Eu ignorante me confesso. Absoluta ou absurdamente, nem sei. Sei que não entendo. Ler jornais não é, de maneira nenhuma (alguma?) modo de saber mais. Duas semanas e meia de Paris e arredores chegaram e sobraram para entender isso. Todos os jornais e televisões, grosso modo, dizem mal ou ridicularizam o personagem presidente da República, eleito com apreciável maioria.Digo grosso modo porque o canal do Estado abstem-se. Quando não se tem à mão um qualquer caso objectivo improvisa-se. Tem é que se dizer (ou escrever) mal. Objectivamente mal ou caricato. Ainda esta semana, um editorialista improvisou a cena que seria o despertar de Sarkosy, deslumbrado com o cargo, a acordar a esposa para lhe lembrar que ele era o Presidente. Uma cabotinice reles, porque não foi estampada no «inimigo público» do pasquim, mas nas páginas de política comum.
Mesmo o desfecho do caso das enfermeiras cativas e condenadas à morte foi asperamente criticado pelo facto da mulher do Presidente ter participado; e não obstante o facto do ministro dos assuntos exteriores ter explicado os contornos das negociações e da recusa do Khadafi em receber ministros ou executivos da comunidade europeia.
Durante quase oito anos as enfermeiras e um dos médicos tiveram presos a sujeitos a
torturas físicas e psicológicas e a ser condenados à morte. Médico e enfermeiras foram acusados de injectar crianças com o virus da sida, mas são os hospitais que adquirem os produtos farmacêuticos, importados do estrangeiro, não são nem os médicos nem os enfermeiros. Ninharias para Khadafi, os altos interesses de Estado não se compadecem.
E em Espanha é o herdeito do trono a não ter direito à ira, quando um pasquim qualquer, presumivelmente humorístico, sugere o príncipe desnudado a tomar por tràs a esposa. Mas se, ao invés, se tivesse exibido o director da publicação a ser papado por um cigano bem apessoado, como alguns deles gostam de ser, ( não sei se entenderam que eu quis dizer "apessoados" e não a expressão "papados"), talvez a reacção fosse diferente, sem pôr em causa a santificada liberdade da imprensa, que como qualquer outra liberdade tem limites apropriados, qualquer que seja a moral convencionada. Ele há merdas que se não dizem e brincadeiras de mau gosto.
Pessoalmente não sou monárquico; como não sou de esquerda e menos ainda de direita. Sou descrente por convicção.Mas pelo facto de não gostar do ex namorado da senhora Segolene não tenho o direito de lhe chamar filho da puta, apesar de ser notório que pelo tacho ele se tem sujeitado a tudo.
Suponho que ainda não se saiba ao certo se Chirac vai ou não ser acusado de filhas de putice reles, que poderão afogar Villepin, que creio ter alguma dificuldade em nadar fora de pé. Mas antes destes já um presidente de outra família política tinha mandado afundar um barco pacifista
que se opunha a experiências nucleares, no Pacífico e que, imagine-se!, também tinha descendência ilegítima, ainda que tivesse um bon ami em Lisboa!
Quando a ministra demitiu o funcionário por dizer graçolas deu para perceber que a liberdade de expressão é uma treta e coisa que nem o governo legítimo tolera. Pois que se lixem e fiquem
com toda a opressão de que forem capazes. Estou-me borrifando. Já passei dos setenta. Não preciso de cautelas nem caldos de galinha. Em qualquer circunstância morrerei de velho...
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