A noite desta cidade é reveladora: não tem nada a ver com o dia.
A diferença começa a cavar-se ao fim da tarde, quando jovens com o poder de compra necessário descem às Docas, por exemplo, e começam a puxar pelos decibéis das aparelhagens que todos os cafés e restaurantes da zona têm.
Fica no ar uma espécie de inferno que não casa com a tranquilidade que se descortina lá mais longe, no horizonte onde começa o mar.
O som aumenta com a noite e instala-se uma espécie de câmara de tortura onde gente alegre, bem disposta salta, dança e não fala.
Percebem-se as empatias pelos gestos, lê-se nos lábios o pedido de mais uma bebida e reconhece-se a solidão nos corpos que se mexem sem ritmo, sem sintonia.
À medida que a noite se vai aproximando da madrugada, há grupos que fogem à câmara das torturas e descobrem o gozo da conversa.
Quando o Sol nasce já ninguém se lembra da noite e tudo mergulha na crise do dia-a-dia.
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