terça-feira, fevereiro 22, 2005

JÁ CHOVE

Logo que se anunciou a mudança de governo, a chuva voltou. Fosse Sócrates tão beato como Guterres e, por certo, estaríamos, agora a venerar um milagre. Esta chuva representa a esperança, remotiva os agricultores e credibiliza os senhores que se seguem. De repente até os benfiquistas acreditam, reaprenderam a esperança. Ainda ontem, à noite, quando o Guimarães marcou logo no primeiro minuto da segunda-parte, um lampião dizia atemorizado: "Queres ver que o gajo, afinal, vai convidar Pinto da Costa para ministro Interior..."
É prometedor justamente que ainda não tenham circulado rumores sobre o elenco governamental. Sampaio deu uma boa ajuda para o clima de tranquilidade, acelerando o processo de consultas. Se Sócrates puder despachar com prontidão, de modo a que os artistas da comunicação social não tenham embalado para a caça ao alvo a abater, apontando como mais prováveis os improváveis ou como tendo sido sondados uma data de insondáveis, pode evitar
atritos ou desavenças internas e atapetar o seu legítimo período de graça.

O bom senso aconselha a que a preocupação primeira seja conhecer o programa governativo, a estratégia para a recuperação, os horizontes para a Educação. O que a malta que compra jornais ou os mira na Net quer é saber quem vão ser os ministros, porque esta curiosidade é-lhes despertada, justamente pela comunicação social.

Como lisboeta, bem gostava de ver nos assuntos sociais alguém com vontade de meter nos eixos
os senhores responsáveis pelos diferentes meios de transporte urbanos. Tanto quanto me lembro, foi Leonor Coutinho que concebeu, ainda num dos primeiros governos de Mário
Soares, o passe social, que ainda hoje vigora. Acho que nunca se deu o devido destaque a uma medida realmente social encontrada à época, conciliando os interesses, especialmente de estudantes e trabalhadores, com os de quatro transportadores independentes uns dos outros : Carris, Metro ,CP e Cacilheiros.
Depois vieram os abusos, povo tem que sofrer. É dos livros. Os passes aumentaram (de preço, bem entendido) amiude. Pior: os cartões ( cada vez mais caros) são temporários. De cada vez
é preciso um imenso rol perguntas sobre idade, morada, estado civil, que se destinam a banco de dados, transaccionados para diferentes publicidades, sem autorização prévia. Só para não imaginarem que não sei do que falo (escrevo) também tenho passe parisiense. Não é cartão é uma carteirinha, gratuita, onde se introduz o bilhete, semanal ou mensal, conforme as posses ou necessidades. Serve, claro, para Metro e Autocarros. Em Paris também há barcos, mas não são transporte urbano para operariado. A única despesa com o passe é a fotografia. O único incómodo é inscrever o nome.
Deve haver por certo muitas lisboas pelo país fora, com alguns vícios e os mesmos defeitos. Não recomendo um milagre, mas o ponto final num abuso contra direitos básicos dos cidadãos. Não constitui um dilema, mas isto de mudanças profundas é como entender por é que se beija a mão às senhoras: ora, por que é preciso começar por algum lado.

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