sábado, abril 19, 2008

Rangel - outras estórias, outros perigos

Em Abril de 2005, escrevi neste blog um texto sobre o Emídio Rangel, a propósito de uma daquelas entrevistas em que se apresentou, mais uma vez, como uma espécie de herói. Achei que era de mais e contei uma parte da sua fuga de Angola. O tempo passou, o Emídio continuou a sua vida, sempre feita de expectativas, de intrigas nos meios próximos do poder, numa atitude de permanente louvaminha , visível nas suas más crónias do Correio da Manhã.

Um dia destes exagerou, chamou "holigans" aos professores e algumas pessoas vieram a terreno negar que o senhor tenha autoridade moral para dizer o que quer que seja sobre aquele grupo profissional. Alguém, que não conheço, mandou para o meu e-mail e, seguramente, para outros, a estória do Emídio Rangel no Liceu Diogo Cão, onde chegou a rasgar o livro de ponto e outras barbaridades semelhantes.

Eu também não me contive e escrevi o texto que está publicado abaixo deste.

Ora, um dia destes, um amigo, que, certamente, não lê este blog mandou-me o meu texto de Abril de 2005, muito admirado porque tudo quanto estava ali escrito era verdade.

Ainda bem.

Agora que volta a falar-se do Emídio Rangel para altos cargos na RTP e outras coisas menos claras em Angola, repito aqui o texto de 2005 a que junto fotografias que ilustram alguns dos seus passos e recordam algumas das suas traições.


A primeira é um instantâneo do hastear da bandeira do MPLA no Lubango. O Rangel está na primeira fila da varanda da moradia que foi a primeira sede do então movimento de libertação naquela cidade. Como não podia deixar de ser estava junto da comitiva que tinha vindo de Luanda: o Dilolwa, o Alnaldo Pereira (Zé dos Calos) e o Pepetela. Os dois primeiros já morreram. Dilolwa suicidou-se e o Zé dos Calos acabou por ser mais um das vítimas do racismo do MPLA. O Rangel preparava-se para estar próximo do poder...


A segunda é do seu tempo da RDP, quando acompanhava governantes e se insinuava, mesmo que, para isso, fosse necessário denegrir o nome dos companheiros de profissão. Na RTP teve a coragem de ir a Espanha, sózinho, com a gravação de um programa que era trabalho de uma equipa em que ele dava pouco, concorrer a um prémio internacional - o qual ganhou.


A terceira fotografia é dos seus tempos da TSF, o homem todo poderoso, que, aproveitando-se da ingenuidade dos seus companheiros, os enganou - e de que maneira ! - quando foi o negócio com a Lusomundo...e não só. Antes já havia rumores de desvios de finanças.


Um última explicação: não voltarei a falar deste tipo e quero afirmar a quem me lê que não tenho qualquer sentimento negativo contra ele. O que acontece é que o conheço - e a alguns membros da família - e fico irritado quando percebo que ainda não entendeu que já devia ter metido a viola no saco porque corre demasiados riscos se algumas pessoas resolvem contar o que sabem.









Sábado, Abril 02, 2005

RANGEL- As Mentiras E Omissões De Uma Estória
Costuma dizer-se que uma mentira muitas vezes repetida acaba por ser verdade: Há muitos exemplos na História e nas estórias de alguns homens públicos.Ao longo dos últimos anos, que, reparando bem, já são muitos, Emídio Rangel, quando é entrevistado, repete - sempre da mesma maneira - muitas mentiras que já fazem parte da sua biografia oficial.Não tenho nada contra o modo como ele tem construído a sua vida , a sua carreira ,e até reconheço e aprecio a sua marca nas principais mudanças na maneira de fazer Rádio e Televisão em Portugal.Por isso não me proponho analisar todas as mentiras repetidas sistematicamente - algumas delas são mesmo pequenas mentirinhas - nem alguns dos seus métodos de trabalho, onde os fins normalmente justificam os meios.Todavia, já estou cansado daquela estória - que está a virar História - da fuga heróica de Angola.A verdade é que Emídio Rangel fugiu como dezenas de milhares de outros colonos, no contexto de uma conjuntura política que não entenderam e com o medo natural de terem que suportar uma guerra que achavam não lhes dizer respeito.Estava, portanto, no seu direito - fugir.Mas, a fuga de Emídio Rangel não foi uma simples fuga. Foi, igualmente, uma traição, já que, ao contrário do que sempre vem afirmando ao longo dos anos, ele era um militante "engajado" do MPLA.Também ao contrário do que sugere em todas as entrevistas, os tiros que aconteceram na madrugada em que fugiu não eram surpresa para ele, uma vez que sabia dos planos para o início da guerra entre os então movimentos de libertação( MPLA contra UNITA/FNLA).Ele sabia dos planos e, nesse contexto, tinha assumido responsabilidades de comando de um grupo de soldados praticamente sem experiência, que acabaram por se bater sózinhos nesssa guerra, iniciada na madrugada de 20 para 21 de Agosto, altura em que ele fugiu, traindo os homens que deveria ter comandado.Apesar da fuga dele (planeada durante meses - soube-se depois), o MPLA ganhou a contenda e a 23 de Agosto UNITA/FNLA assinaram a rendição.Também contrariamente ao que ele sugere, o exército sul-africano não estava ainda em território angolano. É verdade que se tinha concentrado na fronteira, mas, do ponto de vista dele, o perigo acabava logo que passasse a linha.Quanto às ameaças - que lhe foram transmitidas "por um jornalista ainda hoje na RDP de Coimbra" não é, seguramente, mentira, mas uma verdade para dar côr à estória. É que todos os militantes do MPLA, sobretudo os que, por alguma razão especial se destacavam na vida da cidade, foram ameaçados, quer pela UNITA, quer pelas BJR's da FNLA. A alguns deles fizeram pior: ameaçaram-lhes os filhos.Só mais um pormenor relativo a esta estória, que sendo uma pequena mentira, não deixa de ser uma grande injustiça:; quem o salvou das garras da secreta sul-africana, que o tinha idenficidado como militante activo do MPLA, foi um outro colega de profissão, de nome Diamantinmo Pereira Monteiro, esse sim sem qualquer ligação política e que arriscou ficar preso em sua substituição, e por isso, teve que suportar por mais algum tempo as condições horríveis dos campos de "concentração" em que foram armazenados os colonos fugitivos de Angola.Como se vê, as omissões também fazem parte desta estória de Rangel, contada em capítulos oportunos.Além do nome de Pereira Monteiro, há o de Mário Gomes, o tal piloto que levou os pais de avião para Whindoek e o de Saraiva Coutinho, o "ainda hoje jornalista da RDP em Coimbra" .Na entrevista da revista "Sábado" que me fizeram chegar via Net, Rangel não se refere ao 25 de Abril de 1974, mas, já agora, não quero deixar passar uma outra mentira muito propalada em outras, nomeadamente uma feita por Batista Bastos. Emídio Rangel não era o director da Rádio Comercial de Angola naquela altura e, por isso, não deu instruções nenhumas para que a Revolução de Lisboa fosse noticiada.Por acaso até conheço a pessoa que era director daquela estação de rádio ao tempo e bem me lembro que ela se transformou, nesse mesmo dia, na primeira voz livre de Angola.Quanto a outras mentiras que "o velho leão" tem vindo a propalar: é preciso cuidado, porque as pessoas podem cansar-se. Tal como dizia Nheru, referindo-se à ocupação portuguesa de Goa, Damão e Diu: não se pode confundir pacifismo com cobardia.Alguém avise o Emídio que é melhor servir-se dos seus méritos, das suas qualidades de grande condutor de equipas (desde que não seja contestado), que são muitas, do que continuar a efabular com coisas que já passaram há muitos anos e que só já têm importância para os que, lembrando-as, voltam a sentir-se miseravelmente traídos. E depois, há um perigo de as verdades se trasnformarem em cerejas.E já agora: fico desejando que recupere completamente dos problemas de saúde que o têm afligido e que volte às lides, para, pelo menos, fazer justiça a alguns amigos (verdadeiros), de quem sempre se serviu para, depois, atirar para o caixote dos ostracizados, uma condição que agora reclama para si próprio, mas que não é verdadeira - outra pequena mentira...
Publicada por M.Pedrosa

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