As entrevistas de rua são um dos males do nosso tempo. Com equipamento que lhes permite, de qualquer lugarejo enviar um sinal em directo, os profissionais da comunicação social, sempre que têm oportunidade, recorrem a ele. Algumas vezes, simplesmente, para dizer que não há nada de novo.
Como é o caso desta requentada polémica: não há nada de novo. A não ser o acumular dos resíduos tóxicos perigosos, cuja tonelagem aumentou significativamente nestes dois anos e meio de governação coligada.
Também não é novo o facto de nenhum órgão de comunicação social (televisão, rádio, jornal) se ter referido ao problema durante este lapso de tempo.
Porque é que José Sócrates levantou tal questão, sabendo, concerteza, que ela seria aproveitada como uma verdadeira manobra de diversão para desviar as atenções do que está em causa neste momento? Terá sido por ingenuidade?
Logo apareceram algumas vozes a dizer que está a decorrer um concurso internacional para uma solução alternativa, muito mais eficaz e menos perigosa. Mas, se assim é porque não foi ela posta à discussão pública e, como seria de esperar, apresentada como uma das bandeiras do governo PSD/PP, já que nasceu da anulação de uma decisão muito polémica do último governo PS? Terá sido por ingenuidade? Logo agora que iam começar...
Das várias entrevistas a que assisti destaco duas: a primeira, durante um dos jornais da RTP - o das 13 - com um dos signatários dos relatários que recomendou a António Guterres a co-incineração e que, no final, perguntou ao profissional da comunicação social que o interrogava se, ele, por acaso, sabia o que significava a tal sigla que identificava a alternativa, sem indicar nenhuma tecnologia.
O profissional da comunicação social respondeu que nos próximos dias se saberia. Ficámos a saber que ele - profissional da comunicação social - , apesar de ter feito uma entrevista sobre o assunto, não conhecia o significado de uma sigla - que eu também não percebi. Terá sido ingénuo, ao prometer para os próximos dias o conhecimento de assunto tão momentoso? De certeza que vamos ouvir a tal sigla o número suficiente de vezes para a decorar. Os anti-co-incineração não se esquecerão de a lembrar. E a RTP também.
A outra entrevista é a de uma Souselense, que, em síntese, dizia que o engº. Sócrates, ao anunciar a sua decisão tão precocemente demonstrava que "os tinha no sítio" e garantia que os de Souselas também. Terá sido por ingenuidade?
De repente, lembrei-me da estória dos órgãos da Igreja de Souselas que tanto irritava os souselenses de outros tempos, dos tempos em que a cimenteira ainda não despejava por cima das hortas, das casas e das cabeças baixas o seu veneno branco.
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