sábado, fevereiro 09, 2008

NO ANTIGAMENTE

Algum passado deixou recordações. Apetecia-me mais dizer que deixou lições. Umas vão-se esquecendo, outras se vão perdendo. Porque havia guerra na Europa, Lisboa não tinha muitos automóveis.Mas tinha carros eléctricos. Uma rede interessante, de uma ponta à outra da cidade e no sobre e desce das colinas. Com o fim da guerra, a cidade perdeu muita da sua quietude. Começaram a chegar os automóveis e a nova mentalidade. Até aí,além dos eléctricos e dos poucos automóveis, carroças puxadas a cavalos eram frequentes. Iam e vinham das hortas para abastecer os mercados. Nas calçadas,por vezes, os animais escorregavam e, por vezes caíam, atrapalhando o tráfego.Algumas vezes saía gente dos eléctricos para ajudar.
A indústria automóvel que irrompeu no pós guerra afirmou-se como a grande vencedora do conflito. Exigia mais e melhores ruas, mesmo que para tal se descurasse o caminho de ferro. Refilaram contra os eléctricos,porque não deixava escoar o trânsito (automóvel)!
Em Lisboa, como no Porto, o eléctrico perdeu espaço, até porque o automóvel trouxe consigo o autocarro. Depressa o trânsito se tornou uma dor de cabeça e obrigou a um incessante alargar de faixas, a improvisar estacionamentos. Pior foi ter desmantelado as linhas do eléctrico. O «metro» resolve alguns problemas, mas não é compatível com uma cidade eregida sobre colinas.
Nem será preciso falar da poluição que o automóvel fez o favor de nos trazer. E dou de barato os acidentes terríveis que chegaram com o tráfego automóvel. Como é possível pactuar com tudo isto? O automóvel tornou-se uma droga letal e o cidadão comum o pior dos toxico-dependentes,quer fume ou não.
Urge alterar o conceito de mobilidade dos cidadãos. São indispensáveis percursos próprios exclusivos para transportes colectivos, de preferência não poluentes. Que se proíba o estacionamento urbano em passeios. O cidadão apeado também é digno de ter direitos,como seja o de andar pelo seu pé sem correr risco de vida. Imaginem
que tenha uma mesa de cozinha a mais, porque a avózinha me deixou a dela em testamento.Não tenho nem sotão, nem cave. Bom, decido-me. Vou pô-la,com duas cadeiras
e um banco, no passeio,junto à árvore. Um jarro com um ramo de malmequeres,para amenizar. Querem apostar que o xui aparece num instantinho? Não posso utilizar um passeio público como é lógico e sabido. Mas se for um automóvel?...

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