Sempre se lhe abre um largo sorriso quando apareço. Um sorriso de alegria, a mostrar a falta de dentes levados pela idade, mas também a alma limpa, carregada de amizade, bondade, solidariedade. Para os seus quase oitenta anos, o meu amigo trabalha quase como nos velhos tempos, quando andava de pinhal em pinhal a fazer pela vida e a gozar as alegrias da mocidade. Delas fala quando sente alguma esperança de melhores dias e sente aliviado o peso da sua condição de idoso, trabalhador por conta própria e português.
Ontem, a propósito da campanha eleitoral, lá veio a política à baila e a sua conclusão habitual: "Oh meu amigo, a política não serve para nada!"
Com alguma paciência e amizade tentei dar-lhe o meu ponto de vista: "bem que os poderosos do Mundo gostariam de a eliminar da nossa vida.Por causa daquilo a que chamamos política é que não somos todos peças de uma engrenagem de produção, sem direito às pequenas alegrias e às pequenas ou grandes ideias que gostamos de trocar".
Ficou pensativo, o meu amigo, mas não me quis deixar sem resposta: "mas, então acha que estes gajos que nos estão a governar são políticos?".
"Não, esses fazem parte dos que gostariam de eliminar a política da nossa vida. Esses são apenas lacaios dos que têm tudo, dos que se apoderaram da maior parte do esforço que a Humanidade fez para progredir. Esses são os que estão a permitir a importação dos métodos chineses para gerir as empresas. Mas, felizmente, ao contrário do que acontece na China, nós temos a possibilidade de os mandar borda fora".
"Você é danado! - riu-se o meu velho amigo. E lá voltámos à conversa sobre os achaques dele e meus.
Na despedida, um abraço e o remoque final: "... eu acho que não vou votar...para quê?"
"Olhe, nem que seja para voltar a sentir alguma esperança"
Tenho que passar por lá outra vez. Talvez se o frio passar ele se sinta melhor consigo mesmo.
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