domingo, novembro 01, 2009

VIDAS (3)

No antigamente do futebol fui tropeçando em coisas e factos, que me escapavam, mas que a memória, por sorte, resguardou. Creio já ter referido que só as Salésias, em Lisboa e o estádio (forma de expressão) do Lima, no Porto, possuiam relva. Já bem depois do fim da guerra na Europa e, logo a seguir, no Japão, após duas apressadas bombas atómicas, depois disso, dizia, começou a modernice da relva e dos Estádios. O Estádio Nacional fez-se um pouco antes, como já devo ter mencionado. Mas o mais surpreendente de todos, se me dão licença, foi o relvado na Tapadinha! Um clube de bairro popular a mostrar a quantos quiseram ver que era possível andar para a frente.
Ou o L'Equipe, que em 49 avançou com a azarada Taça Latina, que perdeu a fabulosa equipa de Turim, que regressava de Lisboa, no avião que tombou pelo caminho. A segunda edição "Latina" foi em Lisboa e a ela faltou também o campeão italiano, substitudo pelo quarto qualificado. A Taça manteve-se
alguns anos, sobreviveu mesmo à Taça dos Campeões. Também esta, é bom não esquecer, de iniciativa do diário desportivo parisiense.
E foi, aliás, esta competição europeia a romper com velhos hábitos e regras lixadas.
Vamos lembrar que a segunda taça Latina, que o Benfica ganhou, lá isso ganhou! Mas como ? Bom a primeira final terminou com um empate e após prolongamento, como era habitual nas finais de Taça. Alterou-se as regras para a segunda final. E caso de empate, seguia-se a tal meia hora. Se o empate subsistisse, far-se-iam novos prolongamentos de 15 minutos, até que um golo surgisse, dando-se de imediato fim a peleja.
Sabe-se hoje que o Benfica ganhou e sabe-se que o problema foi equacionado de forma a não repetir-se. Não deixa de ter graça que uns bons anos depois o Benfica perdeu um jogo da Taça dos Campeões, depois de prolongamento, resolvido com moeda ao ar. Alguém comentaria que jogar às moedas com escoceses era um disparate. E, claro, acabou-se com isso. Por ora, é o drama dos penalties a optar. O problema é que a questão não é essa. No futebol há três resultados possíveis: vitória, derrota, empate. A vitória é do que ganha; a derrota do que perde; o empate é isso mesmo, um empate. De resto, neste sistema de prolongamentos existem outro factores controversos, como , por exemplo, o facto de uma das equipas ter um jogador a menos, quer por lesão, quer por expulsão. Tanto faz. A meia hora extra é isso mesmo: extra! Logo deve ser efectuada em condições de igualdade, onze contra onze !
Dantes, no meu tempo juvenil, as equipas portuguesas jogavam com jogadores portugueses. É verdade que os clubes espanhois só jogavam com espanhois. Os clubes ingleses só jogavam com jogadores ingleses, mesmo que fossem brancos!
O Peyroteo, por exemplo, era de origem africana, sim senhor, mas o Espirito Santo era lisboeta, ambos genuinamente portugueses. Depois da guerra, qualquer sul-americano que chegasse à Itália era italiano. Foi daí, estou em crer, que surgiram as taxas moderadoras. Nem é tanto o facto de se ter eliminado a quota de estrangeiros nas equipas, mas de se negociar a nacionalidade como coisa de somenos que me deixa pasmado.
Já vos massacrei com a relva que havia ou não havia no futebol do meu tempo. Mas havia outras coisas que não havia: a luz, por exemplo. O futebol por cá era coisa de domingo. Jogos a sério eram às três da tarde. Quando a época começava, já o Setembro ia adiantado. Nos jogos da Taça ( no final da época)
podia começar-se um pouco mais tarde. Com o advento das competições europeias criou-se um problema. Já vão ver. Devem ter percebido que a Taça Latina quando chegou cá foi resolvida na Estádio Nacional, à tarde. Um jogo após outro. A organização da Taça dos Campeões começou cedo. No caso português o L'Equipe entendeu que deveria ser o Sporting a ganhar o campeonato por cá, tal como acontece agora com o Porto. Portanto o Sporting foi convidado prematuramente. O Benfica ganhou nesse ano, mas Otto Glória queria levar a equipa encarnada para o Brasil. A Taça Europeia não lhe dizia nada. Coube ao Sporting abrir (o que não deixa de ser um marco histórico) a competição, num domingo, no Estádio Nacional, recebendo o Partizan. Empatou. Duas semanas depois perdeu. O assunto (lá lá vamos) arrumou-se.
O Real Madrid ganhou esse e os quatro seguintes, até que o Benfica ganhou aos hungaros, na Luz, num domingo à tarde, e passou a eliminatória.Tornou-se difícil conseguir jogar a meio da tarde, em dia de semana. Foi preciso tomar a decisão estarrecedora: iluminar a Luz à noite. Fez-se luz e o Benfica venceu a Taça, nesse ano, e no seguinte. Até Salazar se comoveu. Do L'Equipe não mais se falou. Talvez seja eu que nestou surdo...
E hoje, tantos anos passados, o Benfica perdeu. E tinha uns dois ou três portugueses na equipa. Olá se tinha...

domingo, outubro 25, 2009

VIDAS (2)

Ontem inaugurei o Estádio e deixei Francisco Ferreira mal visto. Terei sido um tudo nada injusto. Podia ser um ajudante de treinador pouco versado, mas era um tremendo jogador, que emprestou muito do seu temperamento à aura do Benfica. Quando comecei a vibrar com a sua alma, que empurrava o adversário todo para lá do meio campo, não era ainda o capitão da equipa. Esse era, foi, o Albino, que jogava a seu lado, no meio campo encarnado, juntamente com Moreira, também ele um caso sério de voluntarismo.

Juntei este trio por mór de um confusão que havia nesse tempo. Um deles era, tinha de ser, defesa, porque atrás deles só o Gaspar Pinto e o Jacinto, típico defesa direito, enquanto Gaspar era central. Não que fosse alto, antes pelo contrário. Tal como o guarda-redes, Martins, minúsculo, como eram quase todos os que víamos nos campeonatos, à excepção do Capela que substituiu Sério na baliza do Belenenses. À sua frente, Capela dispunha dos defesas Vasco e Feliciano, também eles de estatura elevada, para a época. Eram eles, afinal, as «três torres de Belém». E muito contribuiram para a conquista do Nacional, o único que o Belenses obteve.

Retorno ao trio defensivo encarnado. Com a saída de cena de Francisco Albino, entrou Fernandes para defesa esquerdo. Assisti à despedida de Valadas, extremo-esquerdo e à consolidação de Rogério, na esquerda do ataque encarnado. Como jogador, Rogério estava uns furos acima de qualquer outro no futebol português de então, mas nem por isso era muito estimado entre os sócios.

Mais prático e eficaz era o Sporting, no qual foi evoluindo o melhor ataque do futebol português nos anos 40 e os primeiros da década posterior. Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano. Havia um sexto,Martins, pau para toda a colher. Substituia, cada um dos outros, sempre que fosse necessário. Dava gosto vê-los.

Quero crer que o futebol português ganhou algo com a guerra na Europa. Os treinadores magiares que por aqui ficaram, fugindo aos nazis, fizeram escola e empurraram para a frente. Mas eram poucos!

Comecei a ir aos campos de futebol antes de ir para a escola. E comecei a jogar na escola, no pátio. Tenho uma vaga ideia dos «Sports». Nem sei quantas vezes saía. Recordo a «Stadium» por mór dos bonecos (fotos). O meu pai dava-me

«O Mosquito». Foi-mo dando enquanto custou cinco tostões; quando subiu o preço para oito, cortou. Habituei-me à «Stadium», que o meu padrinho me deixava ver e me ajudou a ler.

A guerra tinha acabado, mas as equipas continuavam a jogar com onze. Portugal jogou duas vezes com a Espanha e, claro, não foi ao Brasil. Ouvi na Onda Curta, da telefonia, um pedaço do História. O locutor dizia, em espanhol,

que eu ouvi, já a noite ia alta: «Vencemos a pérfida Albion!» Foi verdade. Os ingleses ganharam a guerra mas perderam a maestria. Nem o Brasil ganhou aquele Mundial. Ainda menos a Itália, que perdera um ano antes os jogadores do Torino (como se dizia, na época)!



Um dia, o Benfica empatou em Setubal, O presidente castigou o Felix e o Rogério. Sem processo, não era preciso. O regime era o que era. Rogério livrou-se, mas aceitou despedir-se. Felix desapareceu. Emigrou. Mas apareceu Otto Glória. E chegou Coluna. A meio do campeonato, o Benfica inaugurou a Luz, espécie de meio estádio, que mal cabia para os sócios. Antes, o Porto tinha exibido as Antas. E também arranjou um treinador brasileiro, um sujeito mau como as cobras. Mas ganhou.

domingo, outubro 18, 2009

VIDAS

Eu e o foot somos antigos. É comum, nestas alturas, ter saudades e recordações. Não se trata, vou avisando, da lamechice do dantes é que era bom. Era bem diferente, lá isso era, mas impos-se-nos e no que me toca comecei pelas Amoreiras. Fui lá uma ou duas vezes, não mais. E nem vi a bola. No peão, em pé, não me dava para ver mais que pernas e costas...
Depois, mais giro, foi o «campo grande», o «campo do Benfica» a «ilha da madeira», o que se quisesse, menos «Campo 28 de Maio», isto nunca, nem nos jornais, imagine-se!
O Benfica era (eu ainda não percebia disso) malquisto do Poder de então, mas na bancada dos sócios -- e o meu pai era sócio -- via bem o jogo e fui aprendendo a gostar. Gostava do Gaspar Pinto. Era um senhor defesa, matreiro.
Peyroteo um belo domingo deu-lhe um soco que o estendeu. Foi «pr'á rua» e o Benfica chegou ao empate. Era um jogo de Taça e, portanto, em fim de época. Na terça (ou quarta?) o Sporting acabaria por eliminar o Benfica (cheio de azares, pois claro!) e ganhar a final, nas «Salésias», creio que ao Olhanense.
Por esses tempos não havia ainda subidas e descidas de divisão. Eram os «regionais» que qualificavam para o «nacional». Foi por isso que levei alguns anos para conhecer o Barreirense que foi perdendo para o Vitória de Setubal. Nem havia Braga; era sempre o outro Vitória, o de Guimarães, a qualificar-se.
Sá havia jogos ao domingo. O defeso era comprido, o que tornava os inícios de época verdadeiramente festivos. O meu tio mais novo ia para o campo do Benfica pelo meio dia. Via um pedaço das segundas categorias, o jogo de reservas e o da divisão principal.
Antes dos jogos começarem os jogadores das duas equipas perfilavam-se diante dos camarotes para saudar ou excelências excelentisssimas ou dirigentes
federativos , erguendo o braço direito, para a continência!
Havia uma Cuf em Lisboa. Jogava no Lumiar-A. Uma vez vi essa Cuf ganhar por 4-1 ao Benfica. Eu fiquei triste e o meu pai muito zangado. Tal Cuf nem sequer se apurava para o Nacional. Enfim, coisas da bola! Mas é bom recordar que a par de alguns veteranos experientes jogavam por lá um tal Felix, outro ignorado Travassos, então jovens desconhecidos!Esta Cuf finou-se de repente, dias antes de começar uma nova época. O dito Travassos e o mencionado Felix atravessaram o Campo Grande e foram oferecer-se ao Benfica, onde na ausência do treinador (Biri), o Xico Ferreira dirigia o treino dos mais jovens. Disse logo que sim a Felix, mas não quis o Travassos, por ser de pequena estatura! E o Travassos foi para o Sporting, onde fez uma carreira brilhante, e seria, aliás, o primeiro português, anos depois, a ser incluido numa selecção europeia!
Como se pode depreender, a xico-expertice já vem de longe!
Já devem ter percebido que estou ainda em tempo de guerra. Era gito ir à bola e comer castanhas à saída do campo do Benfica. E patinhar a pé até ao Campo Pequeno, por ser mais fácil apanhar, ali, o eléctrico para a Baixa.
O meu pai passsava sempre pelo Leão de Ouro, antes de subir o Chiado, a caminho de casa. Se o Benfica tivesse ganho haveria um prato de ameijoas, com as imperiais. Chegava-se a casa a tempo de ligar o rádio para ouvir Alfredo Quádrios Raposo efectuar o resumo da primeira e o relato da segunda parte do jogo. Algumas vezes do jogo a que tinhamos assistido! Bons tempos!
Quando comecei a ver a bola, o Espirito Santo não jogava e eu nem sabia que ele existia. Existia e era titular no Benfica, mas teve uma lesão grave e ficou pelo menos um ano parado. O Julinho era o avançado-centro, que substituira o lesionado, já então recordista do salto em altura. Não havia, portanto, Estádio Nacional. O que havia no futebol português, de então eram muitos campos carecas e um relvado nas Salésias, em Lisboa, e outro vagamente arrelvado, no Porto, o «estádio do Lima». Podia assistir-se aos jogos sentado em bancadas ou centrais ou laterais, conforme o taco de cada qual, ou no peão, que como a palavra indica, de pé. Por essa altura aconteceu um inverno tempestuoso, com cheias na Extremadura, que gerou o «socorro social», cinco tostões nos bilhetes de cinema e, claro, de futebol, Cinco tostões era o que custava o eléctrico do Rossio a Santos. O elevador da Bica custava dois tostões.
Já agora anotem que vi e me lembro do campeonato que o Belenenses ganhou.
O belenenses do Capela, que com Vasco e Feliciano contituiam as torres de Belém, além do Serafim, que trabalhava na oficina do irmão, na rua das Flores e com o qual eu costumava conversar sobre bola, no Porto de Abrigo. O ponta esquerda era o Rafael, esse já internacional.
Foi nas Salésias que assisti, em 44, à final da Taça, Benfica-Estoril. O Estoril acabara de vencer o campeonato da segunda-divisão e, como tal, subiria de divisão e estou em crer que essa foi a primeira vez de súbida por mérito, em vez das opções regionais. E duas semanas depois, a 10 de Junho (bem entendido) era inaugurado o Estádio Nacional. Houve alguns buracos. O comboio de Cascais não acabou a tempo o desvio para o estádio; nem a auto-estrada saída das Amoreiras chegou ao Estádio. Vivia-se, ainda, em tempo de guerra na Europa e tal servia para justificar muita coisa. O Sporting ganhou então a primeira das taças que passaram a ser disputadas entre os vencedores do Nacional e da Taça. Hoje nem sei se teria sido possível. O jogo começou bem mais tarde do que estaria previsto, Acabou empatado. Meia hora depois era quase noite cerrada. Desiludido, o meu pai comentou: «...é sempre assim... o Benfica joga e... o Sporting ganha!»...
(continua).

quarta-feira, setembro 30, 2009

Um Presidente Perigoso

Os meus dois últimos escritos neste blog foram duros com Sócrates. Naquela altura, em Julho, o primeiro ministro e secretário geral do PS tinha atingido o zénite dos disparates, sobretudo com os professores e tudo indicava que o PS se iria afundar nas eleições de Setembro.
Sócrates teve, todavia, o talento, a força e a coragem para dar a volta e, simultâneamente, teve a ajudá-lo a desgraça dos adversários: Manuela Ferreira Leite quer ser avó, já não está para estas coisas e à sua volta tem um bando de gatos à espera que o saco se abra para saltarem lá para dentro. Nunca vi campanha tão pobre, tão miserabilista nas ideias, nas propostas. Um verdadeiro desastre.
O Bloco de Esquerda tomou o freio entre os dentes com as sondagens e Louça disse, nos dias decisivos da campanha muitos disparates que assustaram claramente muita gente. Sem falar na taxação dos telemóveis, recordo aqui o facto de Louçã se ter metido objectivamente na política interna de Angola, ao referir que o PS vendeu uma parte da Galp a José Eduardo dos Santos.
Vivem nesta altura largas dezenas de milhares de portugueses em Angola e há um movimento migratório que vai continuar. Ao mesmo tempo que crescem estes movimentos sociais as atitudes racistas, visíveis numa parte da imprensa angolana, também vão crescendo.
Os angolanos podem reconhecer que têm um problema de regime ou de pessoas, mas entendem que o problema é deles. Não querem que os de fora se metam nessas coisas. Louçã parecia o Bush, que invadiu o Iraque para libertar os iraquianos...
Não se pode retirar o mérito a Sócrates. Ele ganhou as eleições, tal como perdeu a maioria absoluta.
E o Presidente da República? Parece ter endoidado. Que discurso foi aquele? Que intenções tem Cavaco? Ficou zangado por o PSD não ter ganho as eleições? Prepara-se para fazer a Sócrates o que Sampaio fez a Santana?
Qualquer que sejam os seus planos, o simples facto de a sua comunicação ao país permitir estas perguntas faz dele um PRESIDENTE PERIGOSO ( e talvez doente)

domingo, setembro 06, 2009

segunda-feira, julho 06, 2009

PS Condenado por Sócrates

No meu último texto levantei a dúvida sobre se o PS teria capacidade para se ver livre de Sócrates.

Não, não tem. Sócrates arrasta o PS para o fundo. Um e outro estão sem Norte. A demissão de Manuel Pinho foi um disparate e a regra "geral" - disse o novo porta-voz, que não tem jeito nenhum para a função - segundo a qual não haverá mais candidaturas duplas vai condenar o PS à mediocridade das candidaturas locais. Jamais alguém, cuja carreira política esteja a ser feita no Parlamento vai aceitar ir disputar eleições locais, sobretudo em Câmaras cujas vitórias não estão asseguradas à partida.

Em breve voltaremos a ter os presidentes de câmara eleitos sem maiorias a "comprar" os vereadores da oposição.

Esta medida, tomada numa reunião de Sócrates com os eus clones revela um desnorte total e uma falta de dignidade confrangedora. De facto, Sócrates acabará por atirar o PS para um deserto cuja dimensão dificilmente será avaliável.

quarta-feira, junho 10, 2009

Terá O PS Força Para Se Desembaraçar De Sócrates?

As conclusões a retirar das últimas eleições europeias são simples: o País voltou para trás alguns anos e aguarda com alguma resignação, por parte de alguns, e com bastante alegria, por parte de outros, o regresso ao poder de uma aliança da direita feita de interesses e objectivos escuros que mais tarde aparecerão - ou não - nas primeiras páginas dos jornais com títulos a falar de milhões que passaram dos cofres públicos para o bolso de uma dúzia de políticos empolgados a jurar diariamente que a sua preocupação "são as pessoas".
Como é que foi possível voltarmos a este cenário? Fácil...José Sócrates ganhou as últimas eleições legislativas, rodeou-se de uma série de incondicionais, naturalmente medíocres, e começou a atacar tudo e todos: professores, camponeses, polícias, pescadores, funcionários públicos, a justiça no seu conjunto, os reformados. A certa altura a maior parte dos portugueses chegou à conclusão que tinha no governo o seu principal inimigo - que ameaça com medidas de controlo quase policial da vida de todos nós.
Ninguém acredita nas boas intenções desta gente, na teimosia deste grupo que se instalou no poder com a certeza de que a teimosia e a arrogância do seu chefe os lá vai manter até ao final da legislatura.
E depois, depois das próximas eleições, quando o PS for confrontado com o resultado do ódio que o povo vota a este governo e vir a sua votação reduzida para níveis nunca imaginados? Será que ainda vamos ouvir as palmas do Augusto Santos Silva, da Maria de Lurdes Rodrigues, do Mário Lino, do Jaime Silva, do Vieira da Silva e de todos os outros?
Quando PS de Sócrates nos entregar de novo aos que fazem da política trampolim para as contas escondidas, para as fortunas acobertadas pelos registos de outros nomes, quando isso acontecer, vamos, finalmente, concluir que José Sócrates foi o coveiro de todas as nossas esperanças de mudança.
Só nessa altura vamos concluir que deveríamos ter obrigado o Secretário Geral do PS a ser mais humilde, a preocupar-se, de facto, com as pessoas a não se aliar aos liberais mais radicais, a não fazer dos banqueiros os seus parceiros preferenciais, a conversar com os sindicatos, a não transformar a educação num reino de imcompetentes, burocratas, desejosos de poupar o mais possível, copiando modelos idiotas?
Só nessa altura, quando o PS se preparar para uma travessia no deserto, amaldioçado por quem depositou tanta esperança nas promessas de há quatro anos, vamos concluir que houve um tempo para dizer a Sócrates: chega?
Iremos então perceber que o PS é, afinal, composto por um grupo de militantes ausentes, acríticos e atentos apenas à perspectiva de um emprego, de um favor, incapaz de forçar a sua direcção a mudar de políticas quando é necessário, a fazer alianças com os grupos ideologicamente mais próximos?
Não me parece que o PS vá acordar deste sono hipnótico e demonstre capacidade para, ainda antes das próximas eleições, se desembaraçar de Sócrates, dos seus discursos arrogantes, do seu jeito odioso, das suas políticas que só alguma comunicação social ( aquela que obviamente recebe contrapartidas) entende .
Será que resta alguma força ao PS para interpretar o que é evidente há muito tempo: o Povo Português não quer esta política, não quer este governo, não quer este primeiro-ministro?

terça-feira, maio 05, 2009

Maiorias Absolutas, Blocos Centrais, as Maningâncias do Costume

Falemos de eleições legislativas para as quais já se aventam os cenários costumeiros, sempre avançados pela mesma gente ou pelos seus representantes. Perante a certeza de que o PS jamais obterá uma maioria absoluta, aparecem os representantes da mesma moeda a sugerir que talvez eles, os do PSD a consigam.
Caso contrário - já o sugeriu o Presidente da República, já o defendem jornais, televisões e rádios e até já Jorge Sampaio se pronunciou a favor - uma coligação dos chamados dois maiores partidos para um governo "forte".
O que será para esta gente, um governo forte? Aquele que governa contra as pessoas, o que chega ao poder fazendo promessas ilusórias, o que destrói a Escola Pública para abrir os colégios dos amigos, que produz diariamente toneladas de informação sobre concessão de apoios que depois não se concretizam?
Ou um governo que, depois de tomar posse substitui toda a gente que não tem cartão partidário para colocar o primo do primo que vai a todos os comícios e bater palmas em todas as convocatórias do partido?
Um governo forte para toda esta gente que o anda a pedir é um governo que satisfaça ainda mais as exigências dos banqueiros, das chamadas empresas do regime, que promova a construção de grandes obras públicas com a maior parte do dinheiro necessário a ser gasto lá for para que as comissões caiam nas contas entretanto abertas em paraísos fiscais.
Um poder forte?
Será que os portugueses têm medo de retirar o poder a quem sempre o teve desde há trinta e cinco anos?
VAMOS TODOS, DE NOVO, NA CONVERSA DA INGOVERNABILIDADE?
O QUE É QUE OS ÚLTIMOS GOVERNOS TÊM FEITO?
Será que o Povo Português não é capaz de dar uma lição a estes vampiros e baralhar tudo, sem ouvir o que dizem as sondagens, deixando os partidos do "poder forte" com os votos dos seus militantes?
Vamos por-nos de cócoras perante os banqueiros, os grandes empresários, os interesses inconfessáveis dos que enriquecem com a política e depois saltam para a alta roda dos negócios?

terça-feira, abril 28, 2009

São os Loucos dos Cereais

Sãos os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
A Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar

Este é o refrão de uma composição cantada por um grupo musical chamado "Ala dos Namorados", mas que pode cantar-se com outras palavras:

São os loucos do sangue
Que o bebem com cereais
Logo pela manhã
Para acalmar os medos da PT.

Vem isto a propósito do que se vai passando na Portugal PT - agora apenas uma empresa, onde reuniu PT Comunicações, TMN e todas as outras, exceptuando a PT PRO, uma criação de Zenal Bava para prestar serviços a todas as empresas do Grupo.

Os trabalhadores desta empresa alguns estão a ser distribuídos pelos vários serviços da Portugal PT, outros serão, evidentemente despedidos através dos mais variados artifícios usados pela Direcção de Recursos Humanos.

De resto, a UGT, através de João Proença, seu secretário geral, já denunciou os abusos cometidos pelo maior grupoempresarial português...

Talvez por isso, um super-administrador, braço direito (talvez também esquerdo..) de Zenal Bava, Rosa da Silva, anda a fazer discursos estranhos aos trabalhadores da Portugal PT, que se resumem a duas ou três ideias:

" Sou um homem do Iriarte (ex-presidente da TMN) e do Bau (ex-presidente da TVCabo), estou há mais de dez anos na PT, conheço toda a gente como as minhas mãos e...não se preocupem porque eu como cereais com sangue todas as manhãs e hei-de conseguir que esta empresa seja rentável".

Quem o ouve não quer acreditar e, sem o dizer, vai pensando: este homem está louco. Há mesmo quem fique assutado e o imagine com sangue a escorre-lhe pela boca.

Será ele o personagem da canção SÃO OS LOUCOS DE LISBOA ?

quarta-feira, abril 22, 2009

BES e o Seu Quintal Preferido

O Banco Espírito Santo (BES) é um dos accionistas mais importantes do grupo empresarial PT. E também a entidade que melhor aproveita essa condição.É o BES que gere grande parte das finanças do grupo PT, nomeadamente no pagamento de salários, não sendo, seguramente, esta a fatia que maiores rendimentos proporciona ao banco de Ricardo Salgado.
De resto, quando se ouve Salgado falar da PT tem-se a sensação de que ele é o "dono". Os outros pouco contam.
Há também outros pormenores aparentemente insignificantes mas que explicam muito nesta relação de dono da quinta: muitos dos dirigentes da PT pertencem, simultaneamente, ao Conselho de Administração do BES. Foram os casos de Murteira Nabo, Miguel Horta e Costa e Henrique Granadeiro. Este último é hoje ainda do "chairman" da PT.
Tempos houve em que alguns administradores da telefónica resistiam às pretensões do BES, mas isso custou-lhes o lugar, pelo que hoje, mesmo que o BES não apoie explicitamente quem quer que seja, é de boa política aprovar as suas propostas. Zenal Bava, que é suportado pelo Banco Espírito Santo e por muitos investidores institucionais de âmbito internacional, encarrega-se de fazer cumprir a regra.
Não há dúvida de que a maior parte das operações financeiras entre as duas instituições são confidenciais e, portanto, nada se sabe delas. Todavia, há uma que é óbvia para os seus trabalhadores: a transferência dos seus vencimentos.
E como se faz? A PT disponibiliza ao dia 15 de cada mês as verbas necessárias para que o BES transfira para os bancos indicados pelos trabalhadores os respectivos salários. E isto acontece ao dia 20, pelo que o BES ganha os juros correspondentes a uma quantia que não deve ser pequena.
Todavia, este mês, o BES ganhou mais a manhã do dia 20 de Abril porque só disponibilizou o dinheiro na tarde desse dia, depois de alguns protestos.
A Caixa Geral de Depósitos, que também tem uma parte desta operação cumpriu com os prazos.
Como é óbvio nenhum jornal, rádio ou televisão alguma vez se referiu a esta dependência da PT relativamente ao BES, mas para quem a constata não pode deixar de ficar estupefacto. Como é que o maior grupo empresarial português se deixa subjugar desta maneira?

sábado, abril 18, 2009

Ricardo Salgado, Igreja e a Oportunidade da Crise

No dia 26 de Janeiro de 2006 escrevi um texto com o título "Ricardo Salgado Super Star" para assinalar o aparecimento do banqueiro em tudo quanto era comunicação social, numa época em que a imagem do BES passou por um mau bocado e se falavam de visitas estranhas da Judiciária a casa de altos funcionários do Banco. Desde então nunca se soube a verdade sobre essas "rusgas".

Ricardo Salgado voltou agora a fazer uma operação semelhante, dando entrevistas a vários órgãos de comunicação social. É óbvio que o interesse não partiu dos jornais, das rádios e das televisões. Foi a máquina de informação de Ricardo Salgado a manipular. É uma manipulação tão evidente que é uma vergonha para quem dirige e trabalha em tais casas "de putas".

E o que quer Ricardo Salgado desta vez? Aproveitar a crise de todos os modos. Já está a normalizar os seus balanços à custa da baixa de juros do BCE e da subida dos seus próprios juros, dificultando, tanto como os outros bancos a vida às pequenas e médias empresas e às famílias.

As entrevistas que deu revelam, primeiro, que está preocupado com a imagem que os banqueiros têm depois desta crise financeira e económica. Todo o Mundo percebeu a responsabilidade desta verdadeira catástrofe mundial, ela cabe inteirinha aos banqueiros desonestos, sem ética, gananciosos. E aqui não há excepções.

A imagem dos banqueiros vai mesmo ficando cada vez pior e Salgado vem dizer que os políticos falam mal deles "porque dá votos..." Ele tem medo dos avisos de algumas vozes credíveis: pode estar eminente uma perturbação social grave.

Ele sabe que em Portugal nada começa, mas, no resto da Europa já há indícios de que alguma coisa pode vir a acontecer aos bancos e aos banqueiros. Depois, o movimento pode chegar a este rectângulo periférico, habitado por um povo quieto, capaz de suportar políticos corruptos, forças da ordem que se dedicam a emboscadas para "sacarem" multas aos cidadãos cumpridores da lei, já que dos outros têm medo e banqueiros ladrões.

Parece evidente que o clima de impunidade que ainda se vive em todo o Mundo relativamente aos urdidores deste saque global feito pelos banqueiros e seus lacaios vai ter um fim. Parece evidente que entrámos numa outra época, cujo princípio será o fim dos chamados paraísos fiscais, onde, ainda hoje, a banca internacional continua a esconder os seus lucros escandalosos e a fuga aos impostos.
E porque o fim parece estar próximo e embora em Portugal tudo aconteça sempre mais tarde, também cá vai chegar. Então Ricardo Salgado antecipa-se e, oportunisticamente, põe em movimento a sua máquina de manipulação da comunicação social para anunciar o que, para ele, seria bom: uma amnistia global para os off shore.
Tão bom que era. Os crimes cometidos eram esquecidos, os capitais exportados podiam voltar sem ter que pagar impostos e tudo continuaria risonho para a banca e para os banqueiros.
Esta solução, sugerida por Ricardo Salgado, é uma confissão de culpa, mas o medo é muito e ele procura transformar uma dificuldade numa vantagem. Seria mais um favor da crise.
À procura do mesmo está a Igreja com o seu programa de socorro à sociedade dos desfavorecidos através de um esquema que até promete empregos.
É mesmo interessante. A Igreja mostra-se preocupada e apresenta um programa de salvação. Mas onde vai a Igreja buscar os recursos ? Ao Estado, com quem vai procurar assinar protocolos e aos cidadãos anónimos para cuja solidariedade apela, abrindo uma conta num banco (que até pode ser o BES).
Toda a comunicação social deu grande relevo a esta iniciativa e a louvou. Muita gente sugeriu mesmo que a Igreja católica se estava a substituir ao governo.
Ninguém referiu o facto de a Igreja ter milhões e milhões que lhe permitiriam criar um programa de apoio às vítimas do saque dos banqueiros perfeitamente autónomo. Nem que para tal tivesse que vender o painel de ouro com que enfeitou a nova igreja do santuário de Fátima.
Não, nada disso, a Igreja, também oportunisticamente, procura aproveitar a crise, para melhorar a imagem, por um lado, e para arranjar maneira de financiar as várias organizações que mantém e que servem também para empregar padres, irmãs de padres, amigos de padres, etc., por outro.
E assim se vai vivendo a crise em Portugal...
PS - o meu texto de 26 de Janeiro de 2006 tem 59 comentários estranhíssimos. Espero que não aconteça o mesmo com este.






sábado, abril 04, 2009

Que Esperam eles ? E Por Que Esperamos Nós?

Tenho que confessar: os últimos anos vividos em Portugal confundiram-me. Deixei de entender o que se passa e não tenho a perspectiva que a minha terra possa mudar de rumo e constituir-se num estado democrático normal, com um poder honesto, interessado em resolver os problemas das pessoas.
Se voltar atrás, à fuga desorientada de Guterres depois de ter perdido as eleições autárquicas, tenho que, à luz do que se se passa agora, perceber que ele não fugia da derrota mas de outros males: o controlo do aparelho do partido e do estado pelos novos ricos, que aparecem agora, quer no governo, quer na actividade privada a recomendar uma legislação que os obrigue a explicar porque é que em menos de vinte anos acumularam patrimónios que já não cabem em Portugal.
Depois de Guterres foram os disparates sucessivos do PSD, com promessas não cumpridas e com mais uma fuga, a de Durão Barroso, deixando o país entregue a um improvável primeiro-ministro: Santana Lopes.
Foi a rebaldaria total. Não se percebeu nada, a não ser que apareceram mais uns quantos novos ricos, visíveis na Câmara Municipal de Lisboa que ele entregou a um incrível , diria mesmo irresponsável, Carmona. A Câmara foi quase à banca rota, mas as notícias sobre prémios de gestão indicavam o objectivo dos nossos homens e mulheres que preenchem os diversos graus de poder.
Entretanto, no governo Santana Lopes criava a sua própria corte, isto é, seleccionava o grupo de amigos que poderiam a ficar ricos com ele. Alguns já não precisavam da rampa Santana, tinham subido ao palanque dos muito ricos nas escadas construídas por Cavaco Silva, durante os anos em que a União Europeia despejou carradas de dinheiro sobre esta pobre terra (pobre porque há séculos que não tem uma elite honesta...)
Não deixaria de ser interessante averiguar os companheiros de Cavaco e descobrir o modo como ficaram ricos. Muitos deles eram pobres funcionários ou do Estado ou de empresas públicas. Uma averiguação ao próprio Cavaco e já agora a Santana Lopes haveria de ter resultados interessantes.
Em todas estas etapas, a banca foi crescendo, ganhando garras. Em alguns textos que estão lá para trás eu bem que me inquietei com a arrogância, com a mentira, com a falsidade, com a falta de ética dos banqueiros, alguns deles mais parecidos com verdadeiros padrinhos da máfia.
Mas os homens do poder não tiveram, não têm força para se lhes opor e as surpresas aconteceram: o BCP alimento, de repente escândalos inconcebíveis há anos atrás, mas as consequências não foram nenhumas. Até fico com a sensação de que os portugueses apreciam os autores destes malabarismos financeiros e os invejam um pouco por não estarem em condições de fazer o mesmo.
É neste contexto que o PS ganha a sua primeira maioria absoluta, fazendo promessas que logo a seguir nega. "Não imaginávamos que a situação fosse tão má".
Esta maioria fez crescer a arrogância de Sócrates, que se rodeou de gente medíocre e transformou alguns deles em verdadeiros cães de guarda. O PS transformou-se num partido liberal, protegendo o capital e em especial as empresas dos seus antigos dirigentes, que, por alguma razão não se misturam com os ex-mandões do PSD. É deste campo que surgem os dois mais meditáticos escândalos: BPN e BPP.
O BPN revelou mais um cavaquista ladrão. Este está preso, mas os outros andam por aí. Um deles até é conselheiro de Estado. Muitos dos ex-ministros de Cavaco são accionistas do BPN e da SLN, mas nenhum deles apercebeu que o ex-secretário de estado do orçamento andava a enganar toda a gente, incluindo o Bando de Portugal, que, pela voz do seu mais alto responsável, diz ter tido conhecimento de operações irregulares apenas muito tarde.
Pelo seu lado, o BPP, uma sigla que não tinha existência nos jornais, nas rádios ou nas televisões, revelou-se como o Banco Privado Português, uma entidade que geria fortunas pessoais... e também quer beneficiar do apoio que o Govero deu aos outros bancos, traduzido em avales chorudos.
Tudo isto acontece enquanto nos Estados Unidos os banqueiros revelam também a sua verdadeira face de vigaristas, exploradores da miséria. Nasce uma crise financeira internacional, que se amplia numa crise económica.
Os diversos governos, inclusive o português, tomam medidas de apoio à economia, sobretudo, dizem eles, às pequenas e médias empresas. E o que acontece com essas medidas? Os Bancos limpam os seus balanços da especulação que andaram a fazer com as contas dos seus depositantes e não concedem o crédito de que as empresas necessitam para sobreviver. O Banco Central Europeu desce as taxas Euribor até 1,25%, mas os bancos, geridos por merceeiros de gravata última moda, aumentam o spread em 300%.
Sócrates, entretanto metido no centro de um furacão chamado "Freeport" desdobra- em operações de charme, já em pré-campanha; das pessoas só já lhe interessa o voto. E tê-lo-á, pelo menos dos que enriqueceram indevidamente porque já anunciou que uma proposta do PSD no sentido de legislar no sentido do apuramento dessas fortunas não terá o voto do PS.
Que esperar desta gente? Que esperam eles. Que nos fiquemos sempre quietos, bem educados, a bater palmas?
Espero viver ainda o tempo suficiente para ver este meu povo a dizer não. Mas um NÃO com muita força!

sexta-feira, janeiro 02, 2009

QUEM TVIU

As histórias dos bancos coitadinhos e dos investidores coitadérrimos são naturalmente insidiosas. Dificilmente se pode crer que um coitadinho foi colocar no banco, e logo em um dos recém-chegados, as suas economias, para simples resguardo! Havia promessa de melhores juros, lá isso havia, como havia, aliás, melhores juros prometidos aos próprios bancos, por outros bancos além.Claro que os novissimos banqueiros devem ter-se resguardado melhor, se é que não se limitaram a resguardar-se a tempo de salvar o que podia ser salvo. É evidente que o salvado mal chegou para os salvadores!
Aos investidores coube em sorte o azar dos Távoras. Nem se pode rogar a Deus, porque de há muito o Altíssimo determinou que a gula fosse pecado.
Mas, senhores, um governo, qualquer que seja, não é como o Barbas. Não tem que perdoar à toa; mas daí a usar o taco do povo inapto para socorrer a infelicidade de banqueiros pecaminosos cabe algum exagero.
A graça devida aos eternos criticadores não está, não senhor, dissimulada. Já o avô dos meus avós costumava explicar aos filhos perplexos: «quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão»...
Qualquer mexilhão que se preze sabe que escusa de estar descansado!
No eléctrico que me levava para os Restauradores vislumbrei no matutino do sujeito que ia ao meu lado que a Televisão estava a chegar a Portugal. Ena,pá? Pode lá ser! Podia,pois...
Era por mór da rainha inglesa, que estava a chegar. A soberana, mesmo jovem pesava e Salazar foi convencido.
Por essa altura até os banqueiros eram discretos e, sobretudo, prudentes. O pequeno comércio pagava com letras a curto prazo. O sistema foi empurrado por uma empresa, poderosa, é verdade: a CRGE! Foi o fornecedor da luz que promoveu as vendas a crédito, mas a crédito controlado, bem entendido. O meu pai comprou a primeira máquina de barbear eléctrica que entrou na nossa casa e veio a ser paga mensalmete no recibo da luz. Coisa de nada, pois. Mas o negócio alastrou, mas isto já todos por aí sabem. Não sabem ou não se lembram é do muito que se seguiu.
Tudo ou quase no salazarengo regime precisava de licenças. As licenças eram úteis porque necessitavam de fiscais. Por exemplo os isqueiros. Coisa simples. Pois! Mas atraiam pela via do cinema. Todos os galãs acendiam cigarros com isqueiros. Até as vamps fumavam no cinema e usavam isqueiros! As fosforeiras franziam as pestanas ou outras coisas possíveis de franzir.
Os isqueirados da nossa terra tiveram de munir-se de licença e criou-se uma legião imensa de fiscais. Implacáveis. Arrecadavam uma parte da multa. Estimulou-se ao mesmo tempo a delação,
permitindo ao delator arrecadar metade do prémio atribuido ao fiscal. Aliás a licença explicitava claramente que em casa de denuncia «o vil denunciante» tinha direito reconhecido. Reconheço que era um tudo nada reles, mas ainda assim permitiu aos fosforeiros reconciliar-se com o regime!
Eram coisas do passado, dir-me-ão. Pois, direi eu, que não tenho muito que dizer, a não ser
que não fui o único a recordar-me da facécia. As taxas de Rádio ou Televisão não acabaram no
25 mas aliviaram. Iam-se sumindo. A taxa da TV foi abulida pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva, quando entregou à SIC e (na altura) à Santa Igreja os dois canais privados. Mas a taxa da Rádio essa manteve-se, ainda que se fosse sumindo aos poucos. Foi Arlindo de Carvalho que a recuperou para a já RDP, num alarde maquiavélico: através da cobrança mensal de Luz. Nos primeiros meses baldei-me alegando que era surdo e não ouvia Rádio. A verba para a Rádio era
referenciada no recibo da luz e permitia recusar liquidar esse valor. Mas o presidente da Rádio impôs outras regras e a refência ao montante destinado à Rádio desapareceu do recibo.
Desconheço como se passam hoje esses discretos arranjos. Mas dá que pensar. A Televisão juntou-se à Rádio. Bom, e então? Não sei. Não sei se ainda pago e se pago quanto pago. Mas...
pois, mas. Sendo juntas para onde irá (iria) o taco. Se ainda houver taxa, como é? Não se deve esquecer que a taxa é cobrada alegadamente por dispensa de pub. No caso de não se recordarem lembro-lhes que a RTP para poder cobrar taxa e exibir pub teve de criar o segundo canal isento de.
Oh! Então não se lembram do lançamento da TVCabo? Canais, muitos canais, sem pub, sem pub. Mas para montar o sistema incluiram-se os canais de antena no Cabo. A pub cresceu, creceu, sem parar...
Com a crise programada para os próximos tempos a pub deve beneficiar de descontos aliciantes
o que triplicará de anúncios e promoções. Irá gastar-se menos a produzir, gastar-se menos a comprar.
Não se queixem. A TV ainda não é obrigatória. Pode deitar-se no lixo e ir ver a bola no Estádio ou...mais prático em casa do vizinho...