Como Inês pus-me tranquilamente em sossego. Aproveitei do tempo acalorado do modo mais comum. Fui espeitando os jornais, dei asas ao comando da TV, enquanto o tempo paulatinamente escorria, como o ribeiro manso, que tão bem cantou o poeta. Os mortos foram troados, moldados, ainda a quente e à boa maneira cristã; depois, mais cruamente e, já depois de funeralizados, com alguma aspereza. Foi preciso que Cunhal estivesse morto e enterrado (cremado) para que as cruas verdade fossem, finalmente, proferidas. Por tardias soaram (soam) tão mal como as loas choramingas prestadas ao admirável defunto. Em alguns casos pelas mesmas criaturas...
Não é (não foi) o caso de Eugénio de Andrade. Os poetas são uma espécie mortal diferente. Quando se vão, não será por muito os criticarem, que arrefecem mais depressa; e não será por muito serem cantados que a sua alma aquece. Mas a obra permanece pelos Séculos além, mesmo os mais obscuros, como Angelo de Lima, por exemplo, que Herberto tirou, com ternura, de páginas do« Orpheu», de sob a poeira para mo mostrar.
Dos políticos é mais complicado. Geralmente diz-se deles amabilidades vagas, subtis a ponto de se subentender melhor a amabilidade que a realidade; a crítica por vezes agreste sobre a excelsa criatura defuntada pode medir-se sem lupa, basta soletrar as entrelinhas.
O que varia habitualmente é o funeral. Desta vez não deu para sair da Basílica, mas num dos casos encheu as televisões de multidão e nem sempre a multidão é anónima. Pessoalmente não me impressiono com multidões. A que me marcou, e definitivamente, me inibiu de pasmo pelas seguintes, foi a chegada a Luanda da Riquita. Muito antes eu próprio engrossei a mole que festejou o primeiro título europeu do Benfica. Sei o que eram e o que valiam. A multidão na última viagem poderá ter compensado a ausência de condecoração, aliás logo assinalada na nossa rede com azedume. Com o andar da carruagem as distinções vagamente oficiais com as quais o senhor Presidente da República premeia nem sei que tipo de virtude ou de obra relevante nunca obedeceram a regras claras, talvez por isso a condecoração se torne cada vez mais um acto mais floclórico do que solene. José do Telhado teve, antes de se tornar salteador, uma alta condecoração do Estado. Um português ilustre, premiado com o Nobel da Medicina, não teve direito ao reconhecimento do Estado, porque não era, imagine-se!, salazarengo. O Eusébio deve ter tido. Um comentador de RTP, filho de um antigo ministro do Estado Novo, também. O Álvaro não. Na sua longa e atribulada existência não se distinguiu tanto, quanto Catarina Furtado. Não se espantem! Hão-de ver nos funerais da imensa legião de comendadores às ordens (ou devo dizer da Ordem?) o impacte da graça presidencial...
Não é (não foi) o caso de Eugénio de Andrade. Os poetas são uma espécie mortal diferente. Quando se vão, não será por muito os criticarem, que arrefecem mais depressa; e não será por muito serem cantados que a sua alma aquece. Mas a obra permanece pelos Séculos além, mesmo os mais obscuros, como Angelo de Lima, por exemplo, que Herberto tirou, com ternura, de páginas do« Orpheu», de sob a poeira para mo mostrar.
Dos políticos é mais complicado. Geralmente diz-se deles amabilidades vagas, subtis a ponto de se subentender melhor a amabilidade que a realidade; a crítica por vezes agreste sobre a excelsa criatura defuntada pode medir-se sem lupa, basta soletrar as entrelinhas.
O que varia habitualmente é o funeral. Desta vez não deu para sair da Basílica, mas num dos casos encheu as televisões de multidão e nem sempre a multidão é anónima. Pessoalmente não me impressiono com multidões. A que me marcou, e definitivamente, me inibiu de pasmo pelas seguintes, foi a chegada a Luanda da Riquita. Muito antes eu próprio engrossei a mole que festejou o primeiro título europeu do Benfica. Sei o que eram e o que valiam. A multidão na última viagem poderá ter compensado a ausência de condecoração, aliás logo assinalada na nossa rede com azedume. Com o andar da carruagem as distinções vagamente oficiais com as quais o senhor Presidente da República premeia nem sei que tipo de virtude ou de obra relevante nunca obedeceram a regras claras, talvez por isso a condecoração se torne cada vez mais um acto mais floclórico do que solene. José do Telhado teve, antes de se tornar salteador, uma alta condecoração do Estado. Um português ilustre, premiado com o Nobel da Medicina, não teve direito ao reconhecimento do Estado, porque não era, imagine-se!, salazarengo. O Eusébio deve ter tido. Um comentador de RTP, filho de um antigo ministro do Estado Novo, também. O Álvaro não. Na sua longa e atribulada existência não se distinguiu tanto, quanto Catarina Furtado. Não se espantem! Hão-de ver nos funerais da imensa legião de comendadores às ordens (ou devo dizer da Ordem?) o impacte da graça presidencial...
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