Este é um espaço de opinião assente em convicções e de análise baseada em factos, alguns tornados públicos e credíveis, outros de conhecimento restrito, mas cuja credibilidade asseguramos, por razões de natureza ética e deontológica.
domingo, novembro 01, 2009
VIDAS (3)
Ou o L'Equipe, que em 49 avançou com a azarada Taça Latina, que perdeu a fabulosa equipa de Turim, que regressava de Lisboa, no avião que tombou pelo caminho. A segunda edição "Latina" foi em Lisboa e a ela faltou também o campeão italiano, substitudo pelo quarto qualificado. A Taça manteve-se
alguns anos, sobreviveu mesmo à Taça dos Campeões. Também esta, é bom não esquecer, de iniciativa do diário desportivo parisiense.
E foi, aliás, esta competição europeia a romper com velhos hábitos e regras lixadas.
Vamos lembrar que a segunda taça Latina, que o Benfica ganhou, lá isso ganhou! Mas como ? Bom a primeira final terminou com um empate e após prolongamento, como era habitual nas finais de Taça. Alterou-se as regras para a segunda final. E caso de empate, seguia-se a tal meia hora. Se o empate subsistisse, far-se-iam novos prolongamentos de 15 minutos, até que um golo surgisse, dando-se de imediato fim a peleja.
Sabe-se hoje que o Benfica ganhou e sabe-se que o problema foi equacionado de forma a não repetir-se. Não deixa de ter graça que uns bons anos depois o Benfica perdeu um jogo da Taça dos Campeões, depois de prolongamento, resolvido com moeda ao ar. Alguém comentaria que jogar às moedas com escoceses era um disparate. E, claro, acabou-se com isso. Por ora, é o drama dos penalties a optar. O problema é que a questão não é essa. No futebol há três resultados possíveis: vitória, derrota, empate. A vitória é do que ganha; a derrota do que perde; o empate é isso mesmo, um empate. De resto, neste sistema de prolongamentos existem outro factores controversos, como , por exemplo, o facto de uma das equipas ter um jogador a menos, quer por lesão, quer por expulsão. Tanto faz. A meia hora extra é isso mesmo: extra! Logo deve ser efectuada em condições de igualdade, onze contra onze !
Dantes, no meu tempo juvenil, as equipas portuguesas jogavam com jogadores portugueses. É verdade que os clubes espanhois só jogavam com espanhois. Os clubes ingleses só jogavam com jogadores ingleses, mesmo que fossem brancos!
O Peyroteo, por exemplo, era de origem africana, sim senhor, mas o Espirito Santo era lisboeta, ambos genuinamente portugueses. Depois da guerra, qualquer sul-americano que chegasse à Itália era italiano. Foi daí, estou em crer, que surgiram as taxas moderadoras. Nem é tanto o facto de se ter eliminado a quota de estrangeiros nas equipas, mas de se negociar a nacionalidade como coisa de somenos que me deixa pasmado.
Já vos massacrei com a relva que havia ou não havia no futebol do meu tempo. Mas havia outras coisas que não havia: a luz, por exemplo. O futebol por cá era coisa de domingo. Jogos a sério eram às três da tarde. Quando a época começava, já o Setembro ia adiantado. Nos jogos da Taça ( no final da época)
podia começar-se um pouco mais tarde. Com o advento das competições europeias criou-se um problema. Já vão ver. Devem ter percebido que a Taça Latina quando chegou cá foi resolvida na Estádio Nacional, à tarde. Um jogo após outro. A organização da Taça dos Campeões começou cedo. No caso português o L'Equipe entendeu que deveria ser o Sporting a ganhar o campeonato por cá, tal como acontece agora com o Porto. Portanto o Sporting foi convidado prematuramente. O Benfica ganhou nesse ano, mas Otto Glória queria levar a equipa encarnada para o Brasil. A Taça Europeia não lhe dizia nada. Coube ao Sporting abrir (o que não deixa de ser um marco histórico) a competição, num domingo, no Estádio Nacional, recebendo o Partizan. Empatou. Duas semanas depois perdeu. O assunto (lá lá vamos) arrumou-se.
O Real Madrid ganhou esse e os quatro seguintes, até que o Benfica ganhou aos hungaros, na Luz, num domingo à tarde, e passou a eliminatória.Tornou-se difícil conseguir jogar a meio da tarde, em dia de semana. Foi preciso tomar a decisão estarrecedora: iluminar a Luz à noite. Fez-se luz e o Benfica venceu a Taça, nesse ano, e no seguinte. Até Salazar se comoveu. Do L'Equipe não mais se falou. Talvez seja eu que nestou surdo...
E hoje, tantos anos passados, o Benfica perdeu. E tinha uns dois ou três portugueses na equipa. Olá se tinha...
domingo, outubro 25, 2009
VIDAS (2)
Juntei este trio por mór de um confusão que havia nesse tempo. Um deles era, tinha de ser, defesa, porque atrás deles só o Gaspar Pinto e o Jacinto, típico defesa direito, enquanto Gaspar era central. Não que fosse alto, antes pelo contrário. Tal como o guarda-redes, Martins, minúsculo, como eram quase todos os que víamos nos campeonatos, à excepção do Capela que substituiu Sério na baliza do Belenenses. À sua frente, Capela dispunha dos defesas Vasco e Feliciano, também eles de estatura elevada, para a época. Eram eles, afinal, as «três torres de Belém». E muito contribuiram para a conquista do Nacional, o único que o Belenses obteve.
Retorno ao trio defensivo encarnado. Com a saída de cena de Francisco Albino, entrou Fernandes para defesa esquerdo. Assisti à despedida de Valadas, extremo-esquerdo e à consolidação de Rogério, na esquerda do ataque encarnado. Como jogador, Rogério estava uns furos acima de qualquer outro no futebol português de então, mas nem por isso era muito estimado entre os sócios.
Mais prático e eficaz era o Sporting, no qual foi evoluindo o melhor ataque do futebol português nos anos 40 e os primeiros da década posterior. Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano. Havia um sexto,Martins, pau para toda a colher. Substituia, cada um dos outros, sempre que fosse necessário. Dava gosto vê-los.
Quero crer que o futebol português ganhou algo com a guerra na Europa. Os treinadores magiares que por aqui ficaram, fugindo aos nazis, fizeram escola e empurraram para a frente. Mas eram poucos!
Comecei a ir aos campos de futebol antes de ir para a escola. E comecei a jogar na escola, no pátio. Tenho uma vaga ideia dos «Sports». Nem sei quantas vezes saía. Recordo a «Stadium» por mór dos bonecos (fotos). O meu pai dava-me
«O Mosquito». Foi-mo dando enquanto custou cinco tostões; quando subiu o preço para oito, cortou. Habituei-me à «Stadium», que o meu padrinho me deixava ver e me ajudou a ler.
A guerra tinha acabado, mas as equipas continuavam a jogar com onze. Portugal jogou duas vezes com a Espanha e, claro, não foi ao Brasil. Ouvi na Onda Curta, da telefonia, um pedaço do História. O locutor dizia, em espanhol,
que eu ouvi, já a noite ia alta: «Vencemos a pérfida Albion!» Foi verdade. Os ingleses ganharam a guerra mas perderam a maestria. Nem o Brasil ganhou aquele Mundial. Ainda menos a Itália, que perdera um ano antes os jogadores do Torino (como se dizia, na época)!
Um dia, o Benfica empatou em Setubal, O presidente castigou o Felix e o Rogério. Sem processo, não era preciso. O regime era o que era. Rogério livrou-se, mas aceitou despedir-se. Felix desapareceu. Emigrou. Mas apareceu Otto Glória. E chegou Coluna. A meio do campeonato, o Benfica inaugurou a Luz, espécie de meio estádio, que mal cabia para os sócios. Antes, o Porto tinha exibido as Antas. E também arranjou um treinador brasileiro, um sujeito mau como as cobras. Mas ganhou.
domingo, outubro 18, 2009
VIDAS
Depois, mais giro, foi o «campo grande», o «campo do Benfica» a «ilha da madeira», o que se quisesse, menos «Campo 28 de Maio», isto nunca, nem nos jornais, imagine-se!
O Benfica era (eu ainda não percebia disso) malquisto do Poder de então, mas na bancada dos sócios -- e o meu pai era sócio -- via bem o jogo e fui aprendendo a gostar. Gostava do Gaspar Pinto. Era um senhor defesa, matreiro.
Peyroteo um belo domingo deu-lhe um soco que o estendeu. Foi «pr'á rua» e o Benfica chegou ao empate. Era um jogo de Taça e, portanto, em fim de época. Na terça (ou quarta?) o Sporting acabaria por eliminar o Benfica (cheio de azares, pois claro!) e ganhar a final, nas «Salésias», creio que ao Olhanense.
Por esses tempos não havia ainda subidas e descidas de divisão. Eram os «regionais» que qualificavam para o «nacional». Foi por isso que levei alguns anos para conhecer o Barreirense que foi perdendo para o Vitória de Setubal. Nem havia Braga; era sempre o outro Vitória, o de Guimarães, a qualificar-se.
Sá havia jogos ao domingo. O defeso era comprido, o que tornava os inícios de época verdadeiramente festivos. O meu tio mais novo ia para o campo do Benfica pelo meio dia. Via um pedaço das segundas categorias, o jogo de reservas e o da divisão principal.
Antes dos jogos começarem os jogadores das duas equipas perfilavam-se diante dos camarotes para saudar ou excelências excelentisssimas ou dirigentes
federativos , erguendo o braço direito, para a continência!
Havia uma Cuf em Lisboa. Jogava no Lumiar-A. Uma vez vi essa Cuf ganhar por 4-1 ao Benfica. Eu fiquei triste e o meu pai muito zangado. Tal Cuf nem sequer se apurava para o Nacional. Enfim, coisas da bola! Mas é bom recordar que a par de alguns veteranos experientes jogavam por lá um tal Felix, outro ignorado Travassos, então jovens desconhecidos!Esta Cuf finou-se de repente, dias antes de começar uma nova época. O dito Travassos e o mencionado Felix atravessaram o Campo Grande e foram oferecer-se ao Benfica, onde na ausência do treinador (Biri), o Xico Ferreira dirigia o treino dos mais jovens. Disse logo que sim a Felix, mas não quis o Travassos, por ser de pequena estatura! E o Travassos foi para o Sporting, onde fez uma carreira brilhante, e seria, aliás, o primeiro português, anos depois, a ser incluido numa selecção europeia!
Como se pode depreender, a xico-expertice já vem de longe!
Já devem ter percebido que estou ainda em tempo de guerra. Era gito ir à bola e comer castanhas à saída do campo do Benfica. E patinhar a pé até ao Campo Pequeno, por ser mais fácil apanhar, ali, o eléctrico para a Baixa.
O meu pai passsava sempre pelo Leão de Ouro, antes de subir o Chiado, a caminho de casa. Se o Benfica tivesse ganho haveria um prato de ameijoas, com as imperiais. Chegava-se a casa a tempo de ligar o rádio para ouvir Alfredo Quádrios Raposo efectuar o resumo da primeira e o relato da segunda parte do jogo. Algumas vezes do jogo a que tinhamos assistido! Bons tempos!
Quando comecei a ver a bola, o Espirito Santo não jogava e eu nem sabia que ele existia. Existia e era titular no Benfica, mas teve uma lesão grave e ficou pelo menos um ano parado. O Julinho era o avançado-centro, que substituira o lesionado, já então recordista do salto em altura. Não havia, portanto, Estádio Nacional. O que havia no futebol português, de então eram muitos campos carecas e um relvado nas Salésias, em Lisboa, e outro vagamente arrelvado, no Porto, o «estádio do Lima». Podia assistir-se aos jogos sentado em bancadas ou centrais ou laterais, conforme o taco de cada qual, ou no peão, que como a palavra indica, de pé. Por essa altura aconteceu um inverno tempestuoso, com cheias na Extremadura, que gerou o «socorro social», cinco tostões nos bilhetes de cinema e, claro, de futebol, Cinco tostões era o que custava o eléctrico do Rossio a Santos. O elevador da Bica custava dois tostões.
Já agora anotem que vi e me lembro do campeonato que o Belenenses ganhou.
O belenenses do Capela, que com Vasco e Feliciano contituiam as torres de Belém, além do Serafim, que trabalhava na oficina do irmão, na rua das Flores e com o qual eu costumava conversar sobre bola, no Porto de Abrigo. O ponta esquerda era o Rafael, esse já internacional.
Foi nas Salésias que assisti, em 44, à final da Taça, Benfica-Estoril. O Estoril acabara de vencer o campeonato da segunda-divisão e, como tal, subiria de divisão e estou em crer que essa foi a primeira vez de súbida por mérito, em vez das opções regionais. E duas semanas depois, a 10 de Junho (bem entendido) era inaugurado o Estádio Nacional. Houve alguns buracos. O comboio de Cascais não acabou a tempo o desvio para o estádio; nem a auto-estrada saída das Amoreiras chegou ao Estádio. Vivia-se, ainda, em tempo de guerra na Europa e tal servia para justificar muita coisa. O Sporting ganhou então a primeira das taças que passaram a ser disputadas entre os vencedores do Nacional e da Taça. Hoje nem sei se teria sido possível. O jogo começou bem mais tarde do que estaria previsto, Acabou empatado. Meia hora depois era quase noite cerrada. Desiludido, o meu pai comentou: «...é sempre assim... o Benfica joga e... o Sporting ganha!»...
(continua).
quarta-feira, setembro 30, 2009
Um Presidente Perigoso
domingo, setembro 06, 2009
segunda-feira, julho 06, 2009
PS Condenado por Sócrates
Não, não tem. Sócrates arrasta o PS para o fundo. Um e outro estão sem Norte. A demissão de Manuel Pinho foi um disparate e a regra "geral" - disse o novo porta-voz, que não tem jeito nenhum para a função - segundo a qual não haverá mais candidaturas duplas vai condenar o PS à mediocridade das candidaturas locais. Jamais alguém, cuja carreira política esteja a ser feita no Parlamento vai aceitar ir disputar eleições locais, sobretudo em Câmaras cujas vitórias não estão asseguradas à partida.
Em breve voltaremos a ter os presidentes de câmara eleitos sem maiorias a "comprar" os vereadores da oposição.
Esta medida, tomada numa reunião de Sócrates com os eus clones revela um desnorte total e uma falta de dignidade confrangedora. De facto, Sócrates acabará por atirar o PS para um deserto cuja dimensão dificilmente será avaliável.
quarta-feira, junho 10, 2009
Terá O PS Força Para Se Desembaraçar De Sócrates?
terça-feira, maio 05, 2009
Maiorias Absolutas, Blocos Centrais, as Maningâncias do Costume
terça-feira, abril 28, 2009
São os Loucos dos Cereais
Que nos fazem duvidar
A Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar
Este é o refrão de uma composição cantada por um grupo musical chamado "Ala dos Namorados", mas que pode cantar-se com outras palavras:
São os loucos do sangue
Que o bebem com cereais
Logo pela manhã
Para acalmar os medos da PT.
Vem isto a propósito do que se vai passando na Portugal PT - agora apenas uma empresa, onde reuniu PT Comunicações, TMN e todas as outras, exceptuando a PT PRO, uma criação de Zenal Bava para prestar serviços a todas as empresas do Grupo.
Os trabalhadores desta empresa alguns estão a ser distribuídos pelos vários serviços da Portugal PT, outros serão, evidentemente despedidos através dos mais variados artifícios usados pela Direcção de Recursos Humanos.
De resto, a UGT, através de João Proença, seu secretário geral, já denunciou os abusos cometidos pelo maior grupoempresarial português...
Talvez por isso, um super-administrador, braço direito (talvez também esquerdo..) de Zenal Bava, Rosa da Silva, anda a fazer discursos estranhos aos trabalhadores da Portugal PT, que se resumem a duas ou três ideias:
" Sou um homem do Iriarte (ex-presidente da TMN) e do Bau (ex-presidente da TVCabo), estou há mais de dez anos na PT, conheço toda a gente como as minhas mãos e...não se preocupem porque eu como cereais com sangue todas as manhãs e hei-de conseguir que esta empresa seja rentável".
Quem o ouve não quer acreditar e, sem o dizer, vai pensando: este homem está louco. Há mesmo quem fique assutado e o imagine com sangue a escorre-lhe pela boca.
Será ele o personagem da canção SÃO OS LOUCOS DE LISBOA ?
quarta-feira, abril 22, 2009
BES e o Seu Quintal Preferido
sábado, abril 18, 2009
Ricardo Salgado, Igreja e a Oportunidade da Crise
Ricardo Salgado voltou agora a fazer uma operação semelhante, dando entrevistas a vários órgãos de comunicação social. É óbvio que o interesse não partiu dos jornais, das rádios e das televisões. Foi a máquina de informação de Ricardo Salgado a manipular. É uma manipulação tão evidente que é uma vergonha para quem dirige e trabalha em tais casas "de putas".
E o que quer Ricardo Salgado desta vez? Aproveitar a crise de todos os modos. Já está a normalizar os seus balanços à custa da baixa de juros do BCE e da subida dos seus próprios juros, dificultando, tanto como os outros bancos a vida às pequenas e médias empresas e às famílias.
As entrevistas que deu revelam, primeiro, que está preocupado com a imagem que os banqueiros têm depois desta crise financeira e económica. Todo o Mundo percebeu a responsabilidade desta verdadeira catástrofe mundial, ela cabe inteirinha aos banqueiros desonestos, sem ética, gananciosos. E aqui não há excepções.
A imagem dos banqueiros vai mesmo ficando cada vez pior e Salgado vem dizer que os políticos falam mal deles "porque dá votos..." Ele tem medo dos avisos de algumas vozes credíveis: pode estar eminente uma perturbação social grave.
Ele sabe que em Portugal nada começa, mas, no resto da Europa já há indícios de que alguma coisa pode vir a acontecer aos bancos e aos banqueiros. Depois, o movimento pode chegar a este rectângulo periférico, habitado por um povo quieto, capaz de suportar políticos corruptos, forças da ordem que se dedicam a emboscadas para "sacarem" multas aos cidadãos cumpridores da lei, já que dos outros têm medo e banqueiros ladrões.
sábado, abril 04, 2009
Que Esperam eles ? E Por Que Esperamos Nós?
sexta-feira, janeiro 02, 2009
QUEM TVIU
Aos investidores coube em sorte o azar dos Távoras. Nem se pode rogar a Deus, porque de há muito o Altíssimo determinou que a gula fosse pecado.
Mas, senhores, um governo, qualquer que seja, não é como o Barbas. Não tem que perdoar à toa; mas daí a usar o taco do povo inapto para socorrer a infelicidade de banqueiros pecaminosos cabe algum exagero.
A graça devida aos eternos criticadores não está, não senhor, dissimulada. Já o avô dos meus avós costumava explicar aos filhos perplexos: «quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão»...
Qualquer mexilhão que se preze sabe que escusa de estar descansado!
No eléctrico que me levava para os Restauradores vislumbrei no matutino do sujeito que ia ao meu lado que a Televisão estava a chegar a Portugal. Ena,pá? Pode lá ser! Podia,pois...
Era por mór da rainha inglesa, que estava a chegar. A soberana, mesmo jovem pesava e Salazar foi convencido.
Por essa altura até os banqueiros eram discretos e, sobretudo, prudentes. O pequeno comércio pagava com letras a curto prazo. O sistema foi empurrado por uma empresa, poderosa, é verdade: a CRGE! Foi o fornecedor da luz que promoveu as vendas a crédito, mas a crédito controlado, bem entendido. O meu pai comprou a primeira máquina de barbear eléctrica que entrou na nossa casa e veio a ser paga mensalmete no recibo da luz. Coisa de nada, pois. Mas o negócio alastrou, mas isto já todos por aí sabem. Não sabem ou não se lembram é do muito que se seguiu.
Tudo ou quase no salazarengo regime precisava de licenças. As licenças eram úteis porque necessitavam de fiscais. Por exemplo os isqueiros. Coisa simples. Pois! Mas atraiam pela via do cinema. Todos os galãs acendiam cigarros com isqueiros. Até as vamps fumavam no cinema e usavam isqueiros! As fosforeiras franziam as pestanas ou outras coisas possíveis de franzir.
Os isqueirados da nossa terra tiveram de munir-se de licença e criou-se uma legião imensa de fiscais. Implacáveis. Arrecadavam uma parte da multa. Estimulou-se ao mesmo tempo a delação,
permitindo ao delator arrecadar metade do prémio atribuido ao fiscal. Aliás a licença explicitava claramente que em casa de denuncia «o vil denunciante» tinha direito reconhecido. Reconheço que era um tudo nada reles, mas ainda assim permitiu aos fosforeiros reconciliar-se com o regime!
Eram coisas do passado, dir-me-ão. Pois, direi eu, que não tenho muito que dizer, a não ser
que não fui o único a recordar-me da facécia. As taxas de Rádio ou Televisão não acabaram no
25 mas aliviaram. Iam-se sumindo. A taxa da TV foi abulida pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva, quando entregou à SIC e (na altura) à Santa Igreja os dois canais privados. Mas a taxa da Rádio essa manteve-se, ainda que se fosse sumindo aos poucos. Foi Arlindo de Carvalho que a recuperou para a já RDP, num alarde maquiavélico: através da cobrança mensal de Luz. Nos primeiros meses baldei-me alegando que era surdo e não ouvia Rádio. A verba para a Rádio era
referenciada no recibo da luz e permitia recusar liquidar esse valor. Mas o presidente da Rádio impôs outras regras e a refência ao montante destinado à Rádio desapareceu do recibo.
Desconheço como se passam hoje esses discretos arranjos. Mas dá que pensar. A Televisão juntou-se à Rádio. Bom, e então? Não sei. Não sei se ainda pago e se pago quanto pago. Mas...
pois, mas. Sendo juntas para onde irá (iria) o taco. Se ainda houver taxa, como é? Não se deve esquecer que a taxa é cobrada alegadamente por dispensa de pub. No caso de não se recordarem lembro-lhes que a RTP para poder cobrar taxa e exibir pub teve de criar o segundo canal isento de.
Oh! Então não se lembram do lançamento da TVCabo? Canais, muitos canais, sem pub, sem pub. Mas para montar o sistema incluiram-se os canais de antena no Cabo. A pub cresceu, creceu, sem parar...
Com a crise programada para os próximos tempos a pub deve beneficiar de descontos aliciantes
o que triplicará de anúncios e promoções. Irá gastar-se menos a produzir, gastar-se menos a comprar.
Não se queixem. A TV ainda não é obrigatória. Pode deitar-se no lixo e ir ver a bola no Estádio ou...mais prático em casa do vizinho...