Já aqui fiz um reparo à permanência obsessiva de dois comentadores políticos na SIC Notícias e a relacionei com os contratos de parceria que existem entre a PT Multimédia e a SIC, por um lado, e a relação de poder absoluto entre a PT Multimédia e a Lusomundo, por outro. Repito os nomes: Luís Delgado e Mário Bettencourt Rezendes. Se, como jornalistas, pertencentes à Direcção de um Jornal, a sua posição validava as opiniões que expendiam, como presidente e vice-presidente da Lusomundo, as suas opiniões não têm o mesmo valor e, no caso, têm até alguns pressupostos que as deviam inibir. Refiro-me ao facto de se anunciar a possibilidade de venda da Lusomundo.
Esta possibilidade tem contornos mal definidos já que, se, por um lado, aparece como uma quase solução política para o que se considera a influência do governo numa panóplia de órgãos de comunicação social considerável, através de uma "golden share" do Estado na Portugal Telecom, por outro, ela é insinuada, nos chamados "meios bem informados" como uma operação que, beneficiando, sobretudo da posição de Luís Delgado na Lusomundo, faria passar a propriedade dos tais importantes órgãos de comunicação social para as mãos de gente ligada à política.
Neste cenário percebe-se mal que a SIC Notícias, que depende muito dos financiamentos da PTMultimédia, continue a recorrer a estes dois comentadores, em programas que, aparentemente, pretendem esclarecer a opinião pública, isto é, um conjunto muito grande de cidadãos, que, na altura própria, vai decidir em quem votar e, por isso, definir o novo poder político em Portugal. Ora, se o poder mudar, os projectos destes dois "comentadores"e dos interesses que os suportam, podem não se concretizar, pelo que o empenhamento com que defendem as suas opiniões não pode ser entendido como uma convicção político-ideológica. É um mero instrumento de negócio
De resto, a chusma de programas televisivos e radiofónicos com o aparente objectivo de promover a troca de opiniões é um dos nossos pecados, não porque o debate não seja importante, mas porque os intervenientes são sempre os mesmos, a dizer sempre as mesmas coisas. Muitos deles - percebe-se - já vivem há anos fora da realidade e apenas sabem discutir as intrigas dos corredores do poder, dos vários poderes que nos vão azucrinando a vida.
Se assim não fosse, já teriam aproveitado a oportunidade para promover a discussão dos problemas concretos do país, que têm a ver com a criação de riqueza e com a sua melhor distribuição, com o fim da Agricultura, da Indústria, da Pesca, com o encerramento de pequenas e médias empresas nacionais e com a fuga de grandes empresas internacionais.
Se conhecessem a realidade já se teriam preocupado em levar ao debate o aumento exponencial dos sem abrigo nas grandes cidades do país, sem se servir de reportagens acompanhadas pelos senhores vereadores camarários que tentam construir imagem em cima de algumas horas de atenção aos despojados da vida pelos poderes que se sentam às mesas redondas dos debates e, em simultâneo, à mesa dos orçamentos, cada vez mais difíceis de decifrar.
A verdade é que a maior parte destes comentadores-jornalistas são apenas porta-vozes de interesses e muitos deles, como jornalistas, nem sabem como é que se começa uma notícia, porque elas lhes aparecem "cozinhadas"pelo telefone, pelo fax ou pela internet, ou lhes são sugeridas em almoços pagos, em muitos casos, pelo produto do saque a que os novos-pobres foram sujeitos pelos novos-ricos.
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