A notícia, segundo a qual António Vitorino é o coordenador da elaboração do programa de governo com que o PS vai concorrer às eleições deste fim de Inverno é animadora e não apenas porque ele é a prova de que a profecia do "sebastianismo" às vezes se concretiza.
Toda a gente reconhece grandes qualidades de trabalho, saber e inteligência ao ex-comissário europeu e, portanto, é natural que a informação prestada pelo secretário-geral, José Socrates, anime sobretudo os socialistas, mas também os que, independentemente de cores partidárias, estão desejosos de ver um rumo e perceber uma estratégia para o país.
Uma estratégia, que, no caso da política externa, deveria conhecer uma viragem total, relativamente à que Portugal teve desde sempre. Nunca este país conseguiu delinear um programa de acção que, ao nível externo, respeitando os interesses do Estado, os incluisse nos interesses dos cidadãos.
Portugal foi dando mundos ao mundo e abandonando-os à sua sorte, desprezando os cidadãos que os iam povoando ou criando. E não me refiro apenas à chamada "epopeia das descobertas", levada a cabo por muitos poucos portugueses. Bem mais foram aqueles que, sobretudo durante quase todo o século XX, criaram outras cidades, outras comunidades, outras fábricas, outras riquezas - em outros países onde normalmente foram recebidos como cidadãos de baixa categoria.
Bem mais foram os que tiveram que lutar contra os racismos vários, contras as descriminações variadas, para vencer, muitas vezes para sobreviver, sem que o seu Estado lhes identificasse os méritos, os ajudasse nas dificuldades ou, sequer, os reconhecesse.
Desde sempre que a política externa portuguesa passou ao lado dos portugueses. Em muitas situações, as próprias embaixadas portuguesas não existem para atender aos problemas dos portugueses.
E, todavia, quando olhamos para o mapa do Mundo é difícil apontar uma região onde não haja ou tivesse havido portugueses. Portugueses que se reproduziram, que se integraram - e bem - nas comunidades que os acolheram. Na maior parte dos casos integraram-se depressa demais, para escaparem à condição de portugueses. Aprenderam rapidamente as línguas de adopção, que ensinaram aos filhos e a quem impuseram a condição de naturais do país de nascimento.
Rapidamente, da primeira para a segunda geração, Portugal perdeu o mais importante da sua riqueza - a sua gente. Basta pensar nos números da emigração portuguesa desde o princípio do século XX para imaginar os estragos que a política externa deste Estado, cuja Nação se foi repartindo pelo Mundo nos causou a todos. Porque o bom seria ter tido uma política externa com a estratégia de manter ligada a comunidade portuguesa, ainda que também francesa, também inglesa, também americana, também africana, também tudo o resto.
Se esta estratégia tivesse sido delineada e executada a tempo, não teriamos perdido gerações de portugueses e seríamos - também na diferença - a maior Nação da Europa, com influências positivas em grande parte do Mundo.
Agora que Portugal vai ver a sua política externa, concebida como o braço defensor dos interesses do Estado no exterior, integrada na União Europeia, é tempo de virar o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros para os portugueses, dedicando-se ao estudo e implantação de uma estratégia de unidade desta grande Nação.
António Vitorino como orientador da elaboração do programa de governo do PS tem ainda outra vantagem: esteve no estrangeiro o tempo suficiente para apreciar o valor dos portugueses fora do país e para avaliar o desgosto que sentem por perceberem que em Portugal ninguém pensa neles de forma proactiva.
Basta ouvir a Rádio e ver a Televisão que se faz para as comunidades portuguesas e para as que falam português para se entender a necessidade de uma estratégia que pense Portugal no Mundo. Neste domínio, do da comunicação social, só mesmo uma estratégia de «começar do zero»
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