terça-feira, novembro 30, 2004

O Estado atira a Nação para o lixo

O primeiro-ministro cabo-verdiano, dr. José Maria Neves está em Lisboa. Ter-se-á encontrado com o ainda primeiro-ministro dr. Santana Lopes e com o presidente da República dr. Jorge Sampaio.A agenda da visita era, do lado cabo-verdiano, importante, não apenas por razões de negociação bilateral com Portugal, um dos principais parceiros do estado-arquipelago, mas também porque o principal responsável pelo governo da Praia, trouxe a Lisboa a sua preocupação de obter da parte da União Europeia um estatuto privilegiado, que lhe permita ultrapassar a sua actual e principal dificuldade com a comunidade internacional: é que o facto de ter crescido de modo a ultrapassar a definição de país subdesenvolvido implica o fim, em alguns casos, e a redução, noutros, da ajuda externa.

Alguém viu, ouviu ou leu alguma coisa a respeito desta questão?
Alguém já percebeu que política segue o actual governo relativamente aos países de língua oficial portuguesa, nomeadamente os africanos?
Alguém já vislumbrou, neste e nos anteriores governos, uma preocupação real com a salvaguarda dos valores culturais portugueses espalhados pelas sete partidas do Mundo, que fazem de Portugal uma das maiores Nações do Mundo?
Relativamente a esta Nação, que medrou entre mares, florestas e desertos, graças ao espírito inconformado de alguns portugueses, o Estado, com sede no Terreiro do Paço, sempre foi ignorante, pequenino e invejoso. O Palácio das Necessidades vai fechando, por esse Mundo fora, algumas portas que ainda se podiam abrir aos portugueses de primeira, segunda e, talvez, terceira geração. O mesmo palácio, com a sua estrutura ainda napoleónica, vai olhando para as novas nações, nascidas do esforço de antigos portugueses, com um olhar de superioridade balofa e não é capaz, sequer, de influenciar a central de comunicação do todo poderoso Morais Sarmento para explicar as razões de uma visita de estado de um" país irmão", a quem se estendem os braços sem nunca os apertar.
Acredito, todavia, que o Palácio das Necessidades esteja atento às imagens televisivas que reportaram a recente cimeira francófona, onde, em lugar de destaque estavam sentados os presidentes das Repúblicas de Cabo Verde e de S.Tomé e Príncipe.
Acredito, igualmente, que tenha arquivo das imagens de Joaquim Chissano nas cimeiras da Commonwealth e das suas afirmações, de há uns tempos atrás, sobre a importância da língua inglesa em Moçambique.

Desejo ardentemente que estes hipotéticos arquivos não existam apenas para, um dia destes, se atirarem mais umas pedras aquelas comunidades que terão de desenhar estratégias de desenvolvimento que fujam ao nosso convívio, tal como os nossos emigrantes, que preferem falar as línguas de adopção, mesmo com os filhos, do que sofrer a vergonha de serem tutelados por tal Estado - que não sabe, sequer, a Nação que abarca.

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