quarta-feira, junho 22, 2005

O CONTO DO VIGÁRIO

Era um tipo simpático. Conduzia um carro vulgar. Abrandou próximo e foi dizendo: "Então pá! Como vai isso?" E foi acrescentando as lérias do costume: "aos anos, pá! Como é que tu vais?" Eu ia para a exposição do DN, zangado porque não dava com o sítio e sem vontade de perder tempo a falar com um gajo que não me dizia nada, de que não me lembrava de todo. Ele falou-me de um filha, acabadinha de chegar da Suiça e que ia montar um restaurante e ele queria convidar-me, e queria oferecer-me isto e aquilo. Era, claro, o conto do vigário banal. Mas eu, chico esperto, não percebi logo. Só quando ele me mostrou, cheques e papeis, não sei de quê para as criancinhas é que dei pelo que estava a correr.
Escapei no sábado, mas não escapei hoje. Na net estava espaparrachado que a RTP-I ia dar o Argentina-Alemanha, as 19-45H. Ia dar o Telelixo às 21 e picos. Não deu. Á hora do costume vendeu o concurso abominável, que costuma vender e logo a seguir o telejornal. Na Televisão portuguesa os telejornais são, em si mesmos, o conto do vigário mais sujo que o do bilhete premiado. Aquilo é papel manhoso para embrulhar publicidade. No caso da RTP a trafulhice é mais descarada porque o canal não só nos lixa a paciência com toneladas de pub, como ainda vai
sacar uma parte da taxa que os incautos se vêem obrigados a pagar, como se fosse destinada à RDP.
No Cabo, quandi liguei o primeiro canal, lá estava faixa com a indicação: «19H45 futebol( pois, pois),às 21H30,Telejornal», isto já depois da 20 horas, já com o telejornal no ar. Nem sei a que horas transmitiram o jogo em diferido. Não vi, nem era para ver, mas tinha gente em casa que queria ver. E o que eu vi foi o que não queria ver: o dircurso da tanga todo vestidinho!
Dir-se-á que são coisas sem importância, e se calhar são! Nomear mil e tal criaturas para cargos de confiança política se calhar também não tem importância, sobretudo se montes gente caiu no desemprego. Ver os de fora apontar-nos o dedo, a dizer: porra, que vocês são burros! E ter de engolir, Imaginar que finalmente os de fora vão indicar o caminho, um caminho com quase nenhuma segurança social, para velhos e desempregados, para empregados que ganhem pouco, um caminho de regresso ao passado. O cheque de mr. Blair há-de ter cobertura; a agricultura francesa terá colheitas prósperas, enquanto os 25 vão progredir e crescer e crecer até serem seis ou sete.
O sr. Coelho, quando a ponte caiu, disse que com ele a culpa não morria solteira e saiu porta fora.
E, agora, com ele por perto, o IVA caiu para cima, a moral das tropas afunda-se, o desemprego vai crecer, os preços upa, upa, as reformas mais afastadas, com tudo isto, o mais certo é a culpa vai-se casar e o sr. Coelho poder ficar em paz com a sua dele consciência...
E com um bocadinho de sorte não vou estar cá para ver...