As histórias dos bancos coitadinhos e dos investidores coitadérrimos são naturalmente insidiosas. Dificilmente se pode crer que um coitadinho foi colocar no banco, e logo em um dos recém-chegados, as suas economias, para simples resguardo! Havia promessa de melhores juros, lá isso havia, como havia, aliás, melhores juros prometidos aos próprios bancos, por outros bancos além.Claro que os novissimos banqueiros devem ter-se resguardado melhor, se é que não se limitaram a resguardar-se a tempo de salvar o que podia ser salvo. É evidente que o salvado mal chegou para os salvadores!
Aos investidores coube em sorte o azar dos Távoras. Nem se pode rogar a Deus, porque de há muito o Altíssimo determinou que a gula fosse pecado.
Mas, senhores, um governo, qualquer que seja, não é como o Barbas. Não tem que perdoar à toa; mas daí a usar o taco do povo inapto para socorrer a infelicidade de banqueiros pecaminosos cabe algum exagero.
A graça devida aos eternos criticadores não está, não senhor, dissimulada. Já o avô dos meus avós costumava explicar aos filhos perplexos: «quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão»...
Qualquer mexilhão que se preze sabe que escusa de estar descansado!
No eléctrico que me levava para os Restauradores vislumbrei no matutino do sujeito que ia ao meu lado que a Televisão estava a chegar a Portugal. Ena,pá? Pode lá ser! Podia,pois...
Era por mór da rainha inglesa, que estava a chegar. A soberana, mesmo jovem pesava e Salazar foi convencido.
Por essa altura até os banqueiros eram discretos e, sobretudo, prudentes. O pequeno comércio pagava com letras a curto prazo. O sistema foi empurrado por uma empresa, poderosa, é verdade: a CRGE! Foi o fornecedor da luz que promoveu as vendas a crédito, mas a crédito controlado, bem entendido. O meu pai comprou a primeira máquina de barbear eléctrica que entrou na nossa casa e veio a ser paga mensalmete no recibo da luz. Coisa de nada, pois. Mas o negócio alastrou, mas isto já todos por aí sabem. Não sabem ou não se lembram é do muito que se seguiu.
Tudo ou quase no salazarengo regime precisava de licenças. As licenças eram úteis porque necessitavam de fiscais. Por exemplo os isqueiros. Coisa simples. Pois! Mas atraiam pela via do cinema. Todos os galãs acendiam cigarros com isqueiros. Até as vamps fumavam no cinema e usavam isqueiros! As fosforeiras franziam as pestanas ou outras coisas possíveis de franzir.
Os isqueirados da nossa terra tiveram de munir-se de licença e criou-se uma legião imensa de fiscais. Implacáveis. Arrecadavam uma parte da multa. Estimulou-se ao mesmo tempo a delação,
permitindo ao delator arrecadar metade do prémio atribuido ao fiscal. Aliás a licença explicitava claramente que em casa de denuncia «o vil denunciante» tinha direito reconhecido. Reconheço que era um tudo nada reles, mas ainda assim permitiu aos fosforeiros reconciliar-se com o regime!
Eram coisas do passado, dir-me-ão. Pois, direi eu, que não tenho muito que dizer, a não ser
que não fui o único a recordar-me da facécia. As taxas de Rádio ou Televisão não acabaram no
25 mas aliviaram. Iam-se sumindo. A taxa da TV foi abulida pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva, quando entregou à SIC e (na altura) à Santa Igreja os dois canais privados. Mas a taxa da Rádio essa manteve-se, ainda que se fosse sumindo aos poucos. Foi Arlindo de Carvalho que a recuperou para a já RDP, num alarde maquiavélico: através da cobrança mensal de Luz. Nos primeiros meses baldei-me alegando que era surdo e não ouvia Rádio. A verba para a Rádio era
referenciada no recibo da luz e permitia recusar liquidar esse valor. Mas o presidente da Rádio impôs outras regras e a refência ao montante destinado à Rádio desapareceu do recibo.
Desconheço como se passam hoje esses discretos arranjos. Mas dá que pensar. A Televisão juntou-se à Rádio. Bom, e então? Não sei. Não sei se ainda pago e se pago quanto pago. Mas...
pois, mas. Sendo juntas para onde irá (iria) o taco. Se ainda houver taxa, como é? Não se deve esquecer que a taxa é cobrada alegadamente por dispensa de pub. No caso de não se recordarem lembro-lhes que a RTP para poder cobrar taxa e exibir pub teve de criar o segundo canal isento de.
Oh! Então não se lembram do lançamento da TVCabo? Canais, muitos canais, sem pub, sem pub. Mas para montar o sistema incluiram-se os canais de antena no Cabo. A pub cresceu, creceu, sem parar...
Com a crise programada para os próximos tempos a pub deve beneficiar de descontos aliciantes
o que triplicará de anúncios e promoções. Irá gastar-se menos a produzir, gastar-se menos a comprar.
Não se queixem. A TV ainda não é obrigatória. Pode deitar-se no lixo e ir ver a bola no Estádio ou...mais prático em casa do vizinho...
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