quarta-feira, março 30, 2005

A travessia do deserto

Continuando com os jornais e virando, de vez em quando, um olho para dentro, vou despachando a torto e a direito, antes que me despachem a mim. "A moda dos códigos" e Marcelo reportado para o pasquim da Liberdade (avenida de), administrado pelo administrador Delgado, que assina "A moda". É notório como cada um deles se esfalfa para saltar para outro lado. A areia incomoda e faz sede. Esta tem, como se sabe, duas componentes: ou de bière (pr'a dar uma de cosmopolita) ou do mal. Esta última tem, evidentemente, mais sumo. Cada um a seu modo deixa transparecer ou assume-se mesmo da relegiosidade. Marcelo baloiça "pra cá e pra"
lá no drama Terri, invocando a própria mãe. Isso eu compreendo, também tive esse problema
e assumi as responsabilidades.Não foi isso que fez de mim um mau católico, porque já não o era, nem espero vir a ser e já agora deixo expresso que se me acontecer algo do género desejo firmemente que me aviem muito depressa e pode qualquer hospital ficar com as miudezas susceptíveis de conversão. Mas passemos adiante. Para ganhar embalagem Marcelo fez uma referência amena ao primeiro-ministro, mas tem perdido audiências. A minha não lhe deve fazer falta. Vi a primeira e por aí me quedei, mas o DN deixa-me espeitar, mas como é muito papel só espreito uns pedacitos.
O outro disfarça menos; também lhe falta o engenho, que ao outro sobra. O blá-blá sobre a profusão literária dos códigos é para dar conta da preocupação do tema ser tão badalado. Não é, creio eu, por acaso que a opinião corrobora a mesma posição da santissíma igreja, que tem evidente dificuldade em aceitar que se diga que Jesus dava umas quecas, como Dan Brown escreveu, com a delicadeza possível, concedendo a Madalena a condição de esposa. É verdade que a Bíblia opta por considerar a senhora como prostituta. A posição do escritor parece-me mais positiva e susceptível de humanizar o mito , pois como tal não carecia de piedade. Não é preciso adorar ou ter pena de quem ressuscita. Mas é o mito que alimenta outros códigos, como os da castidade e a Igreja ser um negócio só de senhores. Mulher não dá jeito, a não ser para ser crente e serva.Este, confesso, não é assunto da minha simpatia, mas chateia um pouco quando os beatos exorbitam...
Também por aqui se exorbita um tanto com o novo código da estradas, bem menos piedoso. Não quero entrar pela avaliação, mas pela necessidade que havia ( e há) de fazer alguma coisa, ante a carnificina nas estradas, que não parava de crescer. Simplesmente o problema não é só nas ruas, nas estradas, nos coletes e nas cadeirinhas (esqueci-me do copo de vinho), mas no resto. O trânsito tem a ver com o que mexe e o que fica parado. O que é que vai acontecer aos carros arrumados noite fora, ou dias inteiros, durante meses, sobre os passeios. O novo Código da Estrada vai resolver o problema? Os municípios vão garantir estacionamento nocturno e diurno, ainda que de modo diferenciado, mas vão? Não chega proíbir é necessário oferecer alternativas.
Fazer doer (nos bolsos) é um meio de pressão susceptível de levantar um pouco o pé do pedal. Uns dias de cadeia podem concorrer para que os condutores bebam mais água e menos alcool. Não é possível reprimir sem fazer doer. Agora há questões difíceis de conciliar. O limite de velocidade é uma delas. Há carros e carros. Pois, mas não é possível fazer destrinça. Mas é possível fazer concessões. Algumas auto-estradas podiam ter limites acima dos 120 Km/hora, como em França, por exemplo, que é de 130 Km, já que como na Alemanha (não há limite) não se vislumbra a hipótese. Os alemães têm outro tipo de controlo, que incide na condução e no qual são implacáveis.
No caso das multas, a severidade tem alguma justificação: a maior parte delas nunca foram pagas. Em grande parte eram amnistiadas. Isso sim era problema que ultrapassava a Polícia de Trânsito, foi mais da responsabilidade dos governos, que nunca quiseram resolver o assunto. Actualmente nem é difícil de resolver. Quando um automobilista é controlado pode saber-se tudo o que interessa, se liquidou ou não as coimas que lhe foram aplicadas. É uma situação que não oferece dificuldade e possibilita que não se efectue a cobrança coerciva no acto. Evita atritos e até a relação de confiança entre cidadãos e autoridade. Fixa-se um prazo, sei lá, 48 horas? Qualquer coisa assim. Nos casos em que haja coimas anteriores por pagar, aí, sim, aí a viatura
ou/e os documentos seriam apreendidos.
Nem sempre é ao estaladão que se resolve, mas um tabefe de vez em quando ajuda. A Justiça não precisa sempre de ser cega, de vez em quando pode piscar num lampejo solidário. Saltou-se do oito para o oitenta. Foi excessivo. Dêem, por favor, a volta ao texto. Concedam ao automobilistas o benefício da dúvida e lembrem-lhes que à primeira qualquer um cai, mas que à segunda só cai quem quer...

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