Já vos devo ter contado que o meu professor - e o professor nosso é o que nos marcou, não é o que passa o tempo a dar sete, que desses também por cá passaram - era trasmontano e ensinou-me a ler e fazer contas, entre chapadas e reguadas. Foi ele que me contou a primeira história política e tão carregada que nunca me esqueci dela!
Tinha a ver com a visita de um senhor inspector (tipo de creaturas que ele não devia gostar muito) a uma escola. Nessa escola (imaginária) , e na véspera da visita,o professor ( do tipo sobrevivente) presumiu que o augusto inspector iria escolher o mais pequeno da aula, para lhe perguntar: «Quem descobriu o caminho marítimo para o Brasil»?
E ao que estivesse ao lado, haveria de inquirir: «Em que ano»?
O prof não perdeu tempo a incutir no espírito dos alunos a sapiência necessária. Durante a manhã, do dia seguinte, o atarefado inspector não deu acordo de si. Mas fê-lo justamente na hora do recreio, pelo que a sineta badalou um pouco antes do tempo e os alunos foram recolhidos apressadamente, à excepção de um, e logo o mais pequeno, que estava sentado na sanita e nem deu pela azáfama.
Na sala, depois dos cumprimentos e dos meninos terem entoado o hino da Mocidade Portuguesa, o inspector olhou a classe e escolheu, como previsto, o mais pequeno que lá estava e fez-lhe a pergunta xpto. O garoto manifestamente aflito, baixou os olhos e enrolava e desenrolava a ponta do bibe e à insistência do inspector:«vá lá, menino, quem é que descobriu o Brasil? Não me diga que não sabe»...
O rapaz soltou o bibe dos dedos, levantou o rosto e respondeu: «Eu sou o mil e quinhentos. O Pedro Álvares Cabral ficou lá fora»...
Isto vem a propósito de não vir a propósito, como é habitual comigo. Tem a ver com os incendiários, com quem busca incendiários e com quantos acham por bem deixá-los em paz.
O DN, que vou comprando por saudosismo (e na próxima crónica hão-de perceber porquê)
entrevistou um, sem nome, sem rosto, porque, como parece obrigatório, os incendiários têm direito à privacidade. O Albarran não tem; o Cruz também não; o esforçado motorista nem pensar. O médico belenense, idem, idem, aspas,aspas. Que raio de imprensa é esta?
Que governo é este (e quantos o entecederam) que não põe um ponto de ordem à mesa?
Não me interessa saber quantos são. Mas quem são, ainda que não passem de pobres diabos? Gostaria de não ver nenhum deles passar à minha porta, nos agostos próximos, e se visse algum poder avisar as autoridades, como seria dever. E se os seguros não cobrem os prejuizos. Se vamos nós ter de pagar por isso, façam o favor de nos dar algo em troca...
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