Tenho que confessar: os últimos anos vividos em Portugal confundiram-me. Deixei de entender o que se passa e não tenho a perspectiva que a minha terra possa mudar de rumo e constituir-se num estado democrático normal, com um poder honesto, interessado em resolver os problemas das pessoas.
Se voltar atrás, à fuga desorientada de Guterres depois de ter perdido as eleições autárquicas, tenho que, à luz do que se se passa agora, perceber que ele não fugia da derrota mas de outros males: o controlo do aparelho do partido e do estado pelos novos ricos, que aparecem agora, quer no governo, quer na actividade privada a recomendar uma legislação que os obrigue a explicar porque é que em menos de vinte anos acumularam patrimónios que já não cabem em Portugal.
Depois de Guterres foram os disparates sucessivos do PSD, com promessas não cumpridas e com mais uma fuga, a de Durão Barroso, deixando o país entregue a um improvável primeiro-ministro: Santana Lopes.
Foi a rebaldaria total. Não se percebeu nada, a não ser que apareceram mais uns quantos novos ricos, visíveis na Câmara Municipal de Lisboa que ele entregou a um incrível , diria mesmo irresponsável, Carmona. A Câmara foi quase à banca rota, mas as notícias sobre prémios de gestão indicavam o objectivo dos nossos homens e mulheres que preenchem os diversos graus de poder.
Entretanto, no governo Santana Lopes criava a sua própria corte, isto é, seleccionava o grupo de amigos que poderiam a ficar ricos com ele. Alguns já não precisavam da rampa Santana, tinham subido ao palanque dos muito ricos nas escadas construídas por Cavaco Silva, durante os anos em que a União Europeia despejou carradas de dinheiro sobre esta pobre terra (pobre porque há séculos que não tem uma elite honesta...)
Não deixaria de ser interessante averiguar os companheiros de Cavaco e descobrir o modo como ficaram ricos. Muitos deles eram pobres funcionários ou do Estado ou de empresas públicas. Uma averiguação ao próprio Cavaco e já agora a Santana Lopes haveria de ter resultados interessantes.
Em todas estas etapas, a banca foi crescendo, ganhando garras. Em alguns textos que estão lá para trás eu bem que me inquietei com a arrogância, com a mentira, com a falsidade, com a falta de ética dos banqueiros, alguns deles mais parecidos com verdadeiros padrinhos da máfia.
Mas os homens do poder não tiveram, não têm força para se lhes opor e as surpresas aconteceram: o BCP alimento, de repente escândalos inconcebíveis há anos atrás, mas as consequências não foram nenhumas. Até fico com a sensação de que os portugueses apreciam os autores destes malabarismos financeiros e os invejam um pouco por não estarem em condições de fazer o mesmo.
É neste contexto que o PS ganha a sua primeira maioria absoluta, fazendo promessas que logo a seguir nega. "Não imaginávamos que a situação fosse tão má".
Esta maioria fez crescer a arrogância de Sócrates, que se rodeou de gente medíocre e transformou alguns deles em verdadeiros cães de guarda. O PS transformou-se num partido liberal, protegendo o capital e em especial as empresas dos seus antigos dirigentes, que, por alguma razão não se misturam com os ex-mandões do PSD. É deste campo que surgem os dois mais meditáticos escândalos: BPN e BPP.
O BPN revelou mais um cavaquista ladrão. Este está preso, mas os outros andam por aí. Um deles até é conselheiro de Estado. Muitos dos ex-ministros de Cavaco são accionistas do BPN e da SLN, mas nenhum deles apercebeu que o ex-secretário de estado do orçamento andava a enganar toda a gente, incluindo o Bando de Portugal, que, pela voz do seu mais alto responsável, diz ter tido conhecimento de operações irregulares apenas muito tarde.
Pelo seu lado, o BPP, uma sigla que não tinha existência nos jornais, nas rádios ou nas televisões, revelou-se como o Banco Privado Português, uma entidade que geria fortunas pessoais... e também quer beneficiar do apoio que o Govero deu aos outros bancos, traduzido em avales chorudos.
Tudo isto acontece enquanto nos Estados Unidos os banqueiros revelam também a sua verdadeira face de vigaristas, exploradores da miséria. Nasce uma crise financeira internacional, que se amplia numa crise económica.
Os diversos governos, inclusive o português, tomam medidas de apoio à economia, sobretudo, dizem eles, às pequenas e médias empresas. E o que acontece com essas medidas? Os Bancos limpam os seus balanços da especulação que andaram a fazer com as contas dos seus depositantes e não concedem o crédito de que as empresas necessitam para sobreviver. O Banco Central Europeu desce as taxas Euribor até 1,25%, mas os bancos, geridos por merceeiros de gravata última moda, aumentam o spread em 300%.
Sócrates, entretanto metido no centro de um furacão chamado "Freeport" desdobra- em operações de charme, já em pré-campanha; das pessoas só já lhe interessa o voto. E tê-lo-á, pelo menos dos que enriqueceram indevidamente porque já anunciou que uma proposta do PSD no sentido de legislar no sentido do apuramento dessas fortunas não terá o voto do PS.
Que esperar desta gente? Que esperam eles. Que nos fiquemos sempre quietos, bem educados, a bater palmas?
Espero viver ainda o tempo suficiente para ver este meu povo a dizer não. Mas um NÃO com muita força!
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