domingo, maio 22, 2005

OSSOS DUROS DE ROER

Mais logo vou ver os jogos, como o fará, estou em crer, uma boa porção de criaturas. Um campeonato duro de roer, dos mais disputados de sempre. Está mal visto pela imprensa, que considera que seja qual for o campeão, será o campeão menos pontuado de todos. Noutros tempos, também os jornais eram diferentes, valiam pela opinião e pela análise. Tempos houve em que nem sequer era conferida qualificação profissional aos homens que escreviam nos jornais desportivos. Mas deles se pode dizer que venceram, porque se souberam impor e respeitar.
Foi o futebol que fez e puxou pelos jornais desportivos, mas o desporto em geral e o futebol em particular também muito deve à imprensa escrita. Talvez a excepção seja o hoquei em patins, que durante os anos dourados andou mais ao colo da Rádio, até se impôr e mesmo, depois, com a Televisão foi perdendo pedalada. A Rádio, primeiro e a Televisão, depois, modificaram o futebol, tornaram diferente o jogo e a participação do público. O homem dos jornais já não conta para a apreciação do jogo, já não influi no julgamento dos casos do jogo. Para se manter à tona, os jornais criaram e alimentam a política, insinuam maquinações, denunciam tramoias, dão eco a rumores a partir de tudo e de nada, semeiam ventos que não raro resultam em tempestades.
Pois sim, é o futebol que há. E é para quem quer. Por mim, sim senhor, de pantufas, e em vez de cachecol, uma pinga de vez em quando.
Diverti-me com o Braga, com o Boavista e com os três do costume. Hoje acaba. Valeu a pena. Tudo vale a pena se a alma não é pequena disse o poeta, que não consta que
fosse à bola.
Campeonatos a decidirem-se na última jornada foram alguns. O primeiro de que me lembro, ainda nos anos quarenta. ficou conhecido como «o do pirolito». Ganhou o Sporting por um golo de diferença e o Diário Popular dizia no dia seguinte que se fosse na Inglaterra o Benfica teria sido campeão, por dispor de melhor cociente ou lá o que era. Mas não foi. O Sporting, porque perdeu no Lumiar por 3-1 e foi vencer no minúsculo Campo Grande (de facto era 28 de Maio, mas quem é que dizia uma barbaridade dessas?) por 4-1, com quatro golos de um tal Peyroteo.E não foi só: numa das derradeiras jornadas, o Sporting foi perder a Setubal, por 1-0; mas o Benfica, em casa, perdeu com o Elvas por 2-1, com dois golos de um tal Patalino.Dizia um amigo meu que «estava escrito».
De outro, ainda do Século passado, em 55, o Belenenses precisava, na última jornada, de vencer o Sporting, nas Salésias. Estava empatado com o Benfica, mas beneficiava de ter empatado na Luz, novinha em folha. A cinco minutos do fim, invasão na Luz! Pela Rádio ouviu-se o golo do Sporting, nas Salésias. O Árbitro foi simpático e esperou que meia dúzia de polícias e alguns jogadores empurrassem os invasores para fora do relvado. Entretanto, em Belém o jogo terminava. Na Luz jogaram-se os últimos minutos e depois foi a nova invasão. Otto Glória estreava-se a ganhar.Com ele o futebol português levou uma volta. Mas isso é outra história.

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