sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Patriarcão

Ele foi -- e é, sem a menor dúvida -- uma referência da democracia em Portugal. Mas até as mais reverendissimas referências são humanas. Os humanos não são perfeitos, nem sempre têm razão e estão sujeitos a tropeçar.

Mário Soares além de ter descido como desceu a Alameda, desceu algumas vezes de outros modos. Para subir teve de contar com certos apoios e uma certa Europa esteve com ele. Por essa altura os partidos recém nascidos eram virgens de princípios e à margem de legislação, como, por exemplo, as dotações pecuniárias. Nada que não tivesse remédio e que não se tivesse procurado regulamentar.

Como líder, primeiro, como primeiro-ministro, depois, teve confrontos naturais na Assembleia,
que nem sempre ganhou. Sossobrou ante uma moção de censura, que o levou à tal coligação com o partido do centro-esquerda de Freitas do Amaral e, depois, perder eleições para a AD.

De regresso ao largo do Rato arranjou algumas desavenças intestinas que haviam de culminar com o abandono da liderança por se recusar a apoiar a recandidatura de Ramalho Eanes.

Data dessa altura a contestação à origem de apoios monetários aos partidos. Para regressar à chefia foi notória a diferença entre o partido empobrecido e os meios postos à disposição dos apoiantes do candidato ao regresso.

Reconquistado o partido, Soares voltou a ganhar legislativas e a chefia do governo. Bem sabemos que o poder desgasta. Nunca são suficientes os problemas da governação. Pior que um défice num capítulo do orçamento pesa a pressão contínua dos militantes candidatos a empregos, a cargos, a tachos ou a negócios.

E o governo sossobrou. Da hecatombe emergiu Cavaco Silva. Mas é justo lembrar que o PS apresentava como candidato Almeida Santos.

Mas Mario Soares não entregou os pontos. Perfilou-se candidato a Belém. E bem mal fizeram
os que não quiseram,dentro do partido, acreditar nele. Soares ganhou a presidência e não poupou os descrentes.

Constâncio entrou na sala do Rato e não havia tostão. E casa onde não há pão... Saiu a bater com a porta. Entretanto Cavaco, governava. Belém não levantou entraves. Era o país das maravilhas.

Nas legislativa que se seguiram o PSD voltou a ganhar e Sampaio foi quase trucidado. E saiu. Mas não era um mau candidato. Não tardou a ganhar a Câmara de Lisboa, vencendo o nadador
Marcelo, o destemido. E avançaria mais tarde para a sucessão de Soares, batendo um tal C. Silva.

Mas isto foi depois do entretanto. O que contava era o implacável ajuste de contas, que até então decorrria entre iguais, como é apanágio dos polícos de topo. Arrumadas as contas a esse
nível, Mário Soares voltava à terra, arregaçava as mangas. Era a vez de Cavaco Silva...

Depois de vencer, com um sorriso nos lábios a reeleição, em que o mais difícil terá sido obter um adversário, socorrrendo-se, como era prática, de um CDS (Basílio Horta), o Presidente retomou o rumo e friamente, durante quatro anos moeu Cavaco Silva, até à exaustão. Ainda hoje, e já lá vão uns anos, o pobre prof. ainda cheira a queimado.

Com pouca saúde ficou o país. Guterres, Durão e Santana não parecem médicos de grande sucesso. Entre votar ou ir à bruxa.. o Diabo que escolha...

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