sábado, agosto 13, 2005

LAVAR DAÍ AS MÃOZINHAS

Está de férias, ponto final parágrafo!
Pois! Mas não é bem assim. Habitualmente o direito às férias adquire-se após e não antes. Primeiro desempenha-se a tarefa e só depois o eleito se deita a dormir. Mas nem é por ser direito ou esquerdo, que a questão se deve colocar. Um primeiro-ministro, recém empossado, não deve abandonar o barco, mal inicia a viagem. Sobretudo se a embarcação sofreu um duro e inesperado rombo - prontamente remendado, seja dito!
Não é razoável e os factos subsequentes acabaram por amargar a pílula. É certo que Sampaio já não pode intervir, não pode mais despedir governo maioritários e, portanto ele, sim ele fez bem em gozar férias tranquilas, dando uma de preocupado, para ficar bem na fotografia. Mas o PS sai mal.
António Costa borregou. Faz bem em não gostar de aparecer a choramingar à frente das câmaras televisivas, mas ele há outros modos de aparecer, de actuar, de se impor à opinião pública. E o que se viu demasiadas vezes foi não o ver nos momentos mais difíceis, não o ouvir a tempo e horas, foi isso que fez notar a ausência, essa sim constante, de Sócrates.
Quando finalmente Costa apareceu na Televisão gaguejou sobre a questão do fogo posto e da aparente falta de resposta da autoridade judicial. As polícias fartam-se de prender suspeitos, em alguns casos mais do que isso, mas nunca se sabe das consequências. Reconheça-se que os senhores magistrados sentiram-se incomodados. Magistrado incomodado é como senhora gulosa: perde a linha.
Ontem, no Parlamento, esteve mais preparado e mais à-vontade. Tem experiência de tribuno e conhece a oposição parlamentar de gingeira. Como se costuma dizer popularmente, em terra de cegos...
Mesmo assim arranjou modo de se entalar e de maneira tão absurda, que custa a crer não ter sido propositada, com aquela insistência insistente no "mais de duas vezes","mais de duas vezes"
e disse isto para aí umas três vezes...
O que quereria ele dizer? Duas vezes e meia? Três vezes menos um quarto? Não teria sido mais político e sobretudo mais fraternal dizer "todos os dias"?
Sombras que causam perplexidade e incentivam à intriga, que não tardou e já hoje arribou insidiosa. Li algures que foi Sócrates que telefonou e ordenou ao substituto a ida aos fogos, aparecer junto, fazer de primeiro-ministro, ainda que substituto.
Falou também o senhor ministro da Agricultura, mas não prestei atenção, nem reparei se ele disse alguma coisa, mas quero crer que só tenha falado.
Não sei, confesso, se o eleitorado de esquerda, o do centro ou o da direita sabem alguma coisa de concreto relativamente a incendiários. Eu desconheço. Continuo sem saber o que se fez, faz ou fará relativamente aos acendedores de matas florestais e outras que tais. Mesmo os loucos ou fascinados pelo fogo, via televisão ou vice-versa. E ainda menos quanto aos chamados mandatários, os que mais ganham com o que o país perde e ganham o que ganham porque ninguém os perde, ninguém os persegue, os acusa, os julga e os condena.
Do mesmo modo, ninguém esclarece com clareza se a suspeita carece de base ou de substrato. É costume, tem sido costume, surgirem magníficas urbanizações, onde não teria sido possível construir sem um incêndio providencial. E ele há outras formas mais subtis de apoveitar da tragédia, quer ela seja ou não de vontade divina...
A história da impossibilidade das câmaras, pobres delas, assumirem o papel na legislação existente, segundo a qual a limpeza dos matagais cem metros para dentro implicará, na prática,
esfregar todo o chão municipal é uma história mal contada, tão mal contada que mais parece um insulto aos meus vizinhos, que são decerto menos estúpidos que eu, que acredito em tudo que os ministros me vendem. Peçam às televisões (e paguem à hora se for preciso) umas reportagens obrigadas a mote, a partir de 1 de Junho: «E de limpeza de matas, como é que vamos»?
Vale uma aposta?
Há evidentemente quem defenda o «quanto pior melhor». Mas, porra, é a malta que fica com o «quanto pior» e os gajos dos costume arrecadam o «melhor».E isso pode lixar, ainda que sirva para o BE se exibir. A parte chata, do ponto de vista governamental, é que o tal «melhor» não rende para as Finanças, seja qual for o ministro, e o «quanto pior» custa uma pipa de dinheiro trocado às ditas, seja qual for o ministro.
E quando se levantar a questão resultante do «está bem, a gente percebe», mas como sair deste buraco, sem aparecer alguém a correr, mesmo a tempo de torcer o rabo. De facto a evolução não é mais o que parece, quando o «Vai e vem» regressa incólume dos céus. Quando pregaram Jesus na Cruz e questionaram o algoz-mór, este replicou: «daí lavo as minhas mãos»...
Depois disso nenhum problema em sujar as mãos. Elas lavam-se com facilidade, «mais de duas vezes» se for preciso...

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