Há um debate político e lá estão eles: os jornalistas da economia e outros, que não o sendo - sem serem nada, porque misturam tudo - lhes imitam os gestos, as palavras e os fatos novos. E até as gravatas garridas.
E o que dizem eles, os economistas-jornalistas, a quem é exigida, por uma directiva da União Europeia, uma declaração de património ?
Sempre o mesmo e sempre com o mesmo ar, de quem tem a solução no bolso. É preciso despedir, reduzir as despesas do Estado, criar alternativas à Segurança Social existente, aumentar a idade da reforma - não pelos bons motivos - mas pelos mesmos de sempre: reduzir despesas com as pessoas.
O que faz confusão a esta gente são as pessoas. As pessoas é que estão a mais. Ainda os vamos ouvir, um dia destes, a pedir a demissão do Povo.
Nunca os ouvi explicar porque é que as grandes empresas estão sempre a criar novas empresas: que se trata de um dos muitos expedientes usados para não pagar os impostos devidos, já que, durante três ou quatro anos ( e às vezes mais), absorvem lucros, transformados em despesa.
Jamais lhes ouvi uma palavra explicativa sobre as razões por que a Banca continua a usufruir de condições especiais no pagamento de impostos, que lhe foram atribuídas há mais de vinte anos com o objectivo de se reorganizar.
E é verdade que a Banca se regorganizou. Tão bem que aproveitou para incorporar todas as novas tecnologias e dispensar o maior número de trabalhadores. Os que ficaram viram os seus direitos reduzidos a quase zero.
Houve até alguns bancos que se permitiram declarar que não aceitariam mulheres como suas trabalhadoras. A gravidez incomodava-os muito...
Também nunca ouvi os tais economistas-jornalistas a explicar ao "povo ignorante" qual o papel da Banca no desenvolvimento e no crescimento da economia. O tal papel indispensável, tão louvado por eles, limita-se à especulação financeira em seu próprio proveito - com o dinheiro dos outros - , à concessão de crédito ao consumo e à construção civil.
O que faz mais a Banca? Transfere as operações rentáveis para os of-shore (o da Madeira é apenas folclore), parasita os médios e pequenos empresários e algumas grandes empresas na condição de accioinistas de referência, e pressiona o poder político para ter mais regalias, mais isenções de pagamento de impostos.
Algumas destas acções da Banca têm como arautos estes jornalistas-economistas (ou serão economistas-jornalistas) sempre de sorriso irónico e fato novo.
Porque não perguntar à Banca pelo apoio à criação de empresas viradas para as novas tecnologias, pela criação de créditos que permita a reconstrução da nossa Indústria, da nossa Agricultura, das nossas Pescas, numa palavra, do nosso aparelho produtivo?
Eles também são os arautos e ferverosos adeptos dos grupos de gestores que se reunem para, assim como entidades supra-estatais, apontarem o dedo.
A última vez que o fizeram foi para acusar os políticos de não ter coragem para dizer aos portugueses os sacrifícios que é necessário exigir-lhes. Mais?
O porta-voz foi o dr. Carrapatoso.
Não ouvi nenhum dos comentadores de debates perguntar se o dr. Carrapatoso ( ele e todos os outros) está disponível para sacrificar os milhões que recebe anualmente, só de prémio pelo desempenho da empresa que dirige, distribuindo uma parte pelos trabalhadores que o ajudaram a obter os resultados premiados.
É que, desse modo, as receitas do Estado seriam bem maiores, já que os impostos a pagar não se concentrariam num único contribuinte.
Não percebo as palmas que estes comentadores batem a tudo quanto é empresário, sem lhes perguntar onde estão os programas de requalificação de mão de obra, de criação de novos empregos.
Percebo, mas gostava de não perceber, o entusiasmo com que acolhem as medidas de reestruturação das grandes empresas, que significam - sempre - dispensa de trabalhadores e o consequente "outsorsing" contratato a uns amigos, donos de empresas com trabalhadores precários e pagos miseravelmente.
Acho mesmo que estes doutores vivem noutro planeta, que não passam pelas mesmas ruas que eu e não veêm as multidões de gente com ar desesperado a andar a esmo, sem ocupação e a maldizer a hora em que aceitaram a conversa do director de recursos humanos ( ou de um seu representante) a convencê-los a assinar o "maldito papel".
Eles ainda não perceberam que a desregulamentação do trabalho é a causadora da crise a nível internacional. Que os empresários (grandes e enormes) se apoderam dos aumentos incríveis de produtividade atingidos pela Humanidade. E querem mais!!!
Essa gente está no filme errado e aterroriza quem os ouve. Por favor, tirem-nos de cena!
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