sábado, novembro 22, 2008

Os Banqueiros Oportunistas e o Estado Mentiroso

De um dia para o outro o Mundo lembrou-se de Marx e há muita gente a lê-lo ou a relê-lo. As suas análises e previsões estão cada vez mais perto da nossa realidade. Um dia destes alguém se recordará de Bakunine para fazer uma releitura e incitar à leitura.
E porquê estas leituras?
A primeira porque toda a gente está a verificar que os banqueiros se estão a aproveitar de uma crise financeira - que eles próprios criaram - para reforçar a sua capacidade de intervenção nas economias dos vários estados, a começar pelos Estados Unidos (a eleição de Obama é uma grande vitória social, mas do ponto de vista político muito muito pouca coisa vai mudar...não nos iludamos). Em Portugal essas tentativas são uma vergonha.
Durante mais de trinta anos os bancos portugueses aproveitaram uma lei que lhes dava facilidades para a sua reestruturação depois de reprivatizados para fazer toda a espécie de tropelias: redução de pessoal, abertura de contas offshore, criação de taxas sobre taxas...Alguns deles interferiram nas grandes empresas, tornando-se accionistas para as secar e obrigando-as a seguir o mesmo exemplo de gestão em matéria de pessoal.
Portugal tem neste momento dezenas de milhar de homens e mulheres que foram obrigados a abandonar os seus postos de trabalho com reduções dos seus rendimentos e muitas vezes, depois de processos violentos de "assédio no trabalho". A maior parte deles ainda com as suas capacidades intactas e representando o mais importante que as empresas tinham e que jamais terão porque, para os subsituir foram contratados jovens com remunerações ridículas e em sistemas de total precaridade.
Em cima deste desprezo pela componente do trabaho no processo de produção, os banqueiros e os seus lacaios nas empresas foram enriquecendo, fazendo toda a sorte de trafulhices com a conivência dos políticos, muitos deles transformados ,como que por golpes e mágica, em gente rica, milionária.
A subordinação do poder político ao poder económico foi acentuando-se e os interesses dos grandes grupos económicos passaram a ser lei. Uma das leis é a do crescimento permanete dos lucros. É espantoso! As comparações que os bancos e as grandes empresas fazem acerca dos seus proveitos: têm sempre milhões e milhões de lucro, mas agarram-se à comparação de que não atingiram os números previstos e, nos últimos tempos, queixam-se de que as comparações com o ano anterior são desfavoráveis.
De crise em crise chegou-se ao actual estado de coisas: o Estado concede milhões de aval aos bancos para que eles possam emprestar dinheiro às empresas. E o que é que acontece? Os bancos apertam os critérios para conceder empréstimos às empresas e às famílias e reforçam as sua reservas de capital.
A economia entra em recessão porque - já dizia Marx - não há criação de verdadeira riqueza, é tudo papel que circula entre grupos de parasitas, porque nada produzem .
Os que produzem sofrem as consequências dos despedimentos em série, do fecho de empresas dos sistemas de pré-reformas e reformas antecipadas. Essas dezenas de milhar de pessoas ficam sem capacidade para comprar; deixa, portanto, de haver mercado, também porque os mais novos admitidos para substituir os pré e reformados ou despedidos são tão mal remunerados que apenas têm capacidade de repor a energia e voltar no dia seguinte - tal como no sec.XIX.
E o que faz o estado através do seu governo: começa por fazer promessas que não cumpre, ataca, através do controlo que mantém sobre a comunicação social, os grupos profissionais cujos direitos quer anular. Ataca e mente. Mente descaradamente! Neste momento não há professor que não esteja à beira de um ataque de nervos. O mesmo aconteceu com os magistrados, com os médicos e enfermeiros, com os jornalistas e os militares.
Prejudica indiscriminadamente todos os cidadãos através da introdução de expedientes ilegais, por exemplo nas finanças. O respectivo ministério deu instruções para retirar dos ficheiros todos os dados dos credores do estado e transferi-los para uma base de dados de acesso quase impossível. Os credores do estado que andam há anos a tentar receber o que lhes é devido, nomeadamente devoluções de IVA e respectivos juros têm, agora, que voltar a reiniciar um processo altamente complicado de requerimentos e, mesmo assim, sem nenhuma certeza.
O que faz o governo, por exemplo, relativamente às pequenas e médias empresas? Os seus representantes enchem a boca com a rede de emprego que elas constituem, mas oferecem-lhe linhas de crédito de 25.000€ !!!, desde que tenham tudo em ordem, isto é, desde que não devam nada. Ora, a verdade é que todas elas têm grandes dificuldades porque não têm recursos para cumprir todos os seus compromissos, incluindo as altíssimas taxas de impostos, alguns deles, como o IVA, pago antecipadamente.
Mais: o governo assegura que, ao conceder aval aos bancos espera que eles introduzam o resultado de financiamentos externos nas empresas e nas famílias através de empréstimos. Ainda ontem o primeiro-ministro se regozijava com o facto de os bancos estarem a solicitar tais avales. Esqueceu-se de referir que o primeiro banco a solicitar um aval de 750 milhões de dólares é um banco gestor de grandes fortunas - uma operação de claro oportunismo a que a SIC Notícias deu cobertura, provavelmente porque o seu patrão, aflito porque já não tem a PT Multimédia para pagar, está interessado em recorrer ao BPP.
O governo já deveria ter lgislado no sentido de obrigar a banca a criar condições de excepção para as empresas em dificuldades, tendo como critério importante a manutenção dos postos de trabalho.
O estado sabe que daqui para a frente tudo vai ser pior para as classes médias, para os pobres, mas que os ricos, os banqueiros, os gestores das grandes empresas, cujos prémios de desempenho são uma verdadeira afronta (muitos deles despedem trabalhadores das respectivas empresas para poderem usufruir de prémios milionários), vão ficar cada vez melhor. E com eles, também alguns governantes. É que, salvo raras excepções, sempre que um ministro sai do governo dá um salto para a o clube dos muito ricos. Ainda ontem Dias Loureiro assegurava que, quando saiu do Governo não tinha dinheiro. Podia até não ter dinheiro, mas tinha um património impressionante para um homem que veio de Coimbra para Lisboa como pequeno advogado sem nome, com uma mão à frente e outra atrás...
O estado comporta-se como uma pessoa desonesta, mentirosa. Pode mesmo dizer-se que o estado existe para roubar os cidadãos desprotegidos para assegurar que os outros se sintam cada vez mais protegidos.
Por isto penso que a leitura de Bakunine se vai seguir à de Marx, até porque os representantes do estado têm sempre o mesmo comportamento, independentemente da sua auto definção ideológica.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Meu Reino Por Uma Ministra

Tudo quanto se tem passado na Educação em Portugal desde que a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues e mais dois secretários de estado tomaram conta da pasta ultrapassa tudo quanto é compreensível numa sociedade regida por regras democráticas, num país que ultrapassou cinquenta anos de autoritarismo.

O que a senhora ministra responde às perguntas dos jornalistas a propósito das manifestações dos professores é incompreensível, desonesto, falacioso e tem como único objectivo garantir que, ainda que vá recuando, a sua posição seja sempre de força.

É evidente que o primeiro-ministro é culpado porque já a devia ter demitido. Sócrates é pouco esperto porque teimoso, e mau governante porque não sabe prever e... "governar é prever".

Que ele não tenha previsto a crise financeira internacional, quando ela bailava em todos os jornais internacionais e mesmo em alguns nacionais...enfim: o homem está imbuído do espírito do poder.

Agora, que não tenha "adivinhado" que a senhora ministra lhe iria causar problemas?! É um mau gestor de recursos humanos.

Os problemas da educação, somados aos da Saúde, aos das Forças Armadas aos das pequenas e médias empresas (com acesso a créditos de 25.000€!!!!) vão dar, obviamente uma derrota eleitoral para o PS.

E quem é culpado?

Obviamente o Engenheiro José Sócrates e também caixeiro viajante ao serviço do Magalhães.

Só nos resta esperar que o PSD não fique em posição de governar.

Oremos...então!

quinta-feira, novembro 06, 2008

Estudantes E Os Tempos

Tempos houve em que os estudantes deste país, sempre que algum grupo social saía à rua ou levava a cabo qualquer demonstração de protesto, saíam - sempre ao lado do Povo! O 25 de Abril também foi muito obra desta solidariedade permanente dos estudantes com o Povo, com as causas, que, umas vezes desciam à rua, outras, em silêncio, se desenvolviam contra a opressão, contra os poderes arrogantes.

Os estudantes tiveram um papel importante porque sempre estiveram ao lado de quem se sentia injustiçado. Foi assim em Portugal, como noutros países, alguns dos quais conquistaram a sua independência aceitando a generosidade dos estudantes, que, para o efeito, tiveram, em muitos casos, que abandonar os estudos.

Que se passa com os estudantes neste nosso novo tempo?
Deslocam-se para as faculdades em transportes individuais (sempre que vou a Coimbra fico impressionado com o volume de automóveis estacionados nas redondezas das Faculdades. No meu tempo, era um sossego...)
Quando saiem à rua, esta gente motorizada, sai para dizer que não paga propinas, sem perceber que seria mais justa uma contestação aos preços exorbitantes praticdos nas creches...
Ninguém consegue descobrir de que lado estão os estudantes nos diversos conflitos que vão opondo o Povo aos sucessivos governos.
Por exemplo, no actual contencioso entre os professores e o Ministério da Educação, de que lado estão os estudantes?
Aqui está, seguramente, uma oportunidade para acções de solidariedade para com uma classe, cuja unidade, só por si, diz bem das suas razões para contestarem uma política de educação que define a próxima tragédia deste jardim à beira mar platado.
Onde estão os estudantes, muitos dos quais dentro de alguns anos serão professores, nesta disputa?
Amanhã espera-se que mais de cem mil professores voltem a Lisboa para repetir o NÃO à Ministra da Educação. Largos milhares deles foram dos que, noutros tempos, sairam à rua para, como estudantes, se solidarizarem com as lutas justas dos outros - pertencem à geração que teve, sempre, necessidade de protestar, mesmo agora que se avizinhavam tempos de sossego...
Seria interessante que os nossos estudantes se juntassem aos seus professores e também dissessem não, dando, assim, uma prova de confiança nos que os ensinaram para que chegassem às faculdades.
Muitos deles estarão a curtir a ressaca de sexta-feira e nem darão pela multidão que vai chegar a Lisboa.

domingo, outubro 26, 2008

Tudo Na Mesma

Se não fossem dramáticas para milhões de pessoas, as actuais mudanças do sistema financeiro internacional dariam para rir. Não há surpresas, não há imaginação e é muito fácil concluir: os ajustamentos acertados entre os estados e a banca apenas significam o mesmo de sempre: todo o Mundo trabalha para meia dúzia de "chicos espertos", invisíveis mesmo para os lacaios convencidos da sua condição de governantes. Isto é, a banca entrou em colapso porque os seus gestores, em delírio , julgavam o céu como o limite para as suas aventuras e ganhos.
E quem vai pagar? Os mesmos de sempre: os contribuintes cumpridores, trabalhadores por conta de outrém e obrigados a aceitar as mudanças das regras determinadas pelos governos em função dos interesses dos donos da banca, cujos rostos já ninguém conhece.
A actual crise do sistema financeiro poderia servir aos governantes do chamado mundo ocidental para concluirem não ser mais possível continuar a alimentar o sistema neo-liberal, responsável pela criação de um mundo de escravos - a herança cada vez mais visível para a actual geração jovem e, seguramente, pior para as seguintes.
Os"governantes" estão a dar à banca todos os instrumentos de tranquilidade: os bancos vão poder continuar a apresentar todos os anos lucros mais elevados, vão poder continuar a apoiar apenas os que, tendo contas gordas, ou sendo mesmo grandes accionistas da banca e das grandes empresas, não precisariam desses apoios. O aval dos estados vai servir para financiar operações de enriquecimento dos muito ricos. Os outros vão engrossar as estatísticas dos danos colaterais desta crise: aumento do número de desempregados, dos esfomeados, das pequenas e médias empresas falidas, porque para elas não há apoios.
E não há novo presidente dos Estados Unidos para salvar nada. Seja ele quem for, o sistema vai continuar, o Mundo vai ficar um sítio cada vez mais infeliz, com a cada vez mais pequena minoria usufruindo do trabalho, do esforço e dos sacrifícios de uma cada vez maior maioria de desgraçados, sem esperança no dia de amanhã.
A mim assusta-me verificar que tudo quanto se escreve ou diz a respeito desta matéria tem um sentido: o sistema vai renascer e a vida continuará. Para toda a gente com acesso à comunicação social institucional, "depois da tempestade virá a bonança". A Bonança deles...

sexta-feira, setembro 26, 2008

A Arrogância dos Banqueiros

O sistema financeiro do capitalismo selvagem, sem honra e sem ética, que os liberais inventaram e impuseram a todo o Mundo está pelas ruas da amargura. De tal forma que os americanos, os donos do sistema, vão ter que socializar, isto é, nacionalizar, as finanças para salvar aquilo que eles chamam de economia.
E porque é que se chegou aqui?
Não se preocupem que não vou perder muito tempo a explanar doutrinas económicas...
Aconteceu porque, em todo o Mundo, nomeadamente em Portugal, meia dúzia de chicos espertos, se serviram das teorias económicas inventadas em Chigago e noutros centros americanos, para enriquecer desalmadamente e criar o princípio de que as grandes empresas e os bancos tinham - todos os anos - que ter mais lucros do que no ano anterior.
Os administradores das grandes empresas e dos bancos criaram também outra rotina; a dos prémios chorudos para eles próprios. Os dinheiros necessários para se premiarem têm que vir de algum lado, nem que seja do despedimento de alguns milhares de trabalhadores substituídos por jovens a quem pagam 500 Euros. Há mesmo administradores de grandes empresas que não gastam um tostão já que entregam nas tesourarias as contas dos supermercados para serem incluídas nos pagamentos da empresa.
Ao longo dos anos fomos assistindo a esta coisa espantosa: os índices de produtividade aumentaram, aumentarm, aumentaram... e os pobres foram ficando cada vez mais pobres e em maior número, enquanto os ricos eram mais ricos e cada vez menos.
Os bancos, sempre na ânsia de mais lucros foram inventando os chamados produtos financeiros dos quais fazem publicidade agressiva, convidando os pobres e fazer dívidas, já que é dos juros que eles vivem. Chegaram ao ponto de mandar cheques para casa das pessoas como créditos já assegurados.
E agora, o que diz o presidente dos banqueiros, o dr. João Salgueiro?
Com um ar arrogante, de quem tem uma conta bem recheada e que se está nas tintas para os problemas dos outros, vem dizer de forma insultuosa que a culpa do endividamento dos cidadãos é da sua exclusiva responsabilidade e dá lições de bom comportamento a quem o ouve ao mesmo tempo que vai criticando as leis que o governo promulgou e que proibem os bancos de cobrar comissões pela trasnferência de empréstimos.
O que fazer com este gajo insolente, provocador, nababo, um dos chicos espertos que aproveitou a política para se instalar bem e ir acumulando dinheiro em cima de dinheiro à custa do esforço daqueles que iam aproveitando as pequenas oportunidades para melhorar as suas condições de vida?
O que fazer com este predador que nem sequer sabe onde vive e ainda não percebeu que isto agora também vai piorar para o lado dele?

domingo, setembro 21, 2008

É Tempo de Pensar

Portugal entrou definitivamente na campanha leitoral para o ano de 2009 que se aproxima a grande velocidade. Ou, pelo menos o PS já o fez. Os outros não sabem ainda o que fazer, estão amarrados à sua própria frustração de não ser poder e de não conseguir exibir o mesmo ar arrogante que Sócrates exibe nos comícios e nas Escolas onde vai vender a banha da cobra, tecendo elogios a um sistema escolar que foi aconselhado pelo FMI a vários países para diminuirem as despesas orçamentais com a Educação.
E aquele ar do primeiro ministro que aperta a mão a toda a gente atirando o braço para o lado, sinal de que vai continuar para a frente, sempre a sorrir ( o assessor de imagem deve ter imposto o sorriso permanente- será que também fica com aquele esgar em casa?... para treinar, sei lá...), aquele ar irrita mesmo, porque me faz lembrar 1991, quando toda a gente, depois de todas as asneiradas que o Cavaco fez, dizia que o homem ia aprender uma lição com uma derrota a sério e cabou por ter uma segunda maioria absoluta que nos atirou de cangalhas. Até me arrepio a pensar que pode acontecer o mesmo.
E se acontecer o mesmo os boys PS vão imitar ainda mais o ar do chefe e vão ficar ainda mais arrogantes, insuportáveis. Se já hoje não há assessor de vogal do CA de empresa pública que não se julgue capaz de, com um simples gesto, destruir a vida de um simples cidadão, daqueles que não quer mais nada, só trabalhar, só sair do sufoco para onde os impostos e a segurança social e as propinas que às vezes tem que pagar para resolver uns assuntos mais complicados o atiraram.
Eu, tal como em 1991, estou com uma grande esperança que este povo desperte e perceba que o poder não pode estar entregue a estes trafulhas que em tempos de eleições prometem tudo e depois argumentam que "também os partidos mudam de opinião..."
Nós não podemos entregar o nosso país a esta gentalha que considera que para os ricos o Estado é só generosidade, mas para os pobres nem sequer existe...
Nós não podemos entregar as nossas crianças a estes mentirosos que estão a fazer das escolas fábricas de escravos, da nossa saúde um esquema de passagem de passaportes para o cemitério e da nossa justiça um sistema de validação do crime indiscriminado.
Nós temos que colocar um travão a estes desaforos a estas notícias que ninguém explica, a esta promiscuidade entre a política e os negócios.
E temos que começar a pensar já nisso, porque os nossos inimigos já iniciaram a estratégia de manutenção do poder. Temos que os obrigar a partilhar mas não com os outros, iguais a estes. Temos que tentar outra via. Temos de ser cidadãos responsáveis. Temos de chamar à esfera do poder outros, ainda que corramos o risco de se mostrarem iguais.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Uma Aparência Igual a Zero

Um dia destes (há dois ou três), na fuga matinal que faço às rádios institucionais - que já não posso ouvir - sintonizei uma das minhas alternativas, uma "Rádio Refúgio" em que apanhei a conversa com um senhor já de idade e que, pela conversa, deve ser padre católico.
Parei para ouvir e fiquei verdadeiramente espantado: pela primeira vez ouvi alguém, pertencente a uma instituição, cujo grau de senilidade já há muitos e muitos anos ultrapassou os limites do razoável, reconhecer este facto simples: " a Igreja Católica é a hierarquia", constituída por padres, diáconos, bispos, cardeais e, no topo, o Papa. Para além disto é nada.
A voz, já um pouco cansada dos anos, falava em serviços que esta hierarquia presta e lembrava que a Igreja Católica fica longe, vive completamente afastada das comunidades em que se insere e falava, a propósito, da Igreja dos primeiros tempos, em que as pessoas se reuniam nas casas uns dos outros, segundo os relatos do apóstolo Paulo.
De facto, olhando à nossa volta, percebemos as Igrejas fechadas, os padres vestidos comos os grandes senhores, a alimentar-se bem em restaurantes caros, ao mesmo tempo que percebemos a tal hierarquia a tentar conquistar cada vez mais espaço nos media - nunca perdem uma oportunidade para exibir aqueles barretes e aqueles vestidos "giríssimos" enquanto vão falando de coisas que, na maior parte das vezes não lhes dizem respeito.
A propósito do desfazamento existente entre a Igreja e a Sociedade, na entrevista também foi referido o casamento dos sacerdotes e a participação das mulheres de forma activa na tal hierarquia.
O padre entrevistado - já referi que não me pareceu um jovem - disse mesmo que, nesta altura, há dois grupos a lutar pelo casamento: os gays e os padres.
Para mim foi o início de dia diferente. Eu que já não pensavem na Igreja há um ror de anos, dei comigo a pensar na diferença espectacular que existe entre esta Igreja Católica e, por exemplo, a Igreja Anglicana, que faz parte das comunidades em que se insere, ajudando com a sua presença activa à solução de inúmeros problemas.
Hoje o Papa foi a França. O que terão feitos os sacerdotes católicos de todo o Mundo? Aposto que muito pouco.

sexta-feira, setembro 05, 2008

A Grande Fraude

Por mais força que faça para me desinteressar em absoluto dos assuntos da política nacional e me recuse a ouvir ministros e seus agentes, tais como jornalistas, nem sempre é possível escapar ao conhecimento de algumas coisas que se vão passando neste país a caminho de um precipício.
A Educação transformou-se de "a grande paixão" na GRANDE FRAUDE socialista.
Hoje o primeiro-ministro, acompanhado da sua ministra da Educação fez saber que mais de 90.000 portugueses vão receber diplomas de "certificação de capacidades" ( suponho que a designação da mentira é essa).
E o que significam estes papéis?
Que 90.000 dos mais de 400.000 inscritos vão ficar habilitados, uns com um certificado do nono ano e outros do décimo segundo, depois de umas aulas ministradas no programa de "Novas Oportunidades" e em que, basicamente, os candidatos demonstram o que já sabem fazer e, por isso, lhes é entregue um diploma.
Estes diplomas, entregues a 90.000, vão, seguramente, ser entregues aos restantes 300.000. Com esta fartura de certificados de capacidades, Portugal sai da sua posição ingrata de país cuja população, em larga percentagem, não completou, sequer, o ensino secundário.
Em ligação com esta operação, o Ministério da Educação recomenda - e tudo faz para isso - que os alunos do ensino oficial não sejam reprovados - saibam ou não saibam. O que é importante é aumentar as percentagens de gente com habilitações de nível europeu.
Nas Faculdades aonde vão chegando os anafalbetos funcionais criados nos níveis inferiores também já se vão exercendo algumas pressões com o objectivo de o número de licenciados portugueses se aproximar do número dos restantes países europeus.
E o que é que isto vai dar?
Um país de analfabetos com diplomas que não correspondem a nada e que ficam disponíveis para serem manobrados pelos que, filhos de gente com dinheiro, estudam a sério , ou são expulsos, em colégios particulares ou no estrangeiro.
O governo de José Sócrates está a construir um país que, dentro de pouco tempo, não passará de uma opereta de mau gosto vista com o aplauso e o riso alarve de uma multidão de escravos modernos, com direito a fato cinzento e a gravata vermelha.

sábado, maio 31, 2008

Ainda o Petróleo e as Gargalhadas Deles...

Sempre que o Primeiro Ministro viaja leva consigo um batalhão de empresários. Para os países produtores de petróleo é sabido que vai o presidente da Galp, um tal não sei quantos Ferreira, que lá faz os seus negócios com a cobertura das máximas autoridades portugueses.
É o que basta para os basbaques dos nossos jornalistas - alguns(mas) não se sabe o que vão fazer nestas viagens - se congratulem e lancem montes de foguetes para saudarem os neggócios que "a petrolífera NACIONAL" fez.
Qual nacional qual carapuça... A GALP é uma companhia multinacional tal como as outras e os negócios que faz com o aval do Estado português têm como único objectivo garantir reservas e mais reservas de crude que eles venderão agora e no futuro aos preços mais altos para satisfazer os seus accionistas, a maioria dos quais são estrangeiros.
Por isso, não percebo a protecção do Estado a estes grandes empresários, que, são, afinal, meros administradores de capitais internacionais. Não percebo porque é que o Primeiro Ministro não leva nas suas viagens de caixeiro viajante os pequenos e médios empresários portugueses - esses sim, a precisarem de apoio para se internacionalizarem e criarem riqueza verdadeiramente nacional.

quarta-feira, maio 28, 2008

...Eles Riem-se

Esta coisa do petróleo é complicada. De um momento para o outro, mas, de qualquer forma, depois da invasão do Iraque, os preços começaram a subir. Servindo-se de mecanismos elaboradamente complexos, as companhias petrolíferas e os especuladores das bolsas, foram aproveitando os pretextos, mesmo que forjados pela comunicação social, particularmente a de carácter económico - que eles dominam quase de forma absoluta - para aumentar o preço do petróleo, primeiro e, depois, os dos seus derivados.


Ao mesmo tempo que se anunciam descobertas de campos petrolíferos com reservas "para mais de um monte de anos", as gasolineiras, acompanhando sempre a subida do preço do barril do petróleo, vão aumentando a gasolina o gasóleo e outros derivados.

Nunca acompanham as descidas...

Assim como não explicam que a subida é, em muitos casos, apenas uma consequência da baixa do dólar relativamente ao Euro. Aí, mais uma vez a comunicação social ajuda e não converte o valor do preço do barril do crude de dólares para euros.

Aqui recordo-me de uma frase célebre de Fernando Alves na abertura de um Congresso de Jornalistas: "OS JORNALITAS SÃO UMAS PUTAS!"

Tudo isto vai acontecendo tendo como pano de fundo, por um lado um governo que, confessando a sua perda de soberania, se desculpa com a União Europeia, atribuindo-lhe - e, ao que parece, correctamente - a responsabilidade de taxar os combustíveis. A mesma União Europeia, que, considerada como uma grande potência económica, embora completamente dependente dos países produtores de petróleo, assobia para o lado e deixa correr o marfim, isto é, o dinheiro.

Outro cenário que enquadra todo este espectáculo de aumentos quase diários é o esbanjamento das principais companhias petrolíferas, exibindo, afinal, a sua enorme capacidade económica, graças aos lucros obtidos com verdadeiros assaltos às carteiras dos cidadãos pacíficos e , já agora, também parvos.

Vejam-se, por exemplo as campanhas com que a Galp anuncia o seu apoio à Selecção Nacional de Futebol.
Eles gastam mal o que roubam e, ainda por cima, se riem de todos nós.
No fundamental o que esta crise vem demonstrar é que os Estados já não contam, estão de pés e mãos atados pelos detentores da riqueza que a Humanidade produz, mas que, sistematicamente é acumulada por meia dúzia. E essa meia dúzia é apadrinhada pelos políticos no poder, que, de uma maneira ou de outra, recebem as suas contrapartidas, às vezes verdadeiras esmolas face aos lucros que propiciaram. Os mais atrevidos chegam bem perto da tal meia dúzia.
Os Estados europeus estão numa embrulhada da qual não sabem como sair. De facto, estamos nuclime de pré-guerra, porque as populações não podem continuar a viver percebendo-se escravos de gente sem rosto mas com riso.
Já falta pouco para que alguns dos países europeus voltem ao serviço militar obrigatório e que as manifestações de carácter social encham de terror os ministros que até agora só sabem descobrir negócios para os amigos.
A Europa vai ter um Verão bem quente, um verão que só lá para o Outono chegará a Portugal. Como sempre, aqui nada começa.

sábado, maio 24, 2008

Antes que Seja Tarde Acabe-se com o Poder da Arrogância e da Mediocridade

Vivem-se tempos difíceis, a anunciarem ainda maiores dificuldades, quiçá algumas desgraças mais fundas.

Ao longo dos anos - e não apenas em Portugal - o poder foi sempre arrogante, mas , ainda que raramente, esclarecido.

Durante séculos e mais séculos, a arrogância era mesmo uma prerrogativa, já que o poder era entregue por Deus a uma casta especial, superior a todos os outros. Foi necessário matar e morrer ao longo dos séculos para ridicularizar esta ideia.

Ao olhar para trás facilmente constatamos que os nossos antepassados levaram muito tempo a descobrir as mentiras que os dominaram e deles fizeram verdadeiramente animais, com a grande vantagem - para os seus donos - que podiam entender o que eles queriam.

Milhões de mortes depois, a Humanidade - uma parte dela - entendeu-se sobre a igualdade de todos os Homens, à partida. As diferenças estabelecer-se-iam ao longo da vida, de acordo com os méritos e incapacidades de cada um, salvaguardando-se, contudo, que os menos capazes não seriam desiguais nas sociedades em que viviam.

A vivência desta nova ideia foi-a revelando, todavia, como uma falácia, porque, a verdade é que, mesmo nessa pequena parte da Humanidade que adoptou o princípio da igualdade nas oportunidades, viciou o jogo, construindo sistemas que permitem a grupos determinados e sempre os mesmos, o exercício do poder.

Esta conquista feita por estes grupos, utilizando a mentira, a desonestidade e muitas vezes, a violência não assumida, determinou um poder com as mesmas características daquele outro atribuído por Deus às tais castas. Eles saem sempre beneficiados e utilizam os outros como "capachos". Por outras palavras: o poder de hoje volta a exercer-se com o objectivo único de beneficiar, já não uma casta com rosto, mas um bando de máscaras que utilizam em seu proveito a enorme capacidade de produtividade que a Humanidade entretanto criou, partido da ideia da igualdade de todos os homens.

Estou apenas a referir uma parte da Humanidade, porque há a outra de que não é possível falar: o poder autocrático da China, o poder feudal da junta militar da ex-Birmânia, os poderes cleptocratas de África... esses não fazem parte da minha análise, recuso-me pensar neles como poderes do meu tempo.
Estou a falar do meu Mundo, originado na ideia cristã de que os Homens são todos iguais. E, para ser mais concreto, refiro-me ao meu país.
Vai para cem anos que um pequeno grupo de descontentes conseguiu demonstrar perante a grande massa da população que o rei era um encargo. Não fazia parte da solução, mas dos problemas.
Veio a República, como consequência uma ditadura, apoiada por manifestações de dezenas (ou centenas?) de milhar de pessoas.
Alguns anos, quase quarenta, foram necessários para que um pequeno grupo bem definido por uma espécie de corporação de militar, sentindo-se prejudicado nos seus direitos salariais e outras regalias, tivesse vindo para a rua desencadear a chamada "revolução de Abril".
A partir daí foram-se constituindo e desfazendo grupos, sempre em torno do poder, construindo alianças, sociedades meramente comerciais entre pessoas, aparentemente adversários políticos, e o país voltou às mãos de gente sem escrúpulos, que apenas pensam no seu bem pessoal, no seu enriquecimento, nas suas regalias, no seu futuro e nada mais.
Os que, por acaso, foram aparecendo mergulhados na mixórdia da política a acreditar na boa gestão da coisa pública, foram jogados borda fora. De alguns já nem recordamos os nomes. Outros desistiram, poucos são os que continuam a lutar.
A política portuguesa de hoje é um pântano onde chafurdam os interesses mais baixos e não é possível descortinar ninguém com inteligência para propor medidas que acabem com esta barafunda criada pelos donos do Mundo, os especuladores que, sentados nos seus gabinetes ou viajando nos seus aviões, vão fazendo subir os os preços do que é fundamental para as pessoas viverem.
Ao PS, particularmente ao Engº Sócrates saiu tudo mal, embora, a princípio, tivesse havido a ilusão de que tudo acabaria bem.
O senhor é arrogante, medíocre e incapaz de perceber que se perdeu na estrada. Como todos os homens não pergunta a ninguém qual é o caminho certo.
Ao longo destes três anos meteu-se com toda a gente, desafiou todos os grupos sócio-profissionais, no convencimento de que nos últimos dois anos de governação distribuiria umas benesses que lhe permitiriam continuar no poder por mais quatro anos.
Fez, todavia, as alianças erradas. A chamada "aristocracia" portuguesa exerce sobre os dirigentes do PS uma atracção irresistível...
Essas alianças levaram o PS a esquecer o fundamental do actual sistema político: governa quem tiver mais votos. Ora, os banqueiros e clientes das "off-shores", os donos das gasolineiras, os latifundiários com acesso aos dinheiros da UE , os construtores civis esperançados nos concursos de obras megalómanas, todos esses juntos, não dão votos para que Sócrates continue a debitar a sua arrogância e a fazer a sua escola de gestão pública dos negócios do Estado (até já os secretários de estado são arrogantes).
Mais, toda aquela gente com quem ele fez alianças espúrias, quando chegar a hora do voto, vão votar noutros.
A mediocridade da política do nosso tempo não atinge apenas e infelizmente os "donos" do poder. Também aqueles a quem cabe a atitude de contrariar a arrogância e a mediocridade dos que mandam não tem capacidade, não tem inteligência para usar a força que, por vezes, lhes bate à porta.
Refiro-me, por exemplo, aos Sindicatos, nomeadamente à FENPROF, a quem aconteceu um fenómeno verdadeiramente inaudito: uma manifestação de mais de 100 mil professores em Lisboa. Foi uma coisa séria, ainda que os órgãos de comunicação social - claramente manobrados pelo poder - tivessem tentado disfarçar o mais possível.
E o que fez a FENPROF com estes 100 mil descontentes...descontentes a sério. Não estiveram lá porque tivessem sido mobilizados pelas estruturas sindicais, estiveram lá para dizer: estamos descontentes. BASTA. O que fez a estrutura sindical? Sentiu-se com poder e caiu na arrogância. Promoveu outras manifestações, insignificantes, sem expressão, que, obviamente, roubaram aos cem mil a força que lhes era devida.
A mediocridade dos sindicatos manifestou-se na altura certa: quando tinham um certo poder na mão.
Porquê? Porque entenderam que aqueles cem mil estavam com eles. Não. Uma grande parte
dos cem mil vai desistir:não querem mais continuar a ser professores porque já perceberam que o Sócrates, obedecendo a instruções de Bruxelas, só quer números. E os professores a sério, aqueles que o são há muitos anos, têm outro objectivo; o da cidadania consciente.
A FENPROF, ao imaginar que tinha um poder cavou a sepultura definitiva do ensino em Portugal. Nos próximos dois ou três anos as escolas terão ao serviço professores cheios de entusiasmo - naturalmente - mas sem capacidade reivindicativa para se oporem às medidas que continuarão a chover do Ministério, quer seja governado pela Maria de Lurdes ou pelo Manuel dos Anzóis.
Assim, a Educação, que parecia a chave para todos os problemas vai transformar-se num bordel desorganizado, mãe e pai de todas as desavenças.
Tudo isto até um dia em que, provavelmente um pequeno grupo de homens e mulheres, (há que contar sobretudo com elas) promovam um movimento que obrigue legalmente, com sanções duras no caso de não cumprimento, os partidos políticos a cumprir as promessas que fazem durante as campanhas eleitorais.
Para que tudo isto não descambe numa violência descontrolada é urgente que os partidos, nas eleições, sufraguem programas ( a que ficam obrigados) e não líderes com melhor ou pior aparência.
Antes que seja tarde!!!!

sábado, abril 19, 2008

Rangel - outras estórias, outros perigos

Em Abril de 2005, escrevi neste blog um texto sobre o Emídio Rangel, a propósito de uma daquelas entrevistas em que se apresentou, mais uma vez, como uma espécie de herói. Achei que era de mais e contei uma parte da sua fuga de Angola. O tempo passou, o Emídio continuou a sua vida, sempre feita de expectativas, de intrigas nos meios próximos do poder, numa atitude de permanente louvaminha , visível nas suas más crónias do Correio da Manhã.

Um dia destes exagerou, chamou "holigans" aos professores e algumas pessoas vieram a terreno negar que o senhor tenha autoridade moral para dizer o que quer que seja sobre aquele grupo profissional. Alguém, que não conheço, mandou para o meu e-mail e, seguramente, para outros, a estória do Emídio Rangel no Liceu Diogo Cão, onde chegou a rasgar o livro de ponto e outras barbaridades semelhantes.

Eu também não me contive e escrevi o texto que está publicado abaixo deste.

Ora, um dia destes, um amigo, que, certamente, não lê este blog mandou-me o meu texto de Abril de 2005, muito admirado porque tudo quanto estava ali escrito era verdade.

Ainda bem.

Agora que volta a falar-se do Emídio Rangel para altos cargos na RTP e outras coisas menos claras em Angola, repito aqui o texto de 2005 a que junto fotografias que ilustram alguns dos seus passos e recordam algumas das suas traições.


A primeira é um instantâneo do hastear da bandeira do MPLA no Lubango. O Rangel está na primeira fila da varanda da moradia que foi a primeira sede do então movimento de libertação naquela cidade. Como não podia deixar de ser estava junto da comitiva que tinha vindo de Luanda: o Dilolwa, o Alnaldo Pereira (Zé dos Calos) e o Pepetela. Os dois primeiros já morreram. Dilolwa suicidou-se e o Zé dos Calos acabou por ser mais um das vítimas do racismo do MPLA. O Rangel preparava-se para estar próximo do poder...


A segunda é do seu tempo da RDP, quando acompanhava governantes e se insinuava, mesmo que, para isso, fosse necessário denegrir o nome dos companheiros de profissão. Na RTP teve a coragem de ir a Espanha, sózinho, com a gravação de um programa que era trabalho de uma equipa em que ele dava pouco, concorrer a um prémio internacional - o qual ganhou.


A terceira fotografia é dos seus tempos da TSF, o homem todo poderoso, que, aproveitando-se da ingenuidade dos seus companheiros, os enganou - e de que maneira ! - quando foi o negócio com a Lusomundo...e não só. Antes já havia rumores de desvios de finanças.


Um última explicação: não voltarei a falar deste tipo e quero afirmar a quem me lê que não tenho qualquer sentimento negativo contra ele. O que acontece é que o conheço - e a alguns membros da família - e fico irritado quando percebo que ainda não entendeu que já devia ter metido a viola no saco porque corre demasiados riscos se algumas pessoas resolvem contar o que sabem.









Sábado, Abril 02, 2005

RANGEL- As Mentiras E Omissões De Uma Estória
Costuma dizer-se que uma mentira muitas vezes repetida acaba por ser verdade: Há muitos exemplos na História e nas estórias de alguns homens públicos.Ao longo dos últimos anos, que, reparando bem, já são muitos, Emídio Rangel, quando é entrevistado, repete - sempre da mesma maneira - muitas mentiras que já fazem parte da sua biografia oficial.Não tenho nada contra o modo como ele tem construído a sua vida , a sua carreira ,e até reconheço e aprecio a sua marca nas principais mudanças na maneira de fazer Rádio e Televisão em Portugal.Por isso não me proponho analisar todas as mentiras repetidas sistematicamente - algumas delas são mesmo pequenas mentirinhas - nem alguns dos seus métodos de trabalho, onde os fins normalmente justificam os meios.Todavia, já estou cansado daquela estória - que está a virar História - da fuga heróica de Angola.A verdade é que Emídio Rangel fugiu como dezenas de milhares de outros colonos, no contexto de uma conjuntura política que não entenderam e com o medo natural de terem que suportar uma guerra que achavam não lhes dizer respeito.Estava, portanto, no seu direito - fugir.Mas, a fuga de Emídio Rangel não foi uma simples fuga. Foi, igualmente, uma traição, já que, ao contrário do que sempre vem afirmando ao longo dos anos, ele era um militante "engajado" do MPLA.Também ao contrário do que sugere em todas as entrevistas, os tiros que aconteceram na madrugada em que fugiu não eram surpresa para ele, uma vez que sabia dos planos para o início da guerra entre os então movimentos de libertação( MPLA contra UNITA/FNLA).Ele sabia dos planos e, nesse contexto, tinha assumido responsabilidades de comando de um grupo de soldados praticamente sem experiência, que acabaram por se bater sózinhos nesssa guerra, iniciada na madrugada de 20 para 21 de Agosto, altura em que ele fugiu, traindo os homens que deveria ter comandado.Apesar da fuga dele (planeada durante meses - soube-se depois), o MPLA ganhou a contenda e a 23 de Agosto UNITA/FNLA assinaram a rendição.Também contrariamente ao que ele sugere, o exército sul-africano não estava ainda em território angolano. É verdade que se tinha concentrado na fronteira, mas, do ponto de vista dele, o perigo acabava logo que passasse a linha.Quanto às ameaças - que lhe foram transmitidas "por um jornalista ainda hoje na RDP de Coimbra" não é, seguramente, mentira, mas uma verdade para dar côr à estória. É que todos os militantes do MPLA, sobretudo os que, por alguma razão especial se destacavam na vida da cidade, foram ameaçados, quer pela UNITA, quer pelas BJR's da FNLA. A alguns deles fizeram pior: ameaçaram-lhes os filhos.Só mais um pormenor relativo a esta estória, que sendo uma pequena mentira, não deixa de ser uma grande injustiça:; quem o salvou das garras da secreta sul-africana, que o tinha idenficidado como militante activo do MPLA, foi um outro colega de profissão, de nome Diamantinmo Pereira Monteiro, esse sim sem qualquer ligação política e que arriscou ficar preso em sua substituição, e por isso, teve que suportar por mais algum tempo as condições horríveis dos campos de "concentração" em que foram armazenados os colonos fugitivos de Angola.Como se vê, as omissões também fazem parte desta estória de Rangel, contada em capítulos oportunos.Além do nome de Pereira Monteiro, há o de Mário Gomes, o tal piloto que levou os pais de avião para Whindoek e o de Saraiva Coutinho, o "ainda hoje jornalista da RDP em Coimbra" .Na entrevista da revista "Sábado" que me fizeram chegar via Net, Rangel não se refere ao 25 de Abril de 1974, mas, já agora, não quero deixar passar uma outra mentira muito propalada em outras, nomeadamente uma feita por Batista Bastos. Emídio Rangel não era o director da Rádio Comercial de Angola naquela altura e, por isso, não deu instruções nenhumas para que a Revolução de Lisboa fosse noticiada.Por acaso até conheço a pessoa que era director daquela estação de rádio ao tempo e bem me lembro que ela se transformou, nesse mesmo dia, na primeira voz livre de Angola.Quanto a outras mentiras que "o velho leão" tem vindo a propalar: é preciso cuidado, porque as pessoas podem cansar-se. Tal como dizia Nheru, referindo-se à ocupação portuguesa de Goa, Damão e Diu: não se pode confundir pacifismo com cobardia.Alguém avise o Emídio que é melhor servir-se dos seus méritos, das suas qualidades de grande condutor de equipas (desde que não seja contestado), que são muitas, do que continuar a efabular com coisas que já passaram há muitos anos e que só já têm importância para os que, lembrando-as, voltam a sentir-se miseravelmente traídos. E depois, há um perigo de as verdades se trasnformarem em cerejas.E já agora: fico desejando que recupere completamente dos problemas de saúde que o têm afligido e que volte às lides, para, pelo menos, fazer justiça a alguns amigos (verdadeiros), de quem sempre se serviu para, depois, atirar para o caixote dos ostracizados, uma condição que agora reclama para si próprio, mas que não é verdadeira - outra pequena mentira...
Publicada por M.Pedrosa

quinta-feira, março 13, 2008

Oh! Rangel! E Se Dissesses O Que Queres?


Não sou professor, embora já o tenha sido. Desses tempos lembro-me de algumas disputas verbais com os colegas de então sobre o estatuto que imcumbia aos professores. Os anos vieram a confirmar que eu tinha razão: um dia destes os professores vão ter que arranjar sítio para colocar a vassoura e varrerem as salas de aula...

Não sou professor, mas algém me fez chegar um texto do Emídio Rangel publicado no Correio da Manhã com um título sugestivo: "Holigans em Lisboa". Os Holigans são os 100 mil professores que vieram à capital dizer que não concordam com a Ministra, que não aceitam as suas políticas e que estão fartos.

O texto do Rangel atinge as raias da loucura. O homem já não sabe o que fazer para chamar a atenção do governo para as suas ansiedades. Ele queria ser, primeiro, director da RTP, depois, ficou com a esperança de um lugar na Administração, agora deve estar a fazer-se a outra coisa qualquer.

Que diga rapidamente o que é. Será o quinto canal? Ou secretário de estado da comunicação social, sei lá, adjunto da ministra da educação. Essa talvez não porque alguns dos professores de que ele tanto se orgulha, podem lembrar-se dele e interrogarem-se sobre a maneira lépida, veloz, ágil, perfeitamente alucinante, digna de um registo do livro do "guiness", como ele tirou o bacharelato em História.

sábado, fevereiro 09, 2008

NO ANTIGAMENTE

Algum passado deixou recordações. Apetecia-me mais dizer que deixou lições. Umas vão-se esquecendo, outras se vão perdendo. Porque havia guerra na Europa, Lisboa não tinha muitos automóveis.Mas tinha carros eléctricos. Uma rede interessante, de uma ponta à outra da cidade e no sobre e desce das colinas. Com o fim da guerra, a cidade perdeu muita da sua quietude. Começaram a chegar os automóveis e a nova mentalidade. Até aí,além dos eléctricos e dos poucos automóveis, carroças puxadas a cavalos eram frequentes. Iam e vinham das hortas para abastecer os mercados. Nas calçadas,por vezes, os animais escorregavam e, por vezes caíam, atrapalhando o tráfego.Algumas vezes saía gente dos eléctricos para ajudar.
A indústria automóvel que irrompeu no pós guerra afirmou-se como a grande vencedora do conflito. Exigia mais e melhores ruas, mesmo que para tal se descurasse o caminho de ferro. Refilaram contra os eléctricos,porque não deixava escoar o trânsito (automóvel)!
Em Lisboa, como no Porto, o eléctrico perdeu espaço, até porque o automóvel trouxe consigo o autocarro. Depressa o trânsito se tornou uma dor de cabeça e obrigou a um incessante alargar de faixas, a improvisar estacionamentos. Pior foi ter desmantelado as linhas do eléctrico. O «metro» resolve alguns problemas, mas não é compatível com uma cidade eregida sobre colinas.
Nem será preciso falar da poluição que o automóvel fez o favor de nos trazer. E dou de barato os acidentes terríveis que chegaram com o tráfego automóvel. Como é possível pactuar com tudo isto? O automóvel tornou-se uma droga letal e o cidadão comum o pior dos toxico-dependentes,quer fume ou não.
Urge alterar o conceito de mobilidade dos cidadãos. São indispensáveis percursos próprios exclusivos para transportes colectivos, de preferência não poluentes. Que se proíba o estacionamento urbano em passeios. O cidadão apeado também é digno de ter direitos,como seja o de andar pelo seu pé sem correr risco de vida. Imaginem
que tenha uma mesa de cozinha a mais, porque a avózinha me deixou a dela em testamento.Não tenho nem sotão, nem cave. Bom, decido-me. Vou pô-la,com duas cadeiras
e um banco, no passeio,junto à árvore. Um jarro com um ramo de malmequeres,para amenizar. Querem apostar que o xui aparece num instantinho? Não posso utilizar um passeio público como é lógico e sabido. Mas se for um automóvel?...

sexta-feira, janeiro 11, 2008

IDA E VOLTA

...Se há ar e ar
há ir e voltar...

Caiu a Ota, viva Alcochete. Não vejo que seja tão simples como isso. Se Alcochete é melhor que a Ota,não é seguro que não exista outro espaço melhor adequado e mais em conta, sei lá, em Paio Pires ou Aljubarrota. Olhando em volta fica a ideia de que Cavaco deu uma mãozinha a Sócrates para que este pudesse desmarcar-se do propósito de Cravinho, anunciado por Gueterres. Resta agora uma outra questão: a Portela? Fica ou não fica?
Esta não é ainda uma questão. É um devaneio. Desde que o governo de Guterres anunciou a Ota, saí em defesa da Portela. Ainda ninguém me convenceu no ganho da troca. O actual aeroporto lisboeta já será exíguo, aceito,mas isso não é defeito. Arrange-se outro e escale-se o tráfego.Em Paris fizeram o C. De Gaulle mas não destruiram Orly.Por acaso até o alargaram, mas isso não interessa. Ainda dispõem de um terceiro para mercadorias, E Londres? Tem tantos que lhes perdi a conta.
Orly fecha à noite, decerto para não chatear os que não gostam de aeroportos à porta de casa, quando lhes chega o sono.
Uma parte da comunidade europeia devia achar simpático poder descer na Portela de manhã e zarpar antes do jantar. Depois a Portela que fechasse a luz e adormecesse.
A Ota ou Alcochete,mais maneirinhos, que aturassem os das jantaradas ou de horizontes longinquos.E quando o segundo ficasse curto montava-se o terceiro, não sei onde, talvez em Badajoz,para apoio de grávidas parturiáveis. Sempre se poupava nas ambulâncias.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

O Todo e a Parte

A arte fascista faz mal à vista - disseram os entusiastas do anti-fascismo, a festejar a revolução de Abril, enquanto destroçavam obras demoníacas de autores até então acomodados ao regime paternalista. Daí em diante a arte deveria passar a ser obrigada a mote.
No Ensino, a educação moral e cívica fechou-se para obras. Que bom!,que bom! Pena que o mais no Ensino tenha caminhado como caminhou e descambado no que descambou!
Hoje, o fascismo volta a andar por aí.No «DN», Batista Bastos não acredita «que Sócrates seja fascista. Mas que o fascismo andar por aí...»
As reticências valem o que valem. O cronista que tem muitos anos disto tentava, creio eu, pôr alguma contenção na crónica de António Barreto («Público») ao encostá-lo ao de leve a Pacheco Pereira, a propósito da «tendência insaciável para o despotismo e a concentração de poder» que, na sua - deles óptica, manifesta o Executivo.
Por muito respeito e simpatia que nutro pelo cronista não me inibo de recordar que o fascismo não é uma coisa,ponto final, parágrafo. É a soma dos fascistas! Sem fascistas não há fascismo!
Com toda a moderação moderada recorro à poesia alheia de forma aldrabada:
fascistas são eles todos ou ainda menos/ fascistas são eles todos desde pequenos!
E, deste modo, não se deixa Sócrates isolado. Ele sózinho não faz a Primavera.
Fez-se engenheiro. E montou um governo engenhoso.
Não, não senhor, o poeta não explicitava fascistas,bolia de burgueses.
De burgueses acomodados ou subjugados. De um tempo em que a Censura fechava às três da manhã, mas conservava a liberdade de expressão fechada a sete chaves. Os censores
sabiam, tanto ou mais que os ministros, que os burgueses da poesia eram fascistas e os fascistas propriamente ditos eram eles e os que mandavam, neles e no resto, enquanto nós ficavamos à espera da nossa vez de vir a ser ou de ficar.
É bom saber e bom lembrar que alguns dos que ficaram eram gente e gente que fez História, porque há sempre alguém que resiste...
Pois, pois, isso era dantes, como quando o QG era em Abrantes!
Agora, em democracia, já podemos ser burgueses, malteses e, às vezes, um fascismozinho desenfreado,praticado, é bom de ver, por democratas congénitos ou pior que isso.
Pacheco chegou à miséria no Estado Novo, a que sobreviveu como é sabido na democracia reinante.No passado sombrio comia o pão que o bom Diabo amassava.Mas, depois,no País reencontrado não teve dentes para saborear o pão para Deus, nem as nozes Dele.
Pudesse o defunto espreitar, enquanto ardia, e decerto estremecer de ternura ante tanto palhaço, tanto acrobata, aos pulos e aos pinotes, a botar no ar radialeiro, televiseiro ou afins as imprescindíveis chicotadas no charco.