segunda-feira, dezembro 25, 2006

50 Kms/Hora

Em Lisboa começaram a colocar em diversos pontos estratégicos da cidade radares que avisam e , depois multam, obrigando os automobilistas a uma velocidade de 50 Kms por hora.
Acho muito bem.
Desta maneira vai ser possível constatar que o Código da Estrada e as suas proibições idiotas não passam de uma armadilha - diria mesmo uma emboscada - para sacar ainda mais dinheiros aos incautos.
Se a limitação da velocidade a de 50 Kms/ hora for cumprida em Lisboa, a cidade vai engarrafar definitivamente e os responsáveis por estas coisas vão constatar que não basta arranjar bodes espiatórios para os seus erros e para a sua ignorância.
O excesso de velocidade é o mito dos burocratas e o alibi dos políticos para a incapacidade de conceberem um código da estrada que consubstancie todas as diferenças existentes na indústria automóvel e na concepção, quer das estradas ,como nos arruamentos dos vários conjuntos urbanísticos em que vivemos.
Veremos.

sábado, dezembro 23, 2006

A OPA

Desde o princípo que se percebeu: tanto a ANACOM como a Autoridade para a concorrência estavam a torcer pela SONAE. Vá-se lá saber porquê. ..

Tenho acompanhado um pouco de longe as peripécias da OPA, mas gostaria de manifestar a minha convicção de que o Engº. Belmiro - um belo merceeiro e pouco mais - não vai conseguir obter o controlo do maior grupo empresarial português.

Desde logo porque a conseguir que os accionistas lhe vendam a maioria do capital da PT, será a France Telecom a dominar o gigante que daí sairá. É preciso não esquecer que a France Telecom ainda é detida em 32 por cento pelo estado...

Só os portugueses e mais dois países europeus, salvo erro a Dinamarca e a Holanda cairam na esparrela montada pelos americanos da liberalização das telecomunicações. Nos EUA não foram nisso. Exportaram a ideia.

O Engº António Guterres garantiu que o Estado sempre ficaria com, pelo menos, 25 por cento, mas como promessa de político é como negócio de meretriz...o Estado lá ficou com 500 acções e uma golden share que toda a gente contesta, excepto quando ela pode valer de alguma coisa.

A PT, desde que o é teve quatro presidentes; o primeiro, o engº. Luís Todo Bom teve que resolver o grave problema de organizar uma empresa que resultou da fusão de duas concorrentes. Organizou e organizou-se, isto é, financiou-se a ele e ao primo e mais ao PSD então do todo poderoso Cavaco Silva.

A seguir veio o dr. Murteira Nabo, sem habilidade para o dia a dia de uma empresa, com talento para a macro economia, mas incapaz de dar garantias a uma equipa. O medo é a sua companhia inseparávél.

O BES impôs, depois, Miguel Horta e Costa, vaidoso, gastador e sem qualquer jeito para administrar o que quer que seja desde que não seja "secretária", jovem e bonita, e o seu próprio património. De resto, seria curioso indagar como é que um homem que sempre foi funcionário público (apenas nos últimos 4 ou 5 anos é que não) tem o património que tem...

Este último presidente é, para mim, uma verdadeira surpresa. Lembro-me bem de aqui ter escrito que Henrique Granadeiro não tinha qualquer capacitação para o cargo e que a sua nomeação apenas se justificava pela sua amizade com Ricardo Salgado.

É certo que a amizade entre os dois homens terá contribuído, mas a atitude de Granadeiro faz dele um verdadeiro presidente de um grande grupo empresarial. A entrevista que concedeu a Judite de Sousa constituiu uma demonstração poderosa de um homem que sabe o que quer, um empresário com um projecto para um grande grupo empresarial. Sem medos, sem jogos.

Nem que seja apenas por isto seria uma pena que a PT perdesse a hipótese de continuar a ser um projecto português.
Ao Governo caberá uma última palavra se, na hipótese, pouco provável, de os restantes accionistas quererem ver a PT governada por franceses.
Há um aspecto curioso em toda esta trama, que é o da comunicação. Continuando Henrique Granadeiro com João Líbano Monteiro a administra-lhe a comunicação - eles são, de resto, cunhados - a comunicação social colocou-se abertamente ao lado da SONAE e as notícias dos últimos dias são a manipulação total - até confrange.
Este facto corresponde a um erro de Henrique Granadeiro. Ele não precisava, comos os três presidentes que o antecederam de "compradores" de jornalistas. Ele apenas necessitava de um sistema de informação aberto e que o tivesse dado a conhecer a tempo. A JLM & Associados foi um prejuizo, porque os jornalistas não incluídos na respectiva folha não perceberam a diferença.

Dois Anos

Foi em 30 de Novembro de 2004 que iniciei este blogue. Depois convidei dois velhos amigos a partilhar o espaço. Um deles, por razões de tecnologia - ainda é um bocado avesso a estas "modernices" foi-se afastando, mas um dia reaparecerá. O Rafael Soares, pelo contrário, tem sido ele que nos últimos tempos alimenta a fogueira e, a bem dizer, a fornalha.

Agora que volto a um curto período de poisio, tentarei descobrir algumas ervas daninhas e delas dar conta, assim como enlevar-me com algumas flores e desse enlevamento vos dar conta. Veremos se serei capaz de cumprir o que a mim próprio prometo.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

O DIREITO A SAIR DE CENA

Telefonei, por mór da época que atravessamos, a uma amiga que muito estimo e que reside em Madrid. A intenção era dizer olá e desejar bom Natal. Escolhi mal o dia e a hora. O irmão acabava de se suicidar, atirando-se da janela. Um exame médico detectara-lhe um cancro, dos delicados. É o quinto suicídio que a senhora minha amiga soma na família, todos eles de parentes muito chegados. Deve ser um fardo terrível de suportar. Toda a minha simpatia e sentimento não lhe devem servir de muito e eu tenho alguma dificuldade em enfrentar determinadas situações e esta terá sido decerto uma delas.
A morte voluntária é mais dramática justamente por ser interdita. Não fora isso e talvez fosse menos dura de suportar pelos que ficam, pelos que esperam. Estou em crer que é assunto que deve ser mais amplamente debatido. Tem a ver, convenhamos, com os direitos humanos. O direito que cada um tem, ou devia ter, para escolher o momento de partir. O direito a uma morte suave e não punitiva. Se para tal tivesse que ir de burro ajaezado como o poeta queria ou com os vizinhos a bater em latas, não era por isso que me iria ralar e seria preferível a ter de sujar a locomotiva ou a salpicar de entranhas as pedras da calçada. Mas queria, isso sim, saber que podia resolver o desenlace duma vida, a minha, como e quando me aprouvesse, Como pode alguém pretender-se livre e autónomo se não dispõe de si próprio?
Não tento intrometer-me noutra questão, a da pena de morte. Não me interessa discutir isso.
Não sou nem contra nem a favor, nem pouco mais ou menos. Sou emotivo e de vez em quando
parece-me que sim, outras que não. O que me apavora é a injustiça, a probabilidade do erro de julgamento, a ideia de que alguém inocente possa, como já aconteceu, ser aparatosamente apagado. E, por vezes, exaspero-me, como, por exemplo, quando um sujeito foi julgado por ter atropelado - e morto - uma senhora, numa passadeira para peões. O juiz entendeu sentenciou-o em dois anos de prisão, com pena suspensa. O réu, à saída, respondeu aos jornalistas, considerando a pena exagerada. Ainda hoje acho que sim, que foi um «exagero» e acho mais, acho que casos do género têm sido demasiado frequentes. Cheguei a pensar que os juizes pudessem ter problemas de consciência: "podia ser comigo", ou qualquer coisa assim!
Hoje ouvi pela rádio que o sujeito que abusou sexualmente de um garoto surdo-mudo a ponto de lhe causar a morte foi condenado a doze anos de prisão. Provavelmente poderá voltar ao nosso convívio daqui a seos ou sete anos. Poderá ter mais juizo ou voltar com os mesmos ímpetos.
Nos tribunais devia haver um guichet de informações que elucidasse o cidadão do volume da pena que teria de cumprir se quisesse violar uma vizinha de sete anos ou no caso de se contentar com a prima dela, de nove, teria desconto?
O que tudo isto tem de bárbaro ou absurdo choca com a impunidade dos impunes e cria a convicção de que a justiça é cada vez mais como o euro milhões: só sai a alguns...
A maneira mais simples, e provavelmente objectiva, de melhorar a imagem da justiça e emprestar-lhe a necessária tranquilidade é proibir as notícias sobre investigações de crimes e subornos, julgamentos e acima de tudo sentenças. Subsiste o risco de criar dificuldades aos ministros do senhor Sócrates ou embaraços ao senhor de Belém.
Por mim tudo bem. Só queria que me concedessem o direito de poder desistir, quando estiver farto e antes que as maleitas me torturem...

quarta-feira, dezembro 06, 2006

...MÁS COMPANHIAS

Quando eu era pequeno lembro-me que havia companhias. Ele era a companhia das águas, ele era a companhia das luzes e do gás ou a companhia dos carros eléctricos. É verdade que também havia a Real Companhia Velha, mas disso ainda não sabia. E havia o Alfredo, que me fazia companhia quando cavávamos da escola para ir jogar à bola. O prof. não achava graça e, às vezes, levantava-me do lugar por uma orelha. A minha mãe procurava desculpar-me com «as más companhias», para acalmar a ira do meu velho, o qual, verdade seja dita, ameaçava mais do que batia.
Aos domingos ia-se à bola, quer dizer, levava-me o meu pai ver o Benfica. Por esses dias o Benfica era, claro, o que jogava mais e melhor. Era, bem entendido, o que tinha mais azares. Por isso é que o Sporting ganhava mais vezes. O Benfica era, de longe, o que mais vezes ficava em segundo. Até foi segundo no ano em que o Belenenses ganhou o campeonato. E eu só tinha olhos para a bola. É verdade que lia amiúde o «Mosquito», mas a bola via-se com tudo, olhos, sentidos e coração.
Mas o futebol era, provavelmente, como hoje em dia, o que era a sociedade desse tempo: uma ditadura fascista. Mesmo o Benfica, suspeito de populismo suspeito, não se coíbia de uma ou outra prepotência sobre os seus atletas. O futebol era, já o disse, aos domingos. Começava logo pela manhã, para ver os juniores. Mastigava-se qualquer coisa no Quebrabilhas e ala, ver as segundas categorias e depois as reservas, para acabar nos mais custosos.
Foi assim anos a fio, com o Benfica a esgalhar num campo minúsculo de terra batida, a que se chamava «estância de madeiras» em razão das suas bancadas todas feitas de pau, mas o peão era empedrado. Pelo menos não tinha lama, como nas Salésias ou no Lumiar. Os jogos «grandes» começavam às três da tarde, salvo no verão de Setembro, que era às 16 , até mudar a hora.
O resto da semana era para discutir os «ofessaides» e as diferentes malandrices dos árbitros, todos suspeitos, na casa do meu pai, de serem lagartos.
Já no fim da adolescência tive o primeiro choque ideológico. O presidente encarnado que era cambista na Rua do Ouro, puniu o Felix com um ano de suspensão. Com Rogério condescendeu-se que fizesse a festa e fosse à vida. Qualquer manda chuva de trazer por casa se podia dar ao luxo de armar aos ditadores porque os jogadores eram zés-ninguém e não havia profissionalismo. Ocorreu-me que um xui numa madrugada, junto a um café razoavelmente mal frequentado, deteve e levou para a esquadra, onde acusou de vadiagem, um jogador de futebol.
Futebol não era profissão reconhecida, não obstante os jogadores descontarem para o desemprego, como salientou a notícia do jornal, visado pela comissão de censura.
O Felix cumpriu seis meses de castigo. A amnistia do Natal, que sua excelência o presidente do conselho de ministro, prof. dr. etc. e tal promulgava por essas alturas, engoliu o restante semestre. O Rogério foi para o Oriental, de onde saiu desiludido. Tinha proposto aos colegas uma greve porque não pagavam há um ror de tempo os prémios prometidos e devidos. O senhor director lembrou aos malandros dos jogadores que no país não havia direito à greve.
Posso garantir-vos que, tanto o Rogério como o Felix foram seguramente dos melhores jogadores portugueses de todos os tempos. O Passos do Sporting, já veterano, teve sorte semelhante, foi posto a andar de forma humilhante.
Com o advento do profissionalismo profissional que Otto Glória impôs ao Benfica e por acréscimo
ao País ainda salazarado, o dirigismo no futebol foi-se modificando até chegar aos dias de hoje.
Já não vou à bola. Vejo em casa. E vi, na sexta-feira, à noite, o presidente do Sporting e o presidente do Benfica a fazer companhia um ao outro. Ah! Se um deles tivesse uma mãe como a minha...