sábado, abril 18, 2009

Ricardo Salgado, Igreja e a Oportunidade da Crise

No dia 26 de Janeiro de 2006 escrevi um texto com o título "Ricardo Salgado Super Star" para assinalar o aparecimento do banqueiro em tudo quanto era comunicação social, numa época em que a imagem do BES passou por um mau bocado e se falavam de visitas estranhas da Judiciária a casa de altos funcionários do Banco. Desde então nunca se soube a verdade sobre essas "rusgas".

Ricardo Salgado voltou agora a fazer uma operação semelhante, dando entrevistas a vários órgãos de comunicação social. É óbvio que o interesse não partiu dos jornais, das rádios e das televisões. Foi a máquina de informação de Ricardo Salgado a manipular. É uma manipulação tão evidente que é uma vergonha para quem dirige e trabalha em tais casas "de putas".

E o que quer Ricardo Salgado desta vez? Aproveitar a crise de todos os modos. Já está a normalizar os seus balanços à custa da baixa de juros do BCE e da subida dos seus próprios juros, dificultando, tanto como os outros bancos a vida às pequenas e médias empresas e às famílias.

As entrevistas que deu revelam, primeiro, que está preocupado com a imagem que os banqueiros têm depois desta crise financeira e económica. Todo o Mundo percebeu a responsabilidade desta verdadeira catástrofe mundial, ela cabe inteirinha aos banqueiros desonestos, sem ética, gananciosos. E aqui não há excepções.

A imagem dos banqueiros vai mesmo ficando cada vez pior e Salgado vem dizer que os políticos falam mal deles "porque dá votos..." Ele tem medo dos avisos de algumas vozes credíveis: pode estar eminente uma perturbação social grave.

Ele sabe que em Portugal nada começa, mas, no resto da Europa já há indícios de que alguma coisa pode vir a acontecer aos bancos e aos banqueiros. Depois, o movimento pode chegar a este rectângulo periférico, habitado por um povo quieto, capaz de suportar políticos corruptos, forças da ordem que se dedicam a emboscadas para "sacarem" multas aos cidadãos cumpridores da lei, já que dos outros têm medo e banqueiros ladrões.

Parece evidente que o clima de impunidade que ainda se vive em todo o Mundo relativamente aos urdidores deste saque global feito pelos banqueiros e seus lacaios vai ter um fim. Parece evidente que entrámos numa outra época, cujo princípio será o fim dos chamados paraísos fiscais, onde, ainda hoje, a banca internacional continua a esconder os seus lucros escandalosos e a fuga aos impostos.
E porque o fim parece estar próximo e embora em Portugal tudo aconteça sempre mais tarde, também cá vai chegar. Então Ricardo Salgado antecipa-se e, oportunisticamente, põe em movimento a sua máquina de manipulação da comunicação social para anunciar o que, para ele, seria bom: uma amnistia global para os off shore.
Tão bom que era. Os crimes cometidos eram esquecidos, os capitais exportados podiam voltar sem ter que pagar impostos e tudo continuaria risonho para a banca e para os banqueiros.
Esta solução, sugerida por Ricardo Salgado, é uma confissão de culpa, mas o medo é muito e ele procura transformar uma dificuldade numa vantagem. Seria mais um favor da crise.
À procura do mesmo está a Igreja com o seu programa de socorro à sociedade dos desfavorecidos através de um esquema que até promete empregos.
É mesmo interessante. A Igreja mostra-se preocupada e apresenta um programa de salvação. Mas onde vai a Igreja buscar os recursos ? Ao Estado, com quem vai procurar assinar protocolos e aos cidadãos anónimos para cuja solidariedade apela, abrindo uma conta num banco (que até pode ser o BES).
Toda a comunicação social deu grande relevo a esta iniciativa e a louvou. Muita gente sugeriu mesmo que a Igreja católica se estava a substituir ao governo.
Ninguém referiu o facto de a Igreja ter milhões e milhões que lhe permitiriam criar um programa de apoio às vítimas do saque dos banqueiros perfeitamente autónomo. Nem que para tal tivesse que vender o painel de ouro com que enfeitou a nova igreja do santuário de Fátima.
Não, nada disso, a Igreja, também oportunisticamente, procura aproveitar a crise, para melhorar a imagem, por um lado, e para arranjar maneira de financiar as várias organizações que mantém e que servem também para empregar padres, irmãs de padres, amigos de padres, etc., por outro.
E assim se vai vivendo a crise em Portugal...
PS - o meu texto de 26 de Janeiro de 2006 tem 59 comentários estranhíssimos. Espero que não aconteça o mesmo com este.






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