Vivem-se tempos difíceis, a anunciarem ainda maiores dificuldades, quiçá algumas desgraças mais fundas.
Ao longo dos anos - e não apenas em Portugal - o poder foi sempre arrogante, mas , ainda que raramente, esclarecido.
Durante séculos e mais séculos, a arrogância era mesmo uma prerrogativa, já que o poder era entregue por Deus a uma casta especial, superior a todos os outros. Foi necessário matar e morrer ao longo dos séculos para ridicularizar esta ideia.
Ao olhar para trás facilmente constatamos que os nossos antepassados levaram muito tempo a descobrir as mentiras que os dominaram e deles fizeram verdadeiramente animais, com a grande vantagem - para os seus donos - que podiam entender o que eles queriam.
Milhões de mortes depois, a Humanidade - uma parte dela - entendeu-se sobre a igualdade de todos os Homens, à partida. As diferenças estabelecer-se-iam ao longo da vida, de acordo com os méritos e incapacidades de cada um, salvaguardando-se, contudo, que os menos capazes não seriam desiguais nas sociedades em que viviam.
A vivência desta nova ideia foi-a revelando, todavia, como uma falácia, porque, a verdade é que, mesmo nessa pequena parte da Humanidade que adoptou o princípio da igualdade nas oportunidades, viciou o jogo, construindo sistemas que permitem a grupos determinados e sempre os mesmos, o exercício do poder.
Esta conquista feita por estes grupos, utilizando a mentira, a desonestidade e muitas vezes, a violência não assumida, determinou um poder com as mesmas características daquele outro atribuído por Deus às tais castas. Eles saem sempre beneficiados e utilizam os outros como "capachos". Por outras palavras: o poder de hoje volta a exercer-se com o objectivo único de beneficiar, já não uma casta com rosto, mas um bando de máscaras que utilizam em seu proveito a enorme capacidade de produtividade que a Humanidade entretanto criou, partido da ideia da igualdade de todos os homens.
Estou apenas a referir uma parte da Humanidade, porque há a outra de que não é possível falar: o poder autocrático da China, o poder feudal da junta militar da ex-Birmânia, os poderes cleptocratas de África... esses não fazem parte da minha análise, recuso-me pensar neles como poderes do meu tempo.
Estou a falar do meu Mundo, originado na ideia cristã de que os Homens são todos iguais. E, para ser mais concreto, refiro-me ao meu país.
Vai para cem anos que um pequeno grupo de descontentes conseguiu demonstrar perante a grande massa da população que o rei era um encargo. Não fazia parte da solução, mas dos problemas.
Veio a República, como consequência uma ditadura, apoiada por manifestações de dezenas (ou centenas?) de milhar de pessoas.
Alguns anos, quase quarenta, foram necessários para que um pequeno grupo bem definido por uma espécie de corporação de militar, sentindo-se prejudicado nos seus direitos salariais e outras regalias, tivesse vindo para a rua desencadear a chamada "revolução de Abril".
A partir daí foram-se constituindo e desfazendo grupos, sempre em torno do poder, construindo alianças, sociedades meramente comerciais entre pessoas, aparentemente adversários políticos, e o país voltou às mãos de gente sem escrúpulos, que apenas pensam no seu bem pessoal, no seu enriquecimento, nas suas regalias, no seu futuro e nada mais.
Os que, por acaso, foram aparecendo mergulhados na mixórdia da política a acreditar na boa gestão da coisa pública, foram jogados borda fora. De alguns já nem recordamos os nomes. Outros desistiram, poucos são os que continuam a lutar.
A política portuguesa de hoje é um pântano onde chafurdam os interesses mais baixos e não é possível descortinar ninguém com inteligência para propor medidas que acabem com esta barafunda criada pelos donos do Mundo, os especuladores que, sentados nos seus gabinetes ou viajando nos seus aviões, vão fazendo subir os os preços do que é fundamental para as pessoas viverem.
Ao PS, particularmente ao Engº Sócrates saiu tudo mal, embora, a princípio, tivesse havido a ilusão de que tudo acabaria bem.
O senhor é arrogante, medíocre e incapaz de perceber que se perdeu na estrada. Como todos os homens não pergunta a ninguém qual é o caminho certo.
Ao longo destes três anos meteu-se com toda a gente, desafiou todos os grupos sócio-profissionais, no convencimento de que nos últimos dois anos de governação distribuiria umas benesses que lhe permitiriam continuar no poder por mais quatro anos.
Fez, todavia, as alianças erradas. A chamada "aristocracia" portuguesa exerce sobre os dirigentes do PS uma atracção irresistível...
Essas alianças levaram o PS a esquecer o fundamental do actual sistema político: governa quem tiver mais votos. Ora, os banqueiros e clientes das "off-shores", os donos das gasolineiras, os latifundiários com acesso aos dinheiros da UE , os construtores civis esperançados nos concursos de obras megalómanas, todos esses juntos, não dão votos para que Sócrates continue a debitar a sua arrogância e a fazer a sua escola de gestão pública dos negócios do Estado (até já os secretários de estado são arrogantes).
Mais, toda aquela gente com quem ele fez alianças espúrias, quando chegar a hora do voto, vão votar noutros.
A mediocridade da política do nosso tempo não atinge apenas e infelizmente os "donos" do poder. Também aqueles a quem cabe a atitude de contrariar a arrogância e a mediocridade dos que mandam não tem capacidade, não tem inteligência para usar a força que, por vezes, lhes bate à porta.
Refiro-me, por exemplo, aos Sindicatos, nomeadamente à FENPROF, a quem aconteceu um fenómeno verdadeiramente inaudito: uma manifestação de mais de 100 mil professores em Lisboa. Foi uma coisa séria, ainda que os órgãos de comunicação social - claramente manobrados pelo poder - tivessem tentado disfarçar o mais possível.
E o que fez a FENPROF com estes 100 mil descontentes...descontentes a sério. Não estiveram lá porque tivessem sido mobilizados pelas estruturas sindicais, estiveram lá para dizer: estamos descontentes. BASTA. O que fez a estrutura sindical? Sentiu-se com poder e caiu na arrogância. Promoveu outras manifestações, insignificantes, sem expressão, que, obviamente, roubaram aos cem mil a força que lhes era devida.
A mediocridade dos sindicatos manifestou-se na altura certa: quando tinham um certo poder na mão.
Porquê? Porque entenderam que aqueles cem mil estavam com eles. Não. Uma grande parte
dos cem mil vai desistir:não querem mais continuar a ser professores porque já perceberam que o Sócrates, obedecendo a instruções de Bruxelas, só quer números. E os professores a sério, aqueles que o são há muitos anos, têm outro objectivo; o da cidadania consciente.
A FENPROF, ao imaginar que tinha um poder cavou a sepultura definitiva do ensino em Portugal. Nos próximos dois ou três anos as escolas terão ao serviço professores cheios de entusiasmo - naturalmente - mas sem capacidade reivindicativa para se oporem às medidas que continuarão a chover do Ministério, quer seja governado pela Maria de Lurdes ou pelo Manuel dos Anzóis.
Assim, a Educação, que parecia a chave para todos os problemas vai transformar-se num bordel desorganizado, mãe e pai de todas as desavenças.
Tudo isto até um dia em que, provavelmente um pequeno grupo de homens e mulheres, (há que contar sobretudo com elas) promovam um movimento que obrigue legalmente, com sanções duras no caso de não cumprimento, os partidos políticos a cumprir as promessas que fazem durante as campanhas eleitorais.
Para que tudo isto não descambe numa violência descontrolada é urgente que os partidos, nas eleições, sufraguem programas ( a que ficam obrigados) e não líderes com melhor ou pior aparência.
Antes que seja tarde!!!!
1 comentário:
A democracia que temos
Para além da liberdade de expressão sempre duvidosa. Lembro-me de recentes casos em que foram imediatamente punidos alguns responsáveis por críticas irrelevantes a membros do governo. Isto provoca o medo e serve de exemplo, evitando que outros casos bem mais importantes sejam divulgados.
Os eleitores podem realmente votar de tempos a tempos numa urna, mas pouco mais significa esta democracia. Os resultados eleitorais são sempre condicionados pelas opiniões que chegam aos cidadãos e que são, subtilmente, manipuladas pelos criadores de opinião, contratados pelas poderosas máquinas partidárias e pelas forças que dominam a comunicação social: a forma como são dadas as notícias ou até como não chegam a ser dadas as mais inconvenientes é um factor determinante quando chega a hora de escolher e votar. A censura prévia da época das ditaduras foi substituída pela auto censura actual. Quem não alinha com a linha traçada para o jornal, a estação de rádio ou de TV só poderá esperar a exclusão e ficar sem trabalho.
Que motivos levam a que determinados magnatas pretendam adquirir e dominar a comunicação social, uma actividade que é até economicamente bastante arriscada? As campanhas eleitorais e pré eleitorais começam aí, na comunicação social, e quem a dominar tem óptimas chances de chegar ao poder, directa ou indirectamente.
As contas das campanhas eleitorais de alguns partidos nunca correspondem aos reais gastos, mas o dinheiro teve de vir de algum lado....Talvez algumas notícias sobre corrupção não sejam alheias a tudo isto. A verdade é que nada se faz para prevenir novos casos. Quem é ajudado fica em dívida e as dívidas pagam-se.
As sondagens, que também deveriam ser proibidas, e são-no em alguns países, indicam as tendências de voto, condicionando também a decisão dos eleitores na hora de votar. Para quê votar em quem deverá ficar em 3.º, 4.º, 5.º lugares, i.e., sem qualquer hipótese ganhar? Os eleitores acabam por escolher de entre o 1.º ou 2.º, mas, a única diferença entre eles é a critica ao opositor que está de momento no poder, e, depois, se o atingir, fazer o que entender, frequentemente, o que antes criticava, principalmente se conseguir uma maioria absoluta (o que nunca aconselho).
O descontentamento dos eleitores que hoje constatamos deriva muito deste fenómeno: as promessas que alguns partidos fazem antes das eleições e que cativam e criam esperanças aos eleitores. Esses partidos ganham muitos votos com estes procedimentos.
Outra artimanha utilizada está na designação com que os partidos se apresentam aos eleitores e que não tem nada que ver com a realidade. As pessoas deveriam perceber que a designação é também uma opção estratégica para captar votos num determinado grupo alvo. Além disso, os próprios partidos evoluem com o tempo e hoje nenhum dos partidos do espectro português tem nada que ver com o que foi há 20, 30 ou 40 anos (os que já existiam).
Actualmente existe um chamado "centrão": dois SUPER PARTIDOS (PS e PSD)que não diferem muito um do outro e que se alternam no poder. O sistema eleitoral português (como os outros) já beneficia os partidos mais votados, tornando as eleições num jogo de “ping-pong”, a que chamam de “alternância democrática”, i.e: “agora ganho eu, depois ganhas tu”. Mesmo assim, há partidos que desejam "aperfeiçoar" o sistema eleitoral. É claro que do “aperfeiçoamento” os dois maiores partidos são os beneficiados, pois vai facilitar-lhes a manutenção no poder, mesmo com resultados mais adversos, porque reduzem os poucos deputados dos partidos mais pequenos, ainda que tenham o mesmo número de votos. Calam assim algumas vozes incómodas no parlamento e acautelam o futuro, prevenindo-se de surpresas futuras.
Zé da Burra o Alentejano
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