Tinha uns nove anos de idade,não mais, quando as auto-estradas entraram no meu, no nosso, quotidiano. A Europa estava em guerra, mas tal pouco me dizia, nem seria o tipo de guerra que empolgasse o Quim Furtado, se ele já fosse vivo! Os automóveis eram poucos e não se falava de estacionamento. Os motoristas dos taxis tinham de dar à manivela, à frente do carro, para este arrancar.
Estou em crer que a primeira via de luxo foi a que, das Amoreiras, levava ao Estádio Nacional, ainda o Século passado não chegara a meio. Mesmo assim não acabou a tempo de inaugurar o Estádio. Tão pouco o desvio do comboio de Cascais chegou a tempo à Estação do Estádio, nesse dia de Camões.
Desceu-se na Cruz Quebrada e foi-se a pé. Não me recordo se o Eléctrico já estava operacional, mas creio que sim - não interessa: fui de comboio. Salazar também foi, mas deve ter ido de carro.
Nesse tempo não havia ainda autocarros na Carris. Só chegariam depois do termo da Guerra. A auto-estrada era coisa séria. Só se podia circular por ela de automóvel. Nada de camions nem camionetas, nem carros comerciais. Vá lá que não tinha portagem. Aos domingos era uma festa. As famílias iam ver como era. E era, imagine-se, como se via nos filmes das américas, que eu costumava ir ver aos sábados no Chiado Terrasse.
O Estádio inaugurou-se a 10 de Junho e a festa culminaria com um Benfica-Sporting a dirimir a primeira «taça império», que haveria de mudar de nome e gerar o mito lusitano: «a merda é a mesma/as moscas é que são outras».Pois, pois, as colónias passaram a províncias Ultramarinas, mas manteve-se na 24 de Julho a Companhia Portugal e Colónias; na Baixa era a sede da Companhia Colonial de Navegação, que partilhava com a Nacional a exploração marítima.
Não me recordo se houve ou não, nos anos seguintes, qualquer outro pedaço de auto estrada; creio que não.
A ser assim, a seguinte, uma data de porção de anos depois, alongou-se até Vila Franca, terminando junto à nova ponte, nascida como acesso à barragem do Bode. Ah! , pois, acho que bode tinha Castelo de seu nome. A parte chata era a portagem: cinco paus, para a estrada, e sete e meio, para a ponte.
Não me teriam caído os parentes à lama se tivesse feito referência ao formidável viaduto,no início da autoestrada para o Estádio.
O«formidável» é para ser colocado na devida antiguidade. Começaram cedo as mortes. Ainda a autovia não se via, quero dizer, não estava pronta e já os suicidas se lançavam do excelso viaduto. Premonitório! Desde então não mais deixou de morrer-se nas diversas auto-estradas que foram aparecendo.É a epidemia mais notória dos tempos modernos. Volta que não volta faz-se campanha moderadora e aumenta-se o valor da multa.Sem grande efeito. Por muito que pregue o padre na missa, nem por isso se deixa de olhar de soslaio para a esposa amantíssima do vizinho! A solução não reside no condutor ávido. Há que punir o culpado, por muito inocente que seja -- o carro, a viatura. Se os veículos tiverem, eles, velocidade controlada, os acidentes não vão acabar mas iriam decerto diminuir e presumivelmente aligeirar a gravidade dos sinistrados.Isso, claro, deixaria os condutores furibundos e haveria de levá-los
ao TGV mais próximo para as seguintes viagens!
Sempre seria uma solução mais viável do que obrigar os cidadãos das cidades ou os aldeões das aldeias(por razões óbvias abstenho-me de citar vilas!) a ir viver no mato ou no pinhal mais próximos.
Estou em crer que a primeira via de luxo foi a que, das Amoreiras, levava ao Estádio Nacional, ainda o Século passado não chegara a meio. Mesmo assim não acabou a tempo de inaugurar o Estádio. Tão pouco o desvio do comboio de Cascais chegou a tempo à Estação do Estádio, nesse dia de Camões.
Desceu-se na Cruz Quebrada e foi-se a pé. Não me recordo se o Eléctrico já estava operacional, mas creio que sim - não interessa: fui de comboio. Salazar também foi, mas deve ter ido de carro.
Nesse tempo não havia ainda autocarros na Carris. Só chegariam depois do termo da Guerra. A auto-estrada era coisa séria. Só se podia circular por ela de automóvel. Nada de camions nem camionetas, nem carros comerciais. Vá lá que não tinha portagem. Aos domingos era uma festa. As famílias iam ver como era. E era, imagine-se, como se via nos filmes das américas, que eu costumava ir ver aos sábados no Chiado Terrasse.
O Estádio inaugurou-se a 10 de Junho e a festa culminaria com um Benfica-Sporting a dirimir a primeira «taça império», que haveria de mudar de nome e gerar o mito lusitano: «a merda é a mesma/as moscas é que são outras».Pois, pois, as colónias passaram a províncias Ultramarinas, mas manteve-se na 24 de Julho a Companhia Portugal e Colónias; na Baixa era a sede da Companhia Colonial de Navegação, que partilhava com a Nacional a exploração marítima.
Não me recordo se houve ou não, nos anos seguintes, qualquer outro pedaço de auto estrada; creio que não.
A ser assim, a seguinte, uma data de porção de anos depois, alongou-se até Vila Franca, terminando junto à nova ponte, nascida como acesso à barragem do Bode. Ah! , pois, acho que bode tinha Castelo de seu nome. A parte chata era a portagem: cinco paus, para a estrada, e sete e meio, para a ponte.
Não me teriam caído os parentes à lama se tivesse feito referência ao formidável viaduto,no início da autoestrada para o Estádio.
O«formidável» é para ser colocado na devida antiguidade. Começaram cedo as mortes. Ainda a autovia não se via, quero dizer, não estava pronta e já os suicidas se lançavam do excelso viaduto. Premonitório! Desde então não mais deixou de morrer-se nas diversas auto-estradas que foram aparecendo.É a epidemia mais notória dos tempos modernos. Volta que não volta faz-se campanha moderadora e aumenta-se o valor da multa.Sem grande efeito. Por muito que pregue o padre na missa, nem por isso se deixa de olhar de soslaio para a esposa amantíssima do vizinho! A solução não reside no condutor ávido. Há que punir o culpado, por muito inocente que seja -- o carro, a viatura. Se os veículos tiverem, eles, velocidade controlada, os acidentes não vão acabar mas iriam decerto diminuir e presumivelmente aligeirar a gravidade dos sinistrados.Isso, claro, deixaria os condutores furibundos e haveria de levá-los
ao TGV mais próximo para as seguintes viagens!
Sempre seria uma solução mais viável do que obrigar os cidadãos das cidades ou os aldeões das aldeias(por razões óbvias abstenho-me de citar vilas!) a ir viver no mato ou no pinhal mais próximos.
1 comentário:
Caro Rafael Soares, quantos mais morrerem nas auto-estradas, melhor! O orçamento de Estado agradece. Sempre são menos umas reformas que terão que ser pagas...
Um abraço. TORRES
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