quarta-feira, julho 20, 2005

LIBERDADE TINGIDA

Em que consiste, afinal, a liberdade de imprensa?
Sendo certo que como liberdade de imprensa se entende a de toda a Comunicação Social, a interrogação é alargada na mesma medida.
Subentende-se que sejam liberdades comuns e óbvias: expressar opinião, criticar as opiniões alheias, recusar limitações a estes princípios e denunciar as violações dos direitos de cidadania.
Não deixa, por isso, de ser curioso que o DN, de hoje, surja a relembrar acontecimentos do Verão de 75, que envolveram a rebelião dos tipógrafos do «República» e do envolvimento do PS, que acusou o PCP de assalto ao jornal.
Os factos descritos dão bem a imagem da situação confusa que se vivia nesses tempos acalorados e se, por um lado, deixam sobressair o dr. Mário Soares, por outro, a avaliar pela súmula, deixam algumas interrogações sobre a responsabilidade dos comunistas de Álvaro Cunhal e isso apesar do DN, ele próprio à época, estar sob tutela comunista e após a «lavagem» da redacção. Como também não se faz com clareza a revelação de que o vespertino, que foi um símbolo de resistência ao fascismo, era de facto e de modo claro pró-PS.
À distância, ainda hoje estou em crer, que ao acabar como acabou, o «República» salvou-se da desdita de se ver reduzido a orgão partidário.
Quem melhor emergiu de todo o processo foi o dr. Mário Soares. E a Esquerda começou aí a perder. O que perdeu a Esquerda não foi o ser de esquerda, mas o estar tão ferozmente dividida.
Soares deu ânimo aos silenciados à direita das esquerdas e foi assim que, de repente, PS engrossou de democratas, digamos assim. O «República» não voltou. A gestão do DN seria entregue ao PS, não se esqueçam! E a do «Século» ao PSD.
Mesmo com Manuel Alegre a afiançar que o «Século» não podia acabar, o jornal lisboeta encerrou. Mandava quem podia e quem podia mandar refugiava-se na legitimidade democrática.
Quando chegou a sua vez, Cavaco vendeu os jornais e as rádios e abriu as mãos à televisões privadas.
É este DN que também hoje levanta dúvidas sobre a estabilidade do partido no poder. Num texto de opinião, António Peres Metelo critica o ministro das Finanças, para insinuar algumas desavenças no seio do governo. Seja como for, é um texto de opinião. O mesmo não acontece com a chamada de primeira página para a entrevista com Freitas do Amaral, a inserir amanhã, muito mais terra a terra no desígnio de publicitar algum mau estar nos corredores do governo. De Luanda o ministro dos Negócios Estrangeiros considerou abusiva e vergonhosa a «habilidade» nas escolha de termos usados na entrevista, mas colocados fora do contexto.
Será que o matutino regressa ao envolvimento activo, não direi político, mas porventura económico?...

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