quarta-feira, dezembro 15, 2004

Ainda o FMI

Nos últimos tempos (já lá vão alguns anos), a economia, os economistas e o "economês" tomaram conta da política: Tudo se resume a números, ou à sua manipulação, uma vez que a mesma realidade algébrica nem sempre quer dizer a mesma coisa.
Agora reapareceu uma espécie de sindicato dos patrões, chamado "compromisso Portugal", cujo nascimento se anunciou como manifestação de apoio ao governo de Durão Barroso, mas que agora renasce como eminência parda do futuro poder.
Avistaram-se com o ainda primeiro-ministro e com o secretário-geral do PS, José Sócrates. No final, lá estavam os microfones com os respectivos pés, para ouvir que os senhores nem querem ser ministros de coisa nenhuma (alguns deixariam de ter dinheiro para os charutos), o que eles querem...o que eles querem é fazer lobi. Sejamos claros.
Lobi a favor de mais benefícios do Estado, lobi a favor de legislação laboral mais permissiva...lobi, enfim, no sentido de assustar o poder político, agora que a crise, sendo económica e social, também já é política.
Mal andam os políticos que não percebem as intenções por detrás destas movimentações. Mal andam os políticos que não sentem o cerco e se esquecem de afirmar o primado da política na gestão do Estado.
E o primado da política em Portugal determina, sem sombra para dúvidas, que as pessoas são o mais importante. As pessoas e, consequentemente, o espaço que elas habitam, a vida que lhes é permitida.
Em Portugal, no princípio do sec.XXI, o primado da política impõe um novo ordenamento do Território, um ordenamento que tenha em conta toda a gente que vive neste país, que começa a transbordar para o Oceano Atlântico, enquanto o interior arde porque não tem pessoas.
A um novo poder, eu, que não sou sindicato de coisa nenhuma e costumo reunir o meu comité central na cabine telefónica mais próxima, aconselho um Gabinete pequeno, com poucos ministros, mas de peso. E que um deles tenha o Ordenamento do Território, com capacidades várias, a mais importante das quais terá de ser a de implantar um Portugal coeso, do ponto de vista social e político. Colocar a economia ao serviço das pessoas - numa palavra
Aos economistas restará, nesta perspectiva, a tarefa (nobre tarefa) de sugerir programas que cumpram o objectivo. Sejam proactivos. Estamos todos cansados de os ouvir falar dos erros cometidos. Estou cansado de os ouvir defender os programas abandonados nos Estados Unidos, às vezes há mais de dez anos. E também estou surpreendido com o regresso dos gurús da economia do FMI. Talvez seja tempo para uma reedição do texto de José Mário Branco, suponho que de 1981, agora em CD. Sugiro para título: "Ainda o FMI".

1 comentário:

Anónimo disse...

E para se ter uma pequena ideia de quanto podem certos lobies...
http://jornal.publico.pt/2004/12/15/Sociedade/S15.html

"(...)
O decreto-lei ontem publicado traz não só um valor errado - 99 euros, ao invés de 100 - como fixa um limite máximo para estas multas: 14.400 euros até 2008 e 35.640 euros a partir de então. Na prática, as empresas que não cumpram os limites pagariam multas apenas por 360 toneladas de dióxido de carbono em excesso - um valor irrisório, se comparado com a dimensão do mercado de emissões. A térmica de Sines, por exemplo, emite por ano, em média, cerca de oito milhões de toneladas de dióxido de carbono.

A publicação do diploma provocou estupefacção até dentro do Ministério do Ambiente. O próprio secretário de Estado adjunto do Ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, foi surpreendido, admitindo depois que se tratou de um erro. "O que foi aprovado em Conselho de Ministros não contém os lapsos de redacção da versão publicada", disse Moreira da Silva ao PÚBLICO.

O texto enviado para Conselho de Ministros era a quinta versão do diploma, acordada entre os Ministérios do Ambiente e da Economia, ainda no Governo de Durão Barroso. O decreto-lei publicado contém, porém, pelo menos mais duas disposições que contrariam a directiva europeia. Jorge Moreira da Silva disse que o diploma será rectificado, de modo a reflectir a versão efectivamente aprovada. Ontem, ao princípio da noite, o Governo decidiu que isto não será feito por uma mera rectificação no "Diário da República", mas por uma decisão do Conselho de Ministros, a ser tomada hoje.
"