terça-feira, dezembro 27, 2005

A Loira Virou Speacker da Rua 48

No dia seguinte ao do Natal, a Loira da Rua 48 saiu de casa com um escadote numa mão e na outra um megafone. Escolheu um sítio bem alto da rua, subiu o escadote.

À sua volta já estava parte dos habitantes da 48. Pela primeira vez, o velhinho que aparece rua acima rua abaixo, a passear um cão com ar enfesado deixou o animal em casa e os olhos brilhavam-lhe de contentamento. "Que mais iria fazer aquela loira...? - interrogava-se ele e todos os demais.

O pássaro prisioneiro ralhou porque a família lá de casa se tinha esquecido de lhe dar comida e ele se recusava a comer a que estava no chão.

O chinês da loja do chinês cometeu um pecado mortal e saiu do estabelecimento. Aquela loira - que sempre ralhava com ele e lhe imitava o linguajar - fascinava-o.

Em volta do escadote ia crescendo a multidão: a velhinha franzina e linguaruda lembrou-se que aquele megafone talvez lhe servisse para, finalmente, dizer a toda a gente o que pensa da nora.

O marido que estava à janela a fumar, veio a correr escadas abaixo e, assim que viu a mulher, já entre os espectadores, deitou o cigarro fora.

Aos tropeções chegou a senhora alta e um pouco disforme que sempre chega a casa de taxi. Tinha um ar meio alheado, de quem não sabe bem onde está.

E até aquela velhinha simpática que todos os dias desce a rua carregada de sacos com comida e depois, a custo, arrastando uma perna, volta a subir para casa, se aproximou, meio assustada.

Ouviu-se então a voz da loira, amplificada pelo megafone:

- "Fiquem a saber que, a partir de hoje, esta rua tem uma speaker, tal como em Londres, onde toda a gente pode dizer o que quiser - desde que tenha alguma coisa para dizer - aqui estou eu para vos falar de vocês... sim de vocês e daquilo que vos acontece".

Pequeno murmúrio entre os circunstantes...

- " Olhai uns para os outros.... assim, de frente, olhos nos olhos. Há quantos anos vivem juntos, paredes meias ? Há quantos anos se cruzam todos os dias uns com os outros?.. Acham que se conhecem?

Uns quantos abanaram a cabeça, que sim, outros ficaram atentos, para ouvir mais e nem sequer olharam para o lado.

- "Então se se conhecem porque não conseguem fazer desta rua um sítio onde se possa viver em paz, em harmonia, com todos a ajudarem-se uns aos outros. Se se conhecem, porque não conseguem convencer o presidente da junta a arranjar espaços de convívio, onde os mais velhos possam estar com os mais novos e as crianças aprendam com todos, incluindo umas com as outras?"

Quem é o presidente da junta ? - perguntou alguém.

- "Estão a ver?... nem sabem quem é o presidente da junta, mas, seguramente foram votar nas últimas eleições que o elegeram.. Votam...votam, mas nunca sabem o que estão a fazer. Aposto que nas próximas eleições para presidente não conseguem libertar-se do que as televisões vos impingem... "

Alto lá!... disse uma mulher que se aproximou do escadote.

- "Alto lá o quê?" - interrogou a Loira da Rua 48 - "Para falar, primeiro tem que fazer as raízes e, depois, comprar um escadote e um megafone. Isto aqui não tem vox populi. A speaker sou eu e acabou-se. Portem-se bem, deixem de olhar uns para os outros como se estivessem num campo de batalha. Olhem para as minhas filhas, como estão lindas, maravilhosas...simplesmente porque são bem tratadas..."

Como não podia deixar de ser, começou o concerto de buzinas dos automobilistas bloqueados pelo discurso da speaker. A seguir, ouviram-se as sirenes da polícia. Estava instalado o pandemónio.

- "Estão a ver?...estão a ver?... a polícia só aparece para nos desmobilizar e proteger os automóveis que tomaram conta de tudo. Quando é que vocês despertam, bando de carneiros...?

Foi a debandada.

- "Oh! sr. agente, faça-me um favor: segure-me aqui no megafone para eu descer do escadote... e já agora, se não se importa, leve-me o escadote até ali a minha casa, porque eu tenho que tomar conta das minhas filhas. Com tanto automóvel aqui, nunca se sabe o que pode acontecer..."

O polícia ficou meio surpreendido, sem saber o que fazer ou dizer, mas agarrou o escadote... " Que loira!- foi pensando..."

"- Marilú, Francisa, vamos, minhas filhas..."

E lá foi a família, com o polícia atrás, carregando o escadote e o megafone.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

"Post it"

Post It para a última folha do telejornal de hoje, dia 26 de Dezembro, lido pelo director de informação do canal público de televisão de Portugal (RTP), José Alberto Carvalho:

" Não te sentes envergonhado pelo Telejornal que acabas de servir à mesa dos portugueses, um dia depois de um Natal aparentemente tranquilo? Não te sentes mal por recuperar tanta tragédia que não tem culpados, quando nos corredores por onde transitas, com ar de homem importante, se passeiam displicentemente, como senhores do mundo - do teu próprio mundo - os autores das verdadeiras desgraças que atinjem as pessoas que entretiveste com a repetição exaustiva de imagens de uma catástrofe natural inominável e - esperemos - irrepetível?"
A tua especialidade é a desgraça, a miséria, a fome, o desordenamento? Então, como director de informação, exije ao teu PCA que pague para mostrares as misérias de que ele e os amigos dele são responsáveis. Hoje fizeste um telejornal com imagens já pagas. Ele riu e tu foste contente para casa. Espero que o jantar não tenha marisco".

domingo, dezembro 25, 2005

As Estatísticas da GNR

Já o ano passado fiz aqui alguns reparos ao modo como são apresentados os números das operações Natal e outras similares, por parte da GNR, relativas ao trânsito. E nada muda, nem mesmo o barrete idiota que um oficial da corporação usa durante "o boneco" que todas as televisões querem para darem credibilidade aos disparates que entretanto vão dizendo.
Quando a GNR tutela uma afirmação, segundo a qual este ano houve não sei quantos mais mortos e desastres do que no ano passado, em igual período, está a comparar o imcomparável. O período de tempo não conta nada para esta informação, porque se desconhecem dois elementos fundamentais: o número de veículos que circulou num e noutro ano e a sinistralidade média de iguais períodos de tempo em épocas sem festividades.
Como complemento da informação faltam, igualmente, as condições climatéricas de um e de outro ano e as quantidades de combustível gasto.
Se a GNR e as televisões querem assustar a população com números de mortos, acidentes e outras coisas, então façam-no de um modo correcto. O que fazem actualmente e nós todos temos de aturar, é uma verdadeira palhaçada.

A Mudança dos Tempos

É interessante verificar o modo como a vida à nossa volta vai mudando. Há uns anos - não sei quantos, nem é isso que interessa - as revistas chamadas de sociedade incluiam reportagens sobre a vida das figuras gradas das diversas comunidades: banqueiros, grandes comerciantes, industriais, políticos...
Com o andar dos tempos, os banqueiros, os grandes industriais e os grandes comerciantes foram desaparecendo das páginas das já denominadas revistas "cor-de-rosa". Ficaram os políticos, para pagar os escândalos, os artistas porque esse é o seu modo de vida e desapareceram os donos do capital.
Hoje ninguém sabe como é que eles vivem, mesmo os que, tendo sido toda a vida funcionários públicos e se transformaram, por obra e graça do espírito santo, em gente rica, com aspirações a ligações de tipo "sangue azul". O segredo é a alma do negócio e as revistas de sociedade, "cor-de-rosa", ou o que quer que sejam, vivem de gente que não é nada do ponto de vista social e de notícia. Existem porque estão permanentemente dispostas a ser notícia...
Todavia, esta semana alguma coisa surpreendente aconteceu. Depois que as notícias começaram a falar de uma mega fraude que engloba vários grupos bancários e os rumores foram ao ponto de esclarecer que um dos grupos envolvidos tem grandes somas de dinheiro em cofres distribuídos pelos seus funcionários - sem que estes tenham acesso aos respectivos segredos...
....Imaginem, o dr. Ricardo Salgado apareceu em reportagens de revistas cor-de-rosa a acariciar crianças e outras coisas do género.
O tempo está a voltar para trás. Esperemos que a Judite não fique especada a olhar.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

VIDAS EM DIRECTO

De vez em quando aparece alguém a descobrir a pólvora. Um jovem advogado está a causar sensação e alarme pela Europa pela iniciativa que tomou de abrir processo contra canais de televisão que promoveram os tais realties show. Não tanto pela exploração de ingenuidades, de falsos realismos ou de qualidade de produção. O que está a levar alguns canais de tv ao tribunal, de onde estão a sair altamente penalizados, são meras relações de trabalho. As acusações têm provado que os programas televisivos não assinaram contratos de trabalho com os chamados concorrentes. Os contratos firmados com os concorrentes eram tudo menos documentos legais e incluiam diversas clausulas secretas ilegais, que sublinhavam a exploração criminosa de mão de obra.
A informação televisiva foi ignorando o facto como notícia. Mas as queixas e as condenações foram-se repetindo. E aumentam de dia para dia. E à medida que as setenças vão sendo conhecidas, aumentam as queixas. Há indicações que apontam para milhares de processos a caminho dos tribunais.Por cá, nem os jornais, me parece, deram eco. Mas vão dar, por certo, um dia destes, quando já não for possível fazer ouvidos de mercador ou quando queixas venham a ser formuladas. Em todo o caso é para já uma chamada de atenção aos organismos laborais. No fim de contas não são só os chineses a explorar a mão de obra; há por aí muitas quintas a violentar a saloiada e a privar o Iva do que eventualmente lhe pertença!

domingo, dezembro 18, 2005

As Filhas da Loira da Rua 48

A Rua 48 está sempre à espreita. Uns e umas por detrás das cortinas, outros, de janela aberta, a mulher proibe de fumar dentro de casa, por isso há que poluir a Rua 48. E aproveitam para ver quem passa, quem chega. Vão contando estórias sabidas . Quando não sabem, inventam. Quando pára um taxi os voyeus ficam à espera de ver sair uma senhora a cambalear e lá voltam a contar os trambolhões de outros tempos.
Sobem e descem a rua sem se olharem, como se não se conhecessem, mas fazem pequenas reuniões sociais nas escadas dos prédios, comentando os últimos acontecimentos.
Ontem, de manhã, pequenos grupos foram saindo aos poucos dos prédios, portas escancaradas, bocas abertas. A Loira da Rua 48 saía de casa com duas lindas crianças (loiras) pela mão. Vistosas, sorridentes.
- Esta é a Marilú - e apontava para a da mão direita.
- E esta é a Francisquinha - a da esquerda
Explicava ela à rua. Já toda a gente se aproximava para tentar perceber como é que tal tinha aocontecido... a Loira da Rua 48, mãe, se nunca ninguém a tinha visto, ao menos, inchada?...
- São minhas filhas, adoptivas. Lindas...não são? - perguntava sem esperar resposta
- A partir de agora, não quero caixotes de lixo a impedir a passagem das crianças nos passeios, nem carros mal estacionados. A partir de hoje, todos os dias vou dizer ao presidente da Junta que quero espaços livres para as crianças poderem brincar na Rua.
Ninguém dizia nada. Que acontecimento!!! De facto, aquela Rua devia fazer parte do filme do Ricardo.
Mas o discurso ainda não tinha terminado.
- A partir de hoje não quero ouvir mais barulho depois das dez da noite - é assim que a lei manda.
A Marilú e a Francisquinha olhavam para a sua mãe com enormes sorrisos, de olhos brilhantes. Há tanto tempo que esperavam uma mãe assim...
- Vamos, minhas filhas, agora que a Rua vai entrar na ordem, vamos redefinir as leis de utilização dos transportes..
Toda a Rua foi atrás da Loira e de suas filhas.
Na paragem, as amigas ficaram a olhar para o cortejo. Festejaram exuberantmente a Marilú e a Francisca.
Chegou o autocarro e o motorista parou a medo. "...O que seria aquilo...tanta gente...uma manifestação de protesto por causa da carroça?..."
A Loira da Rua 48, mais as suas filhas, foram as primeiras a entrar. E o motorista ouviu, petrificado, a sentença:
- A partir de hoje, neste autocarro, quem vier acompanhado de crianças, tem direito a lugar sentado e e não paga título de transporte. Isto é apenas a adaptação de uma lei que vigora na Suécia desde os anos 60. Foi de lá que vieram as minhas filhas... vá... vá... ponha a carroça a andar, ou quer que eu grite?
O pessoal da Rua, que tinha acompanhado a nova família, irrompeu numa salva de palmas. E até o pássaro que permanece na gaiola e só fala asneiras, gritou do alto do seu poleiro: "Viva a Loira da Rua 48". O dono não gostou nada e ameaçou-o de não voltar a dar-lhe comida enquanto ele não comer a que está no chão. Ouviu das boas, irrepetíveis num blogue honrado. Até ficou a saber que o pássaro sabe que ele anda a pintar o cabelo às quatro da manhã...
"Ora, até que enfim aparece alguém com capacidade de mando nesta Rua" - disse o senhor alto e bem vestido e que à tarde traz consigo sempre um saco de plástico de marca sonante.
"Podemos criar aqui um espaço livre de exploração...livre da imprensa capitalista... livre de armas nucleares..."- entusiasmou-se o senhor da garagem.
"Mau!..." ouviu-se uma voz entre dentes dizer.
"Querem lá ver que ainda vamos ter um PREC exclusivo da Rua 48..." - disse outra voz desconhecida.
E, de repente o grupo desfez-se. Voltaram às suas reuniões privadas, nas escadas do prédio.
No autocarro a viagem prosseguia animadíssima. Toda a gente, finalmente, discutia alguma coisa e abandonava aquele ar de cordeiro a caminho do sacrifício. De facto, as crianças deviam determinar regras.
A discussão foi-se prolongando durante todo o dia naquela linha, porque à medida que iam entrando passageiros, assim que tomavam conhecimento do tema entusiasmavam-se e contribuiam com achegas importantes... até que o motorista, quase aterrorizado, telefonou para o chefe, que mandou colocar na indicação do destino a palavra "reservado". A carroça voltou à garagem e o Conselho de Administração da empresa de transportes reuniu de emergência, porque a cidade toda clamava por novas regras na utilização dos transportes públicos.
Conta-se à boca pequena que mandaram uma delegação falar com a Loira da Rua 48 para lhe oferecer um carro, ao que ela respondeu: "nunca na minha vida terei um monte de lata desses...um instrumento de poluição, uma arma perigosíssima".
PS. - Um dia destes voltarei com outro episódio, este já vai muito longo...

sábado, dezembro 17, 2005

O "Desenterrado"

Confesso que tenho andado a evitar o tema. A vida não me permite assistir a todos os debates, acompanhar toda a intriga da rádio e da imprensa e sinto-me, por isso, fora da questão.
Todavia, alguma coisa do que tenho ouvido, lido e ouvido tem-me perturbado.
Dantes falava-se do quarto poder para referir a comunicação social ( havia mesmo quem falasse do poder do quarto).
O que me parece é que o quarto já cumpriu o papel e agora a comunicação social é "O PODER".
E nós aceitamos.
Mais grave do que isso, os candidatos à Presidêncida República - todos eles - aceitam.
Tenho no meu curriculum a realização de um primeiro debate - na Rádio, TSF - em que o moderador só deu a partida. Acho que este debate marcou o próprio arrannque da TSF, então um projecto generoso de Rádio a que alguns "papalvos" como eu correspondiam não cobrando colaborações... Enfim, águas passadas.
Lembro-me disto por causa dos debates (parte deles) a que tenho assistido de candidatos muito certinhos, sujeitos às regras de 2 (dois) "jornalistas" (sei do que falo quando escrevo aspas)...
Este país (esta Pátria) já não tem ninguém capaz de entender que as regras foram feitas também para quebrar?
Vamos continuar a assistir ao passeio do "desenterrado" ?

sexta-feira, dezembro 16, 2005

AVISAR A MALTA

Talvez não fosse conveniente. Mas isto dos jornais pespegarem em letra de forma que a Polícia sabe quem foram os assaltantes que mataram um chefe da PSP, onde é que se refugiaram, que uma câmara os captou, que devem estar algures aqui ou acolá, devem ter origem em informações prestadas por quem, se calhar, não devia prestar e que provavelmente não presta para estar onde está.
Também é estranho que preste para alguma coisa alguém que achou por bem dispensar da cadeia alguém que estava a ser procurado pelas autoridades espanholas. O felizardo aproveitou a mercê para um pequeno assalto à mão bem armada, com o resultado deplorável que se conhece! Há semanas haviam sido dois assassinos, já condenados, que foram libertados à pressa, para não incomodar os criminosos, que não têm culpa da lei ser lei e os juizos lentos e, pelos vistos, irresponsabilizáveis.
Dantes, quando isto era mais arrumado, o início da investigação assentava no primado: a quem aproveita o crime? Logo que se percebia, até o aproveitador percebia que estava lixado. Nos dias de hoje as coisas são aparentemente diferentes: quem não aproveita é parvo. A sociedade evoluiu: cada vez há mais crimes e menos parvos. A Justiça parece ter aderido à solução capitalista: despedir para reinar. Despedem-se os presos e desse modo diminui-se a despesa e aumenta-se a receita. É o princípio activo do nada se perde, tudo se transforma. No fim de contas talvez a Casa Pia, com o rumo que as coisas levam, acabe por transformar-se num moderno e inovador Instituro de Iniciação Sexual...

sexta-feira, dezembro 09, 2005

A Loira na Loja do Chinês da Rua 48

É uma loja apertada. Não chega a perceber-se se o espaço é grande ou pequeno. Só se veêm mercadorias. Penduradas, expostas em mesas pequenas,espalhadas a esmo, mesmo pelo chão; apitos dourados, ao lado de cachecóis de chachemira, chaleiras misturadas com soutiens. Cuecas por aqui e por ali. Com rendas, de gola alta, de tudo.
Por detrás de toda aquela confusão está a família do chinês e o chinês plópiamente dito.
A Loira da Rua 48 entrou na loja do chinês e foi afastando a mercadoria para tentar descortinar entre toda aquela quincalharia, um chapéu de chuva. Tinha sido surpreendida por uma chuva não anunciada pelos serviços de meteorogia, a caminho do autocarro. As amigas já a esperavam impacientes...
O chinês, meio escondido por detrás de um roupão cheio de figuras assustadoras, dragões que deitam fogo, olhava com curiosidade aquela figura exuberante, cabelos loiros, compridos, a cairem sobre os ombros, óculos escuros e um jeito desafiador.
O chinês estava a atender uma senhora de alguma idade, que lhe contava os seus próprios achaques para o tentar convencer a vender-lhe um chá que lhe curasse a prisão de ventre e ajudasse a aliviar as dores provocadas pelos bicos de papagaio.
No momento em que a loira entrou, a senhora, pequenina e franzina, insisitia que ele - o chinês - também podia vender comida para os gatos e para os pássaros. Para os cães não, porque engordavam muito.
A loira da Rua 48 ia sorrindo a ouvir a conversa, que o chinês já não ouvia. Só olhava a Loira. Veio a mulher do chinês e mais dois filhos e até aquela miúda mais pequenina, que parecia uma boneca para venda, se levantou e veio a correr a olhar aquela senhora que mexia em tudo.
Finalmente encontrou um chapéu de chuva. Abriu-o, voltou a olhar e atirou-o para o lado - não dava com o casaco verde que levava naquela manhã para o autocarro chamado desespero.
Deu mais umas voltas e não sei quantos pares de olhos seguiam-lhes os movimentos. Apenas a velhota continuava a falar: que a nora era uma malvada, não comprava comida para o gato e não deixava a filha sair à noite e até a obrigava a fazer a cama. A Loira gargalhou. Não pelo que a senhora velha tinha dito, mas porque, finalmente tinha encontrado o guarda-chuva da cor certa: verde musgo, verde-tropa, verde, verde...
O chinês aproximou-se, a medo e disse: "chinês não tloca..."
E a loira da Rua 48 respondeu: "...chinês tloca senão não complo!
"...chinês tloca..."
Com a cabeça loira protegida pelo verde musgo do seu novo guarda-chuva foi ter com as amigas.
"...Encontrei na loja do chinês uma velha chata só a falar de cães e gatos...eu acho que conheço aquela cara e aquela conversa, mas há muito tempo que a não via nem ouvia..."
"E que nos interessa isso?" - perguntou a vizinha.
"Que foste fazer ao chinês?"- acrescentou a brasileira. " Não se consegue comprar lá nada... é uma confusão..."
"Vocês é que são umas atadas. Olhem para o meu guarda-chuva novo. Verde. Verde musgo, verde-tropa, verde pila-jovem, porque é verde..."
O autocarro estava a chegar. Vinha a abarrotar e a vizinha começou logo a protestar: " vamos outra vez ser prensadas..."
O motorista sorriu, mas nenhuma delas o cumprimentou. Ninguém está interessado na amizade de um tipo que conduz uma carroça daquelas.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

FORMITROL,FORMITROL, FORMITROL

Para o mal cujo motivo está na chuva frio ou Sol, qual o melhor preventivo?
Formitrol, formitrol, formitrol. Não sei, confesso, se o formitrol era ou não do caraças, mas era o pub do meu tempo de menino. No meu tempo de menino o sr. Alfredo dava o relato do jogo da bola às sete e cinco. O que dava tempo ao meu pai de me arrastar até ao eléctrico, me despejar nos Restauradores, me arrastar até ao Leão D'Ouro, mastigar umas ameijoas e provar a cerveja.
A subir o Chiado já se podia comprar a segunda edição dos vespertinos, que traziam os resultados da bola.
Algumas vezes escutavamos envecidos o relato do jogo que tinhamos vistos à tarde. O resumo da primeira e o relato da segunda parte, por Alfredo Quádrios Raposo! Havia outro: Domingos Lança Moreira, no RCP. Mas era menos frequente e talvez fosse menos trapalhão e, talvez por isso, tivesse menos audiência!
O meu pai umas vezes gostava do senhor Alfredo, outras não gostava, dependia do árbitro. Eu gostava mais de ir às Salésias, porque à saída ia-se aos pasteis de Belém.
Hoje fui à SIC e foi como ir à merda. Ia ver um poeta e um economista e queriam que eu passasse horas a ver a merda a que eles chamam publicidade. Os patetas dos candidatos discutiram tudo menos o lado feio: serem vendidos como mercadoria de consumo semestral.
Prefira o candidato das gravatas luzidias; escolha o das botas grossas. Encafuaram os candidatos no meio da pub e tiveram o cuidado de mostrar que o importante era a pub. É para isso que serve a TV, para promover os laxativos, quaisquer que sejam. O Estado podia fingir que leva isto das eleições a sério. Talvez nem valha a pena. Deu para ver que o poeta é um fingidor e que um economista não sabe sonhar.
É uma pena o senhor Alfredo não ser candidato e o senhor Domingos não ser poeta!

sexta-feira, dezembro 02, 2005

ABAIXO DE TUDO

Ainda há dias me insurgi contra a forma displicente como a magistratura encara os devaneios da justiça e as trapalhadas que saiem dos tribunais. Achei excessivo que dois condenados por crime de homicídio a penas superiores a 20 anos tivessem sido libertados devido a irresponsabilidade do tribunal de recurso.
Hoje vi a manchete de um matutino de Lisboa a salientar que apenas meia dúzia, entre quase centena e meia de juizos cíveis em Portugal «são considerados eficientes». Não faço ideia se o sr. Cavaco ou o sr. Soares vão perder algum tempo a comentar isto, nem espero que o sr. ministro do pelouro perca tempo com isto. Mas li pior numa das páginas do jornal. Um processo por assédio, com violência e ameaças de morte, já com cinco anos de instrução, foi deitado no caixote do lixo. A explicação «é de que foi por engano e por uma brasileira, que trabalha para uma empresa que faz limpeza no tribunal». O processo estaria perto do caixote do lixo e a expedita limpadeira despejou-o no caixote e ala com ele, que se faz tarde. Creio que a cuja dita do Brasil teria toda a razão para ser asseada, «aquilo» ou era lixo ou porcaria e com cinco anos de pó até devia cheirar mal. O problema de resto parece ser esse: os tribunais, palácios de justiça e similares estão repletos de excelências excelentissimas a fazer o que faziam dantes os burros na nora: andar à roda, à roda, sempre as voltas, sem sair do mesmo sítio. Mas, ao menos esses, traziam a água à tona. Na Justiça, não, quase nada aparece à tona e nem já o «apito dourado» se consegue ouvir. Atafulha-se pelas gavetas e um dia destes vão aparecer à mão de semear para acabarem na chaminé de uma qualquer cimenteira...

quinta-feira, dezembro 01, 2005

A Loira da Rua 48- II

"... A senhora devia ir pintar as raízes...está a perceber? Pintar as raízes!!!
No autocarro, a abarrotar de corpos adiposos e habituados a uma certa larguesa, toda a gente virou a cabeça para o lado donde vinha aquela voz, aparentemente zangada, mas, no fundo, com um ligeiro tom de imitação do Herman louro.
"... e sabe que mais?... não vou perder tempo consigo...Vá...vá pintar as raízes..."
Mesmo o motorista do autocarro tentou saber, olhando pelo retrovisor, o que se passava. " Só podia ser ela, aquela loira que reclama sempre lugar sentado e espaço para se movimentar. Ela e a outra, a vizinha. Falam uma com a outra, riem-se e parece que estão a gozar com toda a gente. Agora está a dizer áquela desgraçada que devia ir pintar as raízes. As raízes do cabelo, claro...de facto, a senhora devia ter mais cuidado...aquilo está com um aspecto... benza-a Deus..." - Assim pensava o motorista, enquanto olhava de esguelha para os passes que lhe iam mostrando.
Todavia, ninguém se atrevia a dizer como a loira: " com direito a ar condicionado e a lugar sentado, porque pago adiantado". Lá voltava ele a pensar na loira.
Lá atrás a conversa estava acesa entre a Loira da Rua 48 e a vizinha da frente, cujo marido protesta sempre contra tudo e todos. Até com o Bush se mete. Se um dia a CIA o descobre, fica ele sem direito de acesso à garagem e até corre o risco de ir para Cuba, isto é, para Guantanamo.
"... Então não quer saber?...tive um pesadelo esta noite... um horror...eu morava no bairro da Penitenciária, aquele ali por detrás, está a ver? e só tinha vizinhos pirosos... até o João Pinto e a Maria Cruz, imagine...lembrei-me agora porque a velhota das raízes ao léu me sugeriu uma projecção da mulher do João Pinto... Imagine..."
A vizinha, senhora recatada e pouco habituada a conversas públicas no autocarro, sufocava o riso e olhava em redor a tentar perceber as reacções do pessoal.
Muitos ainda dormiam, outros tinham cara de quem não tinha comido o pequeno almoço e ia gastar, na pastelaria ao lado do emprego, uma percentagem razoável do dinheiro que iriam ganhar em, pelo menos oito horas de trabalho, isto se o patrão não os obrigasse a mais duas ou três, ou mesmo quatro extra, sem remuneração ameaçando com um despedimento possível, para reestruturação da empresa.
E a loira continua a contar o "pesadelo":..." ora, a vizinha não quer saber, aqueles safardanas todos, divirtiam-se a sério, tinham salas de jogos, horas para o sol, onde trabalhavam para o bronze, cuidavam dos cabelos uns dos outros... todos os dias! O trabalhão! e, seguramente, ainda recebem algum no final do mês...é ou não um verdadeiro pesadelo?
A vizinha continuava a sufocar o riso.
Ao lado, uma brasileira de ar ligeiro, ficou interessada na conversa: "... me conta, vai...eu posso entrar nesse jogo...? Sabe, cara, tou mêmo precisada de ganhar uma nota... me conta..."
Chegou a paragem da loira. Enquanto calcava forte o chão do autocarro em direcção à saída toda a gente a olhava. Alguns com alguma admiração, outros com raiva. Como se atrevia aquela mulher, loira e bonita, confrontá-los com a sua própria impotência, que em alguns casos se transformava em gaguês?
A brasileira ainda pediu: "me liga, vai... quero saber desse jogo".
A loira riu e acenou que sim: "eu te ligo..."

Um Ano Já passou

De repente, reparo que há um ano que ando nestas andanças. Este blogue foi criado a 29 de Novembro de 2004. Talvez fosse tempo de um pequeno balanço, mas não o farei. Teria, primeiro que "fechar", além de que os balanços cheiram sempre a fim e não é o caso. Eu e o Rafael Soares aqui estaremos a alimentar o "papel" em branco e a vencer a respectiva angústia. O Henrique há-de regressar, quando acabar a sua obra prima, que lhe ocupa todas as horas de todos os dias, excepto aquelas em que, com "grande trabalho" se põe a ouvir ópera.
Todavia, não resisto a republicar aqui, hoje, dois dias depois do primeiro aniversário do Toupeira aqueles que foram os seus dois primeiros dias:

Tuesday, November 30, 2004

Faltou o buzinão

Esta noite, ao fim da tarde, fiquei atento, à espera de ouvir as buzinas, de presenciar da minha janela a confusão de muitos automóveis na rua, com toda a gente a acenar uns aos outros e a rir, assim como quando, depois de 18 anos, o Sporting ganhou o campeonato. Ou melhor, como quando toda a gente, há trinta anos, saiu à Rua para se encontrar a si mesma e descobrir-se nos olhos de todos os outros. Mas não, não houve buzinão, nem alegria na rua, nem cumprimentos sorridentes. Toda a gente ficou em casa a confraternizar com as suas esperanças. Um dos meus amigos, a quem telefonei, todavia, tinha saído. A mulher dele, minha amiga também, disse-me que lhe parecia que ele teria ido a correr, para votar.
posted by M.Pedrosa at 10:13 PM 0 comments

O Estado atira a Nação para o lixo

O primeiro-ministro cabo-verdiano, dr. José Maria Neves está em Lisboa. Ter-se-á encontrado com o ainda primeiro-ministro dr. Santana Lopes e com o presidente da República dr. Jorge Sampaio.A agenda da visita era, do lado cabo-verdiano, importante, não apenas por razões de negociação bilateral com Portugal, um dos principais parceiros do estado-arquipelago, mas também porque o principal responsável pelo governo da Praia, trouxe a Lisboa a sua preocupação de obter da parte da União Europeia um estatuto privilegiado, que lhe permita ultrapassar a sua actual e principal dificuldade com a comunidade internacional: é que o facto de ter crescido de modo a ultrapassar a definição de país subdesenvolvido implica o fim, em alguns casos, e a redução, noutros, da ajuda externa.Alguém viu, ouviu ou leu alguma coisa a respeito desta questão?Alguém já percebeu que política segue o actual governo relativamente aos países de língua oficial portuguesa, nomeadamente os africanos?Alguém já vislumbrou, neste e nos anteriores governos, uma preocupação real com a salvaguarda dos valores culturais portugueses espalhados pelas sete partidas do Mundo, que fazem de Portugal uma das maiores Nações do Mundo?Relativamente a esta Nação, que medrou entre mares, florestas e desertos, graças ao espírito inconformado de alguns portugueses, o Estado, com sede no Terreiro do Paço, sempre foi ignorante, pequenino e invejoso. O Palácio das Necessidades vai fechando, por esse Mundo fora, algumas portas que ainda se podiam abrir aos portugueses de primeira, segunda e, talvez, terceira geração. O mesmo palácio, com a sua estrutura ainda napoleónica, vai olhando para as novas nações, nascidas do esforço de antigos portugueses, com um olhar de superioridade balofa e não é capaz, sequer, de influenciar a central de comunicação do todo poderoso Morais Sarmento para explicar as razões de uma visita de estado de um" país irmão", a quem se estendem os braços sem nunca os apertar.Acredito, todavia, que o Palácio das Necessidades esteja atento às imagens televisivas que reportaram a recente cimeira francófona, onde, em lugar de destaque estavam sentados os presidentes das Repúblicas de Cabo Verde e de S.Tomé e Príncipe.Acredito, igualmente, que tenha arquivo das imagens de Joaquim Chissano nas cimeiras da Commonwealth e das suas afirmações, de há uns tempos atrás, sobre a importância da língua inglesa em Moçambique.Desejo ardentemente que estes hipotéticos arquivos não existam apenas para, um dia destes, se atirarem mais umas pedras aquelas comunidades que terão de desenhar estratégias de desenvolvimento que fujam ao nosso convívio, tal como os nossos emigrantes, que preferem falar as línguas de adopção, mesmo com os filhos, do que sofrer a vergonha de serem tutelados por tal Estado - que não sabe, sequer, a Nação que abarca.
posted by M.Pedrosa at 3:36 PM 0 comments
Monday, November 29, 2004

As Perguntas

Já não são necessárias muitas considerações sobre a importância da chamada comunicação social na vida das comunidades. Em Portugal, essa importância ultrapassa os limites. Basta constatar a promiscuidade obscena que existe entre os títulos dos jornais diários, nas aberturas dos jornais das rádios e das televisões, para perceber que a comunidade informativa se controla de forma obsessiva. Uma obsessão que evidencia, pelo menos, medo. Medo de quê? Seguramente de ser considerado desenquadrado, de" estar fora do Mundo", de ser chamado à atenção pelo "chefe", pelo "patrão", pelo"dono". Porque será que todos os dias as notícias são as mesmas em todos os órgãos de comunicação social ?Estaremos perante uma operação de "intoxicação social"?E, por falar em promiscuidade: como é possível admitir que ex-jornalistas, promovidos à condição de administradores de empresas proprietárias de órgãos de comunicaçlão social,( refiro-me ao presidente e vice-presidente da Lusomundo, Luís Delgado e Mário Rezendes) continuem a emitir opinião como se nada tivesse acontecido com eles. Será que a condição de comentadores de política que ostentam na SIC Notícias faz parte do contrato que liga aquele canal à PTMultimédia, sua accionista-pagante ao mesmo tempo que é accionista maioritária da Lusomundo?
posted by M.Pedrosa at 5:00 PM 0 comments

AS RAZÕES

A partir de agora, de vez em quando, eu e - espero - mais alguns amigos, vamos divulgar a nossa "verdade", juntando-a a de tantos milhares de outras, contribuindo para a demonstração de que no Mundo já não cabe apenas uma verdade e que os chamados donos dela já andam a falar no deserto. Inicio este blogue com o mesmo entusiasmo com que - imagino - se começa um livro, um jornal, uma estação de rádio ou de televisão. Todavia, ele é um entusiasmo sem ansiedades, já que do outro lado do que escrevo estou apenas eu. Já nem caibo na anedota do autor admirado por ter encontrado o seu único leitor. Sou apenas uma voz cansada de não ter representação. Veremos se sou capaz de ser honesto comigo mesmo e representar-me perante este ecran colocado tranquilamente à minha frente.
M.Pedrosa
posted by M.Pedrosa at 4:14 PM 0 comments

ESTIMO AS MELHORAS

Estimo, sim senhor, de quem estiver doente. Desde pequeno que fui fazendo o circuito dos hospitais, visitando familiares, amigos e conhecidos. Recordo-me por vezes de uma prima, da minha idade, que fui ver ao hospital de S.José. Éramos miúdos e frequentavamos a escola primária. Chamava-se Caudete. Fui vê-la algumas vezes. Dantes passava-se muito tempo acamado, em enfermarias imensas, cheias de camas, alinhadas, contra as paredes, e algumas filas no centro. Deixei de ir, quando ela morreu. Mas vi muita gente que curou as maleitas.
Já sexagenário avançado é que me coube, a mim, ser o visitado. Passei três longos dias num hospital privado, fruto do sistema de previdência mais providencial do que o comum. Um dia destes, dei por mim a meditar sobre o que efectivamente foi mudando na assistência hospitalar e nos próprios hospitais. As grandes enfermarias desapareceram e preserva-se melhor a intimidade. O hospital humanizou-se, ainda que tivesse permanecido a dificuldade de acesso. Ao longo dos anos fomo-nos habituando ao drama que era conseguir vaga nos hospitais. Não raro se dava conta do excesso de doentes acamados nos corredores do Banco.
Evoluiu-se. Mas evoluiu-se também noutro sentido. No sentido comercial. Hospitais comuns e hospitais privados. Presumia-se que os segundos viessem aliviar as enormes e demoradas listas
de espera.
Não foi bem isso. Na génese esteve o negócio. Um negócio como outro qualquer. Cuidados médicos imediatos, sim, mas com preços a condizer. Como qualquer negócio acentava na procura. Procura inicialmente elitista. Não estaria em causa a doença, mas o porta-moedas do doente. Mesmo os doente com porta-moedas recheado não gostavam e não gostam de gastar
o taco no hospital e nessa altura gostam mais de exigir direitos de cidadania e preferem o tratamento prestado pelo Estado. Os privados optaram, então, por infiltrar os esquemas ditos sociais, através de seguradoras e associações sócio-profissionais.
Aos hospitais do Estado já não bastava a complexa batalha que é preciso travar continuamente para evitar os abusos dos laboratórios e outros fornecedores. Há, agora, uma nova frente. Os hospitais tradicionais estão a perder doentes. De repente descortina-se que há menos doentes que camas. Num período curto fui três ou quatro vezes as hospitais distintos e tive ocasião de constatar isso mesmo. Muitas camas vagas.
Pressente-se mãozinha dos privados. Pressente-se que presumivelmente as listas de espera não diminuiram, mas a crise talvez afaste doentes dos hospitais privados e seja necessário um estímulo extra. Seja o que for deve ter explicacão e o que tem explicação deve-se explicar.
Talvez o governo pudesse interessar-se mais e melhor pelos assuntos do Estado, ainda assim a melhor maneira de influir nas eleições...