de Carcavelos.

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Défice e Produtividade

Ouço políticos, economistas e professores de uma e outra coisa e não posso deixar de ficar surpreendido. A conversa de uns e outros é sempre a mesma. Alguns jornalistas da área económica (os tais, que, por determinação da Comissão Europeia deveriam fazer declaração de património) dizem que sim, abanando a cabeça. As soluções apresentadas traduzem-se sempre na necessidade de reduzir trabalhadores da função pública, subtrair gastos à saúde, à educação, na obrigação de fazer os cidadãos pagar mais pelos serviços, pelas auto-estradas, mais impostos, etc.
Como nunca aparece ninguém a defender outra saída, já que os meios de comunicação foram tomados de vez por gente clonada de algum cifrão, fico com a certeza de que é isso mesmo que vai acontecer. Num futuro não muito longíncuo vamos pagar mais por tudo. Teremos mesmo alguma sorte se não aparecer ninguém a inventar um imposto que cubra os desvarios de governantes e autarcas, tipo ex-presidente da Câmara da Figueira da Foz, que, com os quilómetros que debitou durate o seu mandato teria dado várias voltas ao Mundo.
Todavia, a desgraça, a calamidade, a fatalidade não está, seguramente, no excesso de trabalhadores e nos "baixos" impostos que pagamos.
Atente-se neste facto: os CTT, por exemplo, há trinta anos, ou menos, tinha um complexo sistema de selecção de correspondência, com centenas de trabalhadores que se ocupavam dessa tarefa - para só falar desta. Hoje - uma das televisões apresentou há poucos dias uma reportagem sobre o tema - a selecção das cartas é toda automatizada. Quantos trabalhadores desapareceram com o sistema?
Qual é o índice de produtividade entretanto atingido? Nesta e noutras actividades - em todas elas (indústra, comércio, serviços, etc., etc.) ?
O resultado desse aumento espectacular - inimaginável há trinta anos - de produtividade está aonde? porque é que temos um Estado miserável, governado por parolos que se fazem transportar em viaturas de topo de gama, protegidos por um pelotão de seguranças e por um sistema de emergência médica complicado?
Para onde(foi) vai o produto desse aumento de produtividade? Voltando ao exemplo dos CTT: não foi para melhorar a qualidade dos serviços ou para os embaratecer.É que, por exemplo, uma carta enviada de Lisboa para a Finlândia, em correio azul, custa 1,30Euros. O mesmo tipo de serviço, da Finândia para Lisboa custa 0,65 Euros.
A Finlândia é, como se sabe, o primeiro país do Mundo em matéria de satisfação dos seus cidadãos.
Insistindo ainda nos CTT: a transferência do respectivo fundo de pensões, levada a cabo por Manuela Ferreira Leite e tão criticada agora por Bagão Felix, retirou à respectiva administração um enorme encargo, transferindo-o para o Estado. Esse facto vai aparecer reflectido nos resultados e, seguramente, permitir a Carlos Horta e Costa mandar rezar mais uma missa de acção de graças.
Fugindo da anedota: porque é que os homens da chamada comunicação social não aprofundam estas questões e se ficam a pontuar as conversas dos "sábios"?- tão sábios que já nem conhecem a realidade dos pobres mortais.
Será que os "pontos" da chamada comunicação social também se identificam com os problemas dos administradores, que fazem as empresas pagar todas as suas despesas, incluindo as do super-mercado e depois anunciam "ambiciosos projectos de reestruturação", que, no essencial, consistem na redução de mais uns milhares de trabalhadores?
A verdade é que, ao ouvir alguns directores de jornais, temos a sensação de estar a ouvir directores comerciais. Isto para já não falar dos auto-intitulados jornalistas e que são presidentes e vice-presidentes de empresas e comunicação social e de jornalistas que colaboram com as entidades patronais em mais do que uma função, sendo que a de jornalista é claramente prejudicada pelas outras.
Concluindo: é necessário levar a discussão sobre o défice do Estado para outro nível, escolher outro patamar e outros interlocutores e deixar de atormentar o cidadão que vive (mal) do seu trabalho, que tem que pagar tudo e ainda se preocupa com as asneiras dos governantes. Asneiras, isto é, descaminhos, porque quando se trata dos seus interesses e dos respectivos amigos só há operações de sucesso.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

A "Season" da GNR

"Começou a operação Natal" - ouve-se em todas as Rádios. Mil e não sei quantos agentes da GNR vão para a rua - lê-se nos jornais. Teve início a "season" da GNR-BT - digo eu.

Com que ansiedade alguns dos majores e capitães da corporação não mandam limpar as fardas, os bonés, engraxar as botas. Os tempos de antena deles estão a chegar - para dizerem sempre as mesmas coisas.
Eu só os vejo nas televisões ou em locais estratégicos, naqueles onde, habitualmente, não há dificuldades de circulação, em operações de verdadeira caça às multas e a mandar parar, sempre, os cidadãos com aspecto de cumpridores. Em toda a minha vida nunca vi um GNR a aparecer no momento certo, quando um daqueles desvairados que andam na estrada faz tropelias durante quilómetros e quilómetros, pondo em risco a sua própria vida e a de todos os outros que com ele se cruzam.
A BT da GNR nunca está nos sítios onde há dificuldades, para ajudar os cidadãos, como compete a uma polícia de um país democrático. A BT da GNR ainda não conseguiu ultrapassar a noção de autoridade que lhe foi atribuída a quando da sua formação. É verdade que hoje cumprimentam com ar educado (fingido, irónico) o incauto apanhado nas emboscadas que eles montam, escondidos atrás de um carro, de uma árvore ou a bordo de potentes viaturas com sofisticados meios tecnológicos, mas, no fundo, apenas conhecem a repressão como meio de actuação.
Agora, que a" season" deles voltou, vão continuar a acusar os condutores dos mais variados erros, generalizando o conceito de que são todos uns prevaricadores. Jamais referem as más condições das estradas, a deficiente sinalização ou a evidente armadilha de um código completamente desajustado da realidade e que nos obriga a viver uma hipocrisia colectiva para a qual aquela instituição contribui denodadamente.
Enfim... lá vamos ter que os aturar mais um ano, debitando números sem interesse nenhum uma vez que não têm um termo de comparação ajustado. De que interessa saber o número de desastres ocorridos na época de Natal, se o termo de comparação é o Natal anterior e nunca um período de tempo igual em circunstâncias normais? O número que ultrapassasse as condições normais é que seria atribuído ao Natal, e serviria de comparação com os outros Natais.
Os homens de farda impecável, de boné de apresentador de circo e de botas de montar muito engraxadas, mais os bustos falantes das televisões (às vezes caras larocas de cabelos ao vento) vão começar a invadir-nos o sossego das nossas casas para nos assustar, para nos impressionar e nunca para nos ajudar, para serem úteis. Para eles, UMA BOA "SEASON".

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Título de Jornal

Ouço na Rádio a notícia sobre a publicidade que o governo Santana/Portas mandou colocar e pagar nos jornais, sob a forma de encarte a cores com o objectivo de publicitar o orçamento de Estado para o ano de 2005.

Quedo-me e imagino qual seria o título de o "Independente" nos tempos da direcção turbulenta de Paulo Portas:

FAMÍLIA SURPREENDIDA PROTESTA
DEFUNTO PAGA A CORES PÁGINA DE NECROLOGIA

João Lóio

Ouço o CD "ENCONTROS", com música e letra de João Lóio, uma colaboração variadíssima de artistas portugueses. Pergunto-me: por que razões nunca ouvi isto na Rádio Portuguesa? Não houve nenhuma editora com coragem suficiente para apostar na qualidade e pagar aos dg's do país radiofónico, transformado no mundo dos pirosos e das pirosas?

terça-feira, dezembro 21, 2004

Ingenuidades (?)

A propósito do regresso da polémica da co-incineração, provocada pelo candidato do PS a primeiro-ministro, uma parte da comunicação social portuguesa foi fundo e voltou a congregar todos os demónios, com entrevistas a gente vivamente interessada no problema e nas consequências das diversas soluções.O desassombro de alguns dos protagonistas não é nada claro. E a ingenuidade deles também não assenta bem.

As entrevistas de rua são um dos males do nosso tempo. Com equipamento que lhes permite, de qualquer lugarejo enviar um sinal em directo, os profissionais da comunicação social, sempre que têm oportunidade, recorrem a ele. Algumas vezes, simplesmente, para dizer que não há nada de novo.

Como é o caso desta requentada polémica: não há nada de novo. A não ser o acumular dos resíduos tóxicos perigosos, cuja tonelagem aumentou significativamente nestes dois anos e meio de governação coligada.
Também não é novo o facto de nenhum órgão de comunicação social (televisão, rádio, jornal) se ter referido ao problema durante este lapso de tempo.
Porque é que José Sócrates levantou tal questão, sabendo, concerteza, que ela seria aproveitada como uma verdadeira manobra de diversão para desviar as atenções do que está em causa neste momento? Terá sido por ingenuidade?
Logo apareceram algumas vozes a dizer que está a decorrer um concurso internacional para uma solução alternativa, muito mais eficaz e menos perigosa. Mas, se assim é porque não foi ela posta à discussão pública e, como seria de esperar, apresentada como uma das bandeiras do governo PSD/PP, já que nasceu da anulação de uma decisão muito polémica do último governo PS? Terá sido por ingenuidade? Logo agora que iam começar...
Das várias entrevistas a que assisti destaco duas: a primeira, durante um dos jornais da RTP - o das 13 - com um dos signatários dos relatários que recomendou a António Guterres a co-incineração e que, no final, perguntou ao profissional da comunicação social que o interrogava se, ele, por acaso, sabia o que significava a tal sigla que identificava a alternativa, sem indicar nenhuma tecnologia.
O profissional da comunicação social respondeu que nos próximos dias se saberia. Ficámos a saber que ele - profissional da comunicação social - , apesar de ter feito uma entrevista sobre o assunto, não conhecia o significado de uma sigla - que eu também não percebi. Terá sido ingénuo, ao prometer para os próximos dias o conhecimento de assunto tão momentoso? De certeza que vamos ouvir a tal sigla o número suficiente de vezes para a decorar. Os anti-co-incineração não se esquecerão de a lembrar. E a RTP também.
A outra entrevista é a de uma Souselense, que, em síntese, dizia que o engº. Sócrates, ao anunciar a sua decisão tão precocemente demonstrava que "os tinha no sítio" e garantia que os de Souselas também. Terá sido por ingenuidade?
De repente, lembrei-me da estória dos órgãos da Igreja de Souselas que tanto irritava os souselenses de outros tempos, dos tempos em que a cimenteira ainda não despejava por cima das hortas, das casas e das cabeças baixas o seu veneno branco.

sábado, dezembro 18, 2004

É Necessário Responsabilizar

O Engº. José Sócrates disse ontem, em Lisboa que, no caso de o PS ganhar as eleições de 20 de Fevereiro, não vai passar o tempo a criticar os anteriores governos, a fazer apelos ao passado e não vai desfazer o que, eventualmente esteja bem feito, só porque foi feito por outros.

Tudo bem. A conversa da herança do passado faz lembrar os poderes africanos, que, trinta anos depois, ainda atribuem as culpas de todas as desgraças ao colonialismo.

Todavia, é necessário responsabilizar os autores de erros graves, começando pela sua denúncia, para que não aconteça o que sucedeu ao PS, quando, em 1995, subiu ao poder e se esqueceu(?) de denunciar todos os atropelos cometidos pelos governos de Cavaco Silva. Apenas dois exemplos: o PSD de Cavaco Silva matinha milhares de trabalhadores da função pública a recibo verde, em situações verdadeiramente kafkianas e o PS admitiu-os nos quadros que comportavam as vagas para tal.

Pois bem: alguns meses depois já o PS estava ser acusado de ter sobrecarregado a função pública.

Houve muitas auditorias levadas a cabo em diversas estruturas empresariais da responsabilidade do Estado e em diversos níveis da administração pública e que demonstravam erros e falcatruas dos anteriores gestores e que foram silenciadas. Porque razão? por causa das eventuais cumplicidades do chamado lobi dos gestores públicos - que fazem todos parte do bloco central?

Não interessam agora as razões, mas importa lembrar ao engº. Sócrates que o PS, mais tarde, acabou por pagar esse branqueamento.

O Beneficiário do Regime Durão-Santana

Um dos jornais de hoje avança com a ideia de que o empresário Pereira Coutinho pode vir a comprar a Lusomundo.
Depois que A JLM, por intermédio de Luís Delgado e Mário Bettencourt Rezendes tomou conta daquele activo da PtMultimédia, beneficiando da acção política de Morais Sarmento, que ameaçou o BES de mandar retirar daquele Banco todas as contas do Estado e das empresas públicas, no caso de aqueles administradores não serem aceites (v. post anterior: "Administradores-Comentadores" e respectivo comentário)... desde essa altura que se têm visto na praça muitos potenciais compradores.
Mas este nome nunca tinha aparecido, pelo menos publicamente... Ao aparecer agora, naquele que parece o último fôlego do regime Durão-Santana, pode significar jogo perdido para os outros, inclusivé para a PTMultimédia e, por conseguinte para a PT, cujos accionistas, ou estão demasiado longe ou demasiado distraídos para perceberem as jogadas que por aí vão.
Pereira Coutinho é o mesmo que comprou a Quinta da Falagueira, que desenhou e já vendeu as urbanizações da Artilharia 1 e do ex-Colégio dos Maristas, beneficiando das mais valias do Túnel do Marquês, pagas pelo dinheiro de todos os contribuintes.
Ao propor-se como candidato à compra da Lusomundo tem a companhia de Morais Sarmento e outros políticos do actual circo político - o que quer dizer que um leque importante de órgãos de comunicação social sai da esfera de um grupo económico poderoso, mas respeitável, e ainda com alguma intervenção de um accionista - o Estado - que tem a obrigação de manter as distâncias necessárias, para a de um grupo económico que joga, aparentemente, na troca de favores e no compadrio político.
Por isso se estranha que o actual secretário-geral do PS, numa aparente posição de ignorância do jogo que se joga entre a JLM, Luís Delgado, Morais Sarmento e os eventuais financiadores de tal compra, venha defender que a PT se deve libertar da Lusomundo. A favor de quem?
O que deve ser defendido, antes de mais, é a clarificação dos interesses que se jogam através da João Líbano Monteiro e Associados, bem como de toda a rede dos seus interesses ( em que se incluem antigos e actuais ministros do PSD), com a colocação de gente sua em todas as grandes empresas ainda ligadas ao estado, mesmo que seja apenas por simples golden shares.
Defender a venda da Lusomundo nas actuais circunstâncias é favorecer, seguramente, o aparecimento de mais um grupo de comunicação social virado apenas para a defesa dos seus interesses.
Que os políticos não se queixem depois que o poder da comunicação social fragiliza o poder político. É que o poder económico paga ... enquanto o poder político aposta na sua capacidade de manipulação pela militância. Onde é que isso já vai?!

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Poder Fragilizado

Rui Rio, no Porto, disse que o poder político está fragilizado em virtude de outros poderes, nomeadamente o da Comunicação Social. Logo acorreu Morais Sarmento o ministro ex-barbudo, solícito a concordar.
Percebe-se cada vez melhor o fundamento da tentativa de criação de uma central de comunicação, assim como se entendem melhor as razões para as pressões denunciadas em texto deste blog, a que alguém juntou um comentário esclarecedor. Ver: "Administradores-Comentadores" e respectivo comentário

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Heranças

Em Lisboa, perto do chamado "Túnel do Marquês" apareceram de um dia para o outro uns cartazes ("outdoors") a anunciar que alguém (não se sabe quem) queria parar a obra, mas «nós», a Câmara Municipal, "vamos fazê-lo".
É a herança da vitimização. Como se o Túnel do Marquês fosse uma necessidade e o processo que fez parar as obras tivesse constituído uma calamidade para os lisboetas.
Os lisboetas, os que vivem, de facto, na cidade, muito agradeciam que não se abrissem mais vias de invasão automóvel. E já agora: também agredeciam que o trânsito na cidade não fosse desenhado em função das entradas e saídas. As voltas que é preciso dar para fazer uma vida de cidadão normal nesta capital transformada em mundo de lata e de gases tóxicos!
Os cartazes da Câmara devem ser simpáticos para as empresas imobiliárias que vão vender as urbanizações da Artilharia 1 e do antigo Colégio dos Maristas entre a Travessa da Légua da Póvoa e a Avenida Duarte Pacheco e de que o público vai tomar conhecimento depois de o túnel do Marquês estar pronto - contra não se sabe quem - e com infraestruturas pagas pelos impostos de todos nós.
Quando o Engº. Cruz Abecassis deu luz verde à edificação do complexo das Amoreiras negociou com o seu promotor o pagamento das respectivas infraestruturas. Os promotores das novas urbanizações vão pagar alguma coisa pela vantagem de terem uma urbanização no centro da capital sem os inconvenientes do intenso tráfego, gerado na ligação com auto-estrada de Cascais? Vão partilhar com a Câmara, não com os autores dos "outdoors", as mais valias ali criadas?
Quem explica estes fenómenos? São os que herdaram a estratégia da vitimização ou é ele mesmo, o seu criador - o Pedro?

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Problema para netos resolverem

Quando toda a gente imaginava que o anedotário nacional acabara, eis que os dois se reunem no Ritz e, com toda a pompa e circunstância, anunciam a festa do divórcio. Só não se sabe onde foram passar a lua de mel. Vão regressar em breve ao casamento - a sério - para ralhar um com o outro. Novo casamento entre as respectivas famílias só já entre netos. Nessa altura espera-se que haja netas para a cerimónia.

São apenas conjecturas sugeridas por esta opereta a que temos assistido, com um final anunciado: no palco vai entrar um taxi para levar os deputados do PP ao Parlamento, já que vai ser necessário poupar para pagar as obras do Caldas. Paulo Portas recusar-se-á entrar.

No mesmo plano e mesma cena, ainda mais torto do que tem aparecido nos últimos dias, mais vergado e mais coitadinho, Santana Lopes sairá pela porta das traseiras para não ser visto pela multidão dos seus até agora apaniguados. Sem saber para onde ir, acabará, seguramente, por ser acolhido na Quinta, em grande festividade.

Ainda o FMI

Nos últimos tempos (já lá vão alguns anos), a economia, os economistas e o "economês" tomaram conta da política: Tudo se resume a números, ou à sua manipulação, uma vez que a mesma realidade algébrica nem sempre quer dizer a mesma coisa.
Agora reapareceu uma espécie de sindicato dos patrões, chamado "compromisso Portugal", cujo nascimento se anunciou como manifestação de apoio ao governo de Durão Barroso, mas que agora renasce como eminência parda do futuro poder.
Avistaram-se com o ainda primeiro-ministro e com o secretário-geral do PS, José Sócrates. No final, lá estavam os microfones com os respectivos pés, para ouvir que os senhores nem querem ser ministros de coisa nenhuma (alguns deixariam de ter dinheiro para os charutos), o que eles querem...o que eles querem é fazer lobi. Sejamos claros.
Lobi a favor de mais benefícios do Estado, lobi a favor de legislação laboral mais permissiva...lobi, enfim, no sentido de assustar o poder político, agora que a crise, sendo económica e social, também já é política.
Mal andam os políticos que não percebem as intenções por detrás destas movimentações. Mal andam os políticos que não sentem o cerco e se esquecem de afirmar o primado da política na gestão do Estado.
E o primado da política em Portugal determina, sem sombra para dúvidas, que as pessoas são o mais importante. As pessoas e, consequentemente, o espaço que elas habitam, a vida que lhes é permitida.
Em Portugal, no princípio do sec.XXI, o primado da política impõe um novo ordenamento do Território, um ordenamento que tenha em conta toda a gente que vive neste país, que começa a transbordar para o Oceano Atlântico, enquanto o interior arde porque não tem pessoas.
A um novo poder, eu, que não sou sindicato de coisa nenhuma e costumo reunir o meu comité central na cabine telefónica mais próxima, aconselho um Gabinete pequeno, com poucos ministros, mas de peso. E que um deles tenha o Ordenamento do Território, com capacidades várias, a mais importante das quais terá de ser a de implantar um Portugal coeso, do ponto de vista social e político. Colocar a economia ao serviço das pessoas - numa palavra
Aos economistas restará, nesta perspectiva, a tarefa (nobre tarefa) de sugerir programas que cumpram o objectivo. Sejam proactivos. Estamos todos cansados de os ouvir falar dos erros cometidos. Estou cansado de os ouvir defender os programas abandonados nos Estados Unidos, às vezes há mais de dez anos. E também estou surpreendido com o regresso dos gurús da economia do FMI. Talvez seja tempo para uma reedição do texto de José Mário Branco, suponho que de 1981, agora em CD. Sugiro para título: "Ainda o FMI".

Ex? Ditador (II)

A minha angústia de ontem pela alegria incontida dos chilenos transforma-se num sentimento de nojo: afinal o velho ditador nem sequer foi preso em casa. A defesa recorreu. A sensação de que aquele humanóide morrerá sem sequer sofrer um a parcela mínima do castigo que merece pelo sofrimento que inflingiu a milhares e milhares de pessoas é revoltante.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Ex? Ditador

Vejo as imagens. Tão a correr que, ou custam muito dinheiro, ou quem as edita acha que está a perder tempo. Terá, seguramente, alguns automóveis espatifados para mostrar de todos os ângulos possíveis...

Vejo as imagens vindas de Santiago e não posso deixar de me angustiar com a alegria estampada naqueles rostos de chilenos que, apesar de tudo, ainda têm alguma esperança. Esperança de que a morte dos seus mais queridos seja - ao menos! - lembrada.

É uma alegria que me angustia porque, afinal, o fascista ditador Pinochet é apenas acusado de 1 crime de homicídio e 9 de rapto.
A seguir, mais demoradamente, mostram o homem a quem chamam ex-ditador e a encenação que a sua gente faz para o exibir doente, incapacitado, coitado. As imagens demoram o tempo suficiente para lhe ver os olhos matreiros, como que a gozar o espectáculo.
São uns olhos que me fazem esquecer a angústia e me lembram todos os horrores que já vi descritos sobre os resultados das suas ordens a hordas de criminosos. Porque é que um monstro daqueles é apenas detido em casa e o Mundo lhe chama "ex-ditador"?
Nem no Inferno deixará de ser chamado de ditador, tirano, assassino! As agências noticiosas deviam ser mais rigorosas e chamar as coisas e os horrores pelos seus nomes: um ditador é sempre um ditador

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Os Excluídos

Nesta fase de pré-campanha eleitoral os políticos vão enchendo os ouvidos dos eleitores com palavras sonantes: Cidadania é uma delas. E a seguir, juntam-lhes uma outra: os excluídos. Seria bom que atentassem devidamente nos conceitos que estão por detrás delas. É que a gente que vem tomando conta do país deixou de reconhecer o direito à cidadania a muitos cidadãos: aos que foi despedindo, pura e simplesmente e aos que foi atirando para situações de pré-reforma, de reforma antecipada e outras situações ainda mais segregadoras.
Num tempo em que a esperança de vida tem subido, numa altura em que os sistemas de segurança social, por efeito das medidas que os descapitalizaram, ameaçam não ter capacidade para cumprir os compromissos assumidos com os cidadãos que os sustentam, os donos do país formam regimentos de excluídos, recorrendo às chamadas reestruturações de empresas, isto é, à elaboração de "projectos ambiciosos", que se resumem, em alguns casos, a mandar para casa alguns milhares de trabalhadores.
Deste modo, o país tem uma grande parte da sua capacidade humana na ociosidade, no desespero e as empresas vivem o drama de terem gente muito jovem mas sem experiência e sem conhecimento da realidade em que se movimentam, mas com características importantes: são primos do cunhado do motorista de sua excelência...
Estes donos do país fazem lembrar a colonização britânica na Austrália, que excluiu de todo e qualquer processo de produção os aborígenes. Mas, atenção: foi o PS que abriu as portas ao processo.

Refundação

Ouvimos as preocupações dos políticos e não podemos deixar de ficar preocupados: é que eles não vão além da descrição de estados de alma. E são sempre relativos aos seus adversários políticos, contextualizados no actual estado de coisas, um enredo que nunca mais tem fim. O Mundo dos políticos é um mundo à parte - só deles - mas que perturba a vida de toda a gente. O pobre mortal, que não faz política, que não conhece nenhum político, mas que os vê e ouve todos os dias nas televisões e nas rádios, tem um quotidiano angustiado.
Aquilo que ouve nunca encaixa na sua realidade, os problemas de que se fala não são os seus problemas e por mais foruns de opinião que se abram nas várias frequências públicas, ninguém o ouve.
A nossa é uma democracia de monólogos. A Nação não se entende com o Estado.
A Nação gostaria de ouvir os gestores do Estado, ou candidatos a isso, dizer que vão recuperar a nossa indústria, a nossa agricultura, a nosssa pesca, que vão acabar com os diversos tipos de exclusão e que não vão permitir que a Europa, de que fazemos parte e nos respalda dos disparates dos tais políticos, não nos vai transformar em mordomos, em homens e mulheres a dias daqueles que de facto mandam na Europa.
Daqueles que , tendo sido o ponto de partida para os tais fundos de coesão que nos ajudaram a sair da pobreza gerada nos tempos do fascismo, são também o ponto de chegada para grande parte desses mesmos fundos.
O que os portugueses gostavam de ouvir era uma declação de confiança em todos eles, de respeito pelos seus direitos, pela sua cultura, pela sua forma de estar na vida.
Estou seguro de que mesmo aqueles que vivendo longe e há muito tempo haveriam de recuperar o seu gosto e o seu orgulho de serem portugueses, se a política em Portugal deixasse de ser uma espécie de busca sistemática, e sempre frustrada, do homem providencial e se transformasse num instrumento de refundação de uma vontade nacional forte, mas assente no respeito pelos direitos de todos nós e não apenas nos privilégios de meia dúzia.

Os Erros a Evitar

Vejo no Canal 2 da RTP uma entrevista com Jorge Coelho. A falta de habilidade dos entrevistadores é evidente. Não me parece que tenham feito a mínima preparação para a entrevista e vão repetindo perguntas a que toda a gente já respondeu e insistem no julgamento aos governos de António Guterres. Jorge Coelho lá lhes vai dizendo que o PS já pagou pelos erros cometidos, mas eles insistem e querem saber que erros foram esses. O ex-ministro das polícias - agora elogiado por elas mesmas - e ex-ministro do Equipamento, um cargo que desejou dois anos antes de o ter - lá lhes aponta a má estratégia para a campanha de 99, da sua responsabilidade directa.
Na entrevista não assumiu esta responsabilidade pessoal, assim como na altura própria não assumiu o facto de ter sido o responsável pela perda de um deputado em Setúbal, círculo por onde concorreu, e pela derrota em Lisboa, de cuja Federação era presidente.
Para o PS seria bom que o mesmo Jorge Coelho, se voltar ao poder, no caso de os socialistas ganharem as próximas eleições, não repetisse a sua estratégia pessoal de alianças com gente do PSD em prejuizo dos seus próprios camaradas, para não acontecer o mesmo de há uns anos atrás: o PS tinha a responsabilidade política e o PSD os benefícios do poder.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Administradores-Comentadores

Já aqui deixei algumas observações sobre a dupla condição que Luís Delgado e Mário Bettencourt Rezendes exibem publicamente: a de jornalistas promovidos à condição de Presidente e Vice-presidente da Lusomundo, uma empresa proprietária de órgãos de comunicação social, e a de comentadores políticos com posições pró e contra bem identificadas.
Também liguei a estranheza desta duplicidade ao facto de conhecer a existência de uma dependência orgânica muito forte entre a PT Multimédia e a SIC-Notícias, onde Luís Delgado exibia a sua boçalidade e Rezendes a sua subtileza canhestra.
Nos últimos dias, entretanto, as duas criaturas não têm aparecido na estação de Carnaxide (é assim que se diz em alguns meios jornalísticos), mas não se eximem a debitar as suas mais que previsíveis opiniões no Jornal em que foram jornalistas e de que são, agora, a quase suprema autoridade, o Diário de Notícias.
Digo "quase suprema", porque entre a deles há, pelo menos duas. A primeira e, segundo as regras definidas pela lei de imprensa, é a direcção do próprio jornal - posta em causa sempre que aparecem os escritos dos administradores, ainda auto-intitulados jornalistas.
A segunda é a da PTSGPS, principal accionista da PT Multimédia, por sua vez principal accionista da Lusomundo.
A PT SGPS sempre teve algum cuidado no seu relacionamento com a Comunicação Social e, mesmo, nos primeiros tempos, quando comprou a Lusomundo, a atitude dos principais órgãos de gestão foi de não interferência, deixando que as coisas corressem de acordo com os critérios existentes - pelo menos, foi essa a ideia que transpareceu.
Como é que, de repente, a PT, presidida por um aristocrata, por um gentleman da administração, aceita a promoção destas duas criaturas à condição de principais responsáveis por uma empresa que detém o controlo de um punhado de órgãos de comunicação social de grande peso na sociedade portuguesa?
Como é que Miguel Horta e Costa se deixou cair nesta armadilha? Como é que ele aceitou a pressão da JLM para a demissão de Fernando Lima, um profissional do jornalismo a que toda a gente reconhece uma postura irrepreensível ao longo da sua longa carreira, ainda que o identifique com o chamado "cavaquismo".
É que, apesar de tudo, os benefícios de Horta e Costa não parecem muito evidentes. Os seus amigos controladores de jornalistas não têm conseguido que os portugueses conheçam melhor (ou pior) o presidente do maior grupo empresarial português.
Será que os accionistas da PT, nomeadamente o BES, que domina de forma asfixiante o grupo (sem legitimidade para isso) tem planos para a Lusomundo e os impõe a MHC, exibindo, deste modo uma terceira autoridade quase clandestina, mas muito eficaz?
E já agora, uma última pergunta: será que a nova direcção do DN aceita as regras que Fernando Lima recusou e que são ditadas pela JLM?

O Estado-Empresa

Santana Lopes encarregou António Mexia de elaborar o programa de governo com que este PPD/PSD vai concorrer às próximas eleições legislativas antecipadas. Esta decisão do chefe (ou estará melhor dito caudilho?) do PSD pode ter várias interpretações. Deixo, todavia, apenas duas: ou o chefe acredita que é possível transformar o Estado numa empresa lucrativa, já que os cidadãos cumpridores e temerosos da lei vão continuar a pagar impostos para sustentar o Estado e os mesmos cidadãos, transformados em consumidores vão pagar tudo o que consumirem , de acordo com o único princípio defendido por António Mexia, o do consumidor-pagador.
Ou o Chefe acredita que a JLM ( João Líbano Monteiro e Associados) a poderosa central de comunicação (ou será melhor dito, de intoxicação ?), que suportou as sucessivas aparições de Mexia nas televisões e nos jornais vai fazer do programa do PPD/PSD um bestseller.

Clandestinidades do Nosso Tempo

Hoje em dia ninguém pensa em organizar um grupo político na clandestinidade. A democracia assenta na possibilidade que toda a gente tem de se juntar aos Partidos políticos existentes ou - se tiver força e influência para isso - fundar um outro, desde que cumpridas as necessárias formalidades legais. Digamos que, em matéria política, não há lugar para clandestinidades.
Todavia, a sociedade não é clara a todos os níveis e alguns dos que não são completamente claros atravessam a política, originando situações verdadeiramente inacreditáveis, quando olhadas às claras.
Não estou a falar da tendência portuguesa para uma certa prática do nepotismo, do amiguismo, etc., nem mesmo dos corredores que os dinheiros escuros percorrem para chegar sempre às mesmas bolsas.
Falo da necessidade urgente de o novo Parlamento, a sair das próximas eleições, aprovar, o mais depressa possível, uma lei que permita o casamento entre casais do mesmo sexo. Só desse modo a sociedade pode ficar livre da clandestinidade mais aberrante do nosso tempo.
Que os homossexuais tenham direito à família para nos salvarem de situações como as que, à boca pequena - trata-se de clandestinidades - se vão contando: ministros e secretários de estado ou chefes de gabinete a partilharem responsabilidades políticas e a cama; directores e directores adjuntos a partilharem opiniões e decisões de dia e noite, a todas as horas, situações que a ética por que se regem os casais heterossexuais impede que aconteçam.
Ao contrário do que possa parecer não estou a querer saber quem dorme com quem, estou apenas a defender o direito que os homossexuais têm de viver na plenitude os seus amores e o dever de a sociedade se organizar de forma cada vez mais transparente. Já nos bastam os lobis ilegais que já começaram, seguramente, a apertar o cerco a um eventual novo poder.

terça-feira, dezembro 07, 2004

Libertem os Árbitros

Sou um apaixonado pelo futebol mas não consigo ler os jornais desportivos ( que são, de facto, jornais de futebol) e abomino as longas horas de conversa, quer na Rádio, quer na Televisão sobre o futebol. Mas, a verdade é que perante o verdadeiro bombardeamento noticioso sobre a "operação apito dourado" não posso ignorar as sua razões: alegadas pressões ou mesmo acções de corrupção sobre os árbitros.
Desde que me conheço que existe esta desconfiança. Ela vem de tempos em que todos os poderes eram autocráticos, totalitários, ditatoriais, etc. Aos árbitros não seria possível, sequer, sugerir a sua libertação dos esquemas apertados de controlo das entidades tutelares. Ora, a verdade é que, também alegadamente, vivemos em democracia há mais de trinta anos e, por isso, não faz sentido que não sejam os árbitros a regular a sua vida, a eleger os seus órgãos directivos a instituir os seus métodos de avaliação, a estabelecer o preço da sua colaboração, a decidir sobre se continuam como prestadores de serviços a um sector completamente profissionalizado, na condição de amadores.
Será que os árbitros têm interesse em continuar tutelados? Ou, pelo contrário, as várias tutelas desejam continuar a desenvolver alegadas pressões ou mesmo acções de corrupção sobre os árbitros.
Que diabo! Libertem os árbitros ! Ora aqui está um tema a sério para os jornais ditos desportivos e que apenas falam de futebol - bem como para preencher pelo menos uma das intermináveis horas que nas Rádios e nas Televisões se gastam a discutir o Benfica, o Sporting e o Porto - porque dos outros também não se fala.

Mudanças do PCP

Apenas uma repórter da SIC Notícias, com aquele seu ar de quem está sempre a dizer coisas inteligentes ( além disso chama-se Ana Bela) notou uma das mudanças do PCP, no seu último Congresso. O Novo Secretário Geral, afinador de máquinas de profissão, pegou ao colo do neto, um gesto que, segundo a Ana Bela, configurava o início de uma nova atitude - o culto de personalidade de Jerónimo de Sousa. Mais ninguém - que eu tivesse ouvido ou lido - notou outras importantes mudanças: é que, sendo adepto do Benfica, o novo dirigente máximo (ou será o novo homem forte?) percebe que o seu jovem neto tem tendências sportinguistas e afirmou essa desconfiança ( ou será certeza?) em entrevista a Maria Flor Pedroso, na RDP. Ora esta tendência e esta aceitação prenuncia a mudança fundamental do novo PCP - as próximas gerações comunistas terão direito à discordância pública e publicitada.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Santana é um problema do PPD/PSD

A vida política portuguesa das últimas semanas atinge as raias do burlesco, mas tem um lado trágico-cómico que confrange pelo ridículo que revela. As reuniões dos estados-maiores dos partidos, os comunicados dos porta-vozes, as jogadas de antecipação percebidas pela recusa de falar com os jornalistas, a quem - entretanto - se comunicou, evidentemente, a existência de uma reunião. O que é preciso é o folclore das câmaras.
Os editores das televisões ainda não perceberam que não vale a pena mandar o microfone com o respectivo pé - basta a câmara para filmar os senhores, umas vezes com berrantes gravatas, outras com fatos desportivos a evidenciarem o como estão confrotáveis na pel e de políticos em fim de semana e quase a entrar de férias.
O CDS/PP vai ganhando as várias jogadas a que já assistimos e ainda não mecheu nenhuma peça importante. O PPD/PSD parece um clube da Segunda divisão a tentar não descer à terceira e impossibilitado de fazer uma chicotada psicológica - vai ter que sofrer até ao fim com o mesmo treinador.
Para o PPD/PSD no seu conjunto este cenário é um verdadeiro pesadelo. É que este partido é apenas um agrupamento de interesses e de pessoas com especial apetência para o poder. Basta veririficar que dos quase 31 anos da democracia portuguesa, 24 foram inteiramente dominados pelas suas siglas. E mesmo os seis anos de governo do PS têm, em muitas áreas, especialmente em empresas decisivas, o seu carimbo.
Pela primeira vez - se os homens que representam os interesses que os têm segurado no poder, nada fizerem - os chamados sociais-democratas vão iniciar uma longa travessia do deserto, um deserto tão agreste que pode implicar consequências catastróficas para os tais interesses e para os tais grupos de homens.
E tudo isto porque não conseguiram perceber na altura certa que mais lhes valia perder o poder por uns tempos, do que apostar num líder em quem ninguém confiava, um homem sem obra, só com conversa, conversa sem ideias.
Nem como dirigente desportivo conseguiu realizar nada. Como Presidente da Câmara da Figueira da Foz deixou um buraco de dívidas tão grande que o seu sucessor não tem feito outra coisa que pagar os calotes que por lá ficaram. De resto, ao relatório do Tribunal de Contas sobre a gestão de Santana na Figueira da Foz nunca foi dada nenhuma publicitação.
Eram os tempos em que dominava, de uma maneira ou de outra, a comuniucação social, a mesma que julgava poder continuar a dominar como primeiro-ministro - mesmo que para tal tivessse que recorrer à JLM e Associados para montar uma central de comunicação.
Só que os métodos da JLM, se chegaram para tirar o Fernando Lima da direcção do DN, não conseguiram eliminar o José Rodrigues dos Santos - que conhece bem um dos associados do João Líbano Monteiro.
Se os tais métodos conseguiram manter no ar, quase em permanência, alguns dos ministros de Santana, foi porque, entretanto, as redacções foram sendo invadidas por jovens jornalistas PSD's desejosos de servir os chefes e, às vezes, mais do que chefes.
Todavia, nas redacções dos Órgãos de Comunicação Social, existe uma desconfiança generalizada relativamente aos "colegas" que mantêm contactos com os "associados", uma desconfiança que leva os profissionais com estatuto, com nome e currriculum a ignorar pura e simplesmente as "notícias" provenientes dos seus vários agentes
O resultado do falhanço da única estratégia que Pedro Santana Lopes tinha - o controlo da CS - é esta peça trágico-cómica em que, se por um lado o CDS, o partido mais pequeno da coligação, anuncia que está a elaborar o seu programa e as suas listas para concorrer sózinho, o PSD fala de uma plataforma eleitoral sem contornos definidos.
Os portugueses vão ficando esclarecidos e aliviados, já que o problema chamado Pedro Santana Lopes deixou de ser nacional- ele é apenas do PPD/PSD. Pode ser que os sociais-democratas portugueses se redescubram durante os caminhos que os hão-de levar à inevitável solução, ainda que demorada.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Os Pobres e os Ricos

Eleições em Moçambique com uma abstenção de 70 por cento. Os moçambicanos estão fora do sistema político criado pelos que agora concorrem às eleições presidenciais. Um dos países mais empobrecidos (não pobres) do Mundo, dirigido por uma elite que não pára de enriquecer vira costas às eleições e ninguém tem uma explicação plausível. Mas há quem venha explicando já há algum tempo. Talvez valha a pena ler um texto de Mia Couto de 5/08/2003 :(link) //http://bazongadakilumba.blog-city.com/read/169355.htm Talvez dê para perceber que em Moçambique os ricos escolhem entre si quem governa o dinheiro deles. Os outros não têm nada nem ningém para escolher. Faz lembrar a pátria de onde veio a palavra democracia. Lá também havia os que não votavam - os escravos. Por isso Sócrates dizia: "rendo graças aos deuses, sobretudo por ter nascido livre e não escravo".

O Petróleo

O Petróleo continua a descer nos mercados internacionais. A descida já vai em 12 por cento em pouco tempo. Todavia, as petrolíferas não dizem nada, estão mudas e quedas. Nós - alguns de nós - sabemos que os preços do petróleo não têm um reflexo imediato no preço dos combustíveis vendidos ao público em geral. Nós e as petrolíferas sabemos que os aumentos de hás uns meses atrás só tinham justitificação no relevo que a comunicação social dava aos aumentos sucessivos do preço do crude.
E agora? porque é que as petrolíferas não anunciam a diminuição do preço da gasolina e do gasóleo? Porque a comunicação social - nomeadamente e sobretudo as televisões - não falam da descida dos preços do crude.
Aqui, lembro.me daquela inscrição que havia no muro da futura barragem de Alqueva "Porra, construam-me".
Oh jornalistas desta terra, olhem para a gente desta terra, Porrra! já chega de cegueira.
Sabem que há uma directiva da União Europeia que obriga os jornalistas de economia a fazer declaração de património?

Um País Parado

O País está parado. Ainda bem. Um passo mais e estaríamos estatelados no fundo precipício. O problema não é esse, o problema é que vai estar parado demasiado tempo. As instituições funcionam a carvão. O Presidente da República tem que cumprir não sei quantas formalidades e prazos para parar de facto o combóio da desgraça. Depois há os prazos das eleições e mais o tempo de espera depois delas. O país só vai andar daqui a seis meses ou mais.
Ora aqui está um tema sobre o qual se devia reflectir - sobretudo os Partidos que vão concorrer às eleições. Agora é que é tempo de apresentar propostas aos cidadãos.A criação de um sistema mais expedito, para nos livrarmos destes maquinistas suicidas talvez fosse bem visto.
Para além das vantagens que a rapidez de substituição de um mau governo tem, haveria ainda uma outra: obrigava os partidos políticos a estar permanentemente preparados para eleições, sob todos os pontos de vista, inclusivé o de saberem que entre os seus dirigentes há gente de quem o povo desconfia. A memória colectiva funciona melhor para os erros.

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Os Comentadores - Jornalistas

Já aqui fiz um reparo à permanência obsessiva de dois comentadores políticos na SIC Notícias e a relacionei com os contratos de parceria que existem entre a PT Multimédia e a SIC, por um lado, e a relação de poder absoluto entre a PT Multimédia e a Lusomundo, por outro. Repito os nomes: Luís Delgado e Mário Bettencourt Rezendes. Se, como jornalistas, pertencentes à Direcção de um Jornal, a sua posição validava as opiniões que expendiam, como presidente e vice-presidente da Lusomundo, as suas opiniões não têm o mesmo valor e, no caso, têm até alguns pressupostos que as deviam inibir. Refiro-me ao facto de se anunciar a possibilidade de venda da Lusomundo.
Esta possibilidade tem contornos mal definidos já que, se, por um lado, aparece como uma quase solução política para o que se considera a influência do governo numa panóplia de órgãos de comunicação social considerável, através de uma "golden share" do Estado na Portugal Telecom, por outro, ela é insinuada, nos chamados "meios bem informados" como uma operação que, beneficiando, sobretudo da posição de Luís Delgado na Lusomundo, faria passar a propriedade dos tais importantes órgãos de comunicação social para as mãos de gente ligada à política.
Neste cenário percebe-se mal que a SIC Notícias, que depende muito dos financiamentos da PTMultimédia, continue a recorrer a estes dois comentadores, em programas que, aparentemente, pretendem esclarecer a opinião pública, isto é, um conjunto muito grande de cidadãos, que, na altura própria, vai decidir em quem votar e, por isso, definir o novo poder político em Portugal. Ora, se o poder mudar, os projectos destes dois "comentadores"e dos interesses que os suportam, podem não se concretizar, pelo que o empenhamento com que defendem as suas opiniões não pode ser entendido como uma convicção político-ideológica. É um mero instrumento de negócio
De resto, a chusma de programas televisivos e radiofónicos com o aparente objectivo de promover a troca de opiniões é um dos nossos pecados, não porque o debate não seja importante, mas porque os intervenientes são sempre os mesmos, a dizer sempre as mesmas coisas. Muitos deles - percebe-se - já vivem há anos fora da realidade e apenas sabem discutir as intrigas dos corredores do poder, dos vários poderes que nos vão azucrinando a vida.
Se assim não fosse, já teriam aproveitado a oportunidade para promover a discussão dos problemas concretos do país, que têm a ver com a criação de riqueza e com a sua melhor distribuição, com o fim da Agricultura, da Indústria, da Pesca, com o encerramento de pequenas e médias empresas nacionais e com a fuga de grandes empresas internacionais.
Se conhecessem a realidade já se teriam preocupado em levar ao debate o aumento exponencial dos sem abrigo nas grandes cidades do país, sem se servir de reportagens acompanhadas pelos senhores vereadores camarários que tentam construir imagem em cima de algumas horas de atenção aos despojados da vida pelos poderes que se sentam às mesas redondas dos debates e, em simultâneo, à mesa dos orçamentos, cada vez mais difíceis de decifrar.
A verdade é que a maior parte destes comentadores-jornalistas são apenas porta-vozes de interesses e muitos deles, como jornalistas, nem sabem como é que se começa uma notícia, porque elas lhes aparecem "cozinhadas"pelo telefone, pelo fax ou pela internet, ou lhes são sugeridas em almoços pagos, em muitos casos, pelo produto do saque a que os novos-pobres foram sujeitos pelos novos-ricos.

As Estratégias

A notícia, segundo a qual António Vitorino é o coordenador da elaboração do programa de governo com que o PS vai concorrer às eleições deste fim de Inverno é animadora e não apenas porque ele é a prova de que a profecia do "sebastianismo" às vezes se concretiza.
Toda a gente reconhece grandes qualidades de trabalho, saber e inteligência ao ex-comissário europeu e, portanto, é natural que a informação prestada pelo secretário-geral, José Socrates, anime sobretudo os socialistas, mas também os que, independentemente de cores partidárias, estão desejosos de ver um rumo e perceber uma estratégia para o país.
Uma estratégia, que, no caso da política externa, deveria conhecer uma viragem total, relativamente à que Portugal teve desde sempre. Nunca este país conseguiu delinear um programa de acção que, ao nível externo, respeitando os interesses do Estado, os incluisse nos interesses dos cidadãos.
Portugal foi dando mundos ao mundo e abandonando-os à sua sorte, desprezando os cidadãos que os iam povoando ou criando. E não me refiro apenas à chamada "epopeia das descobertas", levada a cabo por muitos poucos portugueses. Bem mais foram aqueles que, sobretudo durante quase todo o século XX, criaram outras cidades, outras comunidades, outras fábricas, outras riquezas - em outros países onde normalmente foram recebidos como cidadãos de baixa categoria.
Bem mais foram os que tiveram que lutar contra os racismos vários, contras as descriminações variadas, para vencer, muitas vezes para sobreviver, sem que o seu Estado lhes identificasse os méritos, os ajudasse nas dificuldades ou, sequer, os reconhecesse.
Desde sempre que a política externa portuguesa passou ao lado dos portugueses. Em muitas situações, as próprias embaixadas portuguesas não existem para atender aos problemas dos portugueses.
E, todavia, quando olhamos para o mapa do Mundo é difícil apontar uma região onde não haja ou tivesse havido portugueses. Portugueses que se reproduziram, que se integraram - e bem - nas comunidades que os acolheram. Na maior parte dos casos integraram-se depressa demais, para escaparem à condição de portugueses. Aprenderam rapidamente as línguas de adopção, que ensinaram aos filhos e a quem impuseram a condição de naturais do país de nascimento.
Rapidamente, da primeira para a segunda geração, Portugal perdeu o mais importante da sua riqueza - a sua gente. Basta pensar nos números da emigração portuguesa desde o princípio do século XX para imaginar os estragos que a política externa deste Estado, cuja Nação se foi repartindo pelo Mundo nos causou a todos. Porque o bom seria ter tido uma política externa com a estratégia de manter ligada a comunidade portuguesa, ainda que também francesa, também inglesa, também americana, também africana, também tudo o resto.
Se esta estratégia tivesse sido delineada e executada a tempo, não teriamos perdido gerações de portugueses e seríamos - também na diferença - a maior Nação da Europa, com influências positivas em grande parte do Mundo.
Agora que Portugal vai ver a sua política externa, concebida como o braço defensor dos interesses do Estado no exterior, integrada na União Europeia, é tempo de virar o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros para os portugueses, dedicando-se ao estudo e implantação de uma estratégia de unidade desta grande Nação.
António Vitorino como orientador da elaboração do programa de governo do PS tem ainda outra vantagem: esteve no estrangeiro o tempo suficiente para apreciar o valor dos portugueses fora do país e para avaliar o desgosto que sentem por perceberem que em Portugal ninguém pensa neles de forma proactiva.
Basta ouvir a Rádio e ver a Televisão que se faz para as comunidades portuguesas e para as que falam português para se entender a necessidade de uma estratégia que pense Portugal no Mundo. Neste domínio, do da comunicação social, só mesmo uma estratégia de «começar do zero»

Faltou o buzinão

Esta noite, ao fim da tarde, fiquei atento, à espera de ouvir as buzinas, de presenciar da minha janela a confusão de muitos automóveis na rua, com toda a gente a acenar uns aos outros e a rir, assim como quando, depois de 18 anos, o Sporting ganhou o campeonato. Ou melhor, como quando toda a gente, há trinta anos, saiu à Rua para se encontrar a si mesma e descobrir-se nos olhos de todos os outros. Mas não, não houve buzinão, nem alegria na rua, nem cumprimentos sorridentes. Toda a gente ficou em casa a confraternizar com as suas esperanças. Um dos meus amigos, a quem telefonei, todavia, tinha saído. A mulher dele, minha amiga também, disse-me que lhe parecia que ele teria ido a correr, para votar.