As viagens desorganizadas, apenas com objectivos, têm muitas vantagens. Entre elas a de se fugir às excusões, aos guias, aos caminhos oficiais. É possível ir conhecendo outras pessoas, perceber que as ideias preconcebidas, na maior parte das vezes, não têm razão e ter outra dimensão do Mundo. Neste caso da Europa e da sua civilização.
As viagens deste tipo também permitem reflexões mais calmas sobre o que vai acontecendo à nossa volta. Ao olhar a descontração com que toda a gente por aqui circula, a forma simpática como se relacionam com estranhos e aceitam as suas diferenças ( o leite quente ao pequeno almoço, por exemplo, é sempre um pedido estranho mas que acaba por ser satisfeito com simpatia e alguns sorrisos), ao olhar tudo isto, não posso deixar de pensar no modelo de sociedade que os europeus construiram e também no pouco cuidado com que estão a olhar para ele.
A comparação com o Império Romando é quase imediata. Também os romanos - é certo que doutra maneira porque noutros tempos - entendiam que o resto do Mundo desejava governar-se segundo o seu modelo. O que acabou por acontecer todos sabemos. A seguir foi a noite escura de um poder obscuro, fundamentalista, que impedia a investigação científica, que torturava e queimava as pessoas que pensassem ou sonhassem diferente.
Séculos!
Porquê? Que sei eu?!
Mas não posso deixar de me atrever a afirmar que tal aconteceu porque os romanos aceitaram como garantido o desejo de os outros serem iguais a eles.
O mesmo acontece com os europeus há demasiado tempo. E não apenas com os europeus. Os americanos, que são um produto da colonização europeia, também entendem que o modelo deles é o melhor e todos os outros estados e civilizações o querem copiar. Mais: uns e outros definem a sua realidade como imutável. As suas elites, distantes que estão do povo e dos seus problemas, governam já, na maior parte dos casos,um ficção
E o modelo europeu é, hoje, o quê?
Uma estrada aberta, um mercado permanente, sem outros valores que não sejam os do consumo.Uma estrada que está a entrar pela Europa Central e Oriental, transportando a ideia de mercado, de consumo, desprotegendo a fundamentação do respeito pela diferença, pelos direitos dos outros .
Olhamos para a União Europeia e não podemos deixar de ficar assustados com os resultados, se a olharmos para além de um mercado aberto e uma estrada livre.
Na Escola, as disciplinas com teor ideológico e/ou filosófico foram praticamente reduzidas à expressão mais simples. Transformou-se em mais um instrumento do mercado: prepara gente para carreiras de sucesso no plano dos negócios. Os académicos puros, os que apenas produzem ideias, formulam teorias e discutem o Homem passaram à condição de peças de museu.
A verdade é que a Europa, servindo-se ainda do modelo grego de Escola lhe retirou a sua principal virtude: o gosto pela discussão e pela aprendizagem. A Juventude europeia de hoje pensa que tudo foi como é e nada mudará. Não entende que tem de lutar por manter um modelo que lhe assegurará as liberdades e garantias de que usufrui.
A família, outro dos fundamentos da civilização europeia, dilui-se na premência de conseguir os proventos necessários à manutenção dos filhos em boas escolas (as tais que são trampolim para as carreiras de executivos de sucesso), de obter os fundos indispensáveis à mudança de automóvel de três em três anos, à compra de casa, se possível de uma segunda habitação no campo ou na praia. Na família deixou de se estruturar o primeiro grupo de partilha e passou a construir-se o primeiro trampolim para o sucesso.
E a Igreja? É verdade que ela foi a responsável pelos séculos negros que se seguiram à queda do Império Romano, mas, depois, com alguma moderação, sempre serviu como fundamento ideológico para algumas das virtudes que definem a vida do homem europeu. Hoje, faz o quê? Serve para quê?
A última substituição de papa foi um evidente jogo de poder, feito com muita antecedência e com grande habilidade por João Paulo II que, na prática, nada mudou durante vinte e seis anos. Pelo contrário, com ele a Igreja voltou vários anos atrás. Com este novo Bento anuncia-se o fim.
E, tudo isto, quando, de vários lados se levantam vários fundamentalismos. Do lado asiático, o fundamentalismo do mercado, controlado, no caso chinês, por um estado totalitário que tudo concentra e, no caso indiano por uma multidão de comerciantes servida por uma multidão de especialistas nas novas tecnologias, uma especialidade que conseguem obter nas condições mais incríveis.
Do lado muçulmano, o conhecido fundamentalismo, produto da distorção das leis do Corão, tal como na Europa dos séculos da escuridão, a Inquisição resultou de uma maléfica e arbitrária interpretação dos textos fundamentais do cristianismo.
Ora, a verdade é que esta estrada, que é a Europa, comporta tudo e todos. Por aqui, no Tirol, entre as lojas de "souvenirs" já há espaços chineses, com comerciantes habilidosos à espera dos incautos, indianos um pouco por aqui e por ali e muçulmanos, igualmente, acompanhados de suas esposas, de rostos tapados, passeando-se nos jardins dos palácios imperiais de Bad Ischl e Innsbruk.
Também é verdade que, por aqui, a tranquilidade é absoluta, mas em Londres, Madrid e, seguramente, Roma já não é.
Estará a acontecer connosco, europeus, o que aconteceu com os romanos?
As viagens deste tipo também permitem reflexões mais calmas sobre o que vai acontecendo à nossa volta. Ao olhar a descontração com que toda a gente por aqui circula, a forma simpática como se relacionam com estranhos e aceitam as suas diferenças ( o leite quente ao pequeno almoço, por exemplo, é sempre um pedido estranho mas que acaba por ser satisfeito com simpatia e alguns sorrisos), ao olhar tudo isto, não posso deixar de pensar no modelo de sociedade que os europeus construiram e também no pouco cuidado com que estão a olhar para ele.
A comparação com o Império Romando é quase imediata. Também os romanos - é certo que doutra maneira porque noutros tempos - entendiam que o resto do Mundo desejava governar-se segundo o seu modelo. O que acabou por acontecer todos sabemos. A seguir foi a noite escura de um poder obscuro, fundamentalista, que impedia a investigação científica, que torturava e queimava as pessoas que pensassem ou sonhassem diferente.
Séculos!
Porquê? Que sei eu?!
Mas não posso deixar de me atrever a afirmar que tal aconteceu porque os romanos aceitaram como garantido o desejo de os outros serem iguais a eles.
O mesmo acontece com os europeus há demasiado tempo. E não apenas com os europeus. Os americanos, que são um produto da colonização europeia, também entendem que o modelo deles é o melhor e todos os outros estados e civilizações o querem copiar. Mais: uns e outros definem a sua realidade como imutável. As suas elites, distantes que estão do povo e dos seus problemas, governam já, na maior parte dos casos,um ficção
E o modelo europeu é, hoje, o quê?
Uma estrada aberta, um mercado permanente, sem outros valores que não sejam os do consumo.Uma estrada que está a entrar pela Europa Central e Oriental, transportando a ideia de mercado, de consumo, desprotegendo a fundamentação do respeito pela diferença, pelos direitos dos outros .
Olhamos para a União Europeia e não podemos deixar de ficar assustados com os resultados, se a olharmos para além de um mercado aberto e uma estrada livre.
Na Escola, as disciplinas com teor ideológico e/ou filosófico foram praticamente reduzidas à expressão mais simples. Transformou-se em mais um instrumento do mercado: prepara gente para carreiras de sucesso no plano dos negócios. Os académicos puros, os que apenas produzem ideias, formulam teorias e discutem o Homem passaram à condição de peças de museu.
A verdade é que a Europa, servindo-se ainda do modelo grego de Escola lhe retirou a sua principal virtude: o gosto pela discussão e pela aprendizagem. A Juventude europeia de hoje pensa que tudo foi como é e nada mudará. Não entende que tem de lutar por manter um modelo que lhe assegurará as liberdades e garantias de que usufrui.
A família, outro dos fundamentos da civilização europeia, dilui-se na premência de conseguir os proventos necessários à manutenção dos filhos em boas escolas (as tais que são trampolim para as carreiras de executivos de sucesso), de obter os fundos indispensáveis à mudança de automóvel de três em três anos, à compra de casa, se possível de uma segunda habitação no campo ou na praia. Na família deixou de se estruturar o primeiro grupo de partilha e passou a construir-se o primeiro trampolim para o sucesso.
E a Igreja? É verdade que ela foi a responsável pelos séculos negros que se seguiram à queda do Império Romano, mas, depois, com alguma moderação, sempre serviu como fundamento ideológico para algumas das virtudes que definem a vida do homem europeu. Hoje, faz o quê? Serve para quê?
A última substituição de papa foi um evidente jogo de poder, feito com muita antecedência e com grande habilidade por João Paulo II que, na prática, nada mudou durante vinte e seis anos. Pelo contrário, com ele a Igreja voltou vários anos atrás. Com este novo Bento anuncia-se o fim.
E, tudo isto, quando, de vários lados se levantam vários fundamentalismos. Do lado asiático, o fundamentalismo do mercado, controlado, no caso chinês, por um estado totalitário que tudo concentra e, no caso indiano por uma multidão de comerciantes servida por uma multidão de especialistas nas novas tecnologias, uma especialidade que conseguem obter nas condições mais incríveis.
Do lado muçulmano, o conhecido fundamentalismo, produto da distorção das leis do Corão, tal como na Europa dos séculos da escuridão, a Inquisição resultou de uma maléfica e arbitrária interpretação dos textos fundamentais do cristianismo.
Ora, a verdade é que esta estrada, que é a Europa, comporta tudo e todos. Por aqui, no Tirol, entre as lojas de "souvenirs" já há espaços chineses, com comerciantes habilidosos à espera dos incautos, indianos um pouco por aqui e por ali e muçulmanos, igualmente, acompanhados de suas esposas, de rostos tapados, passeando-se nos jardins dos palácios imperiais de Bad Ischl e Innsbruk.
Também é verdade que, por aqui, a tranquilidade é absoluta, mas em Londres, Madrid e, seguramente, Roma já não é.
Estará a acontecer connosco, europeus, o que aconteceu com os romanos?
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