A vida política portuguesa das últimas semanas atinge as raias do burlesco, mas tem um lado trágico-cómico que confrange pelo ridículo que revela. As reuniões dos estados-maiores dos partidos, os comunicados dos porta-vozes, as jogadas de antecipação percebidas pela recusa de falar com os jornalistas, a quem - entretanto - se comunicou, evidentemente, a existência de uma reunião. O que é preciso é o folclore das câmaras.
Os editores das televisões ainda não perceberam que não vale a pena mandar o microfone com o respectivo pé - basta a câmara para filmar os senhores, umas vezes com berrantes gravatas, outras com fatos desportivos a evidenciarem o como estão confrotáveis na pel e de políticos em fim de semana e quase a entrar de férias.
O CDS/PP vai ganhando as várias jogadas a que já assistimos e ainda não mecheu nenhuma peça importante. O PPD/PSD parece um clube da Segunda divisão a tentar não descer à terceira e impossibilitado de fazer uma chicotada psicológica - vai ter que sofrer até ao fim com o mesmo treinador.
Para o PPD/PSD no seu conjunto este cenário é um verdadeiro pesadelo. É que este partido é apenas um agrupamento de interesses e de pessoas com especial apetência para o poder. Basta veririficar que dos quase 31 anos da democracia portuguesa, 24 foram inteiramente dominados pelas suas siglas. E mesmo os seis anos de governo do PS têm, em muitas áreas, especialmente em empresas decisivas, o seu carimbo.
Pela primeira vez - se os homens que representam os interesses que os têm segurado no poder, nada fizerem - os chamados sociais-democratas vão iniciar uma longa travessia do deserto, um deserto tão agreste que pode implicar consequências catastróficas para os tais interesses e para os tais grupos de homens.
E tudo isto porque não conseguiram perceber na altura certa que mais lhes valia perder o poder por uns tempos, do que apostar num líder em quem ninguém confiava, um homem sem obra, só com conversa, conversa sem ideias.
Nem como dirigente desportivo conseguiu realizar nada. Como Presidente da Câmara da Figueira da Foz deixou um buraco de dívidas tão grande que o seu sucessor não tem feito outra coisa que pagar os calotes que por lá ficaram. De resto, ao relatório do Tribunal de Contas sobre a gestão de Santana na Figueira da Foz nunca foi dada nenhuma publicitação.
Eram os tempos em que dominava, de uma maneira ou de outra, a comuniucação social, a mesma que julgava poder continuar a dominar como primeiro-ministro - mesmo que para tal tivessse que recorrer à JLM e Associados para montar uma central de comunicação.
Só que os métodos da JLM, se chegaram para tirar o Fernando Lima da direcção do DN, não conseguiram eliminar o José Rodrigues dos Santos - que conhece bem um dos associados do João Líbano Monteiro.
Se os tais métodos conseguiram manter no ar, quase em permanência, alguns dos ministros de Santana, foi porque, entretanto, as redacções foram sendo invadidas por jovens jornalistas PSD's desejosos de servir os chefes e, às vezes, mais do que chefes.
Todavia, nas redacções dos Órgãos de Comunicação Social, existe uma desconfiança generalizada relativamente aos "colegas" que mantêm contactos com os "associados", uma desconfiança que leva os profissionais com estatuto, com nome e currriculum a ignorar pura e simplesmente as "notícias" provenientes dos seus vários agentes
O resultado do falhanço da única estratégia que Pedro Santana Lopes tinha - o controlo da CS - é esta peça trágico-cómica em que, se por um lado o CDS, o partido mais pequeno da coligação, anuncia que está a elaborar o seu programa e as suas listas para concorrer sózinho, o PSD fala de uma plataforma eleitoral sem contornos definidos.
Os portugueses vão ficando esclarecidos e aliviados, já que o problema chamado Pedro Santana Lopes deixou de ser nacional- ele é apenas do PPD/PSD. Pode ser que os sociais-democratas portugueses se redescubram durante os caminhos que os hão-de levar à inevitável solução, ainda que demorada.
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