terça-feira, abril 28, 2009

São os Loucos dos Cereais

Sãos os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
A Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar

Este é o refrão de uma composição cantada por um grupo musical chamado "Ala dos Namorados", mas que pode cantar-se com outras palavras:

São os loucos do sangue
Que o bebem com cereais
Logo pela manhã
Para acalmar os medos da PT.

Vem isto a propósito do que se vai passando na Portugal PT - agora apenas uma empresa, onde reuniu PT Comunicações, TMN e todas as outras, exceptuando a PT PRO, uma criação de Zenal Bava para prestar serviços a todas as empresas do Grupo.

Os trabalhadores desta empresa alguns estão a ser distribuídos pelos vários serviços da Portugal PT, outros serão, evidentemente despedidos através dos mais variados artifícios usados pela Direcção de Recursos Humanos.

De resto, a UGT, através de João Proença, seu secretário geral, já denunciou os abusos cometidos pelo maior grupoempresarial português...

Talvez por isso, um super-administrador, braço direito (talvez também esquerdo..) de Zenal Bava, Rosa da Silva, anda a fazer discursos estranhos aos trabalhadores da Portugal PT, que se resumem a duas ou três ideias:

" Sou um homem do Iriarte (ex-presidente da TMN) e do Bau (ex-presidente da TVCabo), estou há mais de dez anos na PT, conheço toda a gente como as minhas mãos e...não se preocupem porque eu como cereais com sangue todas as manhãs e hei-de conseguir que esta empresa seja rentável".

Quem o ouve não quer acreditar e, sem o dizer, vai pensando: este homem está louco. Há mesmo quem fique assutado e o imagine com sangue a escorre-lhe pela boca.

Será ele o personagem da canção SÃO OS LOUCOS DE LISBOA ?

quarta-feira, abril 22, 2009

BES e o Seu Quintal Preferido

O Banco Espírito Santo (BES) é um dos accionistas mais importantes do grupo empresarial PT. E também a entidade que melhor aproveita essa condição.É o BES que gere grande parte das finanças do grupo PT, nomeadamente no pagamento de salários, não sendo, seguramente, esta a fatia que maiores rendimentos proporciona ao banco de Ricardo Salgado.
De resto, quando se ouve Salgado falar da PT tem-se a sensação de que ele é o "dono". Os outros pouco contam.
Há também outros pormenores aparentemente insignificantes mas que explicam muito nesta relação de dono da quinta: muitos dos dirigentes da PT pertencem, simultaneamente, ao Conselho de Administração do BES. Foram os casos de Murteira Nabo, Miguel Horta e Costa e Henrique Granadeiro. Este último é hoje ainda do "chairman" da PT.
Tempos houve em que alguns administradores da telefónica resistiam às pretensões do BES, mas isso custou-lhes o lugar, pelo que hoje, mesmo que o BES não apoie explicitamente quem quer que seja, é de boa política aprovar as suas propostas. Zenal Bava, que é suportado pelo Banco Espírito Santo e por muitos investidores institucionais de âmbito internacional, encarrega-se de fazer cumprir a regra.
Não há dúvida de que a maior parte das operações financeiras entre as duas instituições são confidenciais e, portanto, nada se sabe delas. Todavia, há uma que é óbvia para os seus trabalhadores: a transferência dos seus vencimentos.
E como se faz? A PT disponibiliza ao dia 15 de cada mês as verbas necessárias para que o BES transfira para os bancos indicados pelos trabalhadores os respectivos salários. E isto acontece ao dia 20, pelo que o BES ganha os juros correspondentes a uma quantia que não deve ser pequena.
Todavia, este mês, o BES ganhou mais a manhã do dia 20 de Abril porque só disponibilizou o dinheiro na tarde desse dia, depois de alguns protestos.
A Caixa Geral de Depósitos, que também tem uma parte desta operação cumpriu com os prazos.
Como é óbvio nenhum jornal, rádio ou televisão alguma vez se referiu a esta dependência da PT relativamente ao BES, mas para quem a constata não pode deixar de ficar estupefacto. Como é que o maior grupo empresarial português se deixa subjugar desta maneira?

sábado, abril 18, 2009

Ricardo Salgado, Igreja e a Oportunidade da Crise

No dia 26 de Janeiro de 2006 escrevi um texto com o título "Ricardo Salgado Super Star" para assinalar o aparecimento do banqueiro em tudo quanto era comunicação social, numa época em que a imagem do BES passou por um mau bocado e se falavam de visitas estranhas da Judiciária a casa de altos funcionários do Banco. Desde então nunca se soube a verdade sobre essas "rusgas".

Ricardo Salgado voltou agora a fazer uma operação semelhante, dando entrevistas a vários órgãos de comunicação social. É óbvio que o interesse não partiu dos jornais, das rádios e das televisões. Foi a máquina de informação de Ricardo Salgado a manipular. É uma manipulação tão evidente que é uma vergonha para quem dirige e trabalha em tais casas "de putas".

E o que quer Ricardo Salgado desta vez? Aproveitar a crise de todos os modos. Já está a normalizar os seus balanços à custa da baixa de juros do BCE e da subida dos seus próprios juros, dificultando, tanto como os outros bancos a vida às pequenas e médias empresas e às famílias.

As entrevistas que deu revelam, primeiro, que está preocupado com a imagem que os banqueiros têm depois desta crise financeira e económica. Todo o Mundo percebeu a responsabilidade desta verdadeira catástrofe mundial, ela cabe inteirinha aos banqueiros desonestos, sem ética, gananciosos. E aqui não há excepções.

A imagem dos banqueiros vai mesmo ficando cada vez pior e Salgado vem dizer que os políticos falam mal deles "porque dá votos..." Ele tem medo dos avisos de algumas vozes credíveis: pode estar eminente uma perturbação social grave.

Ele sabe que em Portugal nada começa, mas, no resto da Europa já há indícios de que alguma coisa pode vir a acontecer aos bancos e aos banqueiros. Depois, o movimento pode chegar a este rectângulo periférico, habitado por um povo quieto, capaz de suportar políticos corruptos, forças da ordem que se dedicam a emboscadas para "sacarem" multas aos cidadãos cumpridores da lei, já que dos outros têm medo e banqueiros ladrões.

Parece evidente que o clima de impunidade que ainda se vive em todo o Mundo relativamente aos urdidores deste saque global feito pelos banqueiros e seus lacaios vai ter um fim. Parece evidente que entrámos numa outra época, cujo princípio será o fim dos chamados paraísos fiscais, onde, ainda hoje, a banca internacional continua a esconder os seus lucros escandalosos e a fuga aos impostos.
E porque o fim parece estar próximo e embora em Portugal tudo aconteça sempre mais tarde, também cá vai chegar. Então Ricardo Salgado antecipa-se e, oportunisticamente, põe em movimento a sua máquina de manipulação da comunicação social para anunciar o que, para ele, seria bom: uma amnistia global para os off shore.
Tão bom que era. Os crimes cometidos eram esquecidos, os capitais exportados podiam voltar sem ter que pagar impostos e tudo continuaria risonho para a banca e para os banqueiros.
Esta solução, sugerida por Ricardo Salgado, é uma confissão de culpa, mas o medo é muito e ele procura transformar uma dificuldade numa vantagem. Seria mais um favor da crise.
À procura do mesmo está a Igreja com o seu programa de socorro à sociedade dos desfavorecidos através de um esquema que até promete empregos.
É mesmo interessante. A Igreja mostra-se preocupada e apresenta um programa de salvação. Mas onde vai a Igreja buscar os recursos ? Ao Estado, com quem vai procurar assinar protocolos e aos cidadãos anónimos para cuja solidariedade apela, abrindo uma conta num banco (que até pode ser o BES).
Toda a comunicação social deu grande relevo a esta iniciativa e a louvou. Muita gente sugeriu mesmo que a Igreja católica se estava a substituir ao governo.
Ninguém referiu o facto de a Igreja ter milhões e milhões que lhe permitiriam criar um programa de apoio às vítimas do saque dos banqueiros perfeitamente autónomo. Nem que para tal tivesse que vender o painel de ouro com que enfeitou a nova igreja do santuário de Fátima.
Não, nada disso, a Igreja, também oportunisticamente, procura aproveitar a crise, para melhorar a imagem, por um lado, e para arranjar maneira de financiar as várias organizações que mantém e que servem também para empregar padres, irmãs de padres, amigos de padres, etc., por outro.
E assim se vai vivendo a crise em Portugal...
PS - o meu texto de 26 de Janeiro de 2006 tem 59 comentários estranhíssimos. Espero que não aconteça o mesmo com este.






sábado, abril 04, 2009

Que Esperam eles ? E Por Que Esperamos Nós?

Tenho que confessar: os últimos anos vividos em Portugal confundiram-me. Deixei de entender o que se passa e não tenho a perspectiva que a minha terra possa mudar de rumo e constituir-se num estado democrático normal, com um poder honesto, interessado em resolver os problemas das pessoas.
Se voltar atrás, à fuga desorientada de Guterres depois de ter perdido as eleições autárquicas, tenho que, à luz do que se se passa agora, perceber que ele não fugia da derrota mas de outros males: o controlo do aparelho do partido e do estado pelos novos ricos, que aparecem agora, quer no governo, quer na actividade privada a recomendar uma legislação que os obrigue a explicar porque é que em menos de vinte anos acumularam patrimónios que já não cabem em Portugal.
Depois de Guterres foram os disparates sucessivos do PSD, com promessas não cumpridas e com mais uma fuga, a de Durão Barroso, deixando o país entregue a um improvável primeiro-ministro: Santana Lopes.
Foi a rebaldaria total. Não se percebeu nada, a não ser que apareceram mais uns quantos novos ricos, visíveis na Câmara Municipal de Lisboa que ele entregou a um incrível , diria mesmo irresponsável, Carmona. A Câmara foi quase à banca rota, mas as notícias sobre prémios de gestão indicavam o objectivo dos nossos homens e mulheres que preenchem os diversos graus de poder.
Entretanto, no governo Santana Lopes criava a sua própria corte, isto é, seleccionava o grupo de amigos que poderiam a ficar ricos com ele. Alguns já não precisavam da rampa Santana, tinham subido ao palanque dos muito ricos nas escadas construídas por Cavaco Silva, durante os anos em que a União Europeia despejou carradas de dinheiro sobre esta pobre terra (pobre porque há séculos que não tem uma elite honesta...)
Não deixaria de ser interessante averiguar os companheiros de Cavaco e descobrir o modo como ficaram ricos. Muitos deles eram pobres funcionários ou do Estado ou de empresas públicas. Uma averiguação ao próprio Cavaco e já agora a Santana Lopes haveria de ter resultados interessantes.
Em todas estas etapas, a banca foi crescendo, ganhando garras. Em alguns textos que estão lá para trás eu bem que me inquietei com a arrogância, com a mentira, com a falsidade, com a falta de ética dos banqueiros, alguns deles mais parecidos com verdadeiros padrinhos da máfia.
Mas os homens do poder não tiveram, não têm força para se lhes opor e as surpresas aconteceram: o BCP alimento, de repente escândalos inconcebíveis há anos atrás, mas as consequências não foram nenhumas. Até fico com a sensação de que os portugueses apreciam os autores destes malabarismos financeiros e os invejam um pouco por não estarem em condições de fazer o mesmo.
É neste contexto que o PS ganha a sua primeira maioria absoluta, fazendo promessas que logo a seguir nega. "Não imaginávamos que a situação fosse tão má".
Esta maioria fez crescer a arrogância de Sócrates, que se rodeou de gente medíocre e transformou alguns deles em verdadeiros cães de guarda. O PS transformou-se num partido liberal, protegendo o capital e em especial as empresas dos seus antigos dirigentes, que, por alguma razão não se misturam com os ex-mandões do PSD. É deste campo que surgem os dois mais meditáticos escândalos: BPN e BPP.
O BPN revelou mais um cavaquista ladrão. Este está preso, mas os outros andam por aí. Um deles até é conselheiro de Estado. Muitos dos ex-ministros de Cavaco são accionistas do BPN e da SLN, mas nenhum deles apercebeu que o ex-secretário de estado do orçamento andava a enganar toda a gente, incluindo o Bando de Portugal, que, pela voz do seu mais alto responsável, diz ter tido conhecimento de operações irregulares apenas muito tarde.
Pelo seu lado, o BPP, uma sigla que não tinha existência nos jornais, nas rádios ou nas televisões, revelou-se como o Banco Privado Português, uma entidade que geria fortunas pessoais... e também quer beneficiar do apoio que o Govero deu aos outros bancos, traduzido em avales chorudos.
Tudo isto acontece enquanto nos Estados Unidos os banqueiros revelam também a sua verdadeira face de vigaristas, exploradores da miséria. Nasce uma crise financeira internacional, que se amplia numa crise económica.
Os diversos governos, inclusive o português, tomam medidas de apoio à economia, sobretudo, dizem eles, às pequenas e médias empresas. E o que acontece com essas medidas? Os Bancos limpam os seus balanços da especulação que andaram a fazer com as contas dos seus depositantes e não concedem o crédito de que as empresas necessitam para sobreviver. O Banco Central Europeu desce as taxas Euribor até 1,25%, mas os bancos, geridos por merceeiros de gravata última moda, aumentam o spread em 300%.
Sócrates, entretanto metido no centro de um furacão chamado "Freeport" desdobra- em operações de charme, já em pré-campanha; das pessoas só já lhe interessa o voto. E tê-lo-á, pelo menos dos que enriqueceram indevidamente porque já anunciou que uma proposta do PSD no sentido de legislar no sentido do apuramento dessas fortunas não terá o voto do PS.
Que esperar desta gente? Que esperam eles. Que nos fiquemos sempre quietos, bem educados, a bater palmas?
Espero viver ainda o tempo suficiente para ver este meu povo a dizer não. Mas um NÃO com muita força!