quinta-feira, junho 02, 2005

A CRISE E O ACESSÓRIO

Recebi uma mukanda interessante a dar-me conta de que, afinal, o senhor Banco de Portugal/Constâncio é um instrumento do primeiro-ministro. Com a autoridade que lhe advém do cargo deve advertir, alertar e precaver o Governo e/ou a Assembleia da República. Dá o mote e o governo que estiver no poleiro está justificado para impor medidas drásticas. Foi o que aconteceu com Barroso e, depois, com Santana. E, agora, de forma mais sumarenta. O governador do BP tem cumprido com zelo o compromisso de ser a todo o instante, como cantava a senhora do fado, sentinela vigilante da honra do marido dela e, neste caso, da nação, o que, de algum modo, também se deve aceitar como natural, considerando a remuneração que aufere pela colaboração que presta aos senhores primeiros ministros e colaboradores afins. Ao pé do senhor Victor, o que Fernando Gomes vai auferir parece remuneração de marçano.
De facto, considerando o volume da crise, anunciada por gente abastada, poderia sugerir-se começar por aí a poupança, remunerando um pouco menos alguns cargos principescos e que por via disso se tornam suspeitos de colaboracionismo excessivo.
Mas em vez de meditar nas formas de governar a crise, o que preocupa os agentes políticos ditos de oposição é o convite formulado pela RTP a António Vitorino de comentar, provavelmente os comentários dos outros, ou os acontecimentos em versão pessoal. Pode entender-se que pelo facto de se ser próximo de um partido se seja proíbido de emitir opinião?
Tanto quanto me lembro, Marcelo Rebelo de Sousa ainda era afilhado do padrinho e já botava opinião no Expresso e quando calhou ser colega de governo do seu ex-director, telefonava imenso a dar informações estratégicas, com comentários a condizer, a uns quantos fulanos da comunicação social, mais ou menos conotados com a posição democrática do governo tripartido.
Deve ser mais agradável e salutar escutar essa alta personalidade do PS, que é António Vitorino, do que gramar os pontos de vista do ex-presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia. O ex-de Gondomar teria mais graça, sobretudo se fosse para debater assuntos sérios ou de arbitragem!
Não, meus senhores, já basta de censuras e de censores, sobretudos destes. Deixem falar quem
tiver audiência e é isso que interessa aos canais de TV e às respectivas audiências. Qualquer de nós dispõe do único instrumento de censura legítimo: o comando da TV.
Tal como os políticos estão de moda e a ser contratados pelos canais de TV, tempos houve em que eram os profissionais da Televisão os escolhidos para acessorar os poderosos dos governos ou mesmo para engrossar as listas eleitorais. Lembro-me de uma colega que tanto lhe fazia ser acessora de Maria de Lurdes Pintasilgo, como de Proença de Carvalho e que não tinha dificuldade em deputar na Assembleia e actuar na Televisão. No fim de contas a vida é um espectáculo e muitas vezes nem se dá pelas figuras que se fazem...

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