quarta-feira, janeiro 09, 2008

O Todo e a Parte

A arte fascista faz mal à vista - disseram os entusiastas do anti-fascismo, a festejar a revolução de Abril, enquanto destroçavam obras demoníacas de autores até então acomodados ao regime paternalista. Daí em diante a arte deveria passar a ser obrigada a mote.
No Ensino, a educação moral e cívica fechou-se para obras. Que bom!,que bom! Pena que o mais no Ensino tenha caminhado como caminhou e descambado no que descambou!
Hoje, o fascismo volta a andar por aí.No «DN», Batista Bastos não acredita «que Sócrates seja fascista. Mas que o fascismo andar por aí...»
As reticências valem o que valem. O cronista que tem muitos anos disto tentava, creio eu, pôr alguma contenção na crónica de António Barreto («Público») ao encostá-lo ao de leve a Pacheco Pereira, a propósito da «tendência insaciável para o despotismo e a concentração de poder» que, na sua - deles óptica, manifesta o Executivo.
Por muito respeito e simpatia que nutro pelo cronista não me inibo de recordar que o fascismo não é uma coisa,ponto final, parágrafo. É a soma dos fascistas! Sem fascistas não há fascismo!
Com toda a moderação moderada recorro à poesia alheia de forma aldrabada:
fascistas são eles todos ou ainda menos/ fascistas são eles todos desde pequenos!
E, deste modo, não se deixa Sócrates isolado. Ele sózinho não faz a Primavera.
Fez-se engenheiro. E montou um governo engenhoso.
Não, não senhor, o poeta não explicitava fascistas,bolia de burgueses.
De burgueses acomodados ou subjugados. De um tempo em que a Censura fechava às três da manhã, mas conservava a liberdade de expressão fechada a sete chaves. Os censores
sabiam, tanto ou mais que os ministros, que os burgueses da poesia eram fascistas e os fascistas propriamente ditos eram eles e os que mandavam, neles e no resto, enquanto nós ficavamos à espera da nossa vez de vir a ser ou de ficar.
É bom saber e bom lembrar que alguns dos que ficaram eram gente e gente que fez História, porque há sempre alguém que resiste...
Pois, pois, isso era dantes, como quando o QG era em Abrantes!
Agora, em democracia, já podemos ser burgueses, malteses e, às vezes, um fascismozinho desenfreado,praticado, é bom de ver, por democratas congénitos ou pior que isso.
Pacheco chegou à miséria no Estado Novo, a que sobreviveu como é sabido na democracia reinante.No passado sombrio comia o pão que o bom Diabo amassava.Mas, depois,no País reencontrado não teve dentes para saborear o pão para Deus, nem as nozes Dele.
Pudesse o defunto espreitar, enquanto ardia, e decerto estremecer de ternura ante tanto palhaço, tanto acrobata, aos pulos e aos pinotes, a botar no ar radialeiro, televiseiro ou afins as imprescindíveis chicotadas no charco.

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