Os fogos continuam, o homem já veio de férias, falta água lá por baixo e há pouco lá em cima.
No entretanto morreu gente esturricada, e muitas casas ruiram. Não será preciso calamitar o sucedido. São coisas que acontecem. Enterrem-se os mortos e emprestem alguma coisa aos vivos. Pelas bandas do Douro perderam-se uvas, as uvas do vinho e a D. Antónia já por cá não anda para ajudar.
E o Miguel já pediu desculpa! O inquilino de S. Bento ainda não.
E o Irão abriu a gaveta do nuclear! En la 4 se habla português (por enquanto!). Os combustíveis custam, cada vez mais, os olhos da cara. O aeroporto da Ota ainda não está pronto. Ainda não há lugares no TGV, mas quem quiser pode ir de bicicleta. Quem foi que disse que isto é país do faz de conta?
Eu faço de contas que vou à guerra, lendo as centrais de DN. Segui meio distraído a escaramuça entre Vasco Pulido Valente e Miguel Portas, por causa da merda da bomba atómica. Um acredita que só os sacanas dos americanos é que eram capazes de deitar uma bomba daquelas em cima das pessoas; o outro acha que 140 mil mortos foi barato para acabar depressa com o conflito. O jornal de ontem dava conta que o Japão tinha declarado guerra aos EUA e à Inglaterra e por acaso já tinha atacado Perl Harbour, sem aviso e afundado um couraçado ou um bote ou lá o que era. Invadia as Filipinas, a Indonésia, a China. Ocuparam Timor.
Acho que não se contaram os mortos. Era boa gente! Guerreiros e patriotas. Se fosse preciso até se matavam com os aviões. A moda dos mártires suicidas já vem de longe.
Em todo o caso os japoneses já tinham pedido o fim das hostilidades e queriam render-se, recorrendo à diplomacia sueca. Os americanos dessa altura eram moucos, se é que não ouviam mal. E, claro, queriam exibir a "bomba", para impressionar os soviéticos, que estavam a trabalhar naquilo, desde o fim do conflito na Europa. Americanos e russos tinham apanhado os cientistas alemães, os primeiros a desenvolver a tese da bomba definitiva. Cada um deles queria ser o primeiro.
Foi um aparato inútil. Não foram as bombas que resolveram a guerra que estava já resolvida. E não foram 140 mil, a menos, foram 300 mil a mais, por desnecessário.
E desnecessário porque os soviéticos acabaram por fazer a «bomba» e retomar a guerra fria. As chamadas bombas voadoras concebidas pelos alemães já pelo fim da guerra, tornavam-se a mais terrível das ameaças. Nunca foram utilizadas. Outras tidos por civilizados e cultos também não resistiram a experimentar o brinquedo e iam lá para as oceanias fazer experiências. Um barquito de pacifistas, acostado ao cais, na Nova Zelândia, explodiu. Morreu um fotógrafo português, porque há sempre um português,um só que seja, em todo o lado. Tinha sido um atentado «oficial», dois agentes secretos, franceses, colocaram a bomba. Se fosse o James Bond
ter-se-ia ido embora, mas aqueles foram logo presos, julgados e condenados. Um deles engravidou, na ilha onde cumpria a sentença, Era uma mulher, já perceberam. E a gravidez foi calculada. Serviu para negociar. O governo francês obrigava-se a manter os condenados na cadeia e a agente teria o filho em França. Foi fita, claro. Mal chegaram a França foram para casa. Um fotógrafo, e ainda por cima pacifista, que importância teria?
Mas, senhores, quantos milhões (milhões mesmo milhões) de pessoas não foram mortas, executadas, destroçadas desde que o Mundo não está em guerra? Quantos milhões de africanos
não morreram já, até de fome, por mór de corrupções ou água benta? E sem que fosse necessária a merda da bomba!
A pregar não se chega a lado algum e enquanto a honestidade for uma virtude não se vai longe. Só quando for ferozmente obrigatória.
Mas para se conseguir isso... vai ser precisa a bomba!
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