sábado, maio 14, 2005

SEGREDOS DE MULTIPLICAÇÃO

Acho que são cento e setental e tal os polícias de trânsito suspeitos de extorsão e abuso de poder que respondem em Tribunal à acusação que sobre eles recai.
Um recluso a cumprir pena por violação aproveitou algumas das saídas precárias para assaltar, roubar e violar três estudantes universitárias.
Um ex-ministro e um dirigente partidário próximo, bem como três gestores do grupo de empresas do BES foram indiciados num processo relacionado com tráfico de influências e financiamento ilegal de um partido político. A gestão ministerial da Defesa está igualmente a ser investigada pelo MP e, também neste caso, é envolvida outra empresa do grupo BES.
Os tempos não parecem ir bem. Deve ser da seca. Se Diógenes, mais a sua dele lanterna, passar por aqui vai ter muito que andar para encontrar alguém merecedor de cumprimentos
Um ministro da nova fornada já nos explicou como vai ser a recuperação. Obras! Muitas obras públicas, semi-públicas, obras altas e obras baixas; estradas e viadutos e pontes. Também já se fala e voltar a falar do novo aeroporto na velha OTA.
- E que fazer primeiro? - pergunta um optimista pasmado.
- Ora! Comprar um fato macaco - responderá o eterno desiludido desconfiado...
De facto, apetece mais brincar com a actualidade do que comentá-la em tom sério. O presente está repleto de casos dificeis de entender. Mas se é difícil perceber, também não deve ser fácil explicar.
No meio disto, ocorre-me um caso curioso: um agente da polícia, numa esquadra do Norte, disparou sobre um detido algemado e matou-o. Um deles era cigano. O que não era cigano justificou-se, alegando que tentou intimidar o detido, supondo que a sua arma estivesse descarregada.
O julgamento acabou com a sentença condenatória suspensa. Alguns dias depois, o guarda estava de serviço no aeroporto de Lisboa. O morto, que tinha sido cigano, continuava morto e definitivmente enterrado. Na altura do incidente, a senhor segundo comandante da PSP do Porto tinha revelado à CS que o detido se tinha suicidado. Nem deve ter sido considerado
suspeito de tráfico de influências.
Quero crer que, hoje, talvez fosse diferente. Por isto e por isso, nem valerá a pena sublinhar que financiamento de partidos sempre houve, salvo nos 48 anos que não houve partidos e o partido único tinha recursos de sobra e tráfico de influências é facto seguro que nunca faltou e teve muitos alvos, muitos destinos. Talvez por isso os últimos dias de bruá-á-á não tenham tido muito eco no parlamento, nem em sedes partidárias.
Não foi por acaso que misturei crimes sujos com colarinhos brancos. Nem só o crime está em foco, também o castigo (ou a falta dele). Quando um tribunal ordena que uma criança seja entregue a um pai com antecedentes de violência e a criança é morta é a legitimidade de um poder que se põe em causa.

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