quarta-feira, março 30, 2005

Enfado

Deve ser de facto das melhores coisas do mundo: não fazer népia e depois descansar!
Mas, é preciso reconhecer, tem os seus ângulos obtusos, quer dizer: sem razão para ser infeliz, um tipo sente-se quase culpado; melhor dizendo: sem ter que fazer, acontece ao felizardo sortudo ficar mal disposto. É o caso. Ainda não mexi uma palha, nem fiz a barba. li ao de leve um jornal, aqui, no computador. A única tarefa compulsiva foi tomar o pequeno almoço, que por acaso nem foi pequeno
À minha frente, pela janela, vejo um dia claro. O céu não está inteiramente limpo, mas bastante claro. Não há vento. Apenas uma leve brisa. Como moro no campo. por aqui passam poucos carros e abstraindo o mau humor dos cães, está tudo calmo. Anui-me (deve estar mal dito, mas soa-me bem) a fazer uma paciência com a cartas e, quase sem dar por isso, ligo o rádio. Na RDP, que é suposto não impingir publicidade. Cinco minutos depois, desligo o aparelho e comecei a praguejar, enquanto a pobre paciência decorria sem dificuldade alguma. A extrema dificuldade
consistia na minha recusa em admitir a causa do mau humor: a impotência, a pior de todas as impotencias: não é física, quer dizer, não é aquela que vocemecês estão a pensar, cheios de gozo, É psíquica, mas ao contrário da outra, esta fode a paciência a um gajo. E tudo por mór da publicidade!
A RDP não passa publicidade. Pois não, que não passa. Passa a pior de todas, a promoção sistemática e exaustiva das porcarias que produz, ainda que umas quantas até sejam de qualidade passíveis de ser escutadas, As rádios privadas exploram a publicidade como fonte de receita, quem quiser oiça, eu não oiço, habitualmente, a não ser no carro, porque a patroa não me deixa desligar. É chato, mas evita-me ter de falar. Para as viagens compridas, levo um monte de cd's. Mas a RDP, não. Nem tem o direito de passar tanto tempo a autopublicitar-se,
porque, como é do domínio público, cobra portagem, perdão, taxa. E cobra coersivamente, através da cobrança pelo consumo de electricidade, Mesmo que um tipo não goste de ouvir a RDP, mesmo que não tenha receptor de rádio. E mais, agora até contribui para a solvência da RTP, que se farta de impingir publicidade. No princípio era a taxa, a taxa que cada um por si ia pagar. Como acontecia com os isqueiros, porque era premente, determinava o prof. Oliveira não sei quê, acautelar os legítimos direitos dos fazedores de fósforos. Mas o sistema era puro. Na licença para uso de isqueiro constava o regulamento todo, incluindo a refência de que era devida
ao "vil delator" uma parte da multa. No caso da Rádio era mais fino: o fiscal podia, estava investido desse direito, penetrar nas casas para verificar se os donos das ditas possuiam ou não o famigerado receptor radiofónico.
Mas se os senhores leitores quiserem que eu admita que tal era uma filha da putice reles e salazaresca, eu digo: era, sim senhor. E depois, quando é que isso acabou? Baixem um bocadinho a bola e pensem: quando?
Com o advento da TV criou-se a taxa compulsiva. Para ser compulsiva tinham que existir compulsores, palavrão que suponho não exista no léxico, lá vai: fiscais. Havia-os antes e depois
do sr. António da Calçada. Enquanto andei por Angola, costumava identificá-lo por Oliveira Dalatando ( o N com apóstrofo só apareceu depois da independência) e quem andou por lá sabe porquê.
Sim, isso mesmo, mesmo depois de Marcelo(padrinho do outro, porra). Morreu (a licença, caraças) de morte natural, quando Cavaco Silva acabou com a taxa. Em boa verdade, morrer, o que se chama morrer, não morreu. Se tivesse escrito que ressuscitou ia incomodar uma data de gente que vai à missa, digamos, pois, que reapareceu, encolhida, imiscuindo-se na taxa da Rádio, uma taxa curiosa cujo valor praticamente ninguém conhece e nunca se é avisado se aumenta e quanto aumenta. Vem na conta da luz e tu, ó meu, que tás pr'aí a mandar vir, se não pagas, ficas às escuras...
Vamos lá ter tento na língua e falar melhor. Uma criatura paga taxa aparentemente de Rádio para a empresa EP que acasalou a RDP com a RTP. Uma faz publicidade tal e qual e a outra chateia com publicidade intestina, tão chata uma como a outra.
E depois não querem que um felizardo que não tem nada que fazer ande chateado...

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