Não é possível fugir ao tema do momento: a Tragédia do Sul e Sudeste Asiáticos. Ninguém pode ficar indiferente ao verdadeiro holocausto provocado pela Natureza, com um número ainda indeterminado de vítimas , mas que, no final, vai seguramente, surpreender toda a gente. O Homem não foi feito para acreditar em semelhantes números - o Homem do nosso tempo (já ultrapassámos as verdades bíblicas...)
As análises técnico-científicas, as especulações filosóficas, as previsões, etc., etc., deixo-as para os epecialistas. Eu não posso deixar de notar que as televisões portuguesas não se cuibiram de transmitir imagens verdadeiramente indecorosas, sob a capa de grandes histórias humanas.
Assisti verdadeiramente compungido a uma entrevista de uma mãe que explicava com um ar perfeitamente normal ao repórter que registava o seu depoimento a grande angústia da sua necessidade de optar entre o filho mais novo e o mais velho, enquanto este a olhava e chorava convulsivamente.
Aquela mãe é, verdadeiramente, uma não-mãe, já que expõe a sua opção de forma clara ao excluído, sem nenhuma manifestação de afecto - sempre exibida perante o preferido. E aquele jornalista - será? - regista o momento, permitindo que ele passe à posteridade e amplie o sentimento de rejeição daquela criança, cuja recordação mais amarga do marmoto do Srilanka não vai ser a força das ondas mas a escolha da mãe.
Que tudo isto se registe numa câmara de televisão, num gravador, a quente, entende-se, mas que, depois, a frio, se sirva ao público, sabendo que, daqui a a alguns anos aquela criança vai ter uma prova inexorável para apresentar à mãe, responsabilizando-a por todas as brigas com o irmão mais novo, por todos os conflitos com os camaradas da Escola, etc., etc., é demais e não vale carreira nenhuma. Isto, no caso de ele ter consciência de que o seu comportamento é fruto de tal rejeição evidente, publicitada aos quatro ventos e conhecida de todos os cinco continentes. Porque se não tiver essa consciência, pode fazer coisas verdadeiramente bíblicas, assim como a catástrofe Asiática.
No meio de tudo isto, custa perceber que um apresentador de telejornal ainda se dê ao desplante de se apresentar comovido (só lhe faltam as lágrimas...) perante a cena.
Na verdade, o que se exigia ao cabeça de cartaz (neste caso, o Carlos Daniel da RTP) era rejeitar tal reportagem, ainda que corresse o risco de quebar uma cadeia internacional de iditotice. A verdade é que, infelizmente para a Humanidade, não existem mentecaptos apenas em Portugal.l
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