sexta-feira, novembro 23, 2007

Scolari

O homem chegou há já não sei quantos anos a Portugal e os portugueses ainda não o perceberam, sobretudo os jornalistas e os comentadores desportivos.
De resto, os jornalistas desportivos portugueses em Portugal, tirando a geração fundadora de " A Bola" foram sempre maus. Vão escrever sobre desporto porque ninguém os quer noutras secções. Claro que há excepções, mas são muito poucas.
A última conferência de imprensa, depois do jogo com a Finlândia é esclarecedora. Conseguiram irritar o treinador, seguramente porque fizeram as velhas perguntas idiotas, sem qualquer ligação com o que se passou no terreno do jogo.
Devo confessar que a mim também não me agrada um certo "medo" com que Sclori armas as equipas. Acho mesmo que foi esse medo que o fez perder o Europeu de 2004, assim como o Zagalo perdeu o Mundial de França, porque proibiu os então dois melhores laterais do Mundo de ultrapassar a linha de meio-campo. É uma espécie de herança brasileira que vem dos tempos em que o Brasil tinha grandes jogadores de meio campo e ataque, mas não tinha nem defesas nem guarda-redes da mesma qualidade.
Mas, voltando a Scolari: a verdaede é que ele cumpriu os objectivos pré-fixados: a passagem à fase final do Europeu de 2008. E é verdade que ele também tem razão que o adversário, a quem só interessava ganhar, nada fez para isso.
Ele também teve razão com a equipa que apresentou por uma razão: é que ele já descobriu que as restantes equipas, quando jogam contra Portugal, sobretudo se são conjuntos considerados menos importantes, fazem o mesmo que os chamados "pequenos" clubes portugueses fazem quando jogam com os chamados "grandes".
Esse é o factor psicológico mais perigoso e não vale a pena arriscar. Fez bem o treinador, mas os jornalistas queriam, além dos objectivos cumpridos, uma bela exibição e uma goleada. Quem, entre os portugueses, não o quereria?
Tal não aconteceu por duas razões: primeiro, Portugal chegou ao último jogo a precisar de pontuar e segunda, a Finlândia veio a Lisboa à espera de um milagre do pai natal.
Voltando a Scolari: com os seus defeitos e virtudes, há que reconhecer a importância da sua estadia em Portugal à frante da selecção nacional. De resto, ele está para a Selecção Portuguesa de Futebol, como Otto Glória esteve para o Futebol Português nos anos 50.
Naquele tempo, Otto trouxe para Portugal a modernidade e lançou os alicerces do novo futebol nacional, que haveria de chegar ao terceiro lugar do Mundial de 66 e, no domínio dos clubes, lançou igualmente as bases para que, ainda antes, o Benfica levasse o nome do país bem longe.
Scolari, em termos de selecção veio acabar com os lobies, a indisciplina crónica, mobilizar os jogadores e os portugueses em torno da Selecção. Ele conseguiu fazer com que os portugueses deixassem de lado a velha ideia fascista segundo a qual a bandeira nacional só podia ser exposta em situações muito especiais e em locais determinados.
O futebol de selecção em Portugal ganhou ambição, projectou-se a nível internacional onde é respeitado como nunca foi . E isso deve-se a Scolari. Não nos fica mal reconhecer os factos e, inclusivé, perceber que tudo isso se deve ao seu temperamento de "antes que quebrar que torcer" e à sua grande auto-confiança - que ele procura transmitir aos jogadores e aos portugueses.
Aquela cena de Alvalade em que ele quis agredir um jogador da equipa contrária não pode ser julgada como o tem sido. Quem a provocou foi o "quase agredido" e os portugueses, através da sua opinião publicada deveriam ter mostrado solidariedade com o seu seleccionador.