Este é um espaço de opinião assente em convicções e de análise baseada em factos, alguns tornados públicos e credíveis, outros de conhecimento restrito, mas cuja credibilidade asseguramos, por razões de natureza ética e deontológica.
quarta-feira, agosto 10, 2005
Viagem - O preço de uma Igreja
Na Polónia, em Milowka, encontrei uma família bem simpática. Um dos filhos, o " Kuba", resolveu levar-nos a visitar em apenas um dia, o que turistas de consulta de mapas, levariam dois ou três. Os Montes Tatry, um local que, seguramente, levou os homens a inventar um deus omnipotente foi um dos pontos do itinerárioA paixão do "Kuba" pelas montanhas é uma permanente oração. Tem 24 anos e um amor profundo à sua terra, mas estas montantas, cuja maior extensão fica situada na Eslováquia, são a sua grande paixão. Durante alguns anos fez ski profissional, mas agora limita-se a ensinar e a participar em competições amadoras.Fizémos o percurso até ao topo no telesférico mais velho do Mundo, com mais de sessenta anos. Há vinte anos que as autoridades locais querem mudar o sistema, mas as populações não deixam - adoram a tradição.Fiquei a saber que a patente dos telesférico é polaca.No restaurante do topo da montanha, cheio de gente desejosa de chás, cafés e sopas, conseguimos "seduzir" as empregadas da cozinha, que ultrapassaram o sistema para nos servirem. Foi divertido.No regresso, "Kuba" queria mostrar-nos Levoca (Levotcha). Queria porque queria. Ele tinha a certeza de que iríamos gostar.Condutor exímio, participa em ralies, procurou as melhores estradas, levou-nos serpenteando montanha abaixo e chegámos a Levotcha, uma cidade património mundial, ao fim da tarde. O padre rezava a última missa daquele domingo. Entrámos, a Igreja estava repleta e os fiéis seguiam com devoção, vestidos a preceito com os seus fatos domingueiros, a liturgia da consagração, curvando-se ao som de um sino que alguém agitava.Foi como surpreender a intimidade de alguém. Recuámos para esperar pelo fim da missa, porque, num golpe de vista, percebemos estarmos perante uma grande maravilha que os tempos foram construíndo.Acabou a missa, entrámos na Igreja, mas as luzes já estavam a ser apagadas. Uma desolação. Com o "Kuba" a servir de intérprete, tentámos convencer o padre a ligar de novo o sistema eléctrico. Apareceu uma senhora vestida de freira. Alta, de olhar incisivo. Que não! Nem o padre, figura estranha, quase desaparecido dentro de uma batina preta e de sorriso constrangido, conseguiu demover a "dona" da Igreja.Mas o "Kuba" não desistiu e foi demonstrando os seus dotes de diplomata persistente. Usou todos os argumentos: "que vínhamos de Portugal, Fátima, que tínhamos feito uma longa viagem só para ver a catedral de Levotcha ( a verdade é que só naquele dia, com o "Kuba" ao volante tínhamos passado quatro vezes a fronteira da Eslováquia).A senhora resistia, mas, devagar, com inteligência, foi conduzida à armadilha: queria vinte euros. Vinte! exclamou "Kuba"! Ainda se fossem dez... Aceitou, e quando se viu com a nota de dez euros na mão, a senhora olhou para ela com o ar de quem se estava a certificar de que era verdadeira e, sobretudo, de que o negócio era real.Acenderam-se as luzes e ficámos perante um espectáculo incrível. Até já pudemos tirar fotografias...embora discretamente.( Eu já tinha introduzido na caixa das esmolas que continuam a existir nas igrejas uma moeda de um euro)Levotcha tem outros encantos, nomeadamente uma grande harmonia urbanística e arquitectónica. É uma cidade com mais de sete séculos de existência e ali respira-se tranquilidade.Não sei se algum dia voltarei,mas a vontade ficou.No regresso a Milowka, "Kuba", cujo nome real é Yakub, fez uma demonstração cabal das suas qualidades de condutor. Há já alguns anos que não tinha aquela sensação de que alguém dominava na perfeição uma máquina. Foi um dia de grandes sensações e de alguns momentos de humor, como, por exemplo, aquele em que um polícia fronteiriço polaco olhava para os cinco documentos de identificação, quatro portugueses, bilhetes de Identidade, e um passaporte polaco, para a matrícula do carro austríaco, sem perceber nada daquilo. Tinha o ar de quem se tinha acabado de levantar e não sabia se estava a sonhar: dois dos BI's eram de duas senhoras muito parecidas (irmãs) e com nomes parecidos. Desistiu (positivivamente) e resolveu voltar para a cama, dormir.
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