sábado, maio 28, 2005

Sacrifícios

Parece mesmo que o País, este país, precisa de conjugar o verbo sacrificar com o objectivo de assegurar a sua viabilidade como terra independente, capaz de decidir do seu futuro e deixar às gerações vindouras um nome honrado e uma pátria digna e não um sítio onde os seus naturais se sintam como que apátridas.

Só que a conjugação deve ser feita em todos os tempos e em todas as pessoas e não saltar algumas. O que mais se ouve é "eles devem sacrificar-se", sendo que os "eles" são sempre os mesmos - os que trabalham por conta de outrém e, por isso, não têm formas de escapar ao sacrifício. Para estes, o verbo já não é sacrifícar mas torturar.

Os outros, os que exigem sacrifícios e batem palmas logo que eles se anunciam, permanecem incólumes, a coberto de uma legislação feita para os servir, para lhes permitir o aproveitamento do extraordinário aumento de produtividade conseguido nos últimos anos.

São eles, igualmente, que não abrem mão das regalias que o Estado, através de sucessivos governos, lhes concedeu para reestruturar empresas, para se reapetrechar tecnicamente, sendo que alguns destes apoios foram desviados para compras sumptuosas de grandes carros e enormes vivendas...

Os empresários, cujos porta-vozes aparecem sempre a reclamar menos estado e mais apoios para as suas actividades, são incapazes de reconhecer o óbvio: se o sistema de segurança social está em dificuldades, se o estado está "gordo", sobretudo pelo peso das participações sociais, é porque os empresários reformaram, despediram; é porque os empresários não reorganizaram as suas empresas com o objectivo de as transformar em instrumentos de criação de riqueza para o todo nacional.

Os empresários reestruturam as empresas por forma a pagar menos salários e obter mais lucros e também com o objectivo de fugir o mais possível ao pagamento de impostos.

Veja-se o exemplo das empresas que foram privatizadas: o que é que aconteceu? O Estado passou a pagar-lhes os serviços integralmente, muitas vezes em condições desvantajosas se comparadas com os consumidores privados e passou a receber menos impostos, porque oe seus administradores entraram na dança da fuga aos impostos através das mais variadas manobras. Tudo com o intuito de - dizem eles - remunerar os accionistas.

Quais accionistas? Aqueles, que tendo capacidade económica para ter voz nas administrações, as obrigam a assinar contratos, a pagar empresas mais ou menos falidas e outras coisas piores.

Onde estão os sacrifícios desta gente que está sempre à espera de ter um governo favorável aos seus desígnios para obter mais lucros, mais regalias?

São eles - os grandes empresários - que exigem do Estado tudo e impoêm aos governos que governem em seu proveito. E, se um dia, as coisas derem para o torto, fazem o mesmo que as multinacionais: fogem, porque os seus capitais estão a coberto, protegidos pelo monstro da globalização capitalista.

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