sexta-feira, dezembro 10, 2004

Administradores-Comentadores

Já aqui deixei algumas observações sobre a dupla condição que Luís Delgado e Mário Bettencourt Rezendes exibem publicamente: a de jornalistas promovidos à condição de Presidente e Vice-presidente da Lusomundo, uma empresa proprietária de órgãos de comunicação social, e a de comentadores políticos com posições pró e contra bem identificadas.
Também liguei a estranheza desta duplicidade ao facto de conhecer a existência de uma dependência orgânica muito forte entre a PT Multimédia e a SIC-Notícias, onde Luís Delgado exibia a sua boçalidade e Rezendes a sua subtileza canhestra.
Nos últimos dias, entretanto, as duas criaturas não têm aparecido na estação de Carnaxide (é assim que se diz em alguns meios jornalísticos), mas não se eximem a debitar as suas mais que previsíveis opiniões no Jornal em que foram jornalistas e de que são, agora, a quase suprema autoridade, o Diário de Notícias.
Digo "quase suprema", porque entre a deles há, pelo menos duas. A primeira e, segundo as regras definidas pela lei de imprensa, é a direcção do próprio jornal - posta em causa sempre que aparecem os escritos dos administradores, ainda auto-intitulados jornalistas.
A segunda é a da PTSGPS, principal accionista da PT Multimédia, por sua vez principal accionista da Lusomundo.
A PT SGPS sempre teve algum cuidado no seu relacionamento com a Comunicação Social e, mesmo, nos primeiros tempos, quando comprou a Lusomundo, a atitude dos principais órgãos de gestão foi de não interferência, deixando que as coisas corressem de acordo com os critérios existentes - pelo menos, foi essa a ideia que transpareceu.
Como é que, de repente, a PT, presidida por um aristocrata, por um gentleman da administração, aceita a promoção destas duas criaturas à condição de principais responsáveis por uma empresa que detém o controlo de um punhado de órgãos de comunicação social de grande peso na sociedade portuguesa?
Como é que Miguel Horta e Costa se deixou cair nesta armadilha? Como é que ele aceitou a pressão da JLM para a demissão de Fernando Lima, um profissional do jornalismo a que toda a gente reconhece uma postura irrepreensível ao longo da sua longa carreira, ainda que o identifique com o chamado "cavaquismo".
É que, apesar de tudo, os benefícios de Horta e Costa não parecem muito evidentes. Os seus amigos controladores de jornalistas não têm conseguido que os portugueses conheçam melhor (ou pior) o presidente do maior grupo empresarial português.
Será que os accionistas da PT, nomeadamente o BES, que domina de forma asfixiante o grupo (sem legitimidade para isso) tem planos para a Lusomundo e os impõe a MHC, exibindo, deste modo uma terceira autoridade quase clandestina, mas muito eficaz?
E já agora, uma última pergunta: será que a nova direcção do DN aceita as regras que Fernando Lima recusou e que são ditadas pela JLM?

1 comentário:

Anónimo disse...

SE você de facto não sabe ( mas parece-me mais que não quer é dizer) alguém devia contar-lhe: o BES tem de facto culpas no cartório mas podem nem ser as que está a conjecturar neste post. Imagine que 1 ministro barbudo ameaça retirar do banco todas as contas do Estado e de empresas públicas se esses senhores não forem indicados como administradores! O que lhe parece que aconteceria?